30 de abril de 2014
Leituras
1Samuel 16,1b.6-7.10-13a
Salmo 22/23,1-3a.3b-4.5.6
Efésios 5,8-14
João 9,1-41
1- PONTO DE PARTIDA
Domingo da
alegria e do cego de nascença. Quando sentimos que o dia da festa, qualquer
festa, se aproxima, o nosso coração costuma bater mais forte. Bate mais forte
de alegria, porque a festa está chegando. Começamos a sentir o sabor da festa
da Páscoa que se aproxima.
Já estamos no
Quarto Domingo da Quaresma. É o domingo da cura do cego de nascença, é dia de
alegria. Dia de alegria no meio da penitência. Com Jesus, sentimo-nos mais
próximos de Jerusalém, para a festa da Páscoa, e com isso, mais felizes.
Começamos a sentir a maravilha do amor de Deus que, como Pai e Mãe, na Páscoa
de seu Filho Jesus, nos perdoa e nos acolhe com carinho em sua casa. É bom que
nos alegremos nesta certeza.
Hoje de novo é
dia de oração especial sobre os eleitos de Deus para os sacramentos de
iniciação cristã (batismo, crisma e eucaristia), na próxima Vigília Pascal.
Antífona da
entrada: Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais; vós que estais
tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundancia de sua consolações
(Isaias 66,10s)
2- REFLEXÃO BÍBLICA, EXEGÉTICA E LITÚRGICA
Contemplando os textos bíblicos
1Samuel 16,1b.6-7.10-13a. A Bíblia
narra três unções de Davi. Conforme 2 Samuel 2,4 Davi é ungido rei de Judá
pelas tribos do Sul e conforme 2Samuel 5,1-3 rei de Israel pelas tribos do
Norte. Estas unções supõem toda a carreira política e militar anterior e são
feitas pelos líderes político-militares das tribos do povo. Além destas unções
institucionais, a Bíblia conhece uma unção carismática, praticada pelo profeta
Samuel.
Depois da
Abraão e Moisés, a liturgia da Quaresma propõe-nos a figura de Davi, o pequeno
pastor de Belém ungido rei de Israel. O Povo de Deus, fixado na terra prometida
aos antepassados, no meio de muitas dificuldades, espera um Messias, isto é, um
“ungido”, um consagrado que lhe dê unidade, paz e segurança, um rei segundo o
coração de Deus e não segundo os homens (cf. versículo 7. Saul, na sua
grandeza, é rejeitado na linha do plano salvífico divino (cf. versículo 1);
será o pequeno Davi a ser “ungido com óleo no meio dos irmãos” (cf. versículo
13).
A cena na
pequena Belém, retrata o tema da “pequenez”. Não é o primogênito, nem os sete
filhos mais velhos de Jessé, que o pai apresenta ao profeta, que são escolhidos
por Deus para a unção, mas sim o oitavo, o mais novo, aquele em quem ninguém
sequer pensa (cf. versículos 6-11).
Um coração
humilde e aberto para Deus: isto é o que Davi pode apresentar ao Senhor, e que
o Senhor bem vê e acolhe, no interior de uma categoria, a do pastor, que de lá
das imagens idílicas a que estamos habituados, no mundo judaico era a julgada
uma das mais vis. Este pequeno Davi aos olhos das pessoas é grande aos olhos de
Deus: este nada que as pessoas podem dar é apresentado à unção sagrada.
Então Davi
(“ruivo, de belos olhos e de agradável aparência”: cf. versículo 12, “ungido do
Senhor”, do qual “o Espírito do Senhor se apoderou de Davi”: cf. versículo 13,
torna-se figura de Cristo, encarnado também Ele na pequenez, que no Batismo nos
comunica a Sua dignidade real, profética e sacerdotal. Procurando entender o
sentido do nosso Batismo, especialmente o simbolismo da unção, lembramos hoje o
episódio da escolha e da unção do rei Davi.
Salmo responsorial 22/23,1-6 É um Salmo de confiança em Deus. A solicitude divina
para com os justos, descrita com a dupla imagem do pastor (versículos 1-4) e do
hospedeiro que oferece o festim messiânico (versículos 5-6).
É um dos
salmos mais conhecidos e belos do saltério, aplica ao próprio Deus a humilde
imagem do “pastor” como expressão de terno cuidado e guia segura que Ele tem
para com um rebanho amado e protegido (versículos 2-4). Além disso, recupera o
tema da “unção” do fiel como sinal de predileção e de dignidade (versículos
5-6).
Nos versículos
de 1-4, o tema pastoril fornece algumas imagens fundamentais: verde, água,
caminho. A última imagem conjura o grande perigo, a escuridão temerosa plenamente
superada. Na segunda parte versículos 5-6 adianta-se o plano real, imediato: a
experiência religiosa tem lugar no Templo de Jerusalém. Ali a pessoa humana
encontra asilo frente ao opressor, participa na mesa do banquete sagrado,
recebe a unção que o consagra. A experiência religiosa intensa converte-se em
esperança e desejo para toda a vida.
O rosto de
Deus no Salmo 22. Sem dúvida é uma das imagens mais bonitas do Primeiro
Testamento que mostra Deus como pastor. Outras imagens também mostram o rosto
de Deus como hospedeiro, libertador e aliado. Jesus no Evangelho de João,
assume as características de Javé pastor, libertador e aliado (João 10). Jesus
é esse pastor que se compadece do povo explorado. Ele caminha à frente de seu
rebanho, tanto para chegar ao pasto e à água, como para voltar ao curral de
repouso, já na escuridão da noite. Este salmo é tradicionalmente aplicado à
vida sacramental, especialmente ao Batismo e à Eucaristia.
Por este
salmo, peçamos ao Senhor que restaure as nossas forças, que derrame sobre nós o
óleo do seu amor e faça de nós instrumentos de salvação, no meio de nossas
comunidades.
O SENHOR É O
PASTOR QUE ME CONDUZ;
NÃO ME FALTA
COISA ALGUMA.
Segunda leitura – Efésios 5,8-14. Escutando
este trecho de um antigo sermão batismal e de um hino que as primeiras
comunidades cantavam nas celebrações batismais, procuremos encontrar na Palavra
de Deus uma verdade que nos ajude a abrir nossos olhos.
A leitura
termina com uma citação: “Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos
e sobre ti Cristo resplandecerá”. Provavelmente trata-se de uma estrofe de um
hino batismal. O raciocínio de Paulo é mostrar é que pelo Batismo começamos uma
vida nova, cheia de luz.
Antes de
Cristo e fora de Cristo vencia o pecado, vencia a morte, vencia a inimizade, o
homem velho com todas as suas paixões enganadoras e os seus ídolos privados:
mentira, discórdia, indiferença... É forte a expressão utilizada por Paulo: os
cristãos “não estão na luz”, mas “são luz”, enquanto participantes da luz que é
Cristo. “Vós sois a luz do mundo” (Mateus 5,14a). No sentido semita, pode-se
dizer “filhos da luz”, isto é, pertencentes à esfera do luminoso (cf. versículo
8).
Toda a
qualidade comporta conseqüências precisas, assim os frutos da luz são bondade,
justiça e verdade (versículo 9).
Só “aquilo que
é agradável ao Senhor” deve ser procurado; ser benevolente para com as obras
das trevas, estéreis e de caráter baixo, serviria para exaltar-las (cf.
versículos 10-12). Paulo via aqui os excessos sexuais do paganismo e recomenda
aos cristãos de entregá-los à publicidade, mesmo que se passem em segredo. Paulo quer
encorajá-los nessa atitude, o Apóstolo os convence de que, trazendo ao
conhecimento público esses excessos, os cristãos os arrastam para a luz e
preparam assim seu perdão e sua “justificação” (versículo 4).
Os cristãos
espalhando ao redor de si, como raios de luz, os frutos de uma existência
iluminada por Cristo, que são: “bondade, justiça e verdade” (versículo 9),
estão se livrando de uma existência morta e acomodada que não suporta a luz do
dia. Paulo resume aqui em três conceitos-chaves a atitude fundamental de que
brotam todas as outras virtudes cristãs capazes de irradiar a luz do Senhor e
de dissipar as trevas do coração e da convivência humanas.
Evangelho – João 9,1-41. No tempo de
Jesus, os doentes eram considerados pecadores e impuros. No dia de sábado,
havia a proibição de fazer qualquer trabalho, por mínimo que fosse. Esta
ideologia religiosa reforçava a dominação sobre os mais pobres. Vendo como Jesus
se posiciona, devemos também acolher a boa nova deste Evangelho e como Ele
ilumina nosso batismo.
O Evangelho de
João penetra cada vez mais no mistério de Jesus, “pão da vida” (cap.6),
“nascente da água da vida” (cp. 7), “Eu Sou” de Deus (cap. 8). O episódio de
hoje toma partido de uma dupla situação carregada de simbolismo: a festa dos
Tabernáculos, dia festivo com grandes iluminações, e a cegueira de um homem,
mergulhado nas trevas. Na verdade, as luzes rituais não conseguem iluminar as
trevas do pecado e da morte, enquanto a cegueira física não podia resistir à
iluminação divina.
Jesus e seus
discípulos encontraram no caminho um cego, eles perguntaram: “Mestre, quem
pecou para que nascesse cego: ele os seus pais? Jesus respondeu com toda
convicção dizendo que ele não é cego por causa dos pecados dele ou dos pecados
dos seus pais. É cego para o poder de Deus se mostrar nele.
Os judeus
davam uma conotação religiosa à doença. Seria, de nossa parte, imoral
introduzir estes fatores indevidamente, como fizeram os fariseus: “Tu nasceste
todo em pecado e estás nos ensinando?” (versículo 34).
O “barro feito
com saliva” (cf. versículo 6) é uma antiga prática terapêutica, mas recorda
também a terra com a qual Deus plasmou o homem e a mulher animando-os com o seu
sopro divino (cf. Gênesis 2,7). Jesus fez esse gesto não como curandeiro, mas
como Senhor da natureza. Indica, portanto, uma nova criação, expressa no antigo
rito batismal da unção com a saliva. A ablução na piscina de Siloé (cf.
versículo 7) é também uma evocação do Batismo: ia-se buscar na piscina de Siloé
a água ritual, embora ineficaz até a vinda de Jesus, verdadeiro “enviado”
(assim se traduz o nome “Siloé”) do Pai.
Enquanto os
fariseus se encolerizam contra Jesus (cf. versículos 13.16.24), os pais do cego
se protegem-se por detrás da recusa de responsabilidades (cf. versículos
20-23). Mas a presença do Mestre não deixa ninguém neutro, não existem
compromissos entre a “luz e as trevas” a partir do momento em que Jesus se declara
“Filho do Homem (versículos 35-38). A verdadeira cegueira é a interior, que não
se deixa iluminar pela verdade (cf. versículos 39-41).
Jesus recorre
a Deus para explicar a cegueira, não há dúvida. Mas não explica a doença ou
qualquer desgraça com um castigo divino por uma imperfeição moral. Jesus liga
Deus não com o passado, mas com o futuro do cego de nascença. Na sua cegueira
não se manifesta uma condenação de Deus, mas ele é visto como o pano de fundo
em que se há de manifestar a ação criadora e salvífica de Deus. O fato de que
Deus, ao criar o mundo e o universo, fez tudo bem feito (Gênesis 1), não inclui
que Ele tenha feito tudo perfeito, no sentido de que exclui melhora, progresso,
evolução. A natureza e a pessoa humana foram criados repletos de possibilidades
de evoluírem e se desenvolverem. As forças e as capacidades depositadas na
natureza e no ser humano desde a sua criação foram tão bem feitas que podem se
desenvolver e evoluir, espontânea e livremente. As imperfeições que podem ser
aperfeiçoadas representam um desafio à imaginação e à criatividade do ser
humano. Nesta competição inesgotável entre as forças da natureza e do ser
humano e... a grandeza d’Aquele que os criou.
Nos inquéritos
(versículos 13-17.18-23.24-34) os fariseus lutam contra as evidencias que o
narrador não cansa de repetir. Quatro vezes afirma-se que se tratou realmente
de um cego de nascença (versículo1.19-20.32). Volta-se onze vezes a constatar a
cura (versículos 7.11.14.15.17.18.20s. 25.26.30.32) e a descrição da mesma é
repetida como um refrão nas três palavras: “Fui, lavei-me e comecei a ver”
(versículos 7.11.15). Foi pela fidelidade aos fatos e às evidências que o
mendigo não somente recobrou a vista, mas também se abriram seus olhos para ver
e reconhecer em Jesus seu Salvador e “a Luz do mundo” (versículo 5).
O cego curado
foi expulso da sinagoga, mas foi é admitido na comunhão com Jesus e os fariseus
são excomungados da mesma. A cura do cego tornou-se no decorrer do tempo uma
parábola da “iluminação batismal” e da admissão. O Batismo cristão é iluminação
da pessoa toda: espírito e coração, sentimento e conduta.
3. DA PALAVRA CELEBRADA AO COTIDIANO DA VIDA
Aproximando-se
das festas pascais, o dia de hoje é também chamado de “domingo da alegria”.
Fazendo eco a Is 66,10-11, a
Igreja hoje canta: “Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos todos os que a amais; vós
que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com abundância de suas
consolações”. E nós, no Brasil, também cantamos: “Alegres vamos à casa do Pai,
e na alegria cantar seu louvor. Em sua casa, somos felizes: participamos da
ceia do amor”.
Nesse clima de
alegria por estarmos na casa do Pai, ouvimos sua Palavra amiga, que prepara as
pessoas tanto para o batismo como para a renovação do compromisso batismal. Ela
esclarece o sentido dos ritos que vêm logo depois do batismo: a unção, que
significa a participação do fiel na missão de Cristo, profeta, sacerdote e rei;
a veste branca, que exprime a pureza da fé batismal; e a vela acesa, que
representa Cristo como a luz que ilumina nossa vida.
Ouvimos como o
rei Davi foi ungido rei de Israel. “Jesus é o novo Davi, o Messias ‘ungido’
(como o Espírito) no batismo do rio Jordão. O próprio termo ‘Cristo’ significa
‘ungido’ (em hebraico: Messias). Assim, na liturgia batismal, o recém –
batizado é ungido em sinal de que ele é ‘Cristo em Cristo’, membro do povo
messiânico.
Ouvimos também
como Jesus ‘unge’ os olhos do cego de nascença...Depois de ter untado os olhos
do cego, Jesus manda-o lavar-se (o ‘banho da regeneração’!) no ‘Siloé, que quer
dizer Enviado’ (a piscina de Siloé é figura de Cristo). Então, ele recebe a luz
dos olhos. O batismo aqui é evocado como unção e iluminação.
O sentido
profundo disso tudo é que o batizado deve
ser uma testemunha da luz que recebeu. O cego de nascença nos dá o exemplo:
ele testemunha o Cristo, com convicção e firmeza sempre crescentes. O batizado
é um homem da luz (‘filho da luz’, dia Bíblia), alguém que enxerga com clareza,
e que anda na luz. Pois a luz não é só para ser contemplada, mas para
caminharmos nela, realizando as obras que ela nos permite enxergar e levar a
termo. ‘Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor...Desperta, tu que
estás dormindo, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará’ (2ª
leitura)”.
Então, cabe a
nós perguntar: como realizamos este testemunho cristão no Brasil hoje? Somos
capazes de deixar-nos curar da cegueira a partir de pequenos gestos de bondade
dos irmãos? Quais são as grandes cegueiras que devem ser iluminadas? Somos
capazes de curar os cegos através de nossas ações concretas? A violência em
nossa sociedade é u sinal de clamorosa cegueira. Jesus, o exemplo consumado da
não-violência, nos aponta os remédios para criar uma cultura da paz: caridade,
amor fraterno; perdão, solidariedade, resgate do pecador, reintegração dos excluídos.
Lembremo-nos do que diz a Campanha da Fraternidade deste ano: “A pior coisa que
uma pessoa violenta pode fazer conosco é nos transformar em alguém igual a ela”
(Texto-base, n. 25).
Com espírito
de confiança em dias melhores e de fé batismal a ser vivida com intensidade,
que nos encaminhamos para a Páscoa. Por essa razão fazemos esta oração logo no
início: “Ó Deus, que por vosso Filho realizais de modo admirável a
reconciliação do gênero humano, concedei ao povo cristão correr ao encontro das
festas que se aproximam, cheio de fervor e exultando de fé”.
4- A PALAVRA DE FAZ CELEBRAÇÃO
A liturgia celebrada guia na fé a comunidade
O papel da
liturgia é fazer da Escritura, na Igreja, Palavra de Deus, pois ela é o guia da
comunidade de fé, oferecendo-lhe os ditames do Evangelho como regra de vida. No
tempo da quaresma muito bem se realiza esta imagem, sobretudo neste quarto
domingo em que contemplamos Jesus abrindo os olhos aos cegos, pois o papel do
verdadeiro guia é ser “olhos” para os que não vêm.
Neste sentido,
os fiéis que tem por ícone os cegos de nascença que passa das trevas à luz
passam a enxergar a vida com o olhar de seu guia, de seu Deus que é também
Pastor (cf. Salmo 23/22). Esta imagem batismal é fundamental neste tempo em que
os cristãos examinam sua vida à luz do Evangelho, buscando experimentar a
conversão e a reconciliação.
A Eucaristia celebrada alimenta em nós a luz de Cristo
É certo,
ainda, que a luz de Cristo recebida no batismo seja nutrida quando os fiéis se
reúnem para escutar a Palavra de deus e compartir o Pão e Vinho Consagrados.
Conforme ensina Paulo, o fruto da luz é bondade, justiça e verdade (cf. II
leitura). Assim, os gestos de fraternidade, cuidados, consolação, lutas pelos
direitos e dignidade da pessoa que são nutridos na liturgia, ganham a
profundidade de ser considerados reflexos da luz de Deus que alcança todo homem
e toda mulher, devolvendo-lhe a vida. Alcançam a humanidade e o mundo mediante
aqueles que renasceram para ser Seu sinal, qual lua que reflete a luz do Sol e
ilumina as noites mais densas.
5- LIGANDO A PALAVRA COM A AÇÃO EUCARÍSTICA
Logo mais,
depois de colocar o pão e o vinho sobre o altar para a memória do sacrifício
pascal de Cristo, o sacerdote, em nome de toda a assembléia, reza: “Ó Deus,
concedei-nos venerar com fé e oferecer pela redenção do mundo os dons que nos
salvam e que vos apresentamos com alegria”.
Deus foi tão bom para nós! Pelo
batismo fomos lavados, ungidos reis e rainhas, e iluminados. Deus nos
transformou em “filhos da luz”, participantes íntimos de sua vida divina,
comensais do seu reino já aqui na terra, no banquete eucarístico.
Por isso, realmente é justo e
necessário, e até dever nosso e salvação, dar graças, louvar em todo lugar o
Senhor, Pai santo, Deus eterno e todo-poderoso, por Cristo, Senhor nosso.
O ponto alto desse louvor nós o
temos na liturgia eucarística. Pois nela é o próprio Cristo que, pelo Espírito,
dá o mais perfeito louvor ao Pai. E nós, membros que somos deste Cristo, temos
a imerecida honra de participar desta ação de graças. Graças ao nosso batismo!
Por esse motivo, canta o prefácio
da oração eucarística de hoje: “Pelo mistério da encarnação, Jesus conduziu à
luz da fé da humanidade que caminhava nas trevas. E elevou à dignidade de
filhos e filhas os escravos do pecado, fazendo-os renascer das águas do
batismo”.
E, enfim, alimentados no banquete
do Reino pela santa comunhão, concluímos com esta maravilhosa oração: “Ó Deus
luz de todo ser humano que vem a este mundo, iluminai nossos corações com o
esplendor da vossa graça, para pensarmos sempre o que vos agrada e amar-vos de
todo o coração. Por Cristo, nosso Senhor”. E todos respondem: “Amém”
6. ORIENTAÇÕES GERAIS
1. A exemplo
de Jesus que acolheu benignamente o cego, a equipe de acolhida proporcione uma
recepção fraterna às pessoas que chegarem pata tomar parte da celebração.
2. Um bom
ensaio dos cantos previstos para a celebração se faz necessário, para que ela
transcorra em clima realmente orante e de fé. A Paulus editou um CD: com os
cantos próprios da Quaresma e da Campanha da Fraternidade e para a Missa de
cada domingo quaresmal deste ano A. Também temos outros cantos quaresmais que
está no CD: Liturgia XIII Quaresma Ano A. Após o ensaio de cantos uns momentos
de silêncio e oração pessoal ajudam a criar um clima alegre e orante para a
celebração.
3. A Quaresma
é tempo especial de escuta da Palavra de Deus. Por isso os leitores empenhem-se
em proclamar bem as leituras e o canto do Salmo Responsorial. Um breve momento
de silêncio entre as leituras permitirá maior profundidade no diálogo entre
Deus e o seu povo reunido.
4. À
preparação espiritual se alia a preparação corporal: postura do corpo, tom de
voz, semblante, a maneira de aproximar-se da mesa da Palavra, as vestes dos
ministros...
7. MÚSICA RITUAL
O canto é
parte necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para
animar ou enfeitar a liturgia. Por isso devemos “cantar a liturgia” e não
cantar na liturgia. Os cantos e músicas, executados com atitude espiritual e,
condizentes com “cada domingo da Quaresma”, ajudam a comunidade a penetrar no
mistério celebrado. Portanto, não basta só saber que os cantos são da Quaresma,
“é preciso executá-los com atitude espiritual. A escolha dos cantos deve ser
cuidadosa, para que a comunidade tenha o direito de cantar o mistério
celebrado”. Jamais os cantos devem ser escolhidos para satisfazer o
ego de um grupo ou de um movimento ou de uma pastoral. Não devemos esquecer que
toda liturgia é uma celebração da Igreja corpo de Cristo e não de um grupo, de
uma pastoral ou de um movimento.
1- Canto de abertura. “Alegra-te,
Jerusalém” (Isaias 66,10-11). Sem dúvida, um canto de abertura condizente com o
mistério celebrado e poderá cooperar para que a assembléia seja nele inserido é
na procissão de entrada, entoar um canto que expresse o Domingo da Alegria e a
nossa alegria pela proximidade da Páscoa (ex: “Alegres vamos à casa do Pai”, CD:
Liturgia XIII, faixa 10, Quaresma Ano A. O canto de abertura deve nos
introduzir no mistério celebrado deste 4º Domingo da Quaresma, que é o Domingo
Laetare.
A equipe de
canto faz parte da assembléia. Não deve ser um grupo que se coloca à frente da
assembléia, como se estivesse apresentando um show. A ação litúrgica se dirige
ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo. Portanto, a equipe de canto deve se
colocar entre o presbitério e a assembléia e estar voltada para o altar, para a
presidência e para a Mesa da Palavra.
Ensina a
Instrução Geral do Missal Romano que o canto de abertura tem por objetivo, além
de unir a assembléia, inseri-la no mistério celebrado (IGMR nº 47). Nesse
sentido o Hinário Litúrgico II da CNBB nos oferece uma ótima opção, que estão
gravados no CD: Liturgia XIII ou o CD: CF-2014.
2. Ato penitencial. Substituir o
ato penitencial pela aspersão da comunidade. Para hoje é muito oportuno o Salmo
50: “Piedade, ó Senhor, tende piedade”, CD: CF-2014, melodia da faixa 5 ou CD:
Liturgia XIII, melodia da faixa 2.
3- Canto para acolher a Palavra de Deus.
“Ó luz do Senhor, que vem sobre a terra, inunda meu ser permanece em nós”
4- Salmo responsorial 22/23. “O
Senhor é meu pastor”. “O Senhor é o pastor que me conduz; não me falta coisa
alguma”, CD: CF-2014, melodia da faixa 5.
5- Aclamação ao Santo Evangelho. “Eu
sou a luz do mundo”, (João 8,12b). “Louvor a vós, ó Cristo, rei da eterna
glória”. Pois eu sou a luz do mundo, quem nos diz é o Senhor”, CD: CF-2014,
melodia da faixa 6.
7.
Apresentação dos dons: O canto de apresentação das oferendas, conforme
orientamos em outras ocasiões, não necessita versar sobre pão e vinho. Seu tema
é o mistério que se celebra acontecendo na fraternidade da Igreja reunida em
oração neste Domingo do cego de nascença. Podemos entoar, “O vosso coração de
pedra se converterá”, CD: Liturgia XIII, melodia da faixa 5; “Escuta, Senhor, a
voz do povo teu”, CD: CF-2014, melodia da faixa 7; “Eis o tempo de conversão”,
CD: Liturgia XIV, melodia da faixa 6. Outra opção é o hino da Campanha da
Fraternidade 2014.
8. O canto do Santo. Um lembrete
importante: para o canto do Santo, se for o caso, sempre anunciá-lo antes do
diálogo inicial da Oração Eucarística. Nunca quando o presidente da celebração
termina o Prefácio convidando a cantar. Se o (a) comentarista comunica neste
momento o número do canto no livro, quebra todo o ritmo e a beleza da ligação
imediata do Prefácio como o canto do Santo.
9. Canto de comunhão: “Comecei a
ver e acreditei!”, (João 9,11) ou “Aos que estão nas trevas: Aparecei”, (Isaias
49,9). Contemplando o mistério de Cristo, Luz do mundo, cantemos: “Dizei aos
cativos: Sai”, CD: CF-2011, melodia da faixa 13, ou CD Liturgia XIII, Quaresma
Ano A, melodia da faixa 11 Com certeza este canto nos ajudará a fazer a ligação
da Ceia do Senhor com o Evangelho.
O canto de
comunhão deve retomar o Evangelho. No Quarto domingo da Quaresma, somos chamados
a contemplar Jesus como “Luz” que ilumina as nossas vidas e o mundo, numa
atitude de profunda conversão como fez a o cego curado.
8- O ESPAÇO DA CELEBRAÇÃO
1. Se há um
elemento, que, sem palavras, cumpre a função mistagógica, isto é, de conduzir
para dentro do mistério celebrado, este é o Espaço Sagrado. Por isso, devemos
dedicar-lhe todo o nosso cuidado.
2. Neste
Domingo destacar no espaço da celebração os símbolos da Cruz e a luz. Ornamentar
o pé da cruz processional com velas acesas.
3. Como tempo
preparatório para a páscoa anual, a quaresma nos convida a uma intensa revisão
de vida. Fazer a experiência do vazio, da reserva simbólica (ausência de
flores, o toque do sino, cantos como o glória, os aleluias e o canto de louvor
a Deus após a comunhão, moderação nos instrumentos musicais). A pedagogia da
liturgia, em sua simplicidade e despojamento manifestados na Quaresma, nos
ensina, por si, a adentrar no mistério da Quaresma.
4. Neste
Quarto Domingo as flores podem voltar a ornar o espaço sagrado, mas com
moderação, para não antecipar em demasia os tons de festa que serão a expressão
da Vigília Pascal. A cruz processional, um dos elementos inocográficos que
estamos valorizando neste tempo quaresmal, pode trazer um arranjo floral ao seu
pé ou em sua haste. De preferência flores cor de rosa,
5. O cartaz da
Campanha da Fraternidade e outras gravuras afins sejam colocados no mural ou
noutro espaço cuja finalidade é informar os fiéis dos acontecimentos
comunitários. Não é oportuno afixá-lo, por exemplo, na Mesa do Altar ou na Mesa
da Palavra. Caso seja apresentado na procissão de abertura, ou na homilia, deve
ser reconduzido a um lugar oportuno.
9. AÇÃO RITUAL
A celebração
deste domingo nos recorda como homens e mulheres que nasceram no Batismo para ser
“luzeiros“ de Deus no mundo, guiando os dias e iluminando as noites.
Ritos Iniciais
1. Na
procissão de entrada, sendo possível, as pessoas que estão se preparando para a
celebração batismal (os sacramentos da iniciação cristã) podem ingressar junto
com os ministros e o presidente, carregando bonitas velas acesas. Neste Quarto
Domingo é importante valorizar o simbolismo da luz.
2. A
celebração do Quarto Domingo da Quaresma nos “antecipa a alegria” daquilo que
será a celebração pascal, por excelência, na Vigília Pascal. Mas, ainda, com simplicidade e discrição. Algumas ações
simbólicas que podem ajudar a assembléia a experimentar isso:
3. A saudação
presidencial pode ser a fórmula “d” de Romanos 15,13:
“O Deus da esperança, que nos cumula de toda
a alegria e paz em nossa fé, pela ação do Espírito Santo, esteja convosco”.
4. Em seguida
quem preside, ou o diácono ou um leigo ou leiga preparado, dar o sentido da
celebração com estas palavras ou outras semelhantes:
Domingo do da alegria e do cego de nascença.
Tendo já percorrido a metade de nossa caminhada de preparação para a Páscoa,
somos convidados a deixar para trás qualquer atitude de tristeza e coração duro
e assumir uma atitude pela consolação que nos vem do amor de Deus. Fazendo,
junto com o cego de nascença, a experiência de termos os olhos ungidos e sermos
curados de nossa cegueira, continuemos a aprofundar o sentido do nosso batismo.
5. Em seguida
fazer uma recordação da vida tornando presentes as realidades que hoje precisam
ser transformadas com a misericórdia de Deus. Trazer os fatos da vida de
maneira orante e não como noticiário.
6. Hoje é
muito oportuno substituir o Ato penitencial, como já orientamos pela aspersão
com água, ver em Música Ritual, acima.
7. Se a
comunidade optar pelo Ato penitencial, pode ser feito por toda a assembléia, de
joelhos, defronte a cruz do Senhor. Quem preside convida a assembléia a uma
revisão de vida diante da Palavra de Deus.
8. O
presbítero motiva os fiéis à penitencia com a Fórmula 2 do Missal Romano página
391:
Em Jesus Cristo, o Justo, que intercede por
nós e nos reconcilia com o Pai, abramos o nosso espírito ao arrependimento para
sermos menos indignos de aproximar-nos da mesa do Senhor.
9. Reunida em
torno da cruz, a assembléia pode fazer, de joelhos ou inclinada, o Ato Penitencial e ser motivada a
expressar o desejo de viver a Quaresma, indicando aspectos nos quais é chamada
à conversão. Sugerimos a Fórmula 1, própria para a Quaresma da página 396 do
Missal Romano.
Senhor, que nos mandastes perdoar-nos
mutuamente antes de nos aproximar do vosso altar...
10. Na Oração
do Dia suplicamos ao Pai, que reconcilia a todos em Cristo, nos concede correr
ao encontro das festas que se aproximam, isto é, o Tríduo Pascal.
Rito da Palavra
1. Antes da
primeira leitura, todos entoam suavemente sem instrumentos musicais: “Ó luz do
Senhor, que vem sobre a terra, inunda meu ser, permanece em nós”, ou “A Palavra
de Deus é luz, que nos guia na escuridão”.
2. Onde houver
batismo na noite pascal, o ritual do catecumenato prevê uma oração especial
sobre os eleitos que receberão os sacramentos de iniciação na Vigília Pascal.
Depois da homilia, os escolhidos para o batismo, junto com padrinhos e
madrinhas, colocam-se diante da comunidade e quem preside reza e impõe as mãos
sobre eles. Página 77-80 do RICA (Ritual da Iniciação Cristã de Adultos). Esta
etapa com os adultos que vão receber o Batismo, é também um caminho espiritual
s ser renovado também pelos fiéis.
3. O símbolo a
ser valorizado hoje é a luz. Por este gesto, somos convidados a fazer a nossa
profissão de fé em Jesus, como fez o cedo de nascença
4. Para a
oração dos fiéis, a resposta às preces pode ser: Senhor Jesus Cristo, piedade
de nós! Já que o Kyrie é omitido quando se substitui o Ato Penitencial pela
bênção e aspersão/ablução com água, recordando o batismo.
Rito da Eucaristia
1. O pão e
vinho são sinais trazidos do seio do mundo, para que sejam “fecundados” pela
graça de Deus e se tornem morada do Mistério e todos que deles participarem
possam ser beneficiados pela presença de Deus. Assim, pão e vinho consagrados
se tornam imagem do mundo e da humanidade redimida, imagem da própria Igreja –
Corpo de Cristo, como entendia Santo Agostinho.
2. Aqui se
nota a importância de se manter sempre vivo o costume da procissão dos dons
feita por membros da comunidade de fé. Embora já não se traga o pão para a
celebração, das casas, como em outras épocas, é salutar que não se perca o
sentido de apresentar o mundo e a humanidade nos sinais do pão e vinho, frutos
do suor e trabalho humanos a ser submetidos ao trabalho divino (= consagrar/
santificar/ eucaristizar). Cantar a glória do Reino teu por toda a terra.
3. Na Oração
sobre as Oferendas, peçamos a Deus que veneremos com fé os dons oferecidos com
alegria pela salvação do mundo.
4. O “amém”
final do por Cristo, em Cristo..., que merece a mesma exultação, é a assinatura
do povo à prece que o ministro ordenado, em nome da Igreja, elevou a Deus por
Cristo, com Cristo, em Cristo, na unidade do Espírito Santo. Pelo menos aos
domingos e dias de festa merece ser cantado.
5. É muito
oportuno usar a fórmula “b” do Missal Romano, João 8,12 para o convite à
comunhão:
Eu sou a luz do mundo; quem me segue não
andará nas trevas, mas terá a luz da vida. Eis o Cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo.
Ritos Finais
1. Não
esquecer após a comunhão, reservar um tempo para a assembléia fazer um profundo
“silêncio contemplativo” do encontro havido com Deus. Seria bom que até se
fizesse uma breve motivação para esse momento de silêncio orante, previsto pelo
Missal Romano, nº 121, página 57.
2. Lembramos
que, em si, não há necessidade de um “canto de ação de graças” após a comunhão
(como virou costume em muitas comunidades), pois a ação de graças, na verdade,
já aconteceu; foi a Oração Eucarística. O Missal Romano orienta que depois da
comunhão “guardar durante algum tempo um sagrado silêncio...”. Depois do
silêncio contemplativo, “entoar um canto de louvor ou um salmo” (IGMR, nº 121.
Lembramos também que durante a Quaresma omite-se este canto, e conserva-se o
sagrado silêncio.
3. Na Oração
depois da Comunhão, suplicamos a Deus luz de todo ser humano, que ilumine
nossos corações com o esplendor da Sua graça.
4.
Para a bênção final, sugerimos a oração sobre o povo, número 6, página ... do
Missal Romano.
5. As palavras do rito de envio podem estar em consonância como
mistério celebrado: “Que Cristo Luz do mundo, ilumine as vossas vidas”. Ide em
paz e que o Senhor vos acompanhe.
10- CONSIDERAÇÕES FINAIS
“O pior cego
é aquele que não quer ver”, diz o ditado popular. Esses dizeres contém uma
verdade, quando nos falam que nem sempre aceitamos como realidade aquilo que os
nossos olhos enxergarem, como abordou o Evangelho de hoje, ponto culminante da
Palavra.
O objetivo da
Igreja e da nossa equipe diocesana de liturgia é ajudar os padres e as
comunidades de nossa diocese e todas aquelas outras comunidades fora de nossa
diocese que acessar nosso site celebrar melhor o mistério pascal de Cristo.
Um abraço
fraterno a todos
Pe. Benedito
Mazeti
Assessor de Liturgia do
Bispado de São José do Rio Preto
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