terça-feira, 28 de junho de 2016

SOLENIDADE DOS APÓSTOLOS PEDRO E PAULO - MISSA DA VIGÍLIA - ANO C

02 de julho de 2016

Leituras 
     Atos 3,1-10
     Salmo 18/19,2-5
     Gálatas 1,11-20
     João 21,15-19 

“APASCENTA AS MINHAS OVELHAS”


1-PONTO DE PARTIDA

Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo. Celebramos neste domingo a Páscoa de Jesus, na vida e no ministério dos apóstolos Pedro e Paulo, agradecendo a Deus pela fé de Pedro e pelo empenho missionário de Paulo, testemunhas fiéis de Jesus Cristo. Rezemos em comunhão com a Igreja de Roma, que testemunhou o martírio deles, e com seu bispo Francisco.

Os Apóstolos Pedro e Paulo se notabilizaram no grupo dos apóstolos de Jesus. Apesar da notoriedade que lhes foi dada ao longo da história da Igreja e, ainda hoje, eles são apresentados pelos evangelistas e nos Atos com profundas marcas de fragilidade humana, durante o seu encontro com Jesus.

Celebrando hoje a Páscoa desses dois grandes apóstolos e mártires de Jesus, a Igreja é lembrada que em todas as comunidades cristãs precisam estar presentes, e muito ligados com duas faces, os fundamentos da mesma missão evangelizadora: a vida eclesial com dinâmica de comunhão e participação e sua ação transformadora no mundo.

Hoje também rezamos especialmente pelo papa Francisco, bispo de Roma, cidade onde se deu o martírio de Pedro e Paulo. Sua missão é selar para que a Igreja permaneça unida, fiel a Jesus Cristo e seu projeto, realizando com humildade e coragem uma ação evangelizadora, cada vez mais inculturada, profética e aberta a todos.

2- REFLEXÃO BÍBLICA, EXEGÉTICA E LITÚRGICA

Primeira leitura – Atos dos Apóstolos 3,1-10. A comunidade cristã primitiva, embora consciente da novidade da sua fé, ainda não se tinha distanciado das práticas religiosas hebraicas. Os próprios Apóstolos Pedro e João iam ao Templo para participarem no sacrifício vespertino (cf. Êxodo 28,38-42), que incluía a oração da tarde e à qual se unia espiritualmente, por exemplo, o piedoso Cornélio (cf. Atos 10,3). É nesta circunstancia que Pedro realiza “no nome de Jesus Cristo, o Nazareno” (versículo 6) o primeiro milagre, curando um homem manco de nascença.

Passagem que relata a cura de um homem manco e faz parte de um conjunto de relatos (Atos 3-5) onde a pessoa de Pedro ocupa lugar preponderante.

O relato de hoje destaca, antes de tudo, o poder taumatúrgico dos apóstolos, sinal porque se reconhece que são verdadeiramente os depositários do poder messiânico de Jesus. Pedro responde à sua espera operando a cura do homem manco, não em nome do Senhor “ressuscitado”, mas em nome do “Messias” Jesus de Nazaré (versículo 6; cf. Marcos 9,38; 16,17). Pedro imita na versão de seu milagre, os gestos e as palavras de Jesus de Nazaré que curava todos os males. Seu mandamento é idêntico ao de Jesus:  “levanta-te e anda” (versículo 6. cf. Lucas 5,23); o milagre ocorre onde Jesus operava uma cura semelhante (Mateus 21,14); o Apóstolo Pedro, enfim, toma o doente pela mão, à maneira de Jesus (versículo 7; cf. Lucas 8,54).

O poder de fazer milagres atribuídos aos Apóstolos é percebido pela comunidade como um sinal de continuidade entre o tempo de Jesus e o da Igreja; trata-se de uma garantia de que Jesus-Messias está sempre entre os cristãos, para além mesmo de sua morte.

Pedro, “em nome”, isto é, na pessoa e autoridade humano-divina “de Jesus Cristo” (versículo 6), faz o milagre. É este “Nome” que Pedro e João defendem e pregam ao longo de três capítulos dos Atos dos Apóstolos (capítulos 3-5). E é ainda por causa deste “Nome” que os dois Apóstolos devem comparecer – como outrora Jesus – perante o Sinédrio e sofrer a prisão (cf. Atos 4,1-22; 5,17-18.26-33). Apesar disso eles permaneciam na certeza da fé de que só “em nome de Jesus” podemos se salvos (cf. Atos 4,12). Se nos deixarmos conquista totalmente pelo amor de Jesus Cristo também cumpriremos atos de heroísmo.

É importante lembrar que o milagre de Pedro significa também a reunião, no Templo, de todos os excluídos. Mesmo sendo adepto da liturgia do Templo, Pedro tinha consciência de que, na assembléia litúrgica cristã, as barreiras que excluem os impuros (pagãos, enfermos, crianças: cf. Levítico 21,18; 2Samuel 5,8), de agora em diante devem ser destruídas (versículo 8).

Lucas, finalmente, diz-nos que o manco curado entra no Templo “caminhando, saltando e louvando a Deus” (versículo 8). Vê no acontecimento a realização de Isaias 35,6: “Então o manco saltará como um cervo”.  Ao introduzir o coxo no Templo, Pedro exprime sua fé na vitória

Salmo responsorial – 18/19,2-5. O Salmo 19/19 mistura dois tipos, e isso levou a dividi-lo em dois. De fato, de 2 a 7 temos um hino de louvor, sem nenhuma introdução. Nele o céu e o firmamento, o dia e a noite, em silêncio, cantam os louvores de quem os criou. É, portanto, um hino de louvor ao Deus criador. Mas na sua segunda parte (versículos de 8-15) o estilo é sapiencial, apresentando uma reflexão sobre a Lei de Deus.

Nos versículos utilizados pela liturgia de hoje, temos um solene louvor ao Criador do universo: céu, firmamento, dia, noite e, sobretudo, o sol, proclamam, sem palavras, os louvores de quem os fez. O louvor silencioso é o mais importante, pois demonstra que as palavras não conseguem exprimir tudo o que se sente. O sol é comparado como esposo que sai do quarto, como guerreiro e como atleta que percorre o caminho que lhe foi traçado. Na primeira estrofe, o Salmo louva a Deus pela glória que Lhe provém da “obra” da Criação (versículos 2-3). Afirma depois que a “linguagem” da Criação, embora diferente da nossa, alcança o mundo inteiro (versículos 4-5). A liturgia aplica o texto à pregação dos Apóstolos, que chegou aos confins do mundo.

O rosto de Deus tem duas imagens muito fortes neste Salmo: o Deus da Aliança (versículos 8-15), que entrega a Lei a seu povo, e o Deus Criador, reconhecido como tal por suas criaturas em todo o mundo (versículos 2-7).

O Novo Testamento viu em Jesus o cumprimento perfeito da Nova Aliança, Aquele que faz ver de forma perfeita o Pai (João 1,18; 14, 9). Sua lei é o amor (João 13,34). Jesus louva o Pai por ter revelado seu projeto aos pequeninos (Mateus 11,25) e mandou aprender com os lírios do campo e as aves do céu o amor que o Pai tem por nós (Mateus 6,25-30).

Segunda leitura – Gálatas 1,11-20.  Paulo afirma que deve seu evangelho a uma “revelação”, isto é, a uma intervenção pessoal de Cristo em sua vida, e não à comunidade cristã de Jerusalém (versículos 11-12). É certo que Paulo deve a ela numerosas fórmulas e tradições (cf. 1Coríntios 15,1-3), mas o conteúdo de sua mensagem é de ordem “apocalíptica” (revelação).

Paulo está percorrendo um caminho oposto ao que leva a Jesus: perseguia “terrivelmente a Igreja de Deus” (versículo 13). Comporta-se de boa fé (“Agia assim sem saber”: 1Timóteo 1,13), mas Jesus Ressuscitado, na Sua misericórdia,apareceu-lhe no caminho de Damasco e pergunta-lhe: Saulo, Saulo, porque Me persegues”? ( Atos 9,4).

A aparição divina, que lhe penetra o íntimo, contém em resumo todo o mistério de Cristo e da Igreja. Paulo quis fazê-lo totalmente seu; por isso reflete refugiando-se no deserto (versículo 17). Depois de três anos vai à Jerusalém para se encontrar com “Cefas”, Pedro em araraico (versículo 18); dialoga com ele, é informado por ele e recebe dele aprovação. Portanto, o seu Evangelho é autêntico, a sua autoridade é válida. Notemos que Paulo chama a Pedro com o nome que Jesus lhe atribuiu, reconhecendo assim a investidura de Pedro como chefe da Igreja (cf. João 1,42; Mateus 16,18).

A idéia essencial que disso se conclui é que Paulo, o antigo perseguidor, não entrou apenas em um processo de conversão individual, fazendo-se discípulo depois de ter sido hostil. Sua conversão coincide com um apelo mais fundamental que o tornou o apóstolo das nações (versículo 16). Conversão, acesso à apostolicidade e abertura desta às nações, tais são, para Paulo, as características essenciais do acontecimento do caminho de Damasco.

Não é tanto pelo conteúdo que o Evangelho de Paulo difere dos Doze; difere por causa de sua difusão entre as nações, difusão que, aos olhos de Paulo, faz parte integrante de sua mensagem. Vai a Jerusalém não para verificar se seu Evangelho está correto, mas para defender o princípio de um Evangelho para as nações (portanto, de um acesso a Cristo sem lei e sem circuncisão: cf. Gálatas 2,6).  Na realidade, não poderia haver desconfiança dos Doze para com um Evangelho vindo do próprio Deus; Paulo, porém, leva amplamente em consideração seus contatos com Jerusalém, a fim de destacar a unidade da missão.
Evangelho – João 21,15-19. João reflete uma manifestação de Jesus ressuscitado a Pedro e a alguns dos Doze Apóstolos no mar de Tiberíades (João 21,1). Narra a pesca milagrosa (João 21,1-11) e o alimento que Jesus preparou para eles (versículos 12-14). Relata depois o diálogo entre Jesus e Pedro. A “Simão, filho de João” o Mestre pergunta três vezes se O ama; depois de cada resposta afirmava, confere-lhe o poder de apascentar as Suas ovelhas (versículos 15-17). Finalmente preanuncia-lhe o cárcere e o martírio, com o qual o Apóstolo glorificará a Deus.

No Evangelho de João é o Ressuscitado que transmite Seus poderes a seus discípulos (João 20,21-23). Em particular, é no quadro das aparições do Ressuscitado que o primado é conferida a Pedro (nossa leitura de hoje), ao contrário de Mateus, Marcos e Lucas (Sinóticos), que situam esse acontecimento antes da morte de Jesus (Mateus 16,13-20). O evangelista João quer manifestar que os poderes missionários de sacramentais da Igreja são apenas a irradiação da glória do Ressuscitado (cf. também Mateus 28,18-19).

Nessa passagem, consagrada ao primado de Pedro, a transmissão de poderes por Jesus não se faz sem algum humor. Por três vezes Pedro renega seu Mestre (João 18,17-27); também por três vezes Jesus exige dele uma profissão de amor. Pedro se acreditava superior aos outros em seu zelo para com o Senhor (Mateus 26,33); Cristo o convida para uma superioridade no amor (“mais do que estes”, versículo 15).

Pedro não afirma abertamente seu apego ao Senhor: humildemente se abandona ao conhecimento que dele Cristo pode ter (“tu o sabes...”: 15-17). Cristo lhe pergunta duas vezes se tem amor por ele (ágape) e Pedro responde que tem apego (philein) por seu Mestre. O Apóstolo, portanto, não se pronuncia sobre o amor religioso que Jesus lhe pede; contenta-se em manifestar-lhe sua amizade.

Na realidade, é pelo exercício de seu primado e pela maneira como amará os cordeiros e as ovelhas do Senhor que Pedro manifestará seu apego ao Senhor e o ágape que o anima.

O amor (ágape) trazido por Cristo em sua morte (João 15,14) de agora em diante tem sua instituição própria: a Igreja, conduzida por Pedro, é o sacramento visível do ágape do Salvador. Que o pastor ame as suas ovelhas segundo convém, e o sinal do amor de Cristo pelas pessoas será entregue ao mundo. O primado, portanto, não é uma recompensa dada ao amor eventual de Pedro por seu Mestre: trata-se de instituição que revela o amor de Cristo pelas pessoas.

3- DA PALAVRA CELEBRADA AO COTIDIANO DA VIDA

Podemos retomar alguns pensamentos das leituras bíblicas, começando pelo texto do Evangelho. Este diálogo entre Jesus e Simão, filho de João, possui uma força e uma densidade tais que deixa um sinal na nossa vida espiritual. Jesus pergunta três vezes ao pescador da Galiléia se ele O ama. Nos discursos da Última Ceia o Senhor falou diversas vezes do amor pela Sua pessoa, especificando que seria verdade só se fosse acompanhado pela prática dos Mandamentos: “Se me amais, obedecereis aos meus mandamentos” (João 14,15; cf. 14,21-23). Agora Ele pergunta, categoricamente, a Pedro se O ama. O texto grego utiliza dois verbos diferentes, ora um, oura outro, talvez para variar. Ao ouvir a tríplice pergunta, Pedro fica atônito: no final ele não responde ao “me amas mais do que estes?” inicial, e confia no conhecimento divino de Jesus, “Senhor, tu sabes tudo” (versículo 17), para Lhe dizer que o ama.

Depois de cada resposta afirmativa, Jesus confere ao Apóstolo o encargo: “Apascenta as minhas ovelhas, apascenta os meus cordeiros” (versículos 15-17). Do amor nasce o serviço na Igreja, serviço que é exercício de amor que Pedro deve cumprir, amando toda a Igreja. A Si mesmo, Bom Pastor, (João 10,10), Jesus faz suceder o pastor Pedro, como Seu vigário e continuador. As ovelhas e os cordeiros, isto é, todos os cristãos, são de Jesus, mas Pedro deve prestar-lhes o seu serviço de amor e de guia. Jesus Bom Pastor, dá “a vida pelas ovelhas” (João10,15) e preanuncia a mesma sorte ao pastor vigário: “Estenderás a mão” (versículo 8) para que, porventura, seja pregado numa cruz.

Exercemos já talvez atividades na paróquia; façamos tudo com amor. Ou então, poderíamos cumpri-las, mas ainda não nos decidimos: esforcemo-nos para que isso aconteça o mais depressa possível, preparemo-nos, atuemos por amor.

O apostolado nasce do amor e é exercido no amor. É o que nos dizem, na sua atividade concreta, os dois santos que festejamos. Pedro não tem ouro e nem prata, mas possui na realidade uma coisa ainda mais poderosa, “O que tenho te dou”, isto é, a fé operosa: “em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda” (Primeira leitura: Atos 3,6). Esta fé, fortalecida por obra do Espírito Santo no Pentecostes, levou Pedro a pronunciar a sua primeira pregação: com o milagre do coxo colocou as premissas para o seu segundo discurso sobre o “Nome” de Jesus (cf. Atos 4).

A Solenidade dos santos Apóstolos Pedro e Paulo quer despertar em nós o compromisso pelo apostolado no amor.

4- A PALAVRA SE FAZ CELEBRAÇÃO

A liturgia celebrada deve causar em nós a necessidade de sermos testemunhas do Cristo que celebramos. Como reza a Oração do Dia, os apóstolos “nos deram as primícias da fé”, e cabe a nós sermos propagadores e animadores dessa fé. Firmes no amor, queremos ser “um só corpo e uma só alma” (Oração depois da Comunhão) em louvor a Deus.

A nossa vida de cristãos, assim como a de Cristo, tende a se tornar louvor ao Pai, cujo sentido é deixar que a existência inteira seja dirigida pelo Mistério da Páscoa. O Hinário Litúrgico da CNBB, em um de seus hinos para esta solenidade, canta esta realidade acontecendo na entrega dos apóstolos Pedro e Paulo: “Toda a Igreja unida celebra a memória pascal do Cordeiro, irmanada com Pedro e com Paulo, que seguiram a Cristo por primeiro”.

Nós, os cristãos, assim como os judeus, reconhecemos a debilidade de nosso louvor que é imagem de nossa fraqueza como homens e mulheres, sujeitos às quedas e falhas da história humana. As circunstancias culturais, sociais e mesmo religiosas, nem sempre nos favorecem ser testemunhas do Evangelho. No louvor que damos a Deus em nossas celebrações (Santo), “apelamos à assembléia lá do alto, para que dê força a nossa fraca voz e apóie nosso louvor” (Giraldo, Cesare. Redescobrindo a Eucaristia. São Paulo: Loyola, 2002). Assembléia lá do alto, que na antiga anáfora de São Tiago da Igreja de Jerusalém, é chamada de “Jerusalém celeste”. Podemos constatar hoje na Anáfora de São Tiago que está no Missal do Rito Maronita na página 269: “Na verdade, ó Pai, é digno, justo e necessário, dar-Vos graças, bendizer-Vos, louvar-Vos, adorar-Vos, Vós que sois Criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis. A Vós enaltecem todas as criaturas: os céus e suas potestades, o sol, a lua e todos os astros, a terra, os mares e tudo o que eles contém; a Jerusalém celestial, a assembléia dos primeiros eleitos inscritos no Céu, os Anjos e Arcanjos, ministros do Altíssimo, todos cantam hinos de vitória, louvando e continuamente Vossa Majestade gloriosa, aclamando e dizendo: Santo, Santo, Santo...”

O resultado a este apelo é a participação na comunhão dos santos. Santos esses que, depois de cumprir todas as tarefas que o tempo lhes confiou, agora juntos com os anjos são “os especialistas do Sanctus”. São os defuntos (defuncti), isto é, os que cumpriram a missão de ser ícones, rendem os louvores do Santo, dia a dia. Unir-vos à sua voz segura, reforça nosso canto – isto é, nossa existência – que é sempre condicionado pelo tempo e pelo espaço.

Nesta perspectiva, realiza-se aquilo que suplicamos na Oração depois da Comunhão, saboreando os frutos da fé de Pedro e de Paulo, tendo fortalecido nossa identidade de ícones do Cordeiro, unidos aos Santos e Santas de Deus.

5- LIGANDO A PALAVRA COM A AÇÃO EUCARÍSTICA

É muito bom louvar a Deus hoje pelo testemunho dos Apóstolos Pedro e Paulo – “duas oliveiras diante do Senhor, brilhantes candelabros de esplêndido fulgor” (Hino do Ofício das Leituras).

Rezamos no Prefácio: “Hoje, vós nos concedeis a alegria de festejar os Apóstolos São Pedro e São Paulo. Pedro, o primeiro a proclamar a fé, fundou a Igreja primitiva sobre a herança de Israel. Paulo, mestre e doutor das nações, anunciou-lhes o Evangelho da Salvação. Por diferentes meios, os dois congregaram a única família de Cristo e, unidos pela coroa do martírio, recebem hoje, por toda a terra, igual veneração...”. Esses santos plantaram a Igreja, regando-a com seu sangue. Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus (cf. Antífona de Entrada).

Pedro e Paulo foram como Cristo, “derramados em sacrifício”. Viveram a entrega da morte e a alegria da libertação e da salvação realizada pelo Senhor. Cristo morreu pelos irmãos. Nesta Eucaristia, como Ele mesmo pediu, fazemos memória do mistério de sua Páscoa. Recordamos também a entrega dos mártires Pedro e Paulo e dos mártires de todos os tempos. Com Cristo entreguemos também a nossa vida e a vida de tantos irmãos e irmãs para “ser derramada em sacrifício agradável a Deus”.

Que a nossa vida seja expressão desta entrega: “Fortalecei, ó Deus, com o vosso sacramento os fiéis que iluminastes com o ensinamento dos apóstolos...” (Oração Pós-Comunhão). Como Pedro e Paulo tenhamos uma vida totalmente disponível a nossos irmãos.

Hoje, especialmente, suplicamos para que o Papa que é o bispo de Roma e todos os pastores sejam pétros nas mãos do Senhor, fiéis ao Evangelho, na condução da Igreja como servidora da vida e sinal e instrumento da comunhão entre os povos.
6. ORIENTAÇÕES GERAIS

1. Atenção aos dois formulários de celebração: um deverá ser usado no sábado (Missa da Vigília) e o outro deverá ser usado no Domingo (Missa do Dia).

2. A equipe de liturgia precisa estar atenta aos dons e carismas presentes na comunidade, cuidar para que haja abertura a novos membros, partilhar bem os serviços.

3. A cor litúrgica desta solenidade é o vermelho, lembrando o sangue derramado pelo martírio.

4. A CNBB oferece um bom repertório para esta celebração nos CD´s Festas Litúrgicas II.

5. Lembrar nas preces dos fiéis o Papa como sinal de unidade e pastor da comunhão universal da Igreja.

6. Lembrar que no dia 3 de julho, a Igreja celebra a festa de São Tomé, Apóstolo que evangelizou a índia e fundou a Missa em Rito Malabar nesse mesmo país.

7- MÚSICA RITUAL

O canto é parte necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para animar ou enfeitar a liturgia. Por isso devemos cantar a liturgia e não cantar na liturgia. Os cantos e músicas, executados com atitude espiritual e, condizentes com a Solenidade de hoje, ajudam a comunidade a penetrar no mistério celebrado. Portanto, não basta só saber que os cantos são da Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo, é preciso executá-los com atitude espiritual. A escolha dos cantos deve ser cuidadosa, para que a comunidade tenha o direito de cantar o mistério celebrado. Jamais os cantos devem ser escolhidos para satisfazer o ego de um grupo ou de um movimento ou de uma pastoral. Não devemos esquecer que toda liturgia é uma celebração da Igreja corpo de Cristo e não de um grupo, de uma pastoral ou de um movimento.

“Não tem sentido, por exemplo, escolher os cantos de uma celebração em função de alguns que se apegam a um repertório tradicionalista, ou ainda de outros que cantam somente as músicas próprias de seu grupo ou movimento, nem de outros que querem cantar exclusivamente cantos ligados à realidade sócio-política, se isto vai provocar rejeição da parte da assembléia” (A música Litúrgica no Brasil, estudos da CNBB, página 78).

Ensina a Instrução Geral do Missal Romano que o canto de abertura tem por objetivo, além de unir a assembléia, inseri-la no mistério celebrado (IGMR nº 47). Nesse sentido o Hinário Litúrgico da CNBB nos oferece uma ótima opção, que gravado no CD: Festas Litúrgicas II.

1. Canto de abertura. O apóstolo Pedro, e Paulo, o doutor das nações, nos ensinaram, Senhor, a vossa lei. “Canta, meu povo!”..., CD: Festa Litúrgicas II, melodia da faixa 15.

2. Hino de louvor. “Glória a Deus nas alturas.” Vejam o CD Tríduo Pascal I e II e também no CD Festas Litúrgicas I; Partes fixas do Ordinário da Missa do Hinário Litúrgico III da CNBB e também a versão da CNBB musicado por Irmã Miria Reginaldo Veloso e outros compositores.

O Hino de Louvor, na versão original e mais antiga, é um hino cristológico, isto é, voltado para Cristo, que exprime o significado do amor do Pai agindo no Filho. O louvor, o bendito, a glória e a adoração ao Pai (primeira parte do Hino de Louvor) se desdobram no trabalho do Filho Único: tirar o pecado do mundo, exprimindo e imprimindo na história humana a compaixão do Pai. Lembremo-nos: o Hino de Louvor não se confunde com a “doxologia menor” (Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo). O Hino de Louvor encontra-se no Missal Romano em prosa ou nas publicações da CNBB versificado numa versão que facilita o canto da assembléia.

3. Salmo responsorial 18/19. “Os céus proclamam a glória do Senhor” CD: Festas Litúrgicas II, melodia da faixa 17.

A função do salmista é de suma importância. Sua função ministerial corresponde à função dos leitores e leitoras, pois o salmo é também Palavra de Deus posta em nossa boca para respondermos à sua revelação. Por isso, o salmo dever ser proclamado do Ambão e, se possível, cantado.

4. Aclamação ao Evangelho. Ó Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo! (João 21,17d). Mesma música da faixa 18 do CD: Festas Litúrgicas II. O canto de aclamação ao evangelho acompanha os versos que estão no Lecionário Dominical, página 1027 ou Lecionário Santoral III, página 118.

5. Canto após a homilia. Após uns momentos de silêncio entoar um canto que confirme a confissão de Pedro. “Aleluia, tu és Pedro! Aleluia”, CD: Festas Litúrgicas II, melodia da faixa 21.

6. Apresentação dos dons. O canto de apresentação das oferendas, conforme orientamos em outras ocasiões, não necessita versar sobre pão e vinho. Seu tema é o mistério que se celebra acontecendo na fraternidade da Igreja reunida em oração, na Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo. Devemos ser oferendas com nossas oferendas Expressemos nossa caridade neste momento da coleta do óbulo de São Pedro. “Quem nos separará?,...”, CD: Festas Litúrgicas II, melodia da faixa 19.

7. Canto de comunhão. “Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes? Senhor, tu sabes tudo: tu sabes que eu te amo!”. “Toda a Igreja, unida, celebra a memória pascal do Cordeiro”, CD: Festas Litúrgicas II, melodia da faixa 20.

O canto de comunhão deve retomar o sentido do Evangelho do dia. As músicas do CD: Festas Litúrgicas II da Coleção: Cantos do Hinário Litúrgico da CNBB nos ajudam a viver melhor o mistério celebrado. Para comunhão, sugerimos o canto que está no CD, melodia da faixa 20, que une a mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia. Esta é a sua função ministerial. Na realidade, aquilo que se proclama no Evangelho nos é dado na Eucaristia, ou seja: é o Evangelho que nos dá o “tom” com o qual o Cristo se dirige a nós em cada celebração eucarística reforçando estes conteúdos bíblico-litúrgicos, garantindo ainda mais a “unidade entre a mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia”.
8- ESPAÇO CELEBRATIVO

1. O simbolismo da cruz traz presente o anúncio da paixão e ressurreição do Senhor. A cruz processional, a mesma que será usada na procissão de abertura, esteja na entrada da Igreja, por onde todos passam. É uma forma de trazer presente o mistério que será celerado. Ela pode ficar aí até o início da celebração, ladeada de velas e flores vermelhas, de forma que chame a atenção de todos os que vão chegando para a celebração.

2. Na entrada da Igreja poderia se colocar uma foto do Papa juntamente com uma estampa ou imagem de São Pedro e São Paulo com alguma frase do Evangelho ou das leituras.

3. Como já afirmamos, a cor litúrgica é o vermelho, lembrando o sangue derramado pelos Apóstolos Pedro e Paulo. É bom fazer um arranjo floral especial, mas simples, que evidencie a cor vermelha e a cor branca para que destaque o caráter festivo da celebração, para simbolizar o martírio como testemunho, porque celebramos a Páscoa de Jesus Cristo na vida dos apóstolos e mártires Pedro e Paulo. Seria interessante usar palmas vermelhas.

4. Usar a cor vermelha também na mesa da Palavra.

5. Diante do Ambão, onde se proclama a Palavra de Deus, ou junto a Cruz processional, pode-se colocar um ícone dos dois Apóstolos, ornamentado com pano vermelho, flores e incenso. Se não foi feito o Rito da Dedicação, colocar também duas velas acesas. No “Google imagens” basta digitar “ícone Pedro e Paulo” para se obter boas opções, caso não se encontre onde adquirir a imagem.

9. AÇÃO RITUAL

Nas igrejas onde foi feito o Rito da Dedicação, antes de iniciar a celebração, ascender as 12 ou 4 velas com o refrão meditativo: “Ó luz do Senhor, que vem sobre a terra...”.

Ritos Iniciais

1. Pode-se trazer logo depois da Cruz processional ou depois do Evangeliário, os ícones de Pedro e Paulo. Disponibilizamos no site www.calbh.com.br, duas imagens que podem servir às comunidades que não dispõem de uma iconografia litúrgica destes dois santos. O melhor é que servissem de modelo, para que algum artista da comunidade “escrevesse” o ícone (isto é, pintasse a imagem sacra. O termo escrever, em linguagem iconográfica, recorda que se trata da Escritura feito imagem. No caso, é a Escritura feito carne em Pedro e Paulo, testemunhas de Cristo). Pode-se também trazer estampas de outros mártires da caminhada.

2. Nesse caso, ambos os ícones podem ser postos junto à cruz caso ela permaneça no espaço, ou diante do Ambão. Aqui, um ensinamento de Cláudio Pastro: “No presbitério nunca se coloca imagens ou pinturas da Mãe de Deus ou de Santos, exceto as que já existem em igrejas anteriores ao Concílio Vaticano II, quando a concepção de espaço era outra”. Quando a Mãe de Deus for o trono de Cristo aí teremos exceção, pois o Cristo ainda permanece no centro. (...) Toda a Igreja será dedicada a Deus e, às vezes, em honra de um determinado santo (...) aí será bom destacar a centralidade do Cristo (que é aquele que tudo santifica) para esse santo. (...) Aqui é bom lembrar e distinguir o que é arte sacra e arte religiosa. Jamais arte de devoção estará no presbitério (Cláudio Pastro. O Deus da Beleza. Educação através da beleza. São Paulo: Paulinas, 2009, p. 103). É com base nestes dados que sugerimos ícones e que estejam junto à cruz de Jesus.

3. A saudação inicial pode ser a fórmula “d”:

O Deus da esperança, que nos cumula de toda a alegria e paz em nossa fé, pela ação do Espírito Santo, esteja convosco.

4. Após a saudação, quem preside ou o animador introduz o sentido litúrgico com palavras semelhantes:

Celebramos a memória dos Apóstolos Pedro e Paulo que tiveram suas vidas transformadas pelo encontro com Jesus Cristo. O seu amor pela Igreja e pelo Evangelho nos mostra, hoje, como em meio aos desafios do nosso tempo, seguir os passos de Jesus.

5. Na oração do dia suplicamos a Deus que nos conceda os auxílios necessários para a nossa salvação pela intercessão de Pedro e Paulo.

Rito da Palavra

1. Nas igrejas dedicadas é dia de se acender as 12 ou 4 velas da dedicação nas paredes simbolizando os Apóstolos como colunas da Igreja. Nas igrejas onde não foi celebrado o Rito da Dedicação, antes da proclamação das leituras, enquanto se canta um refrão meditativo para criar ambiente de escuta, acendem-se as duas velas diante dos ícones que está à frente da Mesa da Palavra e depõe-se o incenso. Não tem sentido acender as duas velas nas igrejas onde foi feito o Rito da Dedicação. O refrão pode ser:

Ó luz do Senhor, que vem sobre a terra, inunda meu ser, permanece em nós.

2. Nas igrejas onde foi feito o Rito da Dedicação, abrir o rito da Palavra, recordando brevemente a vida de Pedro e Paulo. Antes de proclamar as leituras, duas pessoas, previamente preparadas, uma conta vida de Pedro e a outra a vida de Paulo. Fazer uma ligação entre a Páscoa deles, a Páscoa de Jesus e a nossa Páscoa hoje. Em seguida como refrão meditativo, sugerimos “A voz de Deus se espalha”. A melodia está disponível no site www.calbh.com.br.

3. Após a homilia, seria interessante um tempo de contemplação silenciosa do Mistério Pascal em Pedro e Paulo, mediada pelo canto “Entoemos hinos”, da comunidade de Taizé. A melodia será encontrada no CD: Alegria em Deus (Paulinas). Em seguida queimar incenso diante dos ícones, ou mesmo incensar com o turíbulo enquanto se entoa o hino que recorda a ação de Deus em seus anjos e santos. A assembléia pode retomar a resposta de amor de Pedro: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Repetir várias vezes. Em seguida renovar sua própria profissão de por meio do “Creio”. Podem ser renovadas as promessas do Batismo ou os ministros e ministras renovarem o compromisso assumido. Poderia ser com a renovação das promessas batismais, em forma dialogada, diante do Círio pascal aceso, no estilo da Vigília Pascal.

Rito da Eucaristia

1. O presidente da celebração deve motivar com muita convicção a coleta deste domingo chamado “Óbulo de São Pedro” que é destinada à caridade pessoal do papa. Hoje é realizada, em todo o mundo, uma coleta especial chamada “Óbulo de São Pedro”, cujos resultados que será encaminhada a Roma para manter inúmeras obras de caridade e ajuda às nações mais sofridas do mundo, sobretudo nas calamidades, catástrofes etc.

2. Na incensação das oferendas, não se esquecer de incensar os ícones ou imagens de Pedro e Paulo. A ordem da incensação ficaria assim: o padre incensa as oferendas, o Altar, a cruz e os ícones. O ministro do incenso (turiferário) incensa o padre, outros padres se houver, e o povo. Seria bom ser um pouco mais generoso na incensação do povo... O canto de apresentação dos dons deve prosseguir enquanto durar a incensação.

3. A oração sobre as oferendas nos convida a alegrar-nos pela festa de Pedro e Paulo e suplicamos a Deus que nos dê a salvação.

4. O prefácio próprio exigirá que se escolha entre as orações eucarísticas I, II ou III. As demais não podem ter os prefácios substituídos sem grave prejuízo para a unidade teológica e literária da eucologia. No prefácio damos graças ao Pai pelo fundador da Igreja e pelo teólogo e missionário.

5. Para as celebrações da Palavra, cantar a louvação em forma de Bendito indicada para a celebração da Palavra, cuja melodia foi gravada no CD: “Ação de Graças no Dia do Senhor”, produzida pela Paulinas/Comep, faixa 21 (ver Hinário Litúrgico III p. 71). Prefácio popular em forma de Bendito para as celebrações da Palavra:

6. Ao apresentar o pão e o vinho, isto é, o convite à comunhão, o presidente da celebração mostrando o cálice e a ambula ou patena diz o versículo bíblico do Salmo 33,9 e que se encontra no Missal Romano:

Provai e vede como o Senhor é bom; feliz de quem nele encontra seu refúgio. Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!

7. A comunhão expressa mais nitidamente o mistério da Eucaristia quando distribuída em duas espécies, como ordenou Jesus na última ceia, “tomai comei, tomai bebei”. Vale todo esforço e tentativa no sentido de se recuperar a comunhão no Corpo e Sangue do Senhor para todos, conforme autoriza e incentiva a Igreja. “A comunhão realiza mais plenamente o seu aspecto de sinal quando sob as duas espécies. Sob essa forma se manifesta mais perfeitamente o sinal do banquete eucarístico e se exprime de modo mais claro a vontade divina de realizar a nova e eterna Aliança no Sangue do Senhor, assim como a relação entre o banquete eucarístico e o banquete escatológico no Reino do Pai” (IGMR, nº 240).

8. O silêncio após a comunhão: concluída a comunhão eucarística, reservar um breve momento de silêncio.

Ritos Finais

1. Na Oração após a comunhão suplicamos a Deus que nos fortaleça com o sacramento da Eucaristia.

2. Para confirmar a missão recebida, recordam-se os compromissos (os avisos, comunicações), propostos como expressões do envio. Portanto, feitos com objetividade, clareza e a devida motivação, para maior envolvimento da comunidade. Evitem longos comentários sobre cada aviso.

3. Há uma bênção final para a Solenidade de São Pedro e São Paulo (Missal Romano, página 527).

10- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o Apóstolo Pedro testemunhamos que Jesus ó o Filho de Deus. Com o Apóstolo Paulo somos convocados a anunciar esta verdade ao mundo, sendo discípulos e discípulas missionários do Divino Mestre.

Celebremos a Páscoa do Senhor na vida e no ministério dos apóstolos e mártires Pedro e Paulo.

O objetivo da Igreja e da nossa equipe diocesana de liturgia é ajudar os padres e as comunidades de nossa diocese e todas aquelas outras comunidades fora de nossa diocese que acessar nosso site celebrar melhor o mistério pascal de Cristo.

Um abraço fraterno a todos
           

Pe. Benedito Mazeti

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