quinta-feira, 16 de março de 2017

3º DOMINGO DA QUARESMA - ANO A

19 de março de 2017

Leituras
          Êxodo 17,3-7
         Salmo 94/95,1-2.6-7.8-9
         Romanos 5,1-2.5-8
         João 4,5-42 

“A ÁGUA QUE EU LHE DER SE TORNARÁ NELE UMA FONTE DE ÁGUA QUE JORRA PARA A VIDA ETERNA”


1- PONTO DE PARTIDA

Domingo da mulher samaritana. Neste terceiro Domingo de nossa caminhada quaresmal transfigurados, descemos do Monte Tabor para o chão sofrido da vida cotidiana, realizando nosso êxodo pela “conversão sincera” e pelo incansável trabalho para que o Reino de Deus se manifeste em nossa terra. Domingo passado vimos Jesus transfigurado na montanha. Com Pedro, Tiago e João, nós vimos e sentimos sua condição divina na celebração. O Evangelho nos mostrou que Ele, na qualidade de homem mortal, esconde uma origem divina: é Filho de Deus E nós também somos, por causa de sua Páscoa.

Em nossa caminhada pascal, junto com a Samaritana, fazemos a experiência de um diálogo e encontro íntimo com o Senhor. Recebendo a promessa da água que sacia a nossa cede de Deus e sua justiça, somos convidados a aprofundar o sentido do nosso batismo.

Hoje somos colocados diante da bondade infinita de Deus, que nos presenteia com a água viva que é Jesus o Salvador. Ele mesmo se apresenta a nós como essa água viva. Beber dessa água e mergulhar nesse poço de vida significa entrar no caminho da felicidade dos que promovem a paz.

Hoje também é dia de oração especial sobre os eleitos para os sacramentos de iniciação cristã (batismo, crisma e eucaristia), na próxima Vigília Pascal.

2- REFLEXÃO BÍBLICA, EXEGÉTICA E LITÚRGICA

Contemplando os textos bíblicos

Primeira leitura – Êxodo 17,3-7. O trecho do Êxodo 17,1-7 contém três conceitos importantes, a saber, reclamar, murmurar e tentar o Senhor. Estes verbos com seus substantivos (e as descrições dos locais Massa e Meriba que se derivam deles) refletem uma atitude do povo frente a Deus e seus representantes que hoje chamaria de contestação.

O Êxodo é o livro da libertação: libertação de toda a escravidão, libertação para viver livremente o serviço a Deus. Israel é libertado, fez Páscoa, saindo do Egito através do mar Vermelho, mas tem ainda um caminho a percorrer, deve ainda libertar-se dentro de si, da saudade da escravidão, das amarras do velho homem. O caminho do Sinai, em direção à Aliança e estipular com o Senhor, é um deserto seco, sedento de água. E a água doadora de vida pode vir só de Deus.

O deserto é o espaço em que as forças das pessoas, os recursos humanos, não bastam. Por isso deveria ser o lugar da confiança, e pelo contrário é freqüentemente o lugar da murmuração, da rebeldia surda da acusação, que julga apanhar em falso o desígnio de Deus e o distorce numa falsa chave de leitura, interpretando-o como má vontade contra si (cf. versículo 3).

Ao contrário do povo de Israel, embora no desalento, Moisés não vacila e não cai. Ele sabe que o seu interlocutor é Deus (versículo 4). O bastão com que tinha batido nas águas do Nilo tornando-as fonte de morte, numa lógica de fé torna-se agora o bastão que faz brotar da rocha a “água” viva “à vista dos anciãos”, testemunhas do nascimento para uma vida nova (versículos 5-6).

Por esta fé, o povo reviverá. Mas o nome de “Massa e Meriba”, fica como recordação dolorosa de como é fácil para o ser humano alterar as situações e pretender por à prova o Senhor, em vez de se deixar conduzir por Ele (versículo 7). Literalmente Massa significa “disputa, prova” e Meriba “contestação, rebeldia”.

 Esta leitura de hoje nos faz lembrar a estadia do povo de Deus no deserto. O povo consegue escapar das garras do Faraó, mas enfrenta a dureza do caminho rumo à liberdade e passa pela tentação de voltar atrás. Vendo como Deus se posiciona diante do clamor do povo, busquemos o sentido do nosso batismo.

Salmo responsorial 94/95,1-2.6-7.8-9. Este salmo é um ato litúrgico que a Igreja manda recitar todos os dias no começo da Liturgia das Horas como invitatório, recorda-nos que dia após dia, no “hoje” continuamente renovado da nossa vida (cf. versículo 8), ressoa a voz do Senhor, nosso “criador”, “pastor” (cf. versículo 7) e “salvador” (cf. versículo 1): vamos à Sua presença com confiança, “Ele é o nosso Deus, e nós somos o seu povo” é a fórmula densa da Aliança.

O povo já vive na terra prometida, tem um Templo, parece ter chegado ao lugar do repouso. E, apesar disso, cada dia deve ouvir i chamado de Deus e cumpri-lo, para conservar o dom da terra, onde participa no repouso de Deus. Do contrário, sua infidelidade na terra prometida será como a infidelidade dos pais no deserto.

A Carta aos Hebreus nos oferece um comentário cristão deste salmo (Hebreus 3,7-4,11). Todo o tempo do Primeiro Testamento é uma repetição chamada e espera do “hoje” em que o povo poderá entrar no descanso de Deus. Com Cristo chega este “hoje”, com sua ressurreição inaugura-se no mundo o repouso de Deus, que descansou quando terminou seu trabalho criador. Este “hoje” de Cristo se oferece a todos: deve-se ouvi-lo e entrar depressa em seu descanso. Mas a vida cristã é de novo um “começo”, que temos de manter até o fim, para entrar no repouso definitivo de Cristo em Deus.

Por isso, aquele que tem fé não deve fechar seu coração nem seus ouvidos a Deus. Ele, tal qual pastor, encontra, nos momentos difíceis, um caminho para renovar sua Aliança. “Não fecheis o coração; ouvi vosso Deus”. Na compreensão hebraica, o coração é o centro das decisões da pessoa humana.

O rosto de Deus. Entrar na terra prometida ou conservá-la são questões ligadas à Aliança entre Deus e seu povo. Entre Deus e o povo há um compromisso de mútua pertença: Ele é o Deus dos hebreus, e o povo é o povo de Deus (versículo 7a). a imagem do Pastor (versículo 7a) também é importante para descobrir o rosto de Deus neste salmo. A grande ação de Deus-pastor foi ter conduzido seu povo para fora do cativeiro egípcio, levando-o, pelo deserto, rumo à liberdade e à vida na terra da promessa.

Jesus se apresentou como Pastor (João 10), conhecedor do íntimo de cada pessoa (João 2,15).

Cantando este salmo, pedimos a Deus que nos faça atentos à sua voz, mesmo quando estamos em tempo de liberdade e sofrendo a tentação da acomodação. A cada dia é preciso estarmos atentos á voz do Senhor para conservarmos o dom conquistado e avançarmos na caminhada.

HOJE NÃO FECHEIS O VOSSO CORAÇÃO,
MAS OUVI A VOZ DO SENHOR!

Segunda leitura – Romanos 5,1-2.5-8. A Carta aos Romanos, depois de ter acentuado com grande vigor que a salvação vem só da fé e não das obras da Lei (cf. Romanos 1-4), aprofunda agora a dinâmica da Salvação obtida pelo cristão: no Batismo, com a libertação do pecado, da morte e do constrangimento da Lei, o cristão adquire na liberdade a condição de filho de Deus, para viver uma vida nova no Espírito: vida nova que custou a morte de Cristo.

A fé, que é adesão a Cristo, “justifica” o cristão, isto é, coloca-o na justa relação com Deus, uma relação de salvação que dá “paz” e “graça” e que abre à “esperança” (cf. versículos 1-2).

A esperança é certeza que “não engana”, estando fundada no dom do Espírito Santo, que é princípio interior de vida nova, “amor de Deus já derramado em nossos corações” como água viva; o simbolismo da água, dominante nos outros textos, aqui é implícito na imagem do “derramar” (cf. versículo 5). O tema do simbolismo da água aponta a humana sede que transcende a material. Atravessando o seu deserto, Israel prostrado pela sede é salvo pelas águas de milagre que brotam do rochedo. O Apóstolo nos chama a atenção para o plano “espiritual”: esse rochedo é Cristo (1Coríntios 10,4.11), de quem brota o Espírito da Vida. A mulher samaritana busca a água cotidiana, mal entende, mas deseja muito, aquela água de outra ordem, que é um “dom” e que tem Vida e mata a sede para sempre.

Pelo que Paulo proclama na leitura de hoje e em Romanos 1,5 já é um fato bem concreto, a experiência de que a “sede” está saciada: pelo acontecimento da “derrama” das águas do amor nos corações, pelo Espírito Santo já concedido. O coração inundado desse Espírito está supremamente em condição de “amar” a Deus e ser por Ele “amado”.
E o amor de que se fala não é coisa desprezível, sentimentalismo medíocre: está encarnado na morte de Cristo pelos pecadores, que desprezam o próprio amor de Deus. Não há pecado que resista: em Cristo, a lógica humana normal, a justiça retribuição já não vale. O pensamento de Paulo avança por uma contradição: quem desprezaria a sua vida morrendo por um criminoso? Por acaso alguém faria por uma pessoa de bem? Mas o amor de Deus demonstra ser totalmente absurdo: Cristo deu a Sua vida pelos ímpios (cf. versículos 6-8).

Evangelho – João 4,5-42. Jesus se retira da Judéia, para a Galiléia. O caminho mais direto conduz através da Samaria (João 4,4). Entretanto um bom judeu evitaria a região destes “apostatas”. Jesus, pelo contrário, até modera a sua presença e fica alguns dias com os samaritanos (João 4,44). Mas na Samaria, entre os desprezados, está a colheita (João 4,36-38) e surge a profissão de fé (João 4,42).

O contexto é, portanto, de fé e conversão. Jesus fornece à samaritana uma “revelação” que ela não entende plenamente (versículos 7-26), mas anuncia aos samaritanos (versículos 28-30). No fim, realizando-se o encontro com Jesus pessoalmente, os samaritanos crêem na sua própria Palavra e professam a sua fé (versículos 39-42). É o momento da colheita, anunciada no segundo diálogo (versículos 31-38).

O encontro é imprevisto (cf. versículos 5-6). Jesus senta-se, “assim como chega”, junto ao poço, ao meio dia (a hora sexta contada a partir da madrugada, conforme o costume judaico), enquanto os discípulos procuram comida, e Jesus fica só. A mulher aparece para tirar água do poço numa hora imprópria: normalmente isto se faz de manhã, com as outras mulheres do povoado. O fato, da mulher, chegar ao poço nesta hora, sozinha, pode haver razões sociais (uma marginalizada? com tal modo de vida... Jesus e ela entram numa conversa a sós, que causará, depois, o estranhamento dos discípulos. O poço de Jacó simboliza o “centro da tradição samaritana”, como também o “monte” Garizim, versículo 20 ao pé do qual se encontra.

Jesus tem sede (versículos 7-14. Isto é um sinal da sua participação na condição humana (cf. a sede naquela outra “hora sexta”, na Cruz, João 19,28). As reações da mulher mostram claramente os limites de seu nível de compreensão: fica nos conceitos meramente humanos e materiais. Há, primeiro, a barreira do sexo e da tradição religiosa; um judeu pedir água a uma mulher, samaritana... cúmulo de impureza.

Jesus revela à samaritana que ele é maior do que Jacó. Para a mulher, “água viva” significa, conforme o sentido comum na sua língua, água corrente, de fonte ou riacho (em oposição à água de cisterna). Jesus se apresenta, pois, à samaritana como um novo abridor de poços de “água viva”. Mas essa água já não brota da terra: ela é, em Jesus, um dom do céu, uma vida eterna (versículos 10,14). Cristo pensa, sem dúvida, nas profecias de Amós 4,4-8; 8,11 em que a fonte de água simboliza a Palavra de Deus; de Isaias, onde a fonte de água representa a libertação trazida por Deus; de Jeremias 17,6-8, enfim, em que a fonte de água viva é a da sabedoria e da Lei de Deus.

Em seguida Jesus passa a desmantelar a personalidade da mulher, através de um pedido que implica na sua existência pessoal (versículo 16). Ela se defende, dizendo que não tem marido, mas com isso se expõe à luz da verdade, pois, de fato, o homem com quem está vivendo não é seu marido. Mesmo conforme os conceitos samaritanos ela deve ser uma mulher bem leviana (os samaritanos e os judeus só permitiam três casamentos). Jesus valoriza a sinceridade da samaritana.

Jesus revela, a cada pessoa sua própria personalidade. Jesus não se limita, pois, a dar a água viva como que do exterior; mas revela cada pessoa a si mesmo e faz com que cada um de nós descubra o mistério de sua personalidade, lá onde cada qual encontra em si a fonte de água viva (João 7,38). Essa descoberta que cada um faz de sua personalidade é representada, de certo modo, no diálogo em que Jesus revela progressivamente à samaritana o que ela é (versículos 17,29).

No versículo 25 exprime-se a pré-compreensão da fé, a vontade de aceitar a revelação divina, quando ela se mostrar. Uma vez aberta essa brecha, Jesus revela-se como sendo aquele que a mulher, na sua mais profunda aspiração, espera. A expressão “eu sou” (versículo 26) pode sugerir várias tonalidades da revelação divina, a revelação de Javé no monte Sinai (Êxodo 3,13s; cf. João 6,20).

A mulher fica transformada (versículos 27-30). Nesse instante, ela abandona seu cântaro, esquece o motivo que tinha vindo ao poço, e anuncia aos samaritanos o que ela vivenciou. Jesus é aquele que abriu o livro de sua vida.

A presença de Jesus é a hora escatológica, e a colheita são os samaritanos que vêm chegando, e todos os outros que se apresentam como campo de trabalho para a Igreja.

No fim, chegamos à fé verdadeira (versículos 39-42). Os samaritanos, inicialmente interessados em Jesus pelo que disse a mulher (nível da pré-compreensão), chegam agora à fé verdadeira, “de primeira mão”, que professam na exclamação “o Salvador do mundo”. Acreditam por causa da palavra de Jesus mesmo. Só no encontro pessoal com Cristo pode se tomar a decisão da fé.

3. DA PALAVRA CELEBRADA AO COTIDIANO DA VIDA

            A água, todos nós sabemos, é o elemento mais precioso que temos na natureza. Sem água não há vida. Sem ela, tudo seca, tudo morre. Quando os hebreus sentiram falta de água no deserto, desafiaram Deus exigindo uma solução. E Deus atendeu às exigências do povo à beira do desespero.

Jesus, por sua vez, faz a mulher samaritana sentir que ela tem uma sede bem mais profunda, não por água material, mas por “espírito e verdade”. Jesus vem ao encontro desta sede com seu dom, e a alivia. Ele é a “água viva”, “que acaba definitivamente com a sede e faz o mundo viver para Deus”. Paulo, na segunda leitura, evoca o simbolismo da água para falar do ‘amor de Deus, derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado’. O batismo é a efusão do Espírito sobre os fiéis.

Esse dom de Deus é gratuito. Os hebreus, no deserto, desconfiaram de Deus e acharam que deviam desafiá-lo. Mas o dom do Espírito, trazido por Cristo, que dá sua vida por nós, é pura graça. Nem sequer conseguimos pedi-lo como convém, porque ultrapassa o que pedimos. Por isso, devemos deixar Deus converter e educar o nosso desejo, para que nosso desejo material nos leve ao desejo da vida no Espírito.
Por outro lado, a consciência do dom espiritual (= divino) não leva a desprezar o desejo material justo daqueles que realmente estão necessitados. O desejo fundamental conforme a vontade de Deus orienta também a busca dos bens materiais necessários e sua justa distribuição.

Precisamos de verdadeira ‘educação do desejo’. Nossa sociedade consumista não ‘cultiva’ o desejo, mas exacerba-o e o torna desenfreado... Em vez disso, devemos aprofundar nosso desejo, para que ele reconheça a sua meta verdadeira: a ‘água viva’, Cristo, o dom de Deus na comunhão com os nossos irmãos... O desejo da água natural significa o desejo de viver. Aliviada a sede, o desejo continua. Qual é o seu fim? “O desejo não é pecado: é bom, é vital, mas deve ser orientado, através das criaturas, para seu verdadeiro fim, o Criador”.

Por essa razão que Deus nos dá este tempo de Quaresma, a fim de educar nosso desejo para o sentido sagrado e eterno da vida. E, olhando para nosso modelo maior, que é Jesus, nós nos damos conta do quanto ainda estamos longe do Espírito do Senhor, o quanto nós e nossa sociedade ainda nos deixamos guiar mais pela violência do que pelo diálogo...Faz sentido, então, o que com confiança rezamos no dia de hoje: “Ó Deus, fonte de toda misericórdia e de toda bondade, vós nos indicastes o jejum, a esmola e a oração como remédio contra o pecado. Acolhei esta confissão da nossa fraqueza para que, humilhados pela consciência de nossas faltas, sejamos confortados pela vossa misericórdia”.

4- A PALAVRA DE FAZ CELEBRAÇÃO

Deus é fonte

A oração do Dia começa por enunciar Deus como fonte de misericórdia e bondade. Este texto eucológico indica, precisamente, qual o rumo que a prosa com o Senhor vai tomar neta celebração. Em perfeita coincidência com a narração evangélica, vemo-nos reunidos em torno à fonte (ou poço, se preferirmos), para matar nossa vastíssima sede. Sem dúvidas, aqui podemos enxergar como a liturgia realiza o que é narrado pelas Escrituras na vida dos fiéis. Matar a sede é propiciar conforto. Mais uma vez a oração do Dia, agora na sua conclusão, identifica-se com a passagem evangélica e conduz o sentido dos fiéis para o fruto que deverão colher como desfecho dos Santos Mistérios: “manifestar em nossa vida o que o sacramento realizou em nós”. (Cf. Oração depois da comunhão).

O diálogo de Jesus com a Samaritana, ensina o oracional deste domingo, é uma conversa a respeito do deserto que a vida dos cristãos pode se tornar. Mas aqui, ressalta-se não o aspecto de crise que leva ao aprofundamento da fé – como é típico e verdadeiro afirmar no tempo quaresmal – mas, enfoca-se a aridez da existência de quem, embora criado para a felicidade e a plenitude, fecha-se na fragilidade e na fugacidade da vida, paradoxalmente, negando estes dois traços decisivos no ser humano.

A água viva

Na fonte encontramos a água viva que é a Palavra que Jesus oferece à Samaritana. Palavra de Deus, evidentemente, e que não se enclausura no discurso do Mestre à esta que parece ter se tornado discípula da última hora, mas que se expões no trato que a ela oferece. Jesus, misericordiosamente, acolhe a história daquela mulher e, mais que isso, revelando-se como fonte de misericórdia e compaixão, da qual ela bebe e por essa experiência se torna sua discípula.

A experiência ritual na liturgia conduz a este processo de mudança de vida. Aos nos encontrarmos com a fonte e nela (e por ela) sermos misericordiosamente acolhidos, empreendemos o caminho de reverter a aridez de nossa existência em oásis.

5- LIGANDO A PALAVRA COM A AÇÃO EUCARÍSTICA

Assim, no mesmo espírito penitencial, depois que colocamos os dons do pão e do vinho sobre o altar, dons que serão corpo entregue e sangue derramado de Cristo Jesus, o sacerdote então reza em nome de todo o povo: “Ó Deus de bondade, concedei-nos por este sacramento que, pedindo perdão de nossos pecados, saibamos perdoar a nossos semelhantes”.

E Deus realmente nos perdoa. Acolhendo a confissão de nossa fraqueza, ele nos revela o seu imenso amor. Por isso, evocando a cena do evangelho de hoje, o sacerdote abre a oração eucarística com estas lindas palavras que se dirigem a deus: “Ao pedir à samaritana que lhe desse de beber, Jesus lhe dava o dom de crer. E, saciada sua sede de fé, lhe acrescentou o fogo do amor”.

Esse amor se faz presença viva na eucaristia que celebramos. No mistério pascal atualizado na liturgia eucarística saciamos nossa sede de salvação. Saciamos nossa fome com o pão do céu e nossa sede com o sangue de Cristo. E não nos resta senão vivermos de acordo com o dom que recebemos.

Sendo assim, depois de termos participado plenamente da mesa do Senhor pela santa comunhão, o sacerdote então reza em nome de toda a assembléia: “Ó Deus, tendo recebido o penhor do vosso mistério celeste, e já saciados na terra com o pão do céu , nós vos pedimos a graça de manifestar em nossa vida o que o sacramento realizou em nós. Por Cristo, Nosso Senhor”. E todos respondem: “Amém”.
Sim, que assim seja!

6. ORIENTAÇÕES GERAIS

1. À exemplo de Jesus que acolheu benignamente a mulher samaritana, a equipe de acolhida proporcione uma recepção fraterna às pessoas que chegarem pata tomar parte da celebração.

2. Um bom ensaio dos cantos previstos para a celebração se faz necessário, para que ela transcorra em clima realmente orante e de fé. A Paulus editou um CD com os cantos próprios da Quaresma e da Campanha da Fraternidade e para a Missa de cada domingo quaresmal deste ano A. Também temos outros cantos quaresmais que está no CD: CF-2017. Após o ensaio de cantos uns momentos de silêncio e oração pessoal ajudam a criar um clima alegre e orante para a celebração.

3. A Quaresma é tempo especial de escuta da Palavra de Deus. Por isso os leitores empenhem-se em proclamar bem as leituras e o canto do Salmo Responsorial.

7. MÚSICA RITUAL

O canto é parte necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para animar ou enfeitar a liturgia. Por isso devemos “cantar a liturgia” e não cantar na liturgia. Os cantos e músicas, executados com atitude espiritual e, condizentes com “cada domingo da Quaresma”, ajudam a comunidade a penetrar no mistério celebrado. Portanto, não basta só saber que os cantos são da Quaresma, “é preciso executá-los com atitude espiritual. A escolha dos cantos deve ser cuidadosa, para que a comunidade tenha o direito de cantar o mistério celebrado”. Jamais os cantos devem ser escolhidos para satisfazer o ego de um grupo ou de um movimento ou de uma pastoral. Não devemos esquecer que toda liturgia é uma celebração da Igreja corpo de Cristo e não de um grupo, de uma pastoral ou de um movimento.

1. Canto de abertura. “Busquei tua face; não desvies de mim o teu rosto” (Salmo 27/26,8-9.

Estamos no Ano A e o tema da Quaresma deste ano é o Batismo. Peçamos ao Senhor que Ele reacende em nós a “chama batismal”. Como canto de abertura, sugerimos este canto. “Senhor, tende compaixão do vosso povo que acolhe a conversão. Reacendei em nós a chama batismal”, CD: CF-2017, melodia da faixa 7.

Ensina a Instrução Geral do Missal Romano que o canto de abertura tem por objetivo, além de unir a assembléia, inseri-la no mistério celebrado (IGMR nº 47). Nesse sentido o Hinário Litúrgico II da CNBB nos oferece uma ótima opção, que estão gravados no CD: Liturgia XIII ou o CD: CF-2017.

2. Ato penitencial. Substituir o ato penitencial pela aspersão da comunidade, após a homilia, incluindo cantos como “Derramarei sobre vós uma água pura”, CD: CF-2009; “Lavai-me, Senhor, lavai-me”, CD: CF-2004 ou o Salmo 50: “Piedade, ó Senhor, tende piedade”, CD: Liturgia XIII, melodia da faixa 2.

3. Salmo responsorial 94/95. A dureza do coração dos israelitas pedindo água: convite à conversão. “Hoje não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz do Senhor!”, CD: CF-2014, melodia da faixa 5.

4. Aclamação ao Santo Evangelho. “Dá-me água viva”, (João 4,42.15). “Glória e louvor a vós, ó Cristo, Verbo de Deus! Na verdade, sois, Senhor, o salvador do mundo”, CD: CF-2017, melodia da faixa 9.

6. Apresentação dos dons: O canto de apresentação das oferendas, conforme orientamos em outras ocasiões, não necessita versar sobre pão e vinho. Seu tema é o mistério que se celebra acontecendo na fraternidade da Igreja reunida em oração na Quaresma. Podemos entoar: “O vosso coração de pedra”, CD: Liturgia XIII, melodia da faixa 5; “Eis o tempo de conversão”, CD Liturgia XIV, melodia da faixa 6.

A Igreja oferece outras opções para este Domingo: “Volta o teu olhar, Senhor, e dá-nos teu perdão”, CD: CF-2011, melodia da faixa 8; “Sê bendito, Senhor, para sempre”, CD: CF-2014, melodia da faixa 8, , ou o hino da Campanha da Fraternidade 2017.

7. Canto de comunhão: “Uma fonte que jorra para a vida eterna”; (João 4,13-14,5). “Se conhecesses o dom de Deus”, CD: CF-2017, melodia da faixa 15. Outra ótima opção é o Salmo 44/45 com a antífona: “Eu sou a fonte de água viva, quem diz é o Senhor,/ Quem dela beber, terá vida para sempre!”, (João 4,13-14), CD: Liturgia XIII, melodia da faixa 8, ou no Hinário Litúrgico II, página 41, mesma melodia “Então da nuvem luminosa...”

O canto de comunhão deve retomar o Evangelho. No terceiro domingo da Quaresma, somos chamados a mergulhar numa atitude de profunda conversão como fez a samaritana. Devido o espírito de confiança que anima a liturgia de hoje e certos, da misericórdia dele, podemos cantar na comunhão: “Se conhecesses o dom de Deus”, CD: CF-2017, melodia da faixa 15 como indicamos acima. Vamos também com Ele pregar o Evangelho de Deus numa atitude missionária.

8- O ESPAÇO DA CELEBRAÇÃO

1. Se há um elemento, que, sem palavras, cumpre a função mistagógica, isto é, de conduzir para dentro do mistério celebrado, este é o Espaço Sagrado. Por isso, devemos dedicar-lhe todo o nosso cuidado. Neste Domingo destacar no espaço da celebração os símbolos da Cruz e o cântaro.

3. Como tempo preparatório para a páscoa anual, a Quaresma nos convida a uma intensa revisão de vida. Fazer a experiência do vazio, da reserva simbólica (ausência de flores, cantos como o glória, os aleluias e o canto de louvor a Deus após a comunhão, moderação nos instrumentos musicais). A pedagogia da liturgia, em sua simplicidade e despojamento manifestados na Quaresma, nos ensina, por si, a adentrar no mistério da Quaresma.  

4. O cartaz da Campanha da Fraternidade e outras gravuras afins sejam colocados no mural ou noutro espaço cuja finalidade é informar os fiéis dos acontecimentos comunitários. Não é oportuno afixá-lo, por exemplo, na Mesa do Altar ou na Mesa da Palavra. Caso seja apresentado na procissão de abertura, ou na homilia, deve ser reconduzido a um lugar oportuno.

9. AÇÃO RITUAL

A celebração do Mistério Pascal do Senhor é a fonte de onde brota a água viva, a fim de que escapemos da aridez de uma existência desconectada do Evangelho.

Ritos Iniciais

1. Na procissão de entrada, sendo possível, as pessoas que estão se preparando para a celebração batismal (os sacramentos da iniciação cristã) podem ingressar junto com os ministros e o presidente, carregando um bonito “cântaro” com água e colocá-lo diante da Mesa da Palavra ou diante da Cruz processional. Neste terceiro Domingo é importante valorizar o simbolismo da água.


2. Seria muito oportuno a saudação inicial de 2Tessalonicensses 3,5:

“O Senhor, que encaminha os nossos corações para o amor de Deus e a constância de Cristo, esteja convosco”.

3. Em seguida quem preside, ou o diácono ou um leigo ou leiga preparado, dar o sentido da celebração com estas palavras ou outras semelhantes:

Domingo da samaritana. Em nossa caminhada para a Páscoa, junto com a samaritana, fazemos a experiência de um diálogo e encontro íntimo com o Senhor. Recebendo a promessa da água que sacia a nossa sede de Deus e sua justiça, somos convidados a aprofundar o sentido nos nosso batismo.

4. Em seguida fazer uma recordação da vida tornando presentes as realidades que hoje precisam ser transformadas. Trazer os fatos da vida de maneira orante e não como noticiário.

5. No lugar do Ato Penitencial fazer a aspersão da comunidade. Também pode fazer a aspersão após a homilia.

6. O símbolo a ser valorizado hoje é a água. Por este gesto, somos convidados a fazer a nossa profissão de fé em Jesus, como fez a samaritana junto ao poço de Jacó. Nesta celebração seria muito útil à espiritualidade recorrer à ablução com água benta no lugar do Ato Penitencial. Tocar na água abençoada, mergulhar de novo na fonte como recordação do batismo neste domingo seria muito significativo. É importante recordar que, se houver catecúmenos em meio à comunidade, esses não participam do Rito porque ainda não são batizados. Fazer a benção da água que está no cântaro.

7. A seguir uma proposta de bênção da água. O canto para acompanhar o rito “Derramarei sobre vós uma água pura”; “Lavai-me, Senhor, lavai-me”. Ver em Música Ritual.

Ó Deus do Universo
Tu és bendito pela criação
Da qual cuidais com verdadeiro carinho materno.
No deserto de nossa vida,
Não nos deixaste entregues à aridez
De uma existência distante de Ti,
Mas tornaste o deserto lugar de passagem
Para que buscássemos o oásis de tua Presença.
Abençoa esta água,
Na qual nos lavaremos,
A fim de que as sujeiras do pecado e da morte
Sejam limpas e possamos
Continuar nossa peregrinação
Rumo às festas pascais
Quando adentrarmos no jardim do qual fomos retirados
Por termos nos distanciado de tua companhia
Por Cristo, Senhor nosso.
Amém.

8. Na Oração do Dia suplicamos ao Pai, que é a fonte de toda misericórdia, que “acolhei a confissão de nossa fraqueza”.

Rito da Palavra

1. Um breve momento de silêncio entre as leituras permitirá maior profundidade no diálogo entre Deus e o seu povo reunido.

2. Primeiro escrutínio. Onde houver batismo na noite pascal, o ritual do catecumenato prevê uma imposição de mãos sobre aqueles que receberão os sacramentos de iniciação cristã. Depois da homilia, os escolhidos para o batismo, junto com padrinhos e madrinhas, colocam-se diante da comunidade e quem preside reza e impõe as mãos sobre eles. Página 70 do RICA (Ritual da Iniciação Cristã de Adultos).

Rito da Eucaristia

1. Na Oração sobre as Oferendas, peçamos a Deus que pelo sacrifício eucarístico, possamos pedir perdão de nossos pecados e também perdoar os nossos irmãos e irmãs.

2. Estamos no Ano A, seria oportuno conservar aos domingos os prefácios próprios

3. O “Amém” final do por Cristo, em Cristo..., que merece a mesma exultação, é a assinatura do povo à prece que o ministro ordenado, em nome da Igreja, elevou a Deus por Cristo, com Cristo, em Cristo, na unidade do Espírito Santo. Pelo menos aos domingos e dias de festa merece ser cantado.

Ritos Finais

1. Não esquecer após a comunhão, reservar um tempo para a assembléia fazer um profundo “silêncio contemplativo” do encontro havido com Deus. Seria bom que até se fizesse uma breve motivação para esse momento de silêncio orante, previsto pelo Missal Romano, nº 121, página 57.

2. Lembramos que, em si, não há necessidade de um “canto de ação de graças” após a comunhão (como virou costume em muitas comunidades), pois a ação de graças, na verdade, já aconteceu; foi a Oração Eucarística. O Missal Romano orienta que depois da comunhão “guardar durante algum tempo um sagrado silêncio...”. Depois do silêncio contemplativo, “entoar um canto de louvor ou um salmo” (IGMR, nº 121. Lembramos também que durante a Quaresma omite-se este canto, e conserva-se o sagrado silêncio.

3. Na Oração depois da Comunhão, suplicamos a Deus que depois de sermos saciados na terra com o pão do céu, manifeste em nossa vida o fruto do sacramento através de nossas ações.

4. As palavras do rito de envio podem estar em consonância como mistério celebrado: “Aproximai-vos de Cristo a fonte de água viva”. Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe.

10- CONSIDERAÇÕES FINAIS

A nossa conversão e purificação acontecem no encontro pessoal com Cristo, a fonte de água viva que nos conduz à vida eterna. Este encontro se realiza, porém, principalmente no seio da comunidade cristã. Por isto é preciso que ela exista não apenas como paróquia morta, mas como comunidade missionária. É preciso entender e sentir que a expressão da fé, também, se baseia numa convivência com Cristo, dentro da comunidade de fé, enquanto mostramos na nossa “prática” que aderimos àquilo que Ele nos fez conhecer.

O objetivo da Igreja é ajudar os padres e as comunidades de nossa diocese e todas aquelas outras comunidades fora de nossa diocese que acessar nosso site celebrar melhor o mistério pascal de Cristo.

Um abraço fraterno a todos

Pe. Benedito Mazeti

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