09 de abril de 2017
Leituras
Mateus 21,1-11 (Evangelho da bênção)
Isaias 50,4-7
Salmo 21/22,8-9.17-20.23.24
Filipenses 2,6-11
Mateus 26,14-27,66 ou 27,11-54
“BENDITO O QUE VEM EM NOME DO SENHOR !”
1- PONTO DE PARTIDA
Domingo de
Ramos da Paixão do Senhor. O Domingo de Ramos é a porta de entrada da Semana
Santa. Chegamos, finalmente, a Jerusalém. Com a celebração de hoje, entramos na
“Grande Semana” ou mais conhecida “Semana Santa”. Apoiados na Palavra de Deus,
vimos Jesus e percorremos com ele, durante toda a Quaresma, uma longa caminhada
até aqui. Ouvimos e meditamos a Palavra de Deus que nos convoca à conversão em
vista da alegria da Páscoa. Fizemos penitencia. Rezamos bastante. Participamos
dos círculos bíblicos, dos encontros na rede de comunidades, da Via Sacra, onde
refletimos em torno do tema da Campanha da Fraternidade.
Durante esta
semana somos levados a rever e rememorar os acontecimentos finais da vida de
Jesus Cristo. O auge da Semana Santa é o Tríduo Pascal: Quinta-Feira Santa,
Sexta-Feira Santa (ou da Paixão e morte de Jesus) e Sábado Santo (ou Vigília
Pascal.
Estamos em
Jerusalém, o cenário principal em que acontece a nossa Páscoa. Saudemos com
Hosana o Filho de Davi, em sua entrada em Jerusalém. Vamos
ao seu encontro com ramos nas mãos e O acolhamos em nossas vidas
2- REFLEXÃO BÍBLICA, EXEGÉTICA E LITÚRGICA
Contemplando os textos
Evangelho da bênção – Mateus 21,1-11. O
primeiro texto bíblico de hoje é o Evangelho da entrada de Jesus em Jerusalém,
última etapa da subida à Cidade Santa (Lucas 18,31-43). O texto é chamado de
Evangelho da bênção.
A narração de
Mateus contém duas citações do Primeiro Testamento: Zacarias 9,9 e Salmo
117/118,25-26. Entre os evangelistas, só Mateus, interpretando em chave
messiânica a entrada de Jesus na Cidade Santa, cita fielmente o texto do
profético de Zacarias 9,9. Anúncio e cumprimento estão unidos com a fórmula do
costume: “Isto sucedeu para se cumprir o que o profeta tinha anunciado”
(versículo 4). Uma outra ligação é estabelecida entre a ordem de Jesus e a sua
execução pelos discípulos (cf. versículo 6; cf. Mateus 1,24). Em relação aos
outros evangelistas, Mateus amplifica o acontecimento: “Numerosa multidão”;
isto é, “Toda a cidade” (versículos 8.10; cf. Mateus 2,3).
A narrativa de
Zacarias 9,9 serve de base para Mateus e de interpretação: um rei virá como
Messias, mas num aparato pobre, contrastando com o aparato tradicional dos reis
poderosos.
Cristo
fazendo-se reconhecer nesta situação de pobreza, os discípulos e a multidão
dirigem-lhe uma aclamação de inspiração messiânica (versículos 8-9). Este
louvor é, sobretudo, inspirado pelo salmo 117/118, cântico da restauração da
nova Jerusalém, característico da festa das Tendas, principalmente os
versículos 9.26 e 27b: “Bendito o que vem em nome do Senhor” (versículo 26a),
que entrou para o canto do Santo da Missa Romana; “É melhor abrigar-se no
Senhor do que confiar nos nobres” (versículo 9); “Formai procissão com ramos
até aos ângulos do altar” (versículo 27b).
No entanto, Mateus introduz nele um título que aumenta o alcance
messiânico e real da citação: “filho de Davi”.
Na descrição
da procissão feita por Mateus, a multidão agita os ramos que trazem nas mãos
(Lucas ocidentaliza falando apenas dos mantos estendidos pelo caminho). A
entrada de Cristo em Jerusalém está influenciada pelo ritual tradicional da
“festa das Tendas”, também chamada de festa dos Tabernáculos onde havia
justamente no hábito de agitar os ramos (Levítico 23,33-34). Na liturgia
judaica, a festa das Tendas coincidia com as colheitas; ela encerrava o ano
celebrando sua fecundidade, e invocava a bênção divina sobre o novo ano. Os
versículos do Salmo 117/118, bem colocado para esta manifestação, tem o empenho
de unir a parábola dos vinhateiros homicidas e outros versículos deste mesmo
salmo, revelando que Cristo só será plenamente Messias depois de sua morte
(Mateus 21,42). Os evangelistas situam a entrada de Cristo em Jerusalém nos
dias que precedem a Páscoa, e não tanto com a festa das Tendas.
Assim a
entronização do Messias passa pela Cruz; não há outro caminho que conduza à
glória: é o mistério pascal.
Neste
Evangelho seguem-se imediatamente, sem interrupção e como se tudo acontecesse
no mesmo dia, a Cura dos Cegos de Jericó (Mateus 20,29-34), a Entrada em
Jerusalém e no Templo (21,1-12a) e a Purificação do Templo de Jerusalém
(21,12b-17). Um resumo mostra como Mateus uniu as três cenas e como ele
transformou a viagem de Jesus desde a cidade de Jericó até o Templo em uma só
grande encenação da vinda do Messias, o Filho de Davi, à Jerusalém/Sião.
Mateus ligou e
relacionou as cenas ainda mais entre si pela repetição do título messiânico
“Filho de Davi” (20,30.31; 21,9; 21,15); do verbo “gritar” (20,30.31; 21,1;
21,15) e da referência “à grande multidão”.
Na primeira
cena Mateus diz que Jesus “cheio de compaixão” atendeu ao pedido dos cegos e os
curou. Na segunda cena Mateus cita explicitamente, diferente de Marcos e Lucas,
a profecia de Zacarias 9,9: “Eis que o teu rei vem a ti, manso e montado em um
jumento, em um jumentinho, filho de uma jumenta” (Mateus 21,5). A palavra,
“manso” é a mesma de Mateus 5,4: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a
terra”.
Na terceira
cena, dentro do recinto do Templo, Jesus é procurado “pelos cegos e coxos e
aclamado pelas crianças”, enquanto os grandes e poderosos O criticam e O chamam
à atenção. Esta parte da terceira cena (21,14-16) é totalmente própria de
Mateus, isto é, não é citada por Marcos, Lucas e João. E também só Mateus cita explicitamente o
Salmo 8,3: “Nunca lestes que: Da boca dos pequeninos e das criancinhas de peito
preparaste um louvor para ti?”; (cf. Mateus 21,16).
As três cenas
foram concebidas por Mateus e compostas como uma unidade literária. Elas
começam e terminam com a cura de cegos
Primeira leitura – Isaias 50,4-7. O
texto é do terceiro dos assim chamados “Cânticos do Servo de Javé”. Pertence a
um profeta chamado Dêutero-Isaias que compôs Isaias 40-55 e exerceu sua missão
em meados do século VI AC entre os exilados da Babilônia. O poema abrange os versículos de 4-9. Nos
versículos 5b-6 aparece a motivação típica (protesto de inocência) que prepara
a súplica dos salmos de lamentação individual: “não fui rebelde, não me
esquivei; aos que me feriam apresentei as minhas costas...” é preferível
qualificar o poema como um salmo individual de confiança. De fato, a partir do
versículo 7 se desenvolvem os dois motivos básicos de tais salmos: a afirmação
de confiança e a certeza de ser atendido.
A lamentação
individual no Antigo Testamento é própria de pessoa de bem em geral, que se
consideram injustamente perseguidas. Entre elas aparecem sobretudo os
mediadores, ou porta-vozes da Palavra de Deus, como Moisés (cf. Números
11,10-15; Deuteronômio 18,15-19), Elias (1Reis 19,1-18) e Jeremias
(17,17-18;20,7-17). Eles sofrem precisamente em conseqüência da ingrata missão
de mediadores.
Antes de tudo
o profeta se apresenta como um discípulo (versículo 4a). Atento às palavras do
Mestre, ele não guarda o conteúdo da mensagem para si, mas a transmite aos
outros (cf. Jeremias 1,7; Ezequiel 2,3-3,4; Deuteronômio 18,18). Esta mensagem
já não é uma palavra ameaçadora como nos profetas pré-exílicos, mas uma palavra
libertadora, capaz de reconfortar os desanimados (cf. Isaias 40,6-11.27-31;
41,14; 42,1-7; Ezequiel 37,11). Como profeta ele está continuamente atento às
palavras que recebe de Deus (cf. Jeremias 15,16: “Todas as manhãs ele desperta
meus ouvidos para que escute como discípulo” (versículo 4b). somente assim
torna capaz de levar sua missão em frente sem desfalecer (versículo 5). Como
outros profetas (cf. Amós 7,10-17; Miquéias 2,6.10; Jeremias 20, 7-18) também o
Dêutero-Isaias sofreu o desprezo e a perseguição (versículo 6) da parte de seus
ouvintes no exílio, por causa da mensagem que proclamava. Presume-se que o
motivo dessa reação da comunidade exílica contra o profeta tenha sido o seu
universalismo, pois anunciava o reino messiânico também aos pagãos (cf. Isaias
45,14; 49,6). Mas como os justos perseguidos dos salmos de lamentação
individual (cf. Salmo 5; 6; 22, etc.), ou como Jeremias (15,17, 17,13; 20,11),
o profeta põe toda a sua confiança em Deus, que o fortifica (versículo 7) e
frustrará os insultos dos adversários (versículo 8-9).
Também Jesus
está animado da mesma confiança dos profetas que sofreram por causa da mensagem
que deviam anunciar. Inspirado na figura do Servo Sofredor, Ele entra resolvido
em Jerusalém para levar a sua missão até o fim. Ali enfrentará toda espécie de
desonra por causa de sua doutrina, na certeza do apoio divino que o levaria à
vitória final.
Qual é o
personagem que se esconde atrás do título “servo”, tão rico de conteúdo para p
pensamento cristão? É um dos problemas do Primeiro Testamento mais discutidos
pelos entendidos. Tem-se formulado numerosas hipóteses de interpretação. Há
três correntes maiores.
A primeira vê
o Servo de Javé um indivíduo, distinto do povo (em Isaias 49,6 e 53,3-8 ele
desempenha um papel junto ao povo, enquanto nas outras partes e Dêutero-Isaias
a expressão “o Servo de Javé” indica o povo todo!). Mas não se chegou a um
acordo a respeito desse personagem. Trata-se de uma figura do passado (Moisés;
Davi ou um de seus descendentes); ou no futuro (o Messias; um rei glorioso dos
fins dos tempos)? A dificuldade não vem de hoje. Ela já aparece no Novo
Testamento: “De quem disse isto o profeta: de si mesmo ou de outro?” (Atos
8,32-35).
De qualquer
modo unem-se na figura do Servo de Javé traços proféticos e reais. E ele é
também salvador, sacerdote e vítima ao mesmo tempo que, pelos seus sofrimentos,
“intercede pelos culpados” (Isaias 53,12). Ele tem uma missão missionária junto
a todos os povos.
A segunda
corrente dá à expressão “Servo de Javé” um sentido coletivo. Ele não vê no
Servo um indivíduo, distinto do povo de Israel. É o povo que será luz das
nações; que deverá sofrer a perseguição e a morte pela salvação dos povos.
Admite-se que se trataria de um grupo pequeno de fiéis no meio do povo. Seria o
pequeno resto que permanece fiel a
Deus e que deve servir de testemunha aos demais membros do povo e às nações.
A terceira
corrente as duas anteriores. Ele dá a expressão um sentido representativo.
Usa-se o termo: personalidade corporativa. O Servo de Javé incorporaria na sua
pessoa todo o povo, seu passado e o seu futuro. O profeta que escreveu os
cantos teria projetado nele o verdadeiro Israel. O Novo Testamento proclama a
realização destas expectativas em Jesus de Nazaré, na sua vida, paixão e morte,
e ressurreição.
Salmo responsorial 21/22,8-9.17-18a.19-20.23-24.
O Salmo é uma súplica a Deus
numa hora de sofrimento e abandono.
Salmo de grande intensidade, expressa em imagens vigorosas, em pedidos
insistentes, e também numa esperança triunfante.
O limite do
sofrimento é sentir o abandono de Deus, que parece não ouvir a oração. A
gozação das pessoas redobra a dor do salmista, seu sentimento de abandono;
contudo, são também um argumento para mover a Deus, ao qual os insultos
atingem. Do extremo da dor passa para o a segurança da esperança: a salvação é
certa, próxima, e já pode convidar a comunidade a unir-se com ele no louvor a
Deus.
A lamentação e
a prece de um inocente perseguido terminam em ação de graças pela libertação
esperada (versículos 23-27 e adaptam-se à liturgia nacional pelo versículo 24 e
o final universalista (versículos 28-32, em que a vinda do Reino de Deus no
mundo inteiro aparece logo após as provações do servo fiel. Próximo do poema do
Servo Sofredor (Isaias 52,13-53,12), este salmo, cujo início Cristo pronunciou
sobre a cruz e no qual os evangelistas viram descritos diversos episódios da
Paixão, é, portanto, messiânico, ao menos em sentido típico. É a súplica de uma
pessoa num momento de intenso sofrimento e abandono, retomada por Jesus no
momento angustiante de sua cruz, entreguemos ao Pai a nossa vida e a vida de
tantos irmãos e irmãs que passam pelo vale do sofrimento e da morte.
O rosto de
Deus no Salmo 21/22. Há uma relação íntima e pessoal entre o justo e Deus, a
ponto de o justo chamá-lo de “meu Deus”. Os antepassados confiavam em Deus e
eram libertos (versículos 5-6). Por causa desse Deus da Aliança é que essa
pessoa tem a coragem e a confiança de clamar. A imagem mais bela de Deus neste
Salmo é, portanto, a do Deus que ouve o clamor do pobre injustiçado e o
liberta, fazendo-o cantar hinos de louvor (versículos 23-27). Aparece de
maneira clara o rosto de um Deus libertador.
De acordo com
Marcos (15,34) e Mateus (27, 46), Jesus rezou este Salmo na cruz. Ele,
portanto, é o justo inocente que clama confiante. E Deus lhe responde com a
ressurreição. Jesus em toda a sua vida ouviu todos os clamores do povo e
atendeu com misericórdia. Ele é, portanto, a resposta do Deus que ouve os
clamores e liberta.
Segunda leitura – Filipenses 2,6-11. No
contexto de uma exortação de Filipos Paulo cita um hino cristológico. Através
desta citação sugere que as principais coordenadas da salvação operada através
de Cristo marquem a existência cristã. Estas coordenadas aparecem na estrutura
do hino. Seu tema central são a humildade e a disponibilidade do serviço do
Messias Jesus. Ele não quis se beneficiar de privilégios de ser Filho de Deus,
mas diminuiu-se para se tornar um de nós, como nós. E somos convidados a ter os
mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus.
Na
glorificação (doxologia) “Jesus Cristo é o Senhor” em que culmina o hino,
dirige-se a Jesus o nome que no Primeiro Testamento é reservado a Deus.
Conforme o hino, Jesus, morto na cruz e depois exaltado, recebe de Deus e da
comunidade o nome de “Javé”. Antes Ele não tinha este nome. Ele era Deus
preexistente. Assumindo a natureza humana poderia ter-se valido desta igualdade
com Deus Pai. Ma ao tornar-se homem e inaugurar a Sua missão preferia
apresentar-se á humanidade como servo de Deus e não como senhor do universo.
Esta preferência não era somente de ordem subjetiva, mas de ordem objetiva. Ele
revela que a pessoa humana se realiza mais na submissão a Deus do que no
senhorio sobre o mundo e o universo. A soberania da pessoa humana só será
plenamente humana se e na medida que ela for serviço de Deus. O fato que Jesus
recebe o senhorio sobre o universo depois de Sua obediência até a morte revela
que nela não há nada de usurpação.
“Jesus é
Javé”. Esta confissão de fé ou glorificação (doxologia) não é uma divinização
ou deificação indevida que existia no mundo no mundo greco-romano, em que reis
e imperadores se deixavam idolatrar como deuses. Não era uma blasfêmia para os
primeiros cristãos e não o é para nós, porque nela se professa que se procura a
salvação em alguém que deu honra a Deus e recebeu honra de Deus. “Esvaziou-se
(ou: aniquilou-se) a si mesmo... feito obediente até a morte da cruz”. Na
confissão de fé “Jesus é Javé” professamos que Deus deu razão a Jesus e que nós
também Lhe damos razão. Isto não é blasfêmia, porque nisso também professamos
que a realização plena da pessoa humana existe na dependência absoluta de Deus
antes, durante e depois da morte; e que, por isso, pode-se arriscar a vida pela
glória de Deus.
Evangelho – Mateus 26,14-27,66 ou 27,11-54
(mais breve). De muitas maneiras o evangelista Mateus conseguiu expressar a
sua própria teologia e cristologia, recordando a Paixão de Jesus. Alguns
elementos sobre a Paixão de Jesus são exclusivos de Mateus: as palavras de
Jesus a respeito de Judas Iscariotes “Ai daquele homem por quem o Filho do
Homem for entregue!” (Mateus 26,24), e ao mesmo Judas na hora do beijo da
traição, Jesus respondeu-lhe, “Amigo, para que estás aqui”? (Mateus 26,50), e a
notícia do trágico fim de Judas, “Judas, que o entregara, vendo que Jesus fora
condenado, sentiu remorsos e veio de devolver aos chefes dos sacerdotes e aos
anciãos as trinta moedas de prata, dizendo: ‘Pequei, entregando sangue
inocente’. Ele, atirando as moedas no Templo, retirou-se e foi enforcar-se”
(Mateus 27,3-5), os motivos pelos quais não se deve recorrer à espada, isto é,
à vingança “Guarda tua espada no seu lugar, pois todos os que pegam a espada
pela espada perecerão” (Mateus 26,52), a intervenção da esposa de Pilatos
“Enquanto estava sentado no tribunal, sua mulher lhe mandou dizer: não te
envolvas com esse justo, porque muito sofri hoje em sonho por causa dele”, o
protesto de inocência de Pilatos que lava as mãos “Vendo Pilatos que nada
conseguia, mas, ao contrário, a desordem aumentava, pegou água e lavando as
mãos na presença da multidão, disse: Estou inocente desse sangue. A
responsabilidade é vossa” (Mateus 27,24), a aclamação do povo que assume a
responsabilidade da morte de Jesus depois da declaração de Pilatos “Todo o povo
respondeu: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos” e o pedido da
autoridade judaica para se colocarem guardas na entrada do sepulcro “Que o sepulcro
seja guardado com segurança até o terceiro dia, para que os discípulos não
venham roubá-lo e depois digam ao povo: ele ressuscitou dos mortos” (Mateus
27,64).
Constata-se na
versão de Mateus o lugar importante do tema da realização das Escrituras. Mateus
prova aos judeus-cristãos, que esperavam um Messias triunfante e glorioso, que
as profecias também prevêem um Messias sofredor e que as Escrituras previam o
desenvolvimento da Paixão nos mínimos detalhes.
A agonia de
Jesus no Getsêmani estava assim prevista pelo Salmo 41/42. Desde a prisão de
Jesus, Mateus ressalta que tinha que ser assim, para “realizar as Escrituras”
(26,54-56), refutando assim a opinião que desejava uma resposta armada a
respeito da prisão de Jesus.
Tanto Marcos
como Mateus insistem sobre o fato de que Jesus nada responde a Pilatos.
Lembrando assim o silêncio do Servo sofredor diante das injúrias (Isaias 53,7).
Mateus ressalta que a bebida oferecida a Jesus na cruz era vinho com fel e
comprova assim o texto do Salmo 68/69,22 cf. Mateus 27,34. Mateus também é o
único que apresenta às zombarias pronunciadas pelos judeus em relação a Jesus
crucificado: “Salvou os outros, a si mesmo não pode salvar!” (Mateus 27,42).
Durante o
inquérito Pilatos recebe o recado de sua mulher a respeito do sonho. É
interpretado como um testemunho divino da inocência de Jesus. No Primeiro
Testamento e no próprio Mateus os sonhos têm este sentido religioso. Eles
comunicam profecias (cf. Gênesis 37,5-10; 40; 41; Juízes 7,13ss; Daniel 2,1;
4,2; Ester 10,5, etc.), revelações de verdades desconhecidas (cf. Jó 7,14;
Sabedoria 18,17) e recados (Mateus 1,20-23; 2,12.13.19-22). Provavelmente
Mateus viu no sonho um testemunho da inocência de Jesus, muito mais do que um
aviso a Pilatos.
Mateus além da
coroa de espinhos menciona que puseram “na mão de Jesus uma vara”. Esta vara
certamente substituía o símbolo da realeza, o cetro. Os judeus zombavam de
Jesus como Messias (26,68), os soldados romanos como rei. Somente Mateus diz
que zombavam da pretensão de Jesus de ser o Filho de Deus (versículos 40 e 43).
Além dos
fenômenos que Mateus tem em comum com Marcos e Lucas (as trevas: versículo 45;
a rasgadura do véu do Templo: versículo 51a), há alguns que somente ele
menciona, como, o terremoto, a rachadura das rochas e a ressurreição de “muitos
santos” que “entraram na Cidade Santa depois da ressurreição de Jesus e
apareceram a muitas pessoas” (versículos 51-53). Alegando todos estes
fenômenos, Mateus provavelmente quis sugerir que com a morte de Jesus chegou “o
dia do Senhor”. Os terremotos são os fenômenos anunciados pelos profetas para o
dia do Senhor (Amós 8,9. O conjunto desses fenômenos certamente quer sugerir
que o dia da morte de Jesus é “o dia do Senhor”, que marca um corte na história
da salvação.
Mateus é
finalmente o único a mencionar a riqueza de José de Arimatéia (Marcos fala de
sua notoriedade e Lucas de sua piedade), com a preocupação de comprovar a
profecia de Isaias 53,9: “Seu túmulo está com os ricos”.
O véu rasgado
torna caduca a antiga Aliança, o terremoto introduz a Nova Aliança selada no
Seu sangue. A fé do centurião romano anuncia a conversão das nações pagãs.
Dando o corpo de Jesus aos “discípulos”, os sumos sacerdotes renunciam
voluntariamente de suas prerrogativas e deixam para a Igreja o cuidado de ser
sinal de Cristo no mundo.
Uma das
características próprias de Mateus, é a menção dos guardas na cruz de Jesus
(Mateus 27, 36 e 54) e, sobretudo no túmulo (Mateus 27,62-66), citação que os
outros evangelistas não fazem. A chave desta citação é dada pelo próprio Mateus
em 28,11-15.
A fé de Mateus
em Cristo é tão forte que chega a compor uma narrativa para destruir a mentira
dos judeus. O importante é que ele é fiel a uma história mais verdadeira, a de
sua fé de rabino judeu convertido a Jesus Cristo.
3- DA PALAVRA CELEBRADA AO COTIDIANO DA VIDA
“Jesus entra
em Jerusalém como rei messiânico, humilde, pacífico, em atitude de serviço, e
não de poder. Ele é o Servo paciente” que se encaminha para enfrentar
pacificamente, sem violência, a humilhação e o aparente fracasso, impostos pela
maldade humana. Mas ele entra para vencer! Como? Pela violência não violenta do
amor. “O caminho de Jesus e, portanto, também do cristão é o paradoxal: pelo
fracasso ao triunfo, pela derrota à vitória, pela humilhação à glória, pela
morte à vida e à ressurreição”(B. Caballero).
Jesus entrou em Jerusalém. Até
chegar aí, ele havia feito um caminho. Durante três anos havia percorrido a
Judéia e a Galiléia como missionário de Deus, anunciando o projeto do Pai em
relação aos seres humanos. Muitos fatores e circunstâncias suscitaram a
inimizade, a inveja e o ódio dos chefes político-religiosos do povo judeu. “Sua
mensagem de amor, de serviço e de pobreza, sua Boa-Nova de salvação para os
pobres, seus milagres como sinais do Reino de Deus, sua denúncia profética da
religião ritualista e do culto vazio do templo de Jerusalém... sua proclamação
de uma lei e religião novas fundadas no espírito , na verdade e no amor, suas
bem-aventuranças que são uma inversão completa dos valores humanos em moda por
outros critérios e atitudes revolucionárias, e toda uma série de encontros,
discussões e invectivas com os escribas e fariseus da lei mosaica, foram
preparando o desenlace final. Seus inimigos conseguiram, enfim, legitimar sua
condenação à morte pressionando Pilatos, o poder civil romano, e com a anuência
de grande parte do povo, enganado por eles” (idem).
Naquele
instante chegara a hora de Jesus enfrentar a tentação derradeira. Usar
violência? Não! Desistir? Também não! Se Deus é amor, Jesus, como enviado de
Deus, jamais poderia usar da violência. E se ele é enviado para salvar os seres
humanos, também não poderia desistir da missão, custasse o que custasse. Ele
sentiu a tentação de descumprir a vontade de Deus: “Pai, se queres, afasta de mim
este cálice”, desabafou Jesus no meio da angústia. Mas ele conseguiu vencer a
tentação de realizar seus próprios interesses: “Contudo, não seja feita a minha
vontade, mas a tua!”, falou Jesus para o pai. Ele enfrentou todos os
sofrimentos de sua paixão, tanto físicos (torturas, flagelação, coroação de
espinhos, crucificação) como psíquicos (traição de Judas, preço de escravo à
sua pessoa, negação de Pedro, deserção geral de seus discípulos, ingratidão do
povo judeu, inveja e ódio de seus chefes religiosos). Enfrentou com amor, com
espírito de entrega, como alguém que não veio para ser servido, mas para
servir, personificando a eterna misericórdia de Deus. Por isso que, do alto da
cruz, suas palavras foram de perdão e entrega: “Pai, perdoai-os, porque não sabem
o que fazem”. Ao bom ladrão disse: “Hoje estarás comigo no paraíso”. E, enfim:
“Pai, em vossas mãos entrego o meu espírito”.
Assim como
profetizou Isaías a respeito do Servo sofredor, este Servo é o próprio Jesus,
como ouvimos hoje: “Não desviei meu rosto das bofetadas e cusparadas. Sei que
não serei humilhado...Por isso não me deixei abater o ânimo”. “Meu Deus, meu
Deus, por que me abandonastes?”, gritou ele. Mas não se deixou vencer pelo
sentimento de abandono. “Humilhou-se a si mesmo”, sim. Por esta razão, pela
não-violência do amor à humanidade, “Deus o exaltou acima de tudo”.
Um exemplo
interessante é a cegueira das autoridades que, obcecadas pelo poder
político-religioso, não conseguiram (ou não quiseram!) enxergar em Jesus a
presença viva do próprio Deus, e assim mataram um inocente. Isto também
acontece muito entre nós, infelizmente! E um terceiro exemplo é a postura de
Jesus que, como enviado do Pai, venceu a tentação da violência, que só quer
“levar vantagem em tudo”. Vítima de uma grande violência, não respondeu com
violência igual. Seu exemplo é o da misericórdia, do perdão, da não-violência
ativa, do serviço a todos, da entrega de si a serviço da vida. Isto da mesma
forma acontece em nossas comunidades... graças a Deus! Existem tantas pessoas
com posturas muito parecidas com a de Jesus, que não se deixam dobrar pela
tentação da violência, qualquer que seja. Felizes delas!
4- A PALAVRA SE FAZ CELEBRAÇÃO
A alegria da Páscoa
A tradição
litúrgica do ocidente conhece uma expressão bem pouco lembrada para compreender
e celebrar o mistério da Paixão do Senhor: beata passio. Pius Parsch,
agostiniano austríaco, grande nome que contribuiu para a reforma litúrgica do
Vaticano II nos lembra, em artigo não muito distante, que “É importante lembrar
a profunda diferença entre os velhos sentimentos dos cristãos de hoje. Como a
piedade popular acha que é a Paixão de Cristo? Ela adere ao sofrimento
histórico do Senhor, ela tenta imaginar de uma maneira vívida as cenas
especiais do ‘amargo sofrimento’, ele analisa os sentimentos e pensamentos do
sofrimento Salvador, tem compaixão e ela chora.” Reitera, em seguida, que a
liturgia, em contrapartida, não fica imóvel diante do sofrimento histórico do
Senhor, mas, com sua inteligência, resgata o seu sentido mais genuíno e
profundo: o reconhecimento de que, por sua páscoa, Jesus nos fez participantes
de sua filiação. Por isso, a Oração eucarística I, na sua versão latina traz a
feliz expressão beatae passionis quando, após a narrativa da instituição,
recorda e oferece o sacrifício de Cristo, de nos fazer membros da vida divina
por sua cruz e ressurreição. Tal expressão não permaneceu na versão portuguesa
do Cano Romano. Mas, felizmente, é conservado na Antífona que acompanha o beijo
da cruz na Sexta-Feira santa, um fraseado que lhe é semelhante: “Adoramos, ó
Senhor, vosso madeiro; vossa ressurreição nós celebramos. Veio a alegria para o
mundo inteiro por esta cruz que hoje veneramos.” Também o antigo hino “Crux
Fidelis” nos lembra este sentido ao convidar para o louvor da Cruz de Cristo:
Cantemos hoje em memória da luta que houve na cruz, este sinal de vitória, que
todo um povo conduz; nela coberto de glória, morrendo, vence Jesus.”
O sentido do Domingo
de Ramos
Olhando a
liturgia do Domingo de Ramos por este ângulo, perceberemos que é importante
escapar do romantismo de quem ainda pensa na insuperável ofensa a Deus pela
morte do Redentor. Para a inteligência da fé é evento salvador, cumprimento das
Escrituras na vida do povo (cf. Emaús Lucas 24,13-35). O Domingo de Ramos dá a
chave para abrir as portas da Semana Santa, a fim de que os Mistérios aí
celebrados sejam vividos não só corretamente do ponto de vista da ortodoxia da
fé, mas que produzam frutos de verdade e justiça na comunidade dos fiéis e
estes não fiquem presos aos sentimentos de pena quanto à morte do Senhor. Os
sentimentos em torno da morte nos abrem à compreensão da dimensão da entrega do
Senhor, mas por si só não dão testemunho da fé celebrada e vivida pela Igreja.
Ao celebrar a
Páscoa de Cristo, sua Cruz e Ressurreição, sempre unidas embora o enfoque
recaia sobre um ou outro aspecto, a depender da festa que se celebra, a Igreja
canta o Mistério de se ver unida ao Filho, de se enxergar “ressuscitada com ele
na glória” mesmo que isso signifique a partir da contemplação de seu sofrimento
(cf. Oração do Dia).
5- LIGANDO A PALAVRA COM A AÇÃO EUCARÍSTICA
Reconciliação
e paz, vida para todos: eis a grande conquista da Páscoa de Jesus para todos
nós. Então, depois de prepararmos a mesa para celebrar a presença do seu
sacrifício salvador, do qual participamos neste domingo, o sacerdote reza em
nome de toda a assembléia: “Ó Deus, pela paixão de nosso Senhor Jesus Cristo,
sejamos reconciliados convosco, de modo que, ajudados pela vossa misericórdia,
alcancemos pelo sacrifício do vosso Filho o perdão que não merecemos por nossas
obras”.
Deus merece
todo louvor e ação de graças por ter-nos dado seu Filho tão profundamente
solidário com o ser humano, a ponto de ele mergulhar no abismo de nossa própria
morte para dela resgatar o ser humano pecador. Por isso, abrindo a grande
oração eucarística, pela qual anunciamos a presença viva da Páscoa de Jesus e
nossa, o sacerdote, em nome de todos, proclama solenemente: “Inocente, Jesus
quis sofrer pelos pecadores. Santíssimo, quis ser condenado a morrer pelos
criminosos. Sua morte apagou nossos pecados e sua ressurreição nos trouxe vida
nova”.
Enfim, uma vez
alimentados pela presença vitoriosa do Senhor, na eucaristia que celebramos e
comungamos, ouvimos a seguinte prece confiante que se eleva ao Deus altíssimo
em nome de todos: “Saciados pelo vosso sacramento, nós vos pedimos, ó Deus:
como pela morte do vosso Filho nos destes esperar o que cremos, dai-nos pela
sua ressurreição alcançar o que buscamos”.
6- O SIMBOLISMO DOS
RAMOS
O simbolismo
da “arvore” é muito forte na Bíblia: as árvores do paraíso, especialmente a
“árvore do conhecimento do bem e do mal” e a “árvore da vida” (Gênesis 2,9;
Apocalipse 2,7; 22,14) são símbolos da Torá. O cedro do Líbano, a figueira, o
carvalho e principalmente a videira, entre outras, muitas vezes simbolizam o
povo de Israel. Valor simbólico especial tem a oliveira: um ramo seu é o sinal
de que acabou o dilúvio e a vida voltou à terra (Gênesis 8,11;9,1.7-11) É de
seu fruto que se extrai o azeite, óleo fundamental para a alimentação e a
saúde, carregado também de um rico valor simbólico, como na unção de reis,
profetas e sacerdotes. Paulo fala da salvação dos pagãos comparando-os a uma
“oliveira selvagem” que foi enxertada na oliveira boa, Israel (Romanos
11,16-24).
Os ramos desta
procissão são uma metáfora da própria paixão, morte e ressurreição, na relação
vida-morte-vida. As árvores têm seus ramos verdes arrancados, o que simboliza a
morte, pois esses ramos secarão; mas elas também os “doam” para servir ao
Senhor da Vida. Os vegetais, representados pelas árvores, foram dados a nós
como alimento, são o nosso sustento, como tão bem nos diz o Gênesis. De certa
forma, então, eles “morrem” para que nós tenhamos vida!
7. ORIENTAÇÕES GERAIS
1. O Domingo de Ramos abre a.
Semana Santa e conta boa participação da Comunidade. Por isso, e, sobretudo,
pelo seu importante significado teológico e espiritual, deve-se dedicar imenso
zelo na preparação das celebrações. Uma boa leitura do Lecionário, do Missal
Romano, do Hinário II da CNBB, das rubricas dará indicações do que deve ser
preparado, depois, obviamente, de sorver o sentido litúrgico oferecido pelos
textos bíblicos e eucológicos na reunião da equipe de Liturgia.
2. Três símbolos podem ser
expressamente valorizados na celebração deste domingo: os ramos, a procissão de
ramos e a proclamação do Evangelho da Paixão do Senhor.
3. Há comunidades que celebram
a primeira parte (bênção de ramos e procissão de ramos no Domingo) como
celebração independente, e a liturgia da Paixão dias antes da Quinta-Feira
Santa. É uma ótima prática. Mas não deve ser simplesmente imposta à comunidade. Deve-se primeiro combinar com
todos.
4. Os
ritos iniciais desta celebração, nos quais se dá a bênção dos ramos, deveriam
ser realizados a uma certa distância da igreja para que se possa depois fazer
uma verdadeira procissão. Pode começar numa capela, na praça de um cemitério,
se der uma distância boa, numa rua do bairro. Sendo capela rural, começar numa
residência ou mesmo embaixo de uma árvore ou num outro lugar significativo.
Deve ser um lugar mais ou menos distante da igreja. Se for uma comunidade de
periferia, sair de um lugar significativo onde teve início algumas lutas
populares por melhores condições de vida do bairro, ou de uma residência ou
também de um ponto significativo.
5. É bom que a
procissão venha de uma capela para a matriz ou igreja maior. A unidade entre a
procissão festiva e a missa marcada pela celebração da Paixão do Senhor pode
ser feita através da cruz processional, que conduz a procissão e, na celebração
eucarística, é colocada ao lado do altar.
6. Cada pessoa leve o seu ramo
enfeitado para a procissão. A equipe de celebração deve providenciar ramos para
quem não trouxe. Além dos ramos pode-se também trazer plantas medicinais.
7. A equipe cuide do visual,
bonito, discreto, como forma de louvor a Deus.
8. A cor litúrgica deste dia é
o vermelho, lembrando a realeza de Jesus.
9. Lembretes para a equipe de celebração: além das coisas
costumeiras, é preciso preparar, no local onde começa a procissão, os seguintes
objetos: ramos, mesinha para colocar os ramos, caldeira com água benta (se for
o caso, incensório preparado com incenso), cruz para a procissão, castiçais e
velas acessas, o Lecionário e o Missal Romano.
10. Na procissão com os ramos: Neste dia o mais
importante não é a bênção, mas a procissão com os ramos. A bênção é feita por causa da procissão. Por isso, não tem sentido
nenhum fazer primeiro a procissão e depois a oração de bênção sobre os ramos.
11. Deve-se conciliar a piedade
popular, isto é, a devoção de muitas pessoas que vem mais para “benzer o ramo”
com a exigência de maior aprofundamento da fé por parte daqueles que têm uma
caminhada de comunidade.
12. Durante a procissão, cantar
de preferência cantos de acordo com o mistério celebrado. É importante cuidar
do conteúdo e estilo dos cantos usados na procissão. O estilo indicado é dos
hinos próprios que estão no CD Liturgia XIII e no Hinário II da CNBB. O
conteúdo é de aclamação ao Cristo Rei. Não é o momento de cantar cantos
marianos ou ao Espírito Santo (“A nós descei”... “Vem Maria vem”...
13. Onde não tiver condições de
celebrar a procissão nem a entrada solene, no caso de capelas rurais e capelas
de periferia muito distantes da matriz, faça-se uma “Celebração da Palavra de
Deus”, sábado à tarde ou domingo em um horário que favoreça a participação de
todos. A comunidade pode estar impedida de ter a Missa, mas não de se reunir e
celebrar.
14. Nos ritos finais: Na despedida, o presidente convida a
assembléia a intensificar a oração e a vida comunitária nestes dias de
preparação para a Páscoa. Lembrar aos que não trouxeram os envelopes da
Campanha da Fraternidade, que tragam na Quinta-Feira Santa e entreguem no
momento da procissão dos dons. O Missal prevê neste dia uma coleta para as
pessoas necessitadas, página 249.
8- MÚSICA RITUAL
O canto é
parte necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para
animar ou enfeitar a celebração. Por isso devemos cantar a liturgia e não cantar
na liturgia. Os cantos e músicas, executados com atitude espiritual e,
condizentes com o tempo litúrgico, com cada domingo, com as festas ou com a
liturgia de um dia especial, ajudam a comunidade a penetrar no mistério
celebrado. Portanto, não basta só saber que os cantos são do Domingo de Ramos, é preciso executá-los com atitude
espiritual, isto é, de maneira orante. A escolha dos cantos deve ser cuidadosa,
para que a comunidade tenha o direito de cantar o mistério celebrado e não
cantos que um grupinho ou um movimento impõe.
1. Canto de abertura:
“Hosana ao Filho de Davi!”, CD, Liturgia XIII, melodia da faixa 14; “Hosana,
hosana e viva!”, CD Liturgia XIII melodia da faixa 15; “Hosana hei, hosana há”,
ensaiado no encontro diocesano de liturgia sobre a Quaresma, Semana Santa e
Tempo Pascal e está na página 439 do Ofício Divino das comunidades.
2. Cantos durante a
procissão: “Os filhos dos Hebreus com ramos de palmeira”, CD Liturgia
XIII; “Glória, louvor e honra a ti”, CD Liturgia XIII; “Cristo vence, Cristo
reina”, Hinário II, página 211; “Os filhos dos Hebreus, com ramos de oliveira”,
Hinário II, pág. 29; “Os filhos dos Hebreus, com ramos de oliveira”, Hinário
II, pág. 28.
Ao entrar na Igreja, cantar o
Salmo 23/24 com o refrão próprio para este dia: “Os filhos dos hebreus”.
3. Salmo responsorial
22/21: Oração na
desolação. “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”, CD Liturgia XIV,
faixa 15
4. Aclamação ao Evangelho:
A obediência de Cristo até a
morte na cruz. (Filipenses 2,8-9). “Salve, ó Cristo obediente”, CD
Liturgia XIII, melodia da faixa 17.
5. Canto de apresentação
dos dons: O canto de apresentação das oferendas, conforme orientamos em
outras ocasiões, não necessita versar sobre pão e vinho. Seu tema é o mistério
que se celebra acontecendo na fraternidade da Igreja reunida em oração no
Domingo de Ramos da Paixão do Senhor. “Ó morte, estás vencida”, CD: Liturgia
XIII, melodia da faixa 18 ou no Hinário Litúrgico II da CNBB, página 267. Outro
canto apropriado para esta ação ritual é: “Em Jerusalém, prenderam Jesus”,
Hinário Litúrgico II da CNBB, página 173.
6. Canto
de comunhão: O cálice de Jesus
(Mateus 26,42). “Pai, se este cálice”, CD Liturgia XIII, melodia da
faixa 19 “Oferecerei o seu sacrifício” Salmo 116/115, Hinário Litúrgico II da
CNBB, página 63; “Eu vim para que todos tenham vida”, CD Liturgia XIII melodia
faixa 13; “Prova de amor maior não há”, CD Tríduo Pascal – I, melodia da faixa
18 ou Hinário Litúrgico II da CNBB, página 286; “Eu me entrego, Senhor em tuas
mãos”, CD Tríduo Pascal – I, melodia da faixa 11 ou Hinário Litúrgico II da
CNBB página 34; “Se o grão de trigo não morrer”, Hinário Litúrgico II da CNBB,
página 21.
9- O ESPAÇO CELEBRATIVO
1. É costume em nossas Igrejas e
Oratórios, as comunidades ornarem toda a construção com Ramos. Algo que pode
ficar muito bonito e construir um “baldaquinho” com Ramos sobre a Mesa do
Altar. Nada sofisticado, mas simples. O baldaquinho evoca a Tenda, lugar da
presença e esteve presente em muitas construções sagradas do Cristianismo. Em
Roma, é famoso o Baldaquinho de Bernini, arte barroca no centro da Basílica de
São Pedro. É importante, porém, que o Baldaquinho não tire a visibilidade do
Altar, dificulte o acesso ou “concorra” com ele, mas manifeste a sua dignidade
e importância. O baldaquinho pode ser preparado com antecedência, ou pode ser
levado ritualmente durante a celebração, conforme sugerimos abaixo em “Ação
Ritual”. Veja o gráfico de sua representação.
2. A preparação do espaço deve
manter a reserva simbólica, própria do Tempo da Quaresma. A ornamentação com
folhagem de palmeira deve ser discreta. São as pessoas quem deve portas ramos.
Cuide-se para não transformar a igreja numa floresta...
3. O local da celebração pode
ter o corredor central coberto por ervas aromáticas. Uma vez pisadas exalarão
delicioso perfume. Esse é um costume antigo das celebrações estacionais, ainda
praticado em Roma.
4. Para simbolizar esta
realidade da celebração, podemos fazer um arranjo especial para este dia que
está no livro “Arte floral a serviço da liturgia”, página 78-79, Edições
Paulinas.
10- AÇÃO RITUAL
Fazer uma
acolhida muito fraterna e pessoal a quem chega para a celebração,
principalmente os visitantes. Que todos possam sentir sua dignidade humana respeitada e sua identidade cristã
reconhecida. Não devemos esquecer
que os ritos iniciais, com o sentido de formar o Corpo vivo do Senhor, sejam
bem valorizados neste domingo e sempre.
Jesus se aproxima da descida do
monte das Oliveiras quando toda a multidão dos discípulos começaram, alegres
puseram-se a louvar a Deus com voz forte por todos os milagres que tinham
visto. Eles diziam: “Bendito seja aquele que vem, como rei, em nome do Senhor!
Paz no céu e glória no mais alto dos céus!” (Lucas 19,37-38).
Enquanto o
povo vai chegando, criar um clima orante através de refrões meditativos
preparando os corações para a celebração.
Ritos Iniciais
2. O presidente introduz a
procissão, dando-lhe o sentido de oração feita com os pés e
todo o corpo para
seguirmos Jesus hoje em nossa missão. Na Igreja Armênia, uma grande cruz
processional representa o Senhor e vai na frente da procissão. O padre pega um
ramo e o prende na haste da cruz.
3. Procurar envolver todas as crianças nesta celebração mesmo
as que não estão na catequese. Incentivá-las durante a procissão a cantar ou
recitar em voz alta o refrão: “Bendito o que vem em nome do Senhor, hosana nas
alturas” (cf. Mateus 21,14-16).
4. Neste domingo, pode-se
aproveitar a sugestão e imagem do Baldaquinho acima e, durante os dois ritos de
introdução na Liturgia da Palavra e da Eucaristia, “montá-lo” primeiro sobre a
Mesa da Palavra e depois sobre a Mesa da Eucaristia, o Altar, ou somente sobre
a Mesa da Palavra.
5. Durante a procissão de
Ramos, pode levar o Evangeliário em um andor, conforme a sugestão anterior.
Quatro pessoas levam consigo grandes palmas de modo a formar um “baldaquinho
peregrino”. Cada pessoa figura como uma das colunas e as palmas como a
“cúpula”:
6. Ao entrar
na igreja atrás da cruz e do presidente, a assembléia caminha com Cristo e
deixa-se introduzir na celebração do mistério da sua paixão, morte e ressurreição.
7. Uma vez que se entra na
Igreja, o Evangeliário é posto sobre a Mesa da Palavra, como de costume. As
pessoas com as Palmas permanecem ao redor do Altar, “desmontando” o
baldaquinho.
8. A celebração (de cunho
estacional) não inclui ato penitencial. A procissão foi expressão ritual que
substitui o ato penitencial.
9. Na Oração
do Dia suplicamos a Deus que é todo poderoso que nos ajude a seguir o exemplo
de Cristo que deu sua vida na cruz e possamos ressuscitar com Ele na sua glória.
Rito da Palavra
1. Após a Oração do Dia,
enquanto se entoa um refrão apropriado, essas pessoas se dirigem à Mesa da
Palavra e sobre ela montam a cobertura do baldaquinho.
2. Durante o canto de aclamação
“Salve ó Cristo, obediente!” o Evangeliário deve ser levado até a Mesa da
Palavra e de lá, feita a narrativa da Paixão, conforme o costume da comunidade.
Se for dialogado conforme o “costume latino”, é preciso que se respeite a
linguagem ritual que exige a presença do Livro (o Evangeliário) que é um dos
sinais sensíveis da Palavra de Deus, de onde se fará a introdução do relato,
sua narrativa e a conclusão.
3. Durante a homilia, o
baldaquinho pode temporariamente ser desfeito, voltando a se formar sobre a
Mesa do Altar, da seguinte forma: As pessoas entram na procissão de oferendas à
frente ou depois daqueles que levam os dons do pão e do vinho e montam o
baldaquinho sobre o Altar.
4. Se tiver dificuldade de
ritualizar desse modo, pode-se montar o baldaquinho somente na Mesa da Palavra.
5. É bom lembrar que a leitura
da Paixão merece uma boa preparação, com bastante antecedência, distribuindo os
diversos papéis para tornar mais dinâmica a participação. Personagens que
ocorrem no Evangelho deste domingo, texto mais longo: narrador(a), Judas, Simão
Pedro, grupo dos discípulos, duas testemunhas, sumo sacerdote, o povo, uma
criada que interroga a Pedro, outras pessoas além da criada, sumos sacerdotes e
anciãos, Pilatos, os soldados de Pilatos. Para o texto mais curto: narrador(a),
Pilatos, soldados de Pilatos, pessoas insultando e zombando de Jesus, o oficial
e os soldados. Quem preside, diz as palavras de Jesus.
6. Na liturgia da Palavra: A leitura da Paixão do Senhor
(sem as lanternas que acompanham a procissão do Evangeliário, sem o incenso,
sem a saudação “O Senhor esteja convosco...” sem fazer o sinal da cruz sobre o
livro e sobre si mesmo; no final, não se beija o livro nem se diz “Palavra da
salvação...”). Cuidado que o folheto não traz esta orientação litúrgica.
7. Se houver
interesse, um grupo de jovens ou pessoas adultas, podem dramatizar antes da
aclamação ao Evangelho, a conspiração contra Jesus depois da ressurreição de
Lázaro que está em João 11,45-50. Essa encenação não deve passar de sete
minutos. Ver pessoas que tenham jeito para isso, isto é, que saibam viver os
personagens. Não se deve confundir encenação litúrgica com teatro! A encenação
litúrgica é uma proclamação da Palavra, feita em clima de oração e celebração.
Por isso, geralmente é melhor que não usem roupas especiais, isto é, não é
preciso que as pessoas se vistam com figurino da época, mas assumam a
“psicologia” dos personagens. No caso da dramatização, é importante que a
narrativa seja feita da Mesa da Palavra e do Evangeliário, para resguardar o
sinal e a linguagem ritual.
8. Sobre a leitura do Evangelho
da Paixão do Senhor, o Lecionário Dominical sugere o texto longo ou o mais
breve. Quando optamos pelo texto longo, pode-se intercalar algum refrão
meditativo, para facilitar a participação da assembléia. (Por exemplo: Prova de
amor maior não há...). Também quanto ao texto longo ou mesmo o mais breve, as
pessoas podem acompanhar a leitura sentadas. Quando o texto narrar a morte de
Jesus, todos se ajoelham fazendo uma pausa e uns momentos de silêncio. No
momento do silêncio pode-se cantar um canto próprio, mas não longo. (Por
exemplo: “Morreu, meu Jesus, na cruz, na cruz...”, ensaiado num encontro
diocesano sobre a Quaresma e Semana Santa; “Eu me entrego Senhor, em tuas
mãos”, Hinário Litúrgico II da CNBB, página 34, ou o refrão “Prova de amor
maior não há”, somente com a estrofe: “E chegando a minha Páscoa, vos amei até
o fim...”.
9. A narração do Evangelho,
caso seja acertado, pode ser acompanhada pela assembléia assentada. Feita em
forma dialogal poderá também ajudar na participação.
10. A homilia não deve se
alongar. O cansaço da assembléia pode comprometer a participação. O homiliasta
deve ser claro e conciso, deixando que os ritos falem por si. Haja também tempo
para o silêncio e a meditação.
Rito da Eucaristia
1. A oração
sobre as oferendas destaca que pelo sofrimento de Cristo fomos reconciliados
com o Pai.
2. Na
preparação das oferendas, junto com os dons da Eucaristia, destacar a coleta da
Campanha da Fraternidade como uma “ação ritual” a nível nacional.
3. Preparar a
forma como será feita a coleta e um recipiente onde as pessoas poderão deixar
sua oferta. Perto, também poderá ser colocado um cartaz da CF 2012. As pessoas
irão em procissão até perto do altar. Neste momento poderá ser feita a Oração
da CF ou cantar o Hino.
4. O Prefácio
é próprio para o Domingo de Ramos e enfatiza o sofrimento do justo inocente
pela salvação de todos. A Oração Eucarística pode ser a III que enfatiza
“quatro” vezes a palavra sacrifício, isto é, que a nossa vida deve ser uma
doação do nascer ao por do sol como foi a vida de Cristo.
5. A comunhão
em duas espécies não é só desejável, bem como poderá evidenciar o que foi
narrado no início do Evangelho: “o vinho novo no Reino de Deus” (versículo 25).
Ritos Finais
1. Na oração
depois da comunhão, peçamos a Deus que pela morte e ressurreição de Cristo nos alcancemos
a salvação.
2. O rito do envio pode estar
em consonância com o mistério celebrado: Irmãos e irmãs, a Paixão de Jesus
Cristo nos abriu as portas do céu. Ide em paz e o Senhor vos acompanhe.
11- CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Humanamente
olhando a Cruz, ela revela a dor, sofrimento, desprezo, abandono, injustiça,
tortura, manipulação da pessoa humana, morte. A Cruz iluminada pela fé fala de
salvação, de comunhão, de misericórdia, de amor extremado, de Reino e de
eternidade. Ressurreição já plantada em nós, que, nestes dias de oração e
meditação, deve deitar raízes fundas em nós, para dar razão ao nosso viver,
despido, por vezes, de razões válidas e fortes.
O objetivo da
Igreja é ajudar os padres e as comunidades de nossa diocese e todas aquelas
outras comunidades fora de nossa diocese que acessar nosso site celebrar melhor
o mistério pascal de Cristo.
Um abraço fraterno a todos
Pe. Benedito Mazeti
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