20 de maio de 2018
Leituras
Deuteronômio 4,4b-6.8-9.
Guarda suas leis e seus mandamentos.
Salmo
32/33,4-6.9.18-20.22. Deus ama o direito e a justiça.
Romanos
8,14-17. No qual todos nós clamamos: Abá, ó Pai.
Mateus
28,16-20. Quando viram Jesus, prostraram-se diante dele.
“EIS QUE EU ESTAREI CONVOSCO TODOS OS
DIAS, ATÉ A CONSUMAÇÃO DOS SÉCULOS”
1- PONTO DE PARTIDA
Com a festa de
Pentecostes, encerramos a Tempo Pascal e, no domingo seguinte, celebramos a
festa da Santíssima Trindade. É uma festa relativamente recente. Entrou no
calendário da liturgia romana em 1334 e, com Concílio Vaticano II, deixou de
ser temática, recebendo uma tonalidade mais bíblica.
A
liturgia sempre celebra a Páscoa do Senhor, o Salvador, e por Ele dá graças ao
Pai, o Criador, no Espírito de Amor, o Santificador. Portanto, toda celebração
é Trinitária e a Páscoa, celebrada o ano inteiro, nos faz mergulhar no mistério
inefável da Trindade Santa, fonte, modelo e meta do peregrinar da humanidade.
Portanto, depois de celebrarmos as festas pascais, contemplamos o mistério de
amor do nosso Deus que se revela como Pai, Filho e Espírito Santo.
Com
isso, a festa de hoje faz uma síntese, juntando o sentido da encarnação e da redenção realizados
na história, onde o Deus Vivo, a Comunhão Trinitária, é protagonista. Não é a
festa para desenvolver a doutrina sobre a Santíssima Trindade, mas para
renovação da aliança com o Pai que nos criou e nos libertou, entregando-nos o
dom da vida plena em
Jesus Cristo , seu Filho amado, o Verbo encarnado que, por sua
vez, nos confiou com sua morte e ressurreição o dom do seu Espírito.
A
celebração de hoje nos ajuda a compreender e descobrir que Deus não é solidão
infinita, mas comunhão de luz e de amor, vida doada e recebida num eterno
diálogo entre o Pai e o Filho, no Espírito Santo Amante, Amado e Amor, como
dizia Santo Agostinho.
2- REFLEXÃO BÍBLICA,
EXEGÉTICA E LITÚRGICA
Primeira leitura – Deuteronômio 32-34.39-40.
Logo de início se percebe claramente que os teólogos deuteronomistas – visando
sempre explicar a causa da catástrofe dos dois reinos israelitas (cf. 2Reis 17
– fazem com esta passagem uma catequese sobre Javé o Deus de Israel.
A
leitura trata de um comentário do primeiro mandamento da Lei de Deus: Israel
será monoteísta, isto é, adorar um Único Deus. Como poderia ser de outra forma
uma vez que o Senhor deu tantos indícios da escolha que fizera de Israel?
Por
isso, é uma meditação da história da salvação que consolida a fé ao autor do
Deuteronômio no Deus Único. Esta história chega ao auge de modo especial nos
três acontecimentos decisivos que são, ao longo do Deuteronômio, a promessa aos
patriarcas (versículo 32; cf. Deuteronômio 1,10; 26,5), a saída do Egito (versículos
32-37; cf. Deuteronômio 4,20; 5,6; 7,8; 9,26) e, finalmente, a entrada em Canaã
e a promulgação da lei (versículo 31: “Aliança”; cf. Deuteronômio 4,21; 12,9). Dois
textos importantes do Deuteronômio (6,21-23; 26, 5-10) guardam também estas
três etapas como sendo as mais importantes para a elaboração de uma doutrina da
história da salvação.
O
Deuteronômio é o primeiro livro a tomar uma consciência clara da história da
salvação. Três acontecimentos antigos prendem especialmente sua atenção: Deus se
fez próximo de Israel engajando-se por promessa diante dos patriarcas, indo
atrás do povo exilado no Egito e introduzindo-o na terra prometida. Um mesmo e
Único Deus está na origem destes três acontecimentos: por que não estaria
também na origem dos acontecimentos que
nos interpelam? Deus é único, portanto, seu amor dura eternamente.
Esta
leitura apresenta Javé, o único Deus, e conseqüentemente, desmascara os ídolos
que oprimem o povo. Só quem livra o povo da escravidão é que deve ser
considerado Deus de Israel.
Não
é um Deus de conceitos, mas alguém que age a favor do seu povo. E a fé não é
abstrata, porém está apoiada na história, na experiência do Deus vivo, que atua
libertando para que todos tenham vida. Javé, o único Deus, tirou Israel do
Egito, falou-lhe no Sinai e deu-lhe a terra prometida: estas são as grandes
ações de Deus que o povo sempre deve celebrar. Deu a lei conforme Israel podia
assimilar. Mas o que Ele quer dar mesmo, não só a Israel, mas a todos nós, hoje
é o seu Espírito. Espírito que nos ajuda a retomar a experiência do passado e
nos convida a viver no presente a Aliança de Deus, em todas as circunstâncias
da vida pessoal, comunitária, social e política.
É
na caminhada de nossas comunidades que Deus Único continua presente, suscitando
liberdade e vida. É um Deus próximo, acessível, que fala conosco, nos
acompanha: Ele conta com a amizade de seu povo. Não é um Deus indiferente à
nossa realidade.
Salmo responsorial – 32/33, 4-6 e 9.18-20 e
22. O Salmo 32/33 é um hino á providencia de Deus. É um louvor, salientando
duas características de Deus: Ele é o Criador e o Senhor da história e de toda
a humanidade. Louvor cantado durante ou após o Exílio da Babilônia (587-530 a .C.), quando o povo
começou a conhecer Deus como Criador. Com este Salmo, louvamos a Deus que é
aliado da humanidade e com ela quer construir um mundo de justiça e direitos
iguais para todos.
Neste salmo há
duas características fortes do “rosto de Deus”: Ele é o Criador e o Senhor da
história. Não é somente o Deus de Israel, mas de toda a humanidade. O versículo
5 resume isso de forma clara: ele ama a justiça e o direito, e seu amor enche a
terra”. Este Salmo nos apresenta o Deus que deseja a justiça e o direito no
mundo inteiro, e não somente em Israel. Podemos afirmar, então, que estamos
diante de Deus, o aliado da humanidade. Ele quer, com todos os seres humanos,
construir um mundo de justiça. Deseja que o mundo inteiro o tema e experimente
o seu amor.
O Novo
Testamento vê Jesus como a Palavra criadora do Pai (João 1,1-18) e como réu
universal. A paixão segundo João o apresenta como rei do mundo inteiro, um rei
que dá a vida para que a humanidade possa viver plenamente. A própria ação de
Jesus não se limitou ao povo judeu, mas abriu-se para outras raças e culturas,
a ponto de Jesus encontrar mais fé fora do que dentro de Israel (Lucas 7,9).
Agradeçamos ao
Senhor o seu amor que se revela na criação do mundo, na caminhada de libertação
do seu povo e em nossa vida. Entoando este salmo na celebração de hoje, peçamos
que o Senhor renove todas as coisas e nos confirme na fé e na aliança do seu
amor fiel.
FELIZ O POVO
QUE O SENHOR ESCOLHEU POR SUA HERANÇA.
Segunda leitura – Romanos 8,14-17. Este
trecho da carta aos Romanos pode ser considerado como o seu centro. Nesse mesmo
trecho chega ao cume o ensinamento paulino, “nós somos filhos, Deus é nosso Abbá-Papai”.
O que diferencia o Cristianismo das outras religiões pode resumir nessa
afirmação. As religiões falavam da paternidade divina enquanto criador, fonte
de vida, não enquanto fonte de amor e
misericórdia. O Judaísmo conheceu esse amor de Deus, mas se perdeu na
complicação das leis e questiúnculas, lembrando mais o temor que o amor de
Deus. O Evangelho que revelou o Pai indo ao encontro do filho pecador
arrependido (Lucas 15), mostrou um relacionamento de filho adulto e livre e não
mais de escravo e senhor, entre Deus e a pessoa humana.
O privilégio
do filho e da filha de Deus é o de poder chamá-Lo pelo nome Pai (Abbá talvez é
uma referencia à oração do Pai-Nosso, provavelmente ainda conhecido em aramaico
por alguns que falavam e conviviam com Paulo: (versículo 15). Portanto o termo
Abbá é uma das palavras aramaicas presentes no Novo Testamento, e dever ter
impressionado de tal modo os cristãos que ouviam Paulo, acostumados a serem
tratados como servos, que foi conservado na sua língua original.
O fiel então levado pelo espírito de filho e
de filha clamaria (cf. Lucas 1,46: Magnificat), Abbá. Acho porém que se deva
dar ênfase ao verbo com um sentido de “proclamar”. E o Espírito dentro de nós
nos leva a proclamar bem alto que Deus é nosso Pai. O Espírito então se une ao
nosso espírito para testemunhar essa nova realidade. Em Gálatas 4,6 é Ele
próprio que clama.
A segunda
dimensão desta existência cristã é a de herdeiro de Deus (versículo 17). Aqui
Paulo retoma o tema da primeira frase, e afirma que somos herdeiros. Sendo filho e filha, temos direito a uma vida de família
e a organizar os bens da casa. O termo herdeiro
não deve ser compreendido aqui no seu sentido moderno (receber após a morte
do pai), mas no seu sentido hebraico de tomar
posse (Isaias 60,21; 61,7; Mateus 19,29; 1Coríntios 6,9).
No Primeiro
Testamento a herança indicava a terra prometida (Deuteronômio 4,21) e não
incluía em si a morte de alguém. No Novo Testamento a herança é o Reino (Mateus
25,34) e a vida eterna (Mateus 14,29). Cristo pela ressurreição recebeu tudo
isso do Pai e o dá aos seus irmãos que se uniram a Ele pelo batismo e com Ele
sofreram por causa da mensagem proclamada.
Para exprimir
essa filiação, Paulo usa o termo do “direito pagão”, não conhecido dos judeus: “adoção”, que integra totalmente o
adotado na família, da qual ele recebe o nome, a herança e o privilégio de
chamar o pai de família, papai. O
fato de pertencer ao povo escolhido levaria a esta adoção (Romanos 9,4), mas na
vivência histórica desta vocação, a lei causou a morte. Assim que na Nova
Aliança não basta mais a pertença carnal para conferir a filiação e a dignidade
de filho de Deus. É necessário renascer pelo Espírito (João 3,5). O que Jesus é
por natureza, a pessoa humana é de direito em vista da adoção.
Assim o
Espírito que habita em nós nos faz herdeiros (cf. 1Coríntios 6,9-11; Gálatas
4,21-31; Romanos 8,15.21), mas por enquanto temos só a garantia (1Coríntios
5,5). O direito à herança plena teremos com a nossa ressurreição (1Coríntios
15,50).
Evangelho – Mateus 28,16-20. “Foram
para a montanha que Jesus lhes tinha indicado”. A montanha reveste-se de um
sentido teológico especial. Não se trata de uma indicação topográfica, mas de
uma encenação típica para uma revelação. Há muitos exemplos no Primeiro
Testamento. Mateus retoma este motivo com grande vigor. O lugar do importante
ensinamento inicial é a montanha quando proclamou as Bem-Aventuranças (Mateus
5,1) que deu à doutrina aí proferida o nome de “Sermão da Montanha”. A
“montanha” ganha novo relevo como lugar típico de revelação em Mateus 15,29,
cuja encenação se assemelha até nos detalhes com Mateus 5,1. A Transfiguração
de Jesus na “montanha” (Mateus 17,1-9), revela o Messias maior do que Moisés e
Elias, os maiores do Primeiro Testamento.
“Quando viram
Jesus, prostraram-se diante dele”. Prostrar-se diante de Jesus é reconhecer a
sua divindade sobre o céu e sobre a
terra. Agora, ressuscitado, possui “toda autoridade no céu e sobre a terra”
(versículo 18b). Essa autoridade plena, dada pelo Pai, é muito próxima da
humanidade (Jesus “se aproximou dos discípulos”, versículo 18a). Não só está
próxima, como é entregue à Igreja: “Vão e façam com que todos os povos se
tornem deus discípulos” (versículo 19a).
Aponta-se no
Evangelho de Mateus uma lista de cinco discursos de Jesus. Todos eles tratam do
Reino dos céus. Considerando 28,18-20 como o último “discurso” de Jesus sobre o
Reino dos céus, pode-se perguntar: que idéia ou teologia do Reino transparece
nele?
Para desvendar
isto precisa-se conhecer o gênero literário deste trecho. As derradeiras
palavras de Jesus assumem também o procedimento literário que contem quatro
partes:
uma introdução: “Jesus chegou perto deles, e disse a eles”
uma comunicação: “Toda a autoridade sobre o céu e sobre a terra me
foi
entregue”
uma ordem: “Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulos,
batizando-as
... e ensinando-as...”
uma motivação: “E eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação
dos séculos”.
Começando o
Evangelho com uma referência ao Livro do Gênesis (e á origem dos céus e da
terra e da humanidade, cf. Gênesis 2,4; 5,1) e encerrando-o com uma referência
ao fim ou á consumação do mundo, o evangelista Mateus ensina que Jesus de
Nazaré deu novos rumos à história da humanidade e das pessoas. Estes novos
rumos têm suas raízes em Deus, que deu ao Filho autoridade para isso. Investido
de pleno poder divino “no céu e na terra”, Jesus autoriza a Igreja para
continuar esta missão, assistindo-a continuamente com a Sua autoridade divina.
Ele transmite seu poder à Igreja.
Cristo
encarrega a Igreja de revelar a vida da Trindade através de sua ação missionária e sacramental. Ele está
presente não só no rito batismal, mas também na missão da Igreja fundada por
Ele. O Espírito anima os sacramentos e a vida missionária dos cristãos. Esta
imersão de todos no mistério da Santíssima Trindade realiza-se não somente
batizando, mas fazendo a todos os verdadeiros discípulos e discípulas.
A
missão universal da Igreja à luz da Santíssima Trindade (vida trinitária) está
na sua essência. Ao anunciar o Evangelho da salvação, a Igreja propõe a todas
as pessoas a realização efetiva de sua condição de filhos e filhas do Pai: a do
Homem-Deus.
Este Evangelho é o resumo dos principais de
presença espiritual de Cristo entre os cristãos: o aspecto sacramental no
batismo o missionário no envio à pregação universal e o divinizador na fórmula
trinitária. Como tal, este trecho constitui a melhor glorificação possível para
a Boa-Nova.
3- DA PALAVRA CELEBRADA NO COTIDIANO DA VIDA
Dona
Francisca é líder na sua comunidade. Numa reunião de um grupo, ela falou assim:
“Faço questão de fazer o sinal da cruz bem feito. Não o faço a qualquer momento
ou de qualquer jeito. Penso bem no sentido da cruz e das palavras que se
pronunciam, referindo-nos a tão grande mistério da nossa fé. Eu o faço bem
devagar, pensando bem nas palavras. Desse jeito, acho que já estou fazendo uma
bela ação.”
O
senhor Luís observou: “o padre nos explicou uma vez que ao fazer o sinal da
cruz, lembramos a presença de Deus em nossa vida: tocando a testa, lembramos
que Deus está na nossa mente; tocando no peito, lembramos que Deus está no
nosso coração, e tocando nos ombros, queremos dizer que Ele deve estar presente
em nossa ação”.
Foi
aí que dona Emília, muito idosa e trêmula, que quase nunca falava na reunião,
disse: “Quando eu me sinto muito só, faço o sinal da cruz bem devagar e assim
eu sinto o Pai, o Filho e o Espírito Santo me abraçando, igual quando a gente
carrega uma criancinha na hora de batizar!” Por estas palavras, dona Emília
ganhou o aplauso der todos.
A
Palavra de Deus na liturgia de hoje nos apresenta a Santíssima Trindade como a
melhor comunidade. Pelo batismo, somos mergulhados no mistério do seu amor, e
nos tornamos participantes da vida trinitária.
O
mundo consumista de hoje fabrica deuses e facilmente nos submetemos a seus
caprichos e seduções. Esses deuses favorecem a vida a uns poucos, gerando
sofrimento e morte de muitos. O Único Deus verdadeiro é aquele que liberta para
que todos tenham vida e vida em abundância (João 10,10). Esse Deus é nossa Mãe
e Pai, nos dá o Reino em herança, adotando-nos como filhos e filhas, e elimina,
pelo Espírito de Jesus, o medo que nos escraviza e aprisiona. Esse Deus se
revela na prática cristã de nossas comunidades. Que vão refazendo os gestos de
Jesus, até que o mundo seja transformado e tudo se torne posse da Santíssima
Trindade.
O
batismo, feito em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, significa:
consagração, ser marcado pela Trindade a serviço da justiça, dedicação total e
entrega a tudo o que Jesus ensinou.
Deus
é nosso Pai comum. Nossa relação com Ele exprime o que há de mais íntimo e
carinhoso. Podemos, pelo Espírito, chamá-Lo “Abba, meu Pai”, exatamente como
Jesus o fez (cf. Marcos 14,36). Na condição de filhas e filhos, recebemos a
herança do Pai, que nada reserva para si. Senhor e dono absoluto de todas as
coisas, tudo nos dá. A síntese da herança é o Reino de Deus.
Somos
convocados a ser sinal do carinho do Pai, cuidando da obra que Ele criou,
defendendo as pessoas, filhos e filhas de Deus, trabalhando para a vida ficar
do jeito que o Pai sempre quis.
Por
que ainda existem discriminações e desigualdades entre nós, filhos e filhas de
Deus? Como herdeiros (as) da Trindade, vivemos em comunhão, participamos da
transformação da realidade atual, até que o mundo seja sinal do mistério de
nosso Deus comunitário?
4- A PALAVRA SE FEZ CARNE E SE FAZ CELEBRAÇÂO
A fé cristã inclui o outro e Deus
Quando
buscamos a Igreja para celebrar nossa fé, nós o fazemos não somente por motivos
pessoais, mas por comprometimento com a comunidade e com Deus. Infelizmente,
por causa da cultura individualista em que estamos inseridos, procuramos a
Igreja “presos aos nossos umbigos”. Com dificuldades saímos de nós mesmos para
o encontro da fé que inclui o outro e o Mistério de Deus que nos reúne. Essa
mentalidade não é cristã, nem cristãs são as inúmeras expressões religiosas
cujas celebrações não primam, pela comunhão de seus participantes. Uma religião
vivida em sentido apenas vertical (eu e Deus), está longe do Evangelho e do
caminho de Jesus. Nesse sentido pode-se perceber o corre-corre de pessoas a
cada domingo numa paróquia procurando solucionar seus problemas, mas não querem
compromisso com a Igreja e muito menos com o próximo.
A dimensão comunitária da fé e da celebração
Precisamos
reconhecer e aprofundar o sentido comunitário da fé e da celebração, para que a
mesma não se torne um aglomerado de pessoas que individualmente buscam a Deus. Somos
um povo, escolhido e chamado por Deus para viver e celebrar uma só fé. Ser
membro da Igreja significa estar aberto para os demais com os quais rezamos
“Pai nosso” (e não Pai meu), com os quais afirmamos “Ele está no meio de nós”
(e não ele está comigo) e com os quais aclamamos “a uma só voz”, Santo, Amém,
Glória, etc. Mesmo as expressões mais pessoais das orações contidas na
celebração remetem aos irmãos: “confesso a Deus todo poderoso e a vós, irmãos e
irmãs”. Trata-se de uma sadia afirmação de subjetividade (aquilo que somos como
pessoa, em nossa singularidade), que sempre leva em conta a alteridade (alter =
outro) e a objetividade da fé: as verdades que para além de mim são o
fundamento da vida cristã, independente da minha discordância, aceitação,
sentimento ou percepção. Para ser cristão, é preciso viver sob o sinal da Cruz,
que inclui a relação pessoal (vertical) e comunitária (horizontal), capaz de
incluir e contemplar o outro.
5. ORIENTAÇÕES GERAIS
1.
O sinal-da-cruz é a primeira ação
litúrgica do povo de Deus reunido para celebrar a Eucaristia. A assembléia
litúrgica se constitui em nome da Trindade – Pai e Filho e Espírito Santo.
Torna-se, pois, significativo hoje solenizar esta ação inicial, através do
sinal-da-cruz bem feito e cantado.
2.
Escolher um canto adequado para o sinal-da-cruz inicial. Um canto que reproduza
a fórmula ritual “em nome do pai e do Filho e do Espírito Santo”, tal como
Jesus nos ensinou, (Mateus 28,19). E nunca em nome do Pai em nome do
Filho em nome do Espírito Santo,
porque trata-se de um só Deus. Quando afirmamos em nome do Pai em nome do
Filho... podemos cair no erro de saudar três deuses. Pior ainda quando faz
repetição se acrescenta: “para louvar e agradecer” que é uma linguagem
explicativa.
4. O conjunto
dos textos bíblicos merece uma boa preparação por parte dos leitores e salmista
para que sejam proclamados de “coração” e todo o rito da Palavra simbolize
diálogo de Aliança da Trindade com a assembléia celebrante, sacramento da
Páscoa do Senhor, acontecimento de salvação.
5. Como a
Igreja hoje celebra uma Solenidade, as partes fixas podem ser cantadas, para se
dar mais ênfase à grande celebração. Sugerimos as opções encontradas no Hinário
Litúrgico do Tempo Comum (ano A).
6. O
repertório litúrgico da solenidade da Santíssima Trindade está no CD: Festas
Litúrgicas, I produzido pela Paulus.
6- MÚSICA RITUAL
O canto é
parte necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para
animar ou enfeitar a liturgia. Por isso devemos cantar a liturgia e não cantar na liturgia. Os cantos e músicas,
executados com atitude espiritual e,
condizentes com cada domingo do Tempo
Comum, com cada Festa e Solenidade ajudam a comunidade a penetrar no
mistério celebrado. Portanto, não basta só saber que os cantos são do da
Solenidade da Santíssima Trindade, é
preciso executá-los com atitude espiritual. A escolha dos cantos deve ser
cuidadosa, para que a comunidade tenha o direito de cantar o mistério
celebrado. Jamais os cantos devem ser escolhidos para satisfazer o
ego de um grupo ou de um movimento ou de uma pastoral. Não devemos esquecer que
toda liturgia é uma celebração da Igreja corpo de Cristo e não de um grupo, de
uma pastoral ou de um movimento.
A equipe de
canto faz parte da assembléia. Não deve ser um grupo que se coloca à frente da
assembléia, como se estivesse apresentando um show. A ação litúrgica se dirige
ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo. Portanto, a equipe de canto deve se
colocar entre o presbitério e a assembléia e estar voltada para o altar, para a
presidência e para a Mesa da Palavra.
1. Canto de abertura. Bendito
sejas o Deus Uno e Trino. “Bendito
sejas tu, Senhor...”, CD: Festas
Litúrgicas I, melodia da faixa 15. Seu texto explica a comunhão do mistério da
Trindade, que é “comunhão perfeita”.
Ensina a
Instrução Geral do Missal Romano que o canto de abertura tem por objetivo, além
de unir a assembléia, inseri-la no mistério celebrado (IGMR nº 47).
2. Hino de louvor. “Glória a
Deus nas alturas.” Vejam o CD Tríduo Pascal I e II e também no CD
Festas Litúrgicas I; Partes fixas do Ordinário da Missa do Hinário Litúrgico
III da CNBB e também a versão da CNBB musicado por Irmã Miria Reginaldo Veloso
e outros compositores.
O Hino de
Louvor, na versão original e mais antiga, é um hino cristológico, isto é,
voltado para Cristo, que exprime o significado do amor do Pai agindo no Filho.
O louvor, o bendito, a glória e a adoração ao Pai (primeira parte do Hino de
Louvor) se desdobram no trabalho do Filho Único: tirar o pecado do mundo,
exprimindo e imprimindo na história humana a compaixão do Pai. Lembremo-nos: o
Hino de Louvor não se confunde com a “doxologia menor” (Glória ao Pai, ao Filho
e ao Espírito Santo). O Hino de Louvor encontra-se no Missal Romano em prosa ou
nas publicações da CNBB versificado numa versão que facilita o canto da
assembléia.
3. Salmo responsorial 32/33. Feliz
o povo que Deus escolheu por herança. “Feliz o povo que o Senhor escolheu por
sua herança”, CD: Festas Litúrgicas
I, melodia da faixa 16.
O Salmo
responsorial é uma resposta que damos àquilo que ouvimos na primeira leitura. Isto
mostra que o salmo é compromisso de vida e ele também atualiza e leitura para a
comunidade celebrante. Primeira leitura, Palavra proposta e salmo Palavra
resposta. Por isso deve ser cantado da Mesa da Palavra (Ambão) por ser Palavra
de Deus. Valorizar bem o ministério do salmista.
4. Aclamação ao Evangelho.
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito (Apocalipse 1,8). “Aleluia... Glória ao
Pai, ao Filho e ao Espírito Divino...”, CD: Festas Litúrgicas I, melodia da
faixa 18. O canto de aclamação ao evangelho acompanha os versos que estão no Lecionário
Dominical.
5. Apresentação dos dons. Nossa
unidade na Trindade deve manifestar-se também na partilha. Devemos ser oferenda
com nossas oferendas. O canto de apresentação das oferendas, conforme
orientamos em outras ocasiões, não necessita versar sobre pão e vinho. Seu tema
é o mistério que se celebra acontecendo na fraternidade da Igreja reunida em
oração, na Solenidade da Trindade. “Ó Trindade imensa e una”, CD: Festas
Litúrgicas I, melodia faixa 19.
6. Canto de comunhão. O Espírito
de Cristo que clama: Aba, Pai! (Gálatas 4,6). “Deus eterno, a vós louvor”, CD:
Festas Litúrgicas I, melodia da faixa 20.
O canto de
comunhão deve retomar o sentido do Evangelho do dia. As músicas do CD: Festas
Litúrgicas I da Coleção: Cantos do Hinário Litúrgico da CNBB nos ajudam a viver
melhor o mistério celebrado. Para comunhão, sugerimos o canto que está no CD:
melodia da faixa 20, que une a mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia. Esta é a
sua função ministerial. Na realidade, aquilo que se proclama no Evangelho nos é
dado na Eucaristia, ou seja: é o Evangelho que nos dá o “tom” com o qual o
Cristo se dirige a nós em cada celebração eucarística reforçando estes
conteúdos bíblico-litúrgicos, garantindo ainda mais a “unidade entre a mesa da
Palavra e a mesa da Eucaristia”. Além desse canto sugerido pelo CD, pode-se
cantar: “Ó Trindade, vos louvamos, vos louvamos pela vossa comunhão”, Hinário
Litúrgico III da CNBB, pag. 295.
7- ESPAÇO CELEBRATIVO
1. Preparar o
espaço celebrativo de forma festiva usando o branco ou o dourado.
2. Para ajudar
na reflexão e na oração da assembléia, pode-se colocar, em lugar digno, um
ícone da Trindade e uma vela (única) junto ao ícone, como expressão de unidade.
8. AÇÃO RITUAL
Celebramos a
Solenidade da Santíssima Solenidade. Deus Uno, que é comunidade de Três. No
espelho da Liturgia contemplamos a nosso Deus que nos reúne para que, a seu
exemplo e por seu convite, sejamos Nele unidos e manifestemos ao mundo seu amor
realizado em Jesus Cristo.
Enquanto as pessoas vão chegando
canta-se: “Louvarei a Deus, seu nome bendizendo! Louvarei a Deus, à vida nos
conduz”. (Orações e cantos de Taizé, n. 71).
Ritos Iniciais
1. Na
procissão de entrada, convidar para participar pessoas batizadas e crismadas
recentemente na comunidade.
2. Antes do
sinal da cruz acender três velas unidas
entre si pelo pavio, mencionadas acima, formando uma só chama. Se não for
possível unir três velas num só pavio, acender três velas e depois juntar as
três numa só chama. Depois de uns instantes de contemplação, o presidente da
celebração convida a assembléia a traçar o sinal da Cruz saudando a Trindade em
nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
3. Fazer com
especial atenção o sinal da cruz e a saudação inicial em nome da Trindade,
aproveitando uma das várias opções cantadas. Outra alternativa é a saudação “f”
(cf. 1Pd 1,1-2) proposta pelo Missal Romano, página 390, pois nos insere melhor
no mistério. O persignar-se (sinal da Cruz) é o que temos de mais antigo da
expressão da fé cristã no mistério da Santíssima Trindade. É a maneira
condensada da profissão da fé e de todo o dinamismo da economia da salvação.
4. Ultimamente
estão criando uma confusão em torno do sinal da Cruz, no início da celebração.
Muitas comunidades guiadas por seus ministros (ordenados e leigos) iniciam a
celebração convidando a assembléia a invocar a Santíssima Trindade. De fato, se
estivermos atentos ao que fazemos e dizemos na celebração, constataremos, no
caso do sinal da cruz, que não se trata de invocação. Até porque não somos que
convocamos a Deus, mas é ele quem nos chama para tomar parte em seu ministério,
constituindo-nos assembléia. Daí vem o próprio nome que nos designa: Igreja:
assembléia dos convocados.
5.
Quando cantamos “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo...” devemos
escolher cantos que respeitem a linguagem teológica e litúrgica. A título de exemplo, comparem os seguintes
textos:
6. Compete ao
presidente da celebração (bispo, presbítero, diácono ou leigo/a presidindo a
celebração da Palavra) pronunciar as palavras do sinal do cruz e não a equipe
de canto como muitas vezes acontece. O presidente da celebração se apóia em sua
condição de instrumento, na autoridade recebida contemplando o sacramento da
Ordem e o sacerdócio comum dos fiéis. Ele age em nome do seu Senhor para dar
início à celebração e fazer tudo o que faz. Seria muito oportuno usar a
saudação de 2Coríntios 13,14:
A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor
do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco.
7. O sentido
litúrgico pode ser proposto, através das seguintes palavras, ou outras
semelhantes:
Deus, comunidade de amor, convida-nos, neste
Domingo, a fazer de nossa própria comunidade uma experiência do
amor-comunicação entre as três Pessoas da trindade: Pai, Filho e Espírito
Santo. A partir dessa experiência, somos também enviados, pelo próprio Senhor,
a fazer novos discípulos em nome da Comunidade Divina.
8. No ato
penitencial, realizar a aspersão da assembléia, recordando que somos batizados
em nome da Santíssima Trindade. Outra opção seria fazer esta ação ritual após a
Profissão de fé.
9. O Hino de
louvor “Glória a Deus nas alturas” é antiqüíssimo e venerável, com ele a
Igreja, congrega no Espírito Santo, glorifica e suplica a Deus e ao Cordeiro.
Não é permitido substituir o texto desse hino por outro (cf. IGMR n. 53). O CD:
Festas Litúrgicas I propõe, na faixa 2, uma melodia para esse hino que pode ser
cantado de forma bem festivo, solista e assembléia.
10. Na Oração
do Dia, suplicamos ao Pai que sejamos perseverantes na verdadeira fé em todo o
tamanho da Trindade.
Rito da Palavra
1. As leituras
sugeridas pelo Lecionário, para esse dia, foram escolhidas levando-se em
consideração a característica da Solenidade, portanto devem ser bem preparadas
e lidas compassadamente pelos leitores.
2. Dar
destaque maior à proclamação do Evangelho, que hoje pode ser cantado e o livro,
incensado.
3.
A homilia, introduzindo ao mistério celebrado, poderá, após um silêncio orante,
ser concluída com um refrão que ligue a mesa da Palavra com a mesa da
eucaristia. Por exemplo: “Ó Trindade, vos louvamos (...) que esta mesa favoreça
nossa comunicação!” (Hinário Litúrgico III, página 295).
4. Onde for
possível após a homilia todos tocar no ícone da Trindade traçando o sinal da
cruz.
5. Seria muito
oportuno usar na Profissão de fé o Símbolo Niceno-Constantinopolitano, que fala
mais sobre a Encarnação do Filho de Deus e Sua divindade: “Creio em um só
Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito do Pai, nascido do Pai antes de todos os
séculos: Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado,
não criado, consubstancial ao Pai”, isto é, da mesma substancia do Pai. Por ele
todas as coisas foram feitas... Após a Profissão de fé realizar a aspersão da
assembléia se não feito no Ato Penitencial. Nas pequenas comunidades, cada um
toca na água e traça o sinal da cruz. O esquema é este:
- Bênção da
água
- Profissão de
fé
- Aspersão da
assembléia
6. As preces,
como sugere o Missal Romano, são feitas do Ambão. As invocações podem começar
invocando a Deus. Como por exemplo: “Ó Deus de bondade...” a resposta à oração
pode ser cantada: “Ouvi-nos, amado Senhor”.
Rito da Eucaristia
1. Na Oração
sobre as Oferendas invocamos o nome de Deus sobre o pão e o vinho, a oferenda
de nós mesmos, com os dons que oferecemos.
2. Quanto ao
prefácio: se não for cantado, quem preside procure proclamá-lo com ênfase, mas
ao mesmo tempo calmamente, de forma serena e orante. Frase por frase. Cada
frase é importante, anunciadora do mistério que hoje celebramos. Basta prestar
bem atenção nelas! A boa proclamação do Prefácio, como abertura solene da
grande Oração Eucarística (bem proclamada também), tem um profundo sentido
evangelizador, pois, por seu conteúdo e, sobretudo, por ser oração, toca fundo
no coração da assembléia.
4. O Prefácio
é próprio da Solenidade de hoje que evidencia a atribuição da mesma glória às
Três Pessoas Divinas. Outra ótima opção é o Prefácio VIII, proposto para os
domingos do Tempo Comum, explicita mais a dinâmica salvífica do mistério
Trinitário, a Igreja unificada pela unidade da Santíssima Trindade. Quisestes
reunir de novo, pelo sangue do vosso Filho e pela graça do Espírito Santo, os
filhos dispersos pelo pecado. Vossa Igreja, reunida pela unidade da Trindade, é
para o mundo o corpo de Cristo e o templo do Espírito Santo, para a glória da
vossa sabedoria”. O grifo no texto identifica aqueles elementos em maior
consonância com o Mistério celebrado neste Domingo e que pode ser aproveitado
na própria, ao modo de mistagogia Usando este prefácio, o presidente deve
escolher a I, II ou a III Oração Eucarística. A II admite troca de prefácio. As
demais não podem ter os prefácios substituídos sem grave prejuízo para a
unidade teológica e literária da eucologia. Onde for possível, cantar o
Prefácio e, nas celebrações da Palavra, cantar a Louvação Pascal do Hinário II
da CNBB, página 156.
Ritos Finais
1. Na Oração
após a comunhão, suplicamos a Deus que a comunhão no sacramento da Eucaristia,
nos conserve na verdadeira fé.
2. As palavras
do rito de envio estejam em consonância com o mistério celebrado: Eis que eu
estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo. Ide em paz e que o Senhor
vos acompanhe.
9- CONSIDERAÇÕES FINAIS
A
festa da Santíssima Trindade significa o apelo da intimidade de Deus a todos os
homens e mulheres de boa vontade. A resposta não pode ser apenas um louvor
desencarnado, mas o louvor da entrega de nossas armas e defesas, o
desmantelamento dos muros e das paredes entre nós: em casa, na família, na comunidade,
na sociedade, no bairro, e na grande sociedade nacional e mundial. A fim de que
todos sejam um, e a fim de que a humanidade se torne uma verdadeira comunidade.
E que esta nossa comunidade seja co o Pai e com seu Filho Jesus Cristo (1João
1,3) e com o Espírito Santo. Amém.
Celebremos a festa da Santíssima Trindade, na
unidade e na santidade.
O objetivo da
Igreja é ajudar os padres e as comunidades de nossa diocese e todas aquelas
outras comunidades fora de nossa diocese que acessar nosso site celebrar melhor
o mistério pascal de Cristo.
Um abraço
fraterno a todos
Pe. Benedito
Mazeti
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