Gênesis 2,7-9; 3,1-7. O Senhor Deus
formou o homem do pó da terra.
Salmo 50/51,3-4.5-6a12-14.17. Criai em
mim um coração que seja puro.
Romanos 5,12-19. Onde o pecado reinou
espalhou-se com abundancia a graça.
Mateus 4,1-11. Jesus jejuou durante
quarenta dias e quarenta noites.
“NÃO SÓ DE PÃO VIVE O HOMEM, MAS DE TODA
PALAVRA QUE SAI DA BOCA DE DEUS”
1- PONTO DE PARTIDA
Domingo do
deserto de Jesus. Conduzidos pelo Espírito de Deus, vamos com Jesus ao deserto
e celebramos em louvor daquele que venceu as tentações. Em comunhão com Jesus,
vamos nos alimentar com o pão da Palavra e da eucaristia, para que também nós
consigamos superar todo obstáculo e tentação que surgem em nosso caminho.
Já estamos na
Quaresma, que começou na Quarta-Feira de Cinzas. Quaresma é tempo de preparação
para a maior de todas as festas, a festa da Páscoa. Quaresma tem a ver com
“quarenta”, que é um número simbólico muito usado na Bíblia. Expressa um
período de tempo (dias, noites e anos) de especial presença, ação e revelação
de Deus na vida e no mundo das pessoas. Por exemplo, na caminhada de quarenta
anos do povo de Israel pelo deserto, Deus foi educando esse povo a viver sua
Lei.
Com a Quaresma
começa também a campanha da Fraternidade. Ela tem como tema: “Tráfico Humano e
Fraternidade” e como lema inspirado na Carta aos Gálatas: “É para a liberdade
que Cristo nos libertou” (Gálatas 5,1).
Invoquemos o
Senhor, de todo o coração, para que seu Espírito nos conduza em nossos desertos
e nos liberte de qualquer tentação.
2- REFLEXÃO BÍBLICA, EXEGÉTICA E LITÚRGICA
Contemplando os textos bíblicos
Primeira leitura – Gênesis 2,7-9; 3,1-7.
O Gênesis é o livro das origens: do mundo, do Pessoa, de Israel. O autor aqui
representa Deus que realiza ações humanas plasmando o homem, como um oleiro que
modela o barro, e acendendo nele a vida, como quem sopra pata atear fogo
(Gênesis 2,7). O homem e a mulher têm à disposição um magnífico jardim (Gênesis
2,8-9), mas deixa-se induzir e come precisamente o único fruto proibido,
cedendo às sugestões da serpente e da sua própria presunção. Daí deriva a
descoberta – e o medo – da nudez como nulidade sem defesa (Gênesis 3,1-7).
O homem é
vencido pela tentação; daí a destruição da união das criaturas, entre si e com
Deus (Gênesis 2,7-9;3,1-7). Lemos alguns versículos do início da (segunda)
narrativa da criação do homem e da mulher e do início da narrativa da sua
queda. Toda a narração desenvolve-se em quatro etapas, a saber, a criação, e a
elevação do casal humano e, depois, a sua queda e expulsão do paraíso. Toda a
narração não é para dar informações científicas sobre a origem do ser humano.
Tentou-se entender e interpretar a existência humana com seus problemas e
mistérios à luz da fé, herdada dos pais. O “homem” que contemplamos no texto
sagrado não é um determinado indivíduo, mas uma figura representativa, que está
presente na humanidade, isto é, “Adão” não é um nome próprio, mas sim a
indicação do “ser humano” em geral, ou “humanidade”.
A narração
afirma a dependência da criatura humana de Deus, seu Criador. Para narrar esta
dependência existencial, o narrador relata a história do “oleiro” que pode ser
encontrado seja em narrações seja em mitos já existentes, segundo a qual Deus
moldou o corpo humano com o pó da terra e depois lhe deu o sopro da vida. Fica
claro que este recurso literário mostra a fragilidade e dependência contínuas
do ser humano diante de Deus soberano e dono de sua vida (Jeremias 18,1ss; Isaias
45,9; Eclesiástico 33,13s; Romanos 9,20s). O autor sagrado combina esta
história do oleiro com a narração do mistério da criação. Deus criou o homem e
a mulher e lhes prepara uma “casa”, isto é, uma habitação, que se chama “Éden”,
e colocou o ser humano lá dentro. A narração deste jardim concretiza a
gratuidade e o cuidado com que Deus cria o ser humano, isto é, a qualidade de
vida que Deus dá oferece ao ser humano.
A árvore da
vida representa a providência de Deus. Simboliza a presença de Deus de forma
bem íntima, pelo diálogo de Deus como o ser humano e pelo passeio da tarde que
Ele faz no jardim do Éden.
A árvore da
ciência simboliza que Deus é superior e não podemos enquadrá-Lo em nossos
esquemas, mas ao mesmo tempo se faz presente de modo sensível na vida do ser
humano, chamado a viver a sua existência como “criatura” de Deus. a árvore da
ciência do bem e do mal simboliza quando
o ser humano quer “conhecer tudo”, saber fazer tudo, isto é, a arrogância de
dispor de um poder ilimitado que somente o Criador tem.
É interessante
notar que, antes de falar da tentação de Jesus e sua vitória sobre o pecado,
Deus nos fala de outra tentação: a dos seres humanos primordiais (Adão e Eva),
que também foram tentados, mas acabaram cedendo à proposta de se fazerem iguais
a Deus. Caíram na tentação de querer traçar por si mesmos a própria vida. Como
resultado, veio a derrota, a frustração. Hoje experimentamos em nossa própria
pele as trágicas conseqüências da desobediência humana, e então suplicamos
diante de Deus, com o Salmo 50/51: “Piedade, ó Senhor, tende piedade, pois
pecamos contra vós”.
A serpente foi
escolhida pelo autor sagrado para desempenhar o papel de tentador. As razões
são várias. No Oriente Próximo principalmente no culto cananeu, com efeito, a
serpente representa a divindade da fecundidade, tanto a dos campos quanto a das
mulheres. E muitas mulheres, em Israel como nas nações vizinhas, de boa vontade
recorriam ao culto da serpente pra garantir um casamento fecundo. Aos olhos de
Israel era o símbolo de toda a iniqüidade e a origem principal da apostasia e
superstição. Por isso a serpente pode simbolizar a narração da queda como quem
atua como adversário de Deus. Chama-se “o mais astuto de todos os animais”, simbolizando
a ciência secreta divinizada e da magia.
Em nossa
caminhada rumo à celebração da Páscoa, fazemos memória dos grandes momentos da
história da salvação. Neste primeiro domingo da Quaresma, ouvimos o relato da
criação do homem e da mulher. Ele foi escrito 900 anos de Jesus Cristo e lança
mãos de símbolos próprios da época, como a serpente, deus dos povos
estrangeiros. Ouvindo este texto que procura explicar a origem do mal no mundo
e a fragilidade humana, procuremos que a Palavra de Deus nos ajude a aprofundar
o sentido de nossa existência e de nossa missão.
Salmo responsorial 50/51,3-6a12-14.17. O Salmo começa com o apelo à misericórdia,
que inclui a confissão formal do pecado; este versículo é síntese ou germe do
resto do Salmo. Começa a primeira parte, no reino do pecado, sem mencionar
Deus. O pecado é um ato pessoal contra Deus, não mera violência de ordem
abstrata.
O Salmo 51(50)
é a súplica de uma pessoa que reconhece sua profunda miséria e seus pecados;
que tem plena consciência da gravidade da própria culpa, pois quebrou a Aliança
com o Senhor. São muitos os pedidos, mas todos se concentram em torno do
primeiro: “Tem piedade de mim, ó Deus, por teu amor!”.
O rosto de
Deus no Salmo 50/51 é o Deus da Aliança. A expressão “pequei contra ti, somente
contra ti” (versículo 6a) não quer dizer que essa pessoa não tenha ofendido o
próximo. Seu pecado é de injustiça (versículo 4a). A expressão quer dizer que a
injustiça contra o semelhante é um pecado contra Deus e uma violação da
Aliança. O salmista, pois, tem consciência aguda da transgressão que cometeu.
Porém, maior que seu pecado é a confiança no Deus que perdoa. Maior que a sua
injustiça é a graça do parceiro fiel. Aquilo que o ser humano não pode fazer
(apagar a dívida que tem com Deus), Deus o concede gratuitamente ao perdoar. Podemos
contemplar neste Salmo o rosto de Deus como parceiro fiel.
O tema da
súplica está presente na vida de Jesus. O tema do perdão ilimitado de Deus
aparece forte, por exemplo, no capítulo 18 de Mateus, nas parábolas da
misericórdia (Lucas 15) e nos episódios em que Jesus perdoa a recria plenamente
as pessoas (por exemplo, João 8,1-11; Lucas 7,36-50 etc.
O salmista em
oração coloca-se diante da misericórdia de Deus, confiando que Ele tudo pode e
quer sanar, regenerar, recriar todas as coisas com a santidade e a novidade do
seu Espírito.
No Primeiro
Testamento este Salmo lembrava ao povo a misericórdia de Deus com Davi, apesar
de seu grande pecado. Cantando hoje este salmo, peçamos que o Senhor tenha
misericórdia de nós e nos ajude a viver em profunda comunhão com Ele e com os
irmãos.
PIEDADE, Ó
SENHOR, TENDE PIEDADE,
POIS PECAMOS
CONTRA VÓS.
Segunda leitura – Romanos 5,12-19. O Apóstolo Paulo faz seu comentário sobre
a leitura do Gênesis que está na primeira leitura. Ele procura destacar o papel
de Jesus Cristo na história humana.
Na difícil
Carta aos Romanos, Paulo pretende expor os fundamentos da fé cristã, em
particular o princípio da justificação por meio da fé, ou seja, da adesão a
Cristo, que ele contrapõe não às obras da caridade, mas à observância da lei de
Moisés. Não é das obras da Lei que vem a salvação, mas de Cristo. O Adão
originário é prefiguração do novo Adão, Cristo: se em Adão a Humanidade
pereceu, em Cristo a vida transborda para todos.
O pecado de
Adão introduziu a morte no mundo e atingiu toda a Humanidade (cf. versículo
12). Ainda antes que Javé desse a Lei a Moisés, e que nela as culpas fossem
evidenciadas e acusasse os transgressores, a morte reinava sobre as pessoas
(versículos 13-14).
A Lei serviu
para mostrar os pecados a evitar e as obras a cumprir, mas não pode dar a força
de evitar aqueles e a realizar as outras. A Lei de Moisés não dá a graça que
salva: a graça é dada somente por Cristo Jesus, cf. João 1,17.
Na Primeira
Leitura é evocado Adão, no Evangelho Jesus, e na Segunda Leitura, ambos são
comparados. O ponto central desta leitura é o versículo 18: condenação para
todos pelo pecado de Adão, reconciliação para todos os que quiserem, pela
justiça de Cristo. Todos são pecadores (Romanos 1,18—3,20), mas para todos
existe salvação na fidelidade de Deus e no gesto salvífico de Cristo (Romanos
3,21—4,25). Paulo evoca este Mistério pelos contrastes: um / todos, morte /
vida, adão / Cristo. Tomando o lugar de todos, Jesus venceu a morte, para
oferecer a todos a comunhão com Deus, que é vida. – Romanos 5,12-14 cf. Romanos
6,23; 1Coríntios 15,21-22; Gênesis 3,19 – Gênesis 5,19 cf. Isaias 53,11.
Paulo reflete
sobre Adão na qualidade de teólogo e não de historiador (cf. romanos 7):
procurando as estruturas fundamentais da existência humana, ele lança a
responsabilidade coletiva e a dominação da “morte” sobre toda a humanidade.
Paulo faz um
comentário sobre este episódio. Por ocasião do pecado, a morte entrou no mundo
e, como todos pecaram, todos morrem – mesmo os que não pecaram por transgressão
de um mandamento, como Adão. Paulo tem certeza de que todos estão numa situação
marcada pelo pecado; e a morte, com seu sentido de destruição, é o sinal disso.
Mas Adão, diz Paulo, é um símbolo (versículo 14b). É o homem, o indivíduo, pelo
qual pecado e morte, entraram na existência humana. Ele é, por contraste, a
prefiguração daquele outro indivíduo, pelo qual – com muito maior abundância
ainda que o pecado e a morte – a graça e a vida entraram em nossa existência,
justificando-nos (tornando-nos justos) perante Deus. Para entender bem esta
reviravolta, devemos também lembrar que, para Paulo, a morte do cristão já não
é aquela destruição da vida (1Coríntios 15,35-53). Assim, a primeira leitura e
também a segunda leitura, nos levam à conclusão: onde o pecado abundou,
superabundou a graça.
Evangelho – Mateus 4,1-11. Quando Jesus
foi batizado por João Batista no Rio Jordão, ele apareceu como o Messias, cheio
do Espírito Santo. Então, logo depois do batismo, foi conduzido pelo Espírito
para o deserto, onde pôde se preparar para a missão, através de um longo jejum
de quarenta dias. Lá foi tentado pelo diabo. O diabo, aí, representa todas
aquelas forças que tentaram afastar Jesus do projeto missionário que Deus lhe
havia confiado.
Mateus
seleciona três provas exemplares de tentação, situações fundamentais e até
indispensáveis na missão de Jesus.
1ª) Tentação do Pão (Mateus 4,1-4): dar pão
aos famintos faz parte do projeto do Reino, mas não é conseguido por mágica.
Jesus mesmo se queixou do “sucesso” obtido pela multiplicação dos pães, quando
viu que, em vez de entender o significado do sinal como apelo à partilha, a
multidão queria comida de graça. Esta é a tentação da abundância sem esforço.
Pois bem, diz
o Evangelho que, naqueles quarenta dias de jejum preparando-se para a missão,
Jesus sentiu fome. E apareceu o diabo com palpites enganadores: “É muito
simples! Você não é o Filho de Deus? Você tem poder! Então, transforme essas
pedras em pão para matar a fome!”. Jesus, no entanto, firme no seu objetivo de
estar totalmente à disposição do Pai, não se deixou envolver pela proposta do
tentador e respondeu com uma frase da Bíblia: “Não só de pão vive o homem, mas
de toda palavra que sai da boca de Deus” (Deuteronômio 8,3).
Depois, o
diabo levou Jesus para Jerusalém, para um dos pontos mais altos do Templo. E,
ali Jesus foi desafiado mais uma vez pelo tentador: “Você não é o Filho de
Deus? Pois, então, jogue-se daqui para baixo. Muito simples, pois está escrito
num dos Salmos da Bíblia: “Deus dará ordens aos seus anjos a teu respeito, e
eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra!”(Salmo
91,11-12). Mas Jesus, firme e decidido na sua missão, não se deixou envolver,
não! Citando outra frase bíblica, respondeu com um “não” contundente: “Escute
aqui! Na Bíblia também está escrito: “Não tentarás o Senhor teu Deus” (Deuteronômio
6,16).
2°) Tentação do sucesso (Mateus5-7): na
segunda prova, o diabo pela novamente ao titulo de Filho de Deus que Jesus
recebeu no batismo e cita o Salmo 91; no qual Deus promete proteger o justo. A
tentação é colocar Deus a serviço do próprio capricho e da vaidade pessoal.
Jesus cita Deuteronômio 6,16. Pôr o Pai à prova é pedir-lhe ou exigir milagres
em beneficio próprio, como em Massa e Meriba (cf. Êxodo 17,1-7; Números 20,
12-13: Salmo 95, 8). Isto significa tentar a Deus, desviar a sua atuação a
favor do povo para satisfazer o desejo de brilhar e fazer sucesso. É manipular
Deus e enganar as pessoas que o seguem.
Mais tarde, o diabo conduziu Jesus para o
alto de uma montanha e, lá de cima, mostrou para Jesus “todos os reinos do
mundo e sua glória”. E disse: “Olhe só! Isso tudo eu posso lhe dar. Isso tudo
pode ser seu. É só se ajoelhar diante de mim, e me adorar. Que tal?”. Mas
Jesus, profundamente ajustado no Espírito de Deus e, consciente de sua missão,
de novo não se deixou enganar. Rebateu o tentador com outra frase bíblica: “Vá
embora daqui, Satanás, porque está escrito: ‘Adorarás ao Senhor teu Deus, e
somente a ele prestarás culto’” (Deuteronômio 6,13s).
3°) Tentação de poder e riqueza (Mateus 4,8-11):
O diabo, talvez uma referência ao culto imperial romano, gaba-se de dispor
do poder político sobre o mundo e dele usufruir à vontade. Ele oferece o poder
de Jesus, para que seja um messias temporal. O poder e a riqueza são contrários
ao plano do Pai, porque se constroem com roubo e acumulação. Riqueza e poder de
alguns à custa da miséria e escravidão de multidões.
Diz o
evangelho de Mateus que, então, “o diabo deixou Jesus, e os anjos se
aproximaram e o serviram”.
Podemos dizer
que o pecado é, fundamentalmente, “orgulho”. Jesus, por sua atitude contrária
ao orgulho – a obediência ao Pai –, restaura a harmonia com Deus (“os anjos lhe
serviram”, Mateus 4,11), e nós somos convidados a acompanhá-Lo nesta experiência
de 40 dias. O nosso jejum ganha aqui o sentido de procura da vontade de Deus,
de despojamento interior, de não mais estarmos cheios de nós mesmos. Pois só
assim poderemos acompanhar Jesus no resto do seu caminho, no esvaziamento total
em prol das pessoas. E este é caminho de graça, pelo qual reencontramos a vida
que ninguém pode tirar de nós (diferentemente do bem-estar, do sucesso e do
poder), a vida que é transformada em presença eterna Daquele que nos criou e
nos chamou. Assim, venceremos com Cristo o “antigo inimigo” (prefácio próprio).
Quaresma é
hora da verdade. Do defrontar-se com a realidade profunda de nós mesmos, a fim
de redescobrir-nos e reorientar-nos. De sair de uma tenebrosa inconsciência
noturna para um luminoso engajamento diurno. A Palavra de Deus me acorda para a
minha realidade originária e última: estou inserido no mistério de Cristo,
Filho do Homem e Filho de Deus. A condição humana e a destinação divina.
Se Quaresma é
tempo de conversão, deve haver algo de que se converter: do pecado. Muita
gente, hoje, acha, que pecado não existe. Então, por exemplo, a violência
(tantos tipos de violência!) não é simplesmente sinônimo de pecado? E quem não
tem defeitos de caráter, sinônimo da nossa condição de pecadores que somos,
geradores de violência contra nós mesmos, contra os outros e contra a
sociedade? Estamos dispostos a corrigir nossos defeitos de caráter? Até que
ponto?
Escreve um
irmão nosso, biblista e teólogo: “Somos esboços inacabados daquilo que o ser
humano, em sua liberdade, é chamado a ser. Mas em uma única pessoa o esboço foi
levado à perfeição, e essa pessoa nos serve de modelo. Jesus foi tentado, à
maneira de nós, mas não caiu, não se dobrou à tentação do ‘Satanás’, do Sedutor.
Ele obedeceu somente a Deus, não apenas quando das tentações do deserto, mas em
toda sua vida, especialmente na ‘última tentação’, a hora de sua morte. Por
isso, tornou-se para nós fundamento de uma vida nova. Reparou o pecado de Adão.
As tentações
de Adão e de Jesus nos fazem entender melhor a nossa realidade. O pecado tece
uma teia em redor do ser humano, uma ‘estrutura de pecado’. Muita gente vive
presa nessa teia: corrupção, vício, mediocridade, violência de uma sociedade
que mata quem não mata...Ora, enquanto nós somos solidários com Adão no pecado,
Jesus se torna solidário conosco para resistir-lhe e vencê-lo. A solidariedade
no mal pode e deve ser superada pela solidariedade no bem, alicerçada em Jesus Cristo. Somos
chamados a ser solidários com Cristo na sua ‘obediência’, pela qual ele supera
a ‘desobediência’ de Adão e nos liberta dos laços do pecado; e a ser solidários
com os nossos irmãos, em Cristo, em vez de ‘adorar’ riquezas e vantagens que o diabo
nos apresenta, e que resultam na opressão dos mais fracos.
Por isso,
cantamos no dia de hoje: “Senhor, eis aqui o teu povo, que vem implorar teu
perdão; é grande o nosso pecado, porém, é maior o teu coração”. E também
pedimos ao nosso Deus onipotente que, “ao longo desta Quaresma, possamos progredir
no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder ao seu amor por uma vida santa”.
4- A PALAVRA SE FAZ CELEBRAÇÃO
Ao entrar no
lugar da celebração nos deparamos, visualmente, com algumas mudanças
importantes. O que está faltando? O que está modificado? Sobra alguma coisa?
(Deixar que o povo observe o espaço da celebração). O que talvez mais chame a
nossa atenção é a cor desse tempo que chamamos de Quaresma. Não por
coincidência, chamamos aquelas árvores floridas que encontramos pela cidade de
quaresmeiras, por causa da sua cor e do tempo em que se abrem em flor. A cor é aquilo que
modificou o lugar em que estamos reunidos para celebrar. E, já que falamos em
flores, parece que elas estão ausentes do nosso espaço...e não por falta de
jardins, ou de floriculturas. A Igreja pede que nesse período não enfeitemos o
espaço da celebração comas flores. É o que falta! Por fim, podemos nos lembrar
do que sobre. Se não temos flores, enfeites, sobra espaço. Tudo parece mais
vazio...
O lugar da
celebração é o retrato da nossa alma. A alma de cada um de nós e a alma da
comunidade cristã. É a manifestação daquilo que somos, do que estamos vivendo,
do que buscamos, ou até mesmo daquilo que precisamos ser. O quarto bagunçado de
um jovem diz muito sobre sua vida, no momento das transformações adolescentes.
Precisa que a mãe ou o pai insista: “Fulano, arrume o seu quarto!”. O espaço
diz o que somos, como nos comportamos, como nos relacionamos conosco, com os
outros e com o mundo à nossa volta. Encontrar o templo vazio de flores e
enfeites, modificado nas cores e cheio de espaço para preencher, quer dizer
algo do que somos e do que vivemos agora, nesse Tempo da Quaresma. Nossa mãe
Igreja nos chama a dar um jeito nas coisas...
O templo vazio
nos lembra o deserto, o abandono, a solidão e a busca. Falta vida, alimento,
cores, companhia. Ninguém vive no deserto. Passa-se por ele. É caminho
necessário pra se alcançar algo. Lembra-nos que somos povo do caminho,
peregrino, do deserto. Estamos em busca, passando, fazendo uma páscoa (passagem)
para nossa meta. Funciona assim para a vida, funciona assim para a fé: sem
atravessar desertos não se chega a oásis algum. Não se alcança a terra
prometida, nem os sonhos, nem a vida eterna.
O roxo,
simbolicamente, recorda-nos tudo aquilo que não queremos ver. Quando levamos
uma pancada, dizemos: “ficou roxo”. Entramos no deserto para ver o roxo da
vida, aquelas coisas que nos negamos a olhar e a enfrentar. Tudo aquilo que
causa desconforto, mas ao mesmo tempo “grita” aos nossos ouvidos: o que não funciona
bem na vida, o que precisa ser mudado, o que me impede de alcançar a meta, ou
mesmo de caminhar e fazer a travessia. Nós somos a comunidade dos que desejam o
roxo. Queremos olhar, corajosamente, para nossos pecados, nossos demônios,
nossos infernos. Sem reconhecê-los, como poderíamos exorcizá-los? E fazemos
tempo e espaço para isso. Colorimos tudo isso de roxo, até que tome forma de
flor, flor de quaresmeira que proclama a proximidade da páscoa, mesclando os
desconfortos da vida com a alegria que pode surgir da coragem de se enfrentar
os vazios, as lutas, as feridas e os problemas da vida.
Jesus entra no
deserto com a gente, ele fez o seu trajeto, a sua passagem, mas continua a
fazê-lo em cada um de nós e em nossa comunidade. Quando tempos medo de enfrentar
os nossos “roxos”, ele nos encoraja. Quando nos sentimos sós no caminho e na
travessia, ele se mostra presente ao nosso lado. Quando sentimos falta das
flores, ele nos incentiva a procurar o jardim...O caminho da quaresma foi
primeiro trilhado por ele na sua paixão, nos enfrentamentos da sua missão, no
momento em que assumiu e transformou o medo, a tristeza e a dor em vida nova.
5. LIGANDO A PALAVRA COM A AÇÃO EUCARÍSTICA
Na verdade, a
vitória pascal de Jesus já está aqui no meio de nós, em nossa assembléia, em sua Palavra e,
sobretudo, na eucaristia da qual vamos participar. Por essa razão que, enquanto
preparamos a mesa para a liturgia eucarística, todos cantamos aquela promessa
feita ao profeta: “O vosso coração de pedra se converterá, em novo, em novo
coração!”. E o sacerdote concluiu pedindo a Deus “que o nosso coração
corresponda a estas oferendas com as quais iniciamos nossa caminhada para a
Páscoa”.
A vitória de
Jesus sobre todo mal é o grande motivo de louvor e ação de graças ao Senhor, nosso
Deus. Por isso que o sacerdote, em nome de todos, abre a oração eucarística com
este canto: “Jejuando quarenta dias no deserto, Jesus consagrou a observância
quaresmal. Desarmando as ciladas do antigo inimigo, ensinou-nos a vencer o
fermento da maldade. Celebrando agora o mistério pascal, nós nos preparamos
para a Páscoa definitiva”.
E pensar que
todos nós participamos dessa vitória, quando Cristo, na liturgia eucarística,
se oferece ao Pai e nos oferece com ele! E o Pai, por sua vez, nos entrega de volta
o Cristo que recebemos na comunhão. Ele vem nos ajudar a viver intensamente a
Palavra. Então, cantamos com o Salmo 91: “Quando invocar, eu atenderei, na
aflição com ele estarei: libertarei, glorificarei, minha salvação eu lhe
mostrarei”. E, assim, no final podemos rezar: “Ó Deus, que nos alimentastes com
este pão, que nutre a fé, incentiva a esperança e fortalece a caridade, dai-nos
desejar o Cristo, pão vivo e verdadeiro, e viver de toda palavra que sai da
vossa boca”. Que assim seja! Amém!
6. ORIENTAÇÕES GERAIS
1. Valorizar a
presença das pessoas que estão se preparando para os Sacramentos da Iniciação
Cristã na Vigília Pascal.
2. Um bom
ensaio dos cantos previstos para a celebração se faz necessário, para que ela
transcorra em clima realmente orante e de fé. A Paulus editou um CD: com os
cantos próprios da Quaresma e da Campanha da Fraternidade e para a Missa de cada
domingo quaresmal deste ano A. Também temos outros cantos quaresmais que está
no CD: CF-2014. Após o ensaio de cantos uns momentos de silêncio e oração
pessoal ajudam a criar um clima alegre e orante para a celebração.
3. O ministro
que preside a celebração motiva a comunidade a fazer a caminhada quaresmal,
acolhendo os apelos de conversão que emergem da Campanha da Fraternidade 2014.
4. Convém
caprichar, ao máximo, na proclamação da Palavra de Deus (leituras, canto do
salmo, evangelho). Proclamá-la de tal maneira que a assembléia sinta que é
realmente Deus que está falando para o seu povo. Isso requer que a equipe de
liturgia com os leitores e o salmista façam um bom ensaio e, mais que ensaio,
uma verdadeira vivência da Palavra.
5. Daí decorre
a exigência de a proclamação expressar uma atitude espiritual de quem está
sendo porta-voz de Deus que fala ao seu povo.
6. À
preparação espiritual se alia a preparação corporal: postura do corpo, tom de
voz, semblante, a maneira de aproximar-se da mesa da Palavra, as vestes dos
ministros...
7. MÚSICA RITUAL
O canto é
parte necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para animar
ou enfeitar a liturgia. Por isso devemos “cantar a liturgia” e não cantar na
liturgia. Os cantos e músicas, executados com atitude espiritual e, condizentes
com “cada domingo da Quaresma”, ajudam a comunidade a penetrar no mistério
celebrado. Portanto, não basta só saber que os cantos são da Quaresma, “é
preciso executá-los com atitude espiritual. A escolha dos cantos deve ser
cuidadosa, para que a comunidade tenha o direito de cantar o mistério celebrado”. Jamais os cantos devem ser escolhidos para satisfazer o ego de um grupo ou de um
movimento ou de uma pastoral. Não devemos esquecer que toda liturgia é uma
celebração da Igreja corpo de Cristo e não de um grupo, de uma pastoral ou de
um movimento.
1.
Canto de abertura. Deus atende o clamor do seu servo (Salmo 90/91,15-17).
“Volta, meu povo, ao teu Senhor e exultará teu coração”, CD: CF-2014, melodia
da faixa 2.
A Quaresma é
um tempo que damos maior liberdade para Deus agir em nós. É tempo de voltarmos
para Deus, implorar o seu perdão. A Liturgia também oferece outras duas ótimas
opções: “Senhor, eis aqui o teu povo”, CD: Liturgia XIII, melodia da faixa 1,
Quaresma Ano A, ou Hinário Litúrgico 2, página 296; “Dizei aos cativos: “Sai”,
Isaias 49, CD: Liturgia XIII, melodia da faixa 11.
Ensina a Instrução
Geral do Missal Romano que o canto de abertura tem por objetivo, além de unir a
assembléia, inseri-la no mistério celebrado (IGMR nº 47). Nesse sentido o
Hinário Litúrgico II da CNBB nos oferece uma ótima opção, que estão gravados no
CD: Liturgia XIII e no CD: CF-2014.
2. Ato penitencial. Nesse
domingo sugerimos a Fórmula 3, própria para a Quaresma da página 397 do Missal
Romano. Todos se coloquem de joelhos.
3- Salmo responsorial 50/51. Arrependimento
e pedido de restauração. “Piedade, ó Senhor, tende piedade, pois pecamos contra
vós!”, CD: CF-2014, melodia da faixa 5.
4- Aclamação ao Santo Evangelho. “Não
se vive só de pão” (Mateus 4,4b). “Louvor a vós, ó Cristo, Rei da eterna glória”,
CD CF-2014, melodia da faixa 6.
5. Canto após a homilia. Se for
oportuno cantar após a homilia o Hino da Campanha da Fraternidade 2014, melodia
da faixa 1. Seria oportuno entoar este hino após a homilia, para facilitar a
vinculação da Liturgia da Palavra com a vida e o tema da CF.
Na Idade
Média, era costume o povo responder ao sermão (hoje homilia) com o canto de
“Kyrie Eleison!”.
Houve, no
passado, pregadores famosos, que deixavam o povo cantar cânticos no início ou
no fim do seu sermão.
6. Apresentação dos dons: O
canto de apresentação das oferendas, conforme orientamos em outras ocasiões,
não necessita versar sobre pão e vinho. Seu tema é o mistério que se celebra
acontecendo na fraternidade da Igreja reunida em oração no deserto com Jesus.
Podemos entoar, “Sê bendito, Senhor, para sempre”, CD: CF-2014, melodia da
faixa 8. A Igreja também oferece outras opções: “O vosso coração de pedra”, CD:
Liturgia XIII, Quaresma Ano A, melodia da faixa 5. “Eis o tempo de
conversão”,CD: Liturgia XIV, Quaresma Anos B e C ou CD: CF 2012, melodia da
faixa 12, ou CD: CF 2009, melodia da faixa 13. A partitura está no Hinário
Litúrgico II da CNBB, página 217. Outra possibilidade é o Hino da Campanha da
Fraternidade 2014, se não foi cantado após a homilia.
7. Canto de comunhão: “Não se
vive só de pão” (Mateus 4,4). “Nós vivemos de toda palavra que procede da boca
de Deus” CD: CF-2014, melodia da faixa 11.
A Igreja
oferece também outras opções. Salmo 90/91; “Quando invocar, eu atenderei”,
gravado no CD: Liturgia XIV, melodia da faixa 15 ou CD: CF 2009, melodia da
faixa 20 ou CD: CF 2007, melodia da faixa 9. A partitura se encontra no Hinário
Litúrgico II da CNBB, página 53. “Quem vive à sombra do Senhor”, CD: Liturgia
XIII, melodia da faixa 7; “Agora o tempo se cumpriu”, CD: Liturgia XIV, melodia
da faixa 3; “Reconciliai-vos com Deus”, CD: Liturgia XIII, melodia da faixa 6.
O canto de
comunhão deve retomar o Evangelho. No primeiro domingo da Quaresma, mergulhamos
no deserto de Jesus. A exemplo do Divino Mestre, devemos resistir a toda e
qualquer tentação, isto é, provação. Devido o espírito de confiança que anima a
liturgia de hoje e certos, da proteção dele, sugerimos que cantemos na comunhão
o Salmo 91/90: “Quando invocar, eu atenderei, na aflição com ele estarei...”
Vamos também com Ele pregar o Evangelho de Deus. Podemos também cantar Marcos
1,15 “Agora o tempo se cumpriu, o Reino já chegou...”, como estão indicados
acima.
8. O ESPAÇO CELEBRATIVO
1. Se há um
elemento, que, sem palavras, cumpre a função mistagógica, isto é, de conduzir
para dentro do mistério celebrado, este é o Espaço Sagrado. Por isso, devemos
dedicar-lhe todo o nosso cuidado.
2. Como tempo
preparatório para a Páscoa anual, a Quaresma nos convida a uma intensa revisão
de vida. Os elementos simbólicos festivos serão reservados. O espaço
celebrativo expressa essa “reserva simbólica” através da retirada das flores,
do despojamento e austeridade que convém a este tempo. Também a cor roxa da
estola (ou casula) e das toalhas ajudará a sinalizar o tom penitencial
característico desse tempo.
4. Para o
tempo quaresmal, já é de praxe, o uso da cor roxa nas vestes, velas e
paramentos. Mas temos que ir além. Redescobrir, a cada vez, o sentido da
chamada “reserva simbólica”: Durante este tempo (a Quaresma) é proibido ornar o
altar com flores, cantar o aleluia ou o hino de louvor, o canto de louvor a
Deus após a comunhão, com exceção das solenidades e festas.
5. Isso nos
ajuda a preparar o espaço celebrativo levando em conta o tempo quaresmal. O
ambiente deve estar “despojado a austero”. Isso vale também para outros tempos
litúrgicos. Devemos “fazer uma limpeza” de tudo o que é supérfluo no espaço
celebrativo, como cartazes, folhagens, fitas, adornos, faixas, muitas imagens,
etc. Os exageros de enfeites causam uma verdadeira “poluição visual”, e é
preciso achar um lugar “para pousar o olhar
e contemplar”. Por outro lado, devemos valorizar e destacar o que érealmente
essencial para a celebração do Mistério de Cristo, isto é, o altar, a mesa da
Palavra, a cadeira presidencial e a pia batismal. Durante a Quaresma outros
símbolos fortes são importantes, como a cruz, a cor roxa e outros próprios para
cada celebração.
7. O cartaz da
Campanha da Fraternidade e outras gravuras afins sejam colocados no mural ou
noutro espaço cuja finalidade é informar os fiéis dos acontecimentos
comunitários. Não é oportuno afixá-lo, por exemplo, na Mesa do Altar ou na Mesa
da Palavra. Caso seja apresentado na procissão de abertura, ou na homilia, deve
ser reconduzido a um lugar oportuno.
9- O ROXO NA LITURGIA DA QUARESMA
O roxo,
simbolicamente, recorda-nos tudo aquilo que não queremos ver. Quando levamos
uma pancada, dizemos: “ficou roxo”. Entramos no deserto para ver o roxo da
vida, aquelas coisas que nos negamos a olhar e a enfrentar. Tudo aquilo que
causa desconforto, mas ao mesmo tempo “grita” aos nossos ouvidos: o que não
funciona bem na vida, o que precisa ser mudado, o que me impede de alcançar a
meta, ou mesmo de caminhar e fazer a travessia. Nós somos a comunidade dos que
desejam o roxo. Queremos olhar, corajosamente, para nossos pecados, nossos
demônios, nossos infernos. Sem reconhecê-los, como poderíamos exorcizá-los? E
fazemos tempo e espaço para isso. Colorimos tudo isso de roxo, até que tome
forma de flor, flor de quaresmeira que proclama a proximidade da páscoa,
mesclando os desconfortos da vida com a alegria que pode surgir da coragem de
se enfrentar os vazios, as lutas, as feridas e os problemas da vida.
Jesus entra no
deserto com a gente, ele fez o seu trajeto, a sua passagem, mas continua a
fazê-lo em cada um de nós e em nossa comunidade. Quando tempos medo de
enfrentar os nossos “roxos”, ele nos encoraja. Quando nos sentimos sós no caminho
e na travessia, ele se mostra presente ao nosso lado. Quando sentimos falta das
flores, ele nos incentiva a procurar o jardim... O caminho da quaresma foi
primeiro trilhado por ele na sua paixão, nos enfrentamentos da sua missão, no
momento em que assumiu e transformou o medo, a tristeza e a dor em vida nova.
9. AÇÃO RITUAL
Iniciamos o
tempo da quaresma entrando no deserto para enfrentar as tentações e o pecado
que desfiguram as feições divinas em nós. Jesus nos inicia neste caminho: com ele
fazemos a travessia rumo à páscoa, à ressurreição.
Fazer a
experiência do vazio, da reserva simbólica (ausência de flores, cantos como o
glória e os aleluias, moderação nos instrumentos musicais). A pedagogia da
liturgia, em sua simplicidade e despojamento manifestados na Quaresma, há de
nos ensinar, por si, a adentrar no mistério da Quaresma.
A regra da
reserva simbólica vale para todos. A liturgia nos ensina a reservar os
elementos festivos para a festa da Páscoa. Assim, os grupos são chamados a
serem mais moderados na execução dos instrumentos, evitando “solos
instrumentais”, deixando de tocar algum instrumento, ou mesmo cantando algo “à
capela” (sem acompanhamentos musicais). É tempo também de escutar, de ser
“obediente”, de aguçar o discipulado: uma boa forma de manifestar isso seria
assumir o repertório da CNBB para as celebrações.
Ritos Iniciais
1. É costume
antigo da Igreja, marcar com o sinal da cruz, neste domingo, as pessoas aceitas
para receber o Batismo na Vigília Pascal. Depois quem preside convida a todos a
saudar a Trindade: “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo e a saudação
como de costume.
2. Seria muito
oportuno a saudação inicial de 2Tessalonicensses 3,5:
“O Senhor, que encaminha os nossos corações
para o amor de Deus e a constância de Cristo, esteja convosco”.
3. Em seguida
quem preside, ou o diácono ou um leigo ou leiga preparado, dar o sentido da
celebração com estas palavras ou outras semelhantes:
Domingo do deserto de Jesus. Neste Domingo
estamos com Jesus no deserto. Invoquemos o Senhor, de todo coração, para que o
seu Espírito nos conduza em nossos desertos e nos liberte de qualquer tentação.
4. Um símbolo
antigo e universal de purificação que poderá a ser valorizado é o rito do sal. Após a saudação inicial e
o sentido litúrgico da celebração, se a assembléia não for muito numerosa.
Pode-se pedir a bênção de Deus sobre o sal! Para isto, divide-se o sal em
vários pires. Trazer uma vasilha com sal e quem preside faz a seguinte oração:
“Senhor, nosso Deus, na vossa infinita misericórdia, vós criastes o sal. Nós
vos bendizemos por esta criatura que serve de remédio e dá sabor à nossa
comida. E vos pedimos, ó Criador nosso, abençoai este sal, com a graça do
Espírito santo. Que ele seja para todos nós um remédio de salvação em Cristo. E que por ele
sintamos gosto pelas coisas de Deus, reveladas em sua Palavra. Por
Cristo, nosso Senhor. Amém”. Em seguida, cada pessoa recebe uma pitada de sal e
ao colocá-lo na boca faz uma oração pessoal em silêncio ou conduzida por quem
preside. Outra possibilidade é distribuir o sal no final da celebração em
pequenos saches para que todos levem para casa.
5. O
presbítero motiva os fiéis à penitencia com a Fórmula 2 do Missal Romano página
391:
No início desta celebração eucarística,
peçamos a conversão do coração, fonte de reconciliação e comunhão com Deus e
com os irmãos e irmãs.
6. Uma ação
ritual que pode ser repetida durante todo o tempo da Quaresma, é o ato
penitencial após a homilia.
7. Reunida em
torno da cruz, a comunidade pode fazer, de joelhos ou inclinada, o Ato Penitencial e ser motivada a
expressar o desejo de viver a Quaresma, indicando aspectos nos quais é chamada
à conversão. Um sinal que pode favorecer a piedade dos fiéis é o colocar-se de
joelhos durante esse rito. Sugerimos a Fórmula 3, própria para a Quaresma da
página 397 do Missal Romano.
Senhor, que fazeis passar da morte para a
vida quem houve a vossa Palavra...
8. Na Quaresma
não se canta o Hino de Louvor.
9. Na Oração
do Dia suplicamos ao Pai, que nos concede acompanhar e conhecer Jesus Cristo de
perto e mais profundamente para que possamos e corresponder ao seu amor.
Rito da Palavra
2. Em todo o
rito, a Palavra se conjuga com o silêncio.
Momentos de silêncio após as leituras, o salmo e a homilia, fortalecem a
atitude de acolhida da Palavra. O silêncio é o momento em que o Espírito Santo
torna fecunda a Palavra no coração da comunidade. Nem tudo cabe em palavras.
4. Como os
sacramentos de “iniciação cristã” devem ser celebrados nas solenidades pascais
e sua preparação imediata é a própria Quaresma, realiza-se habitualmente “o
rito de eleição” no primeiro domingo da Quaresma. Depois da Profissão de fé,
faz-se o Rito de acolhida, através do qual a comunidade “acolhe as pessoas” que irão receber o Batismo. A
última preparação dos “eleitos” coincida com o tempo quaresmal (Ritual da
Iniciação Cristã dos Adultos pág. 63, nº 139).
Rito da Eucaristia
1. Na Oração
sobre as Oferendas, peçamos a Deus que as oferendas que trazemos ao Altar lavem
os nossos pecados para que sejamos santificados.
2. É tempo de
usar os Prefácios do Tempo da Quaresma, que são muito bonitos e trazem uma boa
síntese teológica desse tempo litúrgico, No ano A, os prefácios são ainda mais
significativos e se harmonizam perfeitamente aos evangelhos. Nesse caso, as
orações possíveis são as três primeiras. As demais não admitem um prefácio
diferente. No Prefácio próprio para este Domingo, contemplamos Jesus no deserto
vencendo as tentações.
Ritos Finais
1. Na Oração
depois da Comunhão, suplicamos a Deus que depois de comungar o mistério da
glória, nos ajude aqui na terra, já participarmos da realidade eterna de Deus.
2. Recordar aos
membros da comunidade os exercícios quaresmais: jejum, esmola e oração,
mostrando também o que a comunidade oferece aos seus membros para realizar tais
exercícios: obras sociais, momentos de oração, confissões e orientação
espiritual, para um acompanhamento e esclarecimentos a respeito do jejum. Jejum
dos passos: evitar freqüentar lugares inconvenientes a um bom cristão. (segunda
semana).
3. Concluir
com a bênção final solene, própria da Quaresma (Missal Romano, páginas 521 a 522 ou a oração sobre o
povo número 6.
4. As palavras do rito de envio podem estar em consonância como
mistério celebrado: “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da
boca de Deus”. Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe.
11- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Se até o
Jesus Cristo foi tentado, quanto mais o ser humano. Uma vez mais comenta o
autor da Carta aos Hebreus: “Ele é capaz de ajudar os que são tentados porque
ele mesmo foi tentado e sofreu ao ser tentado” (Hebreus 2,18). Não é fácil
discernir no vozerio das pessoas a voz de Deus que interpela a nossa
consciência. Aqui nos pode ajudar Jesus que, muito mais do que nós, até ao
sangue (Lucas 22,44).
O objetivo da
Igreja e da nossa equipe diocesana de liturgia é ajudar os padres e as
comunidades de nossa diocese e todas aquelas outras comunidades fora de nossa
diocese que acessar nosso site celebrar melhor o mistério pascal de Cristo.
Um abraço
fraterno a todos,
Pe. Benedito
Mazeti
Diocese de São José do Rio Preto
Assessor
diocesano de Liturgia
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