19 de junho de 2014
Leituras
Deuteronômio 8,2-3.14b-16a. Não
te esqueças do Senhor teu Deus.
Salmo
147/148,12-13.14-15.9-20. A Palavra que ele diz corre veloz.
1Coríntios 10,16-17. Todos participamos
desse único pão.
João 6,51-58. Eu sou o pão vivo descido do céu.
“QUEM COMER DESTE PÃO VIVERÁ ETERNAMENTE”
1- PONTO DE PARTIDA
Hoje a Igreja celebra a
Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, popularmente chamada de Corpus Christi.
Celebrada na Quinta-Feira após a festa da Santíssima Trindade, é uma profissão
de fé na presença real de Jesus Cristo na Eucaristia. Na Quinta-Feira Santa,
iniciando o Tríduo Pascal, celebramos a instituição da Eucaristia. A solenidade
do Corpo e Sangue de Cristo, celebrada na Quinta-Feira após a Solenidade da
Santíssima Trindade, durante o Tempo Comum, é como um eco dessa celebração do
Tríduo Pascal. Foi no século XIII, numa época de controvérsias sobre a presença
de Cristo nas espécies consagradas, que a Igreja introduziu esta solenidade,
ajudando-nos assim a fazer da Eucaristia “o memorial de sua Morte e
Ressurreição: o sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade,
banquete pascal, em que
Cristo nos é comunicado em alimento, o espírito é repleto de
graça e nos é dado o penhor da futura glória” (SC 47).
Diz o Papa em Ecclesia de
Eucharistia que “Do mistério pascal nasce a Igreja. Por isso mesmo, a
Eucaristia, que é o sacramento por excelência do mistério pascal, está colocada
no centro da vida eclesial (n. 3).
No início (Missal Romano de
1570), era denominada festa “do Santíssimo Corpo de Cristo”. O Vaticano II
conservou a solenidade, complementando-a. O Missal de 1970 a denomina “Solenidade
do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo”, significando assim a realidade
integral do sacramento da Eucaristia.
Embora sendo uma duplicação da
Quinta-Feira Santa, dia da instituição da Eucaristia, a solenidade do Corpo e
Sangue de Cristo é um eco da última ceia do Senhor com os seus discípulos.
2- REFLEXÃO BÍBLICA,
EXEGÉTICA E LITÚRGICA
Contemplando os
textos
Primeira leitura – Deuteronômio 8,2-3.14b-16a.
Esta leitura o Deuteronomista anima
o povo a obedecer à Lei. Quer convencer
seus leitores da necessária fidelidade aos mandamentos. O argumento principal é
o da recordação: os hebreus viveram no deserto apesar da provação, da
humilhação e da fome. O deserto inabitável fez sentir a Israel sua pequenez e
total dependência diante de Deus. A fome (versículo 3) e a sede (versículo 15)
“humilharam” Israel, aniquilaram sua autoconfiança, levando-o a confiar em
Deus. Na penúria Israel aprendeu que não é o pão material, adquirido pelo seu
esforço, o que sustenta a existência humana e sim a Palavra Onipotente e
criadora de Deus (cf. Salmo 33,9). Esta Palavra criadora e cheia de vida está
na Lei dada por Moisés nas planícies de Moab, às vésperas da entrada na terra
prometida. Mas é uma Palavra que somente dá vida se for observada (Deuteronômio
30,15; 32,47; Ezequiel 20,11.13.21).
Na insegurança
do deserto, ora fazendo faltar ora dando pão, Deus quis provar a fidelidade do
povo aos seus mandamentos (Deuteronômio 8,2), fazendo o povo sentir sua total
dependência. O Pedagogo Divino age como um Pai que corrige seu filho
(Deuteronômio 8,5), usando a sábia pedagogia do castigo e do premio. Deus pode
e quer ser percebido tanto numa situação de bem-estar como na penúria. Deste
Deus, que tirou Israel do Egito, o povo não se deve esquecer quando estiver na
posse dos bens prometidos.
Não basta ter
sido libertado, guiado e alimentado por Deus para chegar à terra prometida e
ter a vida (1Coríntios 10,1-11): é preciso ser fiel à eleição. Não basta
conhecer as palavras da Lei para viver: é necessário observá-las. Não basta
comer o Corpo do Senhor para viver eternamente (João 6,51): é preciso recebê-Lo
dignamente (1Coríntios 11,27) e se alimentar continuamente de Sua Palavra (João
6,63.68).
Salmo responsorial - 147/148,12-15.9-20. O Salmo 147/148 trata-se de uma música alegre,
que expressa a alegria do louvor. Começa convidando Jerusalém a glorificar a
Deus. Os Padres da Igreja aplicaram esta segunda parte do Salmo à nova
Jerusalém, militante ou triunfante, isto é, Jerusalém não mais um lugar
geográfico, mas um lugar teológico, a Igreja.
No versículo
15, a Palavra divina é apresentada como mensageira que “corre veloz”. É bondoso
não apenas com os seres humanos alimentado-os com a flor do trigo, mas também
para com os animais fornecendo a eles o alimento.
O rosto de
Deus. Deus é celebrado o ano inteiro (as estações), pelo povo e pela cidade de
Jerusalém. É louvado com festa e música, pois age em favor de seu povo de forma
extraordinária (versículo 20). Em síntese, é o aliado fiel, manifestando todo o
Seu amor e fidelidade na volta do exílio.
Este salmo
repercute direta e indiretamente em Jesus. Jerusalém não recebe Jesus e não
acolhe Sua mensagem de paz. Jesus tratou a todos de modo igual, sem privilegiar
uma raça ou povo. Encontrou maior fé e ressonância em pagãos e pecadores.
Alimentou todos os famintos e curou os corações despedaçados. Preocupou-se com
a vida para todos...
Cantando este
Salmo nesta Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, louvemos o Senhor e peçamos
que nos conduza no caminho da salvação.
GLORIFICA O SENHOR, JERUSALÉM;
CELEBRA TEU DEUS, Ó SIÃO!
Segunda leitura – 1Coríntios 10,16-17. A
segunda leitura de hoje fala sobre a unidade da Eucaristia. Assim como na
experiência do deserto, os hebreus, alimentando-se do maná, foram se
transformando no povo de Deus, hoje, na opinião de Paulo, a participação e a
comunhão no Corpo e Sangue de Jesus, o novo maná nos transforma em membros do
Corpo de Cristo, a comunidade eclesial, o novo povo de Deus a caminho da nova
terra e do novo céu.
Paulo gosta de
lembrar a “unidade de cada um com Cristo na Eucaristia”. O sangue é a Aliança,
isto é, a vida comum entre Deus e a pessoa humana (1Coríntios 11,25). Desde
então, pão e vinho são comunhão koinonia, isto é, colocação em comum com Deus
(versículo 16). Entendida neste sentido, a palavra “comunhão” substitui a
palavra Aliança do Primeiro Testamento (versículo 18).
Mas esta
unidade de cada um com Cristo realiza a “comunhão” de cada um com todos. Esta
não é uma simples justaposição de individualidades, mas, ao contrário, unidade
orgânica; é um “corpo” (versículo 17; cf. 1Coríntios 11,29): a Igreja.
Portanto, a Eucaristia é o sacramento que constitui a Igreja pela bênção
pronunciada sobre o pão e o vinho.
O pão
consagrado e conservado num tabernáculo, como a assembléia eucarística da menor
comunidade cristã estão, ambos, em potência para a Igreja e colaboram na
construção do único Corpo de Cristo que eles significam.
Evangelho – João 6,51-58. Na liturgia
da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, João 6,51-58 serve para trazer
presente a importância vital da Eucaristia, na vida do cristão. Acentua, ao
mesmo tempo, o caráter de realidade do “comer e beber” eucarístico (João 6,55),
mas é preciso de ser analisado o que significa esta “realidade”.
O capítulo 6
de João é essencialmente um comentário teológico sobre um tema tradicional: a
multiplicação dos pães. E a passagem de Jesus sobre as águas (João 6,1-21; cf.
Mateus 14,13-33). O pão torna-se símbolo da realidade que Jesus mesmo é e base
da “homilia” que ocupa a parte principal do capítulo (versículos 31-58).
No trecho
proclamado hoje João 6,51-58, cujo tema é o “Pão da Vida”, a partir de um dado
do Primeiro Testamento, o “pão do céu”, que os judeus opinavam ser o grande dom
de Moisés (o maná), o que Jesus contradiz (João 6,31ss). João 6,25-30 serve de
introdução e adverte que a multiplicação dos pães não serviu para encher o
estomago, mas para ser “sinal”, mas que os judeus não perceberam (João 6,26).
Este sinal significa que devemos empenhar-nos por um alimento que não perece
(João 6,27).
No diálogo-sermão, Jesus se revela como Ele
mesmo o pão do céu, isto é, aquele que vem do Pai. É o pão do ensinamento da
vida eterna: “Todos serão ensinados por Deus” (João 6,45; cf. Isaias 54,13;
Jeremias 31,33s). Quem escuta o ensinamento do Pai, vem a este pão (João 6,45).
Ele, que “desceu do céu” de maneira bem mais verdadeira do que o maná, é o
único que “viu Deus” (João 6,45; cf. João 1,18). Que Jesus é o pão descido do
céu ou “Pão da Vida” significa, portanto, em primeiro lugar, que Ele realiza a
alimentação escatológica com o conhecimento verdadeiro de Deus. O pão descido
do céu é o Revelador que vem do Pai (João 6,38.50; cf. João 3,13.), trazendo
uma vida que Moisés não conseguiu proporcionar.
O Pão
eucarístico. Nesta altura nos versículos 51ss, João relaciona o “Pão da Vida”
com a celebração da Eucaristia na comunidade cristã. Jesus explica que este pão
é “sua carne para a vida do mundo” (João 6,51). Como geralmente na Bíblia,
“carne” significa a realidade humana frágil e perecível (cf. Isaias 40,6-8);
aqui, concretamente, significa a existência humana de Jesus que culminou na sua
morte “para a vida do mundo”, como diz a fórmula que lembra o “para” das
palavras com que Jesus interpretou a sua morte na Última Ceia (hyper, Marcos
14,24; Lucas 22,19.22; João 6,41; 1Coríntios 11,24).
Comer a carne
e beber o sangue do Filho do Homem, o cristão deve entender que Jesus é
necessário para ter a vida de Deus. Comer e beber a existência e a morte de
Jesus é aceitá-las na fé, é completá-las em nós pela fé (João 6,53-54). Inclusive,
linguisticamente falando, “comer” e “beber” têm, no hebraico e no aramaico, o
sentido de acolher o que alguém diz, acreditar. No sinal sacramental da
Eucaristia cristã, esta vida (carne) e esta morte (sangue), que acolhemos em
nós, se apresentam como verdadeira comida e bebida (João 6,55).
O “comer da
carne e o beber do sangue” produzem íntima comunhão com Jesus e fazem o
discípulo e a discípula viverem em estreita identificação com ele. A aceitação
de Jesus é sempre adesão de amor, que estabelece comunhão de vida que procede
do Pai. Comungando o Copo e o Sangue, tornamo-nos participantes de Sua “vida
divina” de modo sempre mais adulto e consciente. Cristo alimenta-nos,
unindo-nos a Ele (cf. Sacramentum Caritatis, 70).
O Evangelho de
João contém diversas indiretas referencias aos sacramentos, especialmente à
iniciação cristã (batismo e eucaristia). Assim, os capítulos 3 e 9 certamente
referem ao “batismo e à profissão de fé”. Suspeitamos até de que o Evangelho de
João tenha uma dimensão de “iniciação cristã”. Nesta perspectiva caberia também
João 6, a Eucaristia fazendo parte da “iniciação cristã”. Não que para João o
sacramento é o centro da atenção. Para João, só Jesus é o centro do Evangelho.
Seu Evangelho é cristocêntrico, não eclesiocêntrico, isto é, tem Cristo como
centro e não a Igreja. Seu Evangelho traz presente a missão de Jesus como
Revelador do Pai, diante do qual a pessoa humana tem que tomar a decisão de
acolher a Luz ou viver nas trevas (cf. João 3,17ss; 9,5.39-41; 12,37ss).
A presença real
de Cristo na Eucaristia não precisa ser física. O significador fisicamente
perceptível (pão e vinho como comida e bebida) re-presentam, tornam presentes o
pão e o vinho, fisicamente ausentes, na Última Ceia, significando, por intenção
expressa de Jesus, seu Corpo e Sangue dados pela multidão humana, o ato
salvador de do amor divino em Cristo. Não estão presentes, na Eucaristia, os
músculos e ossos, o soro e as hemoglobinas que constituíam o corpo e o sangue
de Cristo no mundo da Última Ceia. Estão aqui pão e vinho, mas no universo das
significações eles são realmente Jesus Cristo, designando a sua doação por amor
como obra salvadora de Deus. A presença de Cristo na Eucaristia não é presença
física, mas uma presença dinâmica que faz acontecer a Ressurreição. É preciso
entender que o Cristo presente na Eucaristia é o Cristo da glória, isto é o
Ressuscitado.
3- DA PALAVRA CELEBRADA AO COTIDIANO DA VIDA
A festa de
Corpus Christi é a festa do reconhecimento e da memória. A comunidade cristã
reconhece as obras realizadas pelo Senhor e celebra o memorial do Deus que se
dá em alimento para saciar a fome; de Deus que se oferece como fora no
caminhar: “Lembre-se, porém, de todo o caminho que Javé seu Deus fez você
percorrer”. A Eucaristia é memorial de Deus que atuou e continua presente na
história. Por isso, a Eucaristia é uma memória dinâmica, aberta, ágil e
transformadora, que impulsiona na busca do novo céu e da nova terra,
comprometendo a organização e a vivência de relações sociais e comunitárias à
luz do projeto de Jesus.
A aclamação
memorial “eis o mistério da fé” expressa o sentido central da Eucaristia:
“Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde,
Senhor Jesus!”. Na ação eucarística, pela ação de graças pronunciada sobre o
pão e sobre o cálice com vinho, atualizam-se ritualmente, de forma
simbólico-sacramental, a vitória e o triunfo da morte de Jesus até que ele
venha. Aquilo que se realizou uma vez na última ceia e na morte de Jesus na
cruz acontece hoje para a comunidade, em mistério, no sacramento, toda a vez
que celebramos como corpo eclesial.
A Eucaristia é
o “memorial da morte e ressurreição de Jesus: sacramento de piedade, sinal de
unidade, vínculo de caridade, banquete pascal, em que Cristo é comunicado em
alimento, o espírito é repleto de graça e nos é dado o penhor da futura glória”
(Sacrosanctum Concilium, 47). Sem nos alienar das realidades cotidianas da vida
e do complexo sistema das relações sociais “a Eucaristia é verdadeiramente um
pedaço do céu que se abre sobre a terra; é um raio de glória da Jerusalém
celeste, que vem iluminar nosso caminho” (Ecclesia de Eucharistia, 19).
A Eucaristia é
também sacramento do Reino em processo de sua plena realização. Enquanto
aguardamos e atuamos em favor do Reino, a Eucaristia é estimulo de ativa
esperança na dedicação diária de cada um aos próprios deveres e a toda a
caminhada histórica (cf. Ecclesia de Eucharistia, 20). “Na Eucaristia,
testamento de seu amor, ele se fez comida e bebida espirituais, que nos
sustentam na caminhada para a Páscoa eterna. Com esta garantia da ressurreição
final, esperamos participar do banquete do vosso reino” (prefácio da Oração
Eucarística III).
A eucaristia é
sacramento de unidade. Ela é o pão formado por muitos grãos de trigo para que
sejamos um só corpo. Karl Rahner assim se expressa: “Que coisa mais típica da
vida cotidiana que o alimento de todos os dias? Todos os dias se passa o mesmo:
comemos e bebemos, nos alimentamos [...]; deste ponto de vista, a Eucaristia é
o alimento do homem (e da mulher) que sempre torna a ter fome, que sempre volta
a sentir fraqueza e que, portanto, na vida espiritual, é um homem comum da vida
cotidiana”. São João Crisóstomo pergunta: “Com efeito, o que é o Pão? É o corpo
de Cristo. E em que se transformam aqueles que o recebem? No corpo de Cristo;
não muitos corpos, mas um só corpo. De fato, tal como o pão é um só apesar de
constituído por muitos grãos, e estes, embora não são vistos, todavia estão no
pão, de tal modo que sua diferença desapareceu devido à sua perfeita e
recíproca fusão, assim também nós estamos unidos reciprocamente entre nós e,
todos juntos, com Cristo” (Ecclesia de Eucharistia, 23). Jesus perpetua sua
presença entre os seus como alimento que é consumido no pão partido e repartido
entre irmãos. O vinho bebido é o sangue derramado, sinal da aliança nova e
eterna. O ato de comer o pão e beber o vinho envolve o compromisso de viver
conforme ao mistério pascal em comunidade, o que supõe o compromisso de
construir uma sociedade sem fome, sem guerras, sem discriminações, buscando
juntos os caminhos da solidariedade, do respeito e da compreensão mútua.
A Eucaristia é
sacramento de comunhão. O pão e o vinho consagrados na Eucaristia, que
celebramos em memória do Senhor, são o Corpo e o Sangue vivos e verdadeiros do
Senhor. Santo Agostinho explicita esse mistério de comunhão com as seguintes
palavras: “Se vocês são o corpo e os membros de Cristo, é o sacramento de vocês
que é colocado sobre a mesa do Senhor. É o sacramento de vocês mesmos que vocês
recebem. Vocês respondem ‘Amém’ àquilo que recebem. Vivam, pois, como um membro
de Cristo, para que o Amém de vocês seja verdadeiro” (homilia in 1 Cor 27,4). É
precisamente essa comunhão que suplicamos ao Pai: “Concedei que,
alimentando-nos com o Corpo e o Sangue de vosso Filho, sejamos repletos do
Espírito Santo e nos tornemos em Cristo um só corpo e um só espírito” (Oração
Eucarística III). A Eucaristia não pode ser adequadamente compreendida, nem
plenamente vivida, fora da comunhão eclesial. A Igreja é o Corpo de Cristo:
caminha-se “com Cristo”, na medida em que se está em relação com o seu corpo
(cf. Mane nobiscum Domine, 20). “A Eucaristia é Cristo que se dá a nós.
Edificando-nos continuamente como seu corpo” – Ela é, pois “constitutiva do ser
do agir da Igreja” (Sacramentum Caritatis, 14 e 15).
A Igreja vive
da Eucaristia. O Concílio Vaticano II afirmou que a Eucaristia é a “fonte e o
centro de toda a vida cristã” (Sacrosanctum Concilium, 10). Por esta razão,
desde Pentecostes, quando a Igreja, povo da nova aliança, iniciou sua
peregrinação para a pátria celeste, esse sacramento divino foi ritmando seus
dias, enchendo-os de consoladora esperança. A Eucaristia contém o tesouro
espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, nossa Páscoa e o pão vivo que
dá a homens e mulheres a vida mediante sua carne vivificada e vivificadora pelo
Espírito Santo (cf. Ecclesia de Eucharistia, 1).
4- A PALAVRA SE FAZ CELEBRAÇÃO
Eucaristia fonte de
vida
As primeiras
gerações dos cristãos viam na Eucaristia a própria fonte de vida, a razão de
sua existência. Em um texto belíssimo que lemos no tempo quaresmal, no Ofício
de Leituras, São João Crisóstomo diz:
Moisés, erguendo as mãos ao céu,
fazia cair o maná, o
pão dos anjos; o nosso Moisés
ergue as mãos ao céu e
nos dá alimento eterno (...)
Aquele feriu a rocha e fez brotar
torrentes de água; este toca na
mesa, a mesa espiritual,
e faz jorrar as fontes do
Espírito. Por isso a mesa está
colocada no meio, como uma fonte,
para que de todos os
lados acorram os rebanhos à
fonte, e bebam das águas da
salvação.
Nessa mesma
linha caminham duas orações da solenidade de hoje: “Concedei, ó Deus, à vossa
Igreja os dons da unidade e da paz simbolizados pelo pão e vinho que oferecemos
na Sagrada Eucaristia” e “Dai-nos, Senhor Jesus, possuir o gozo eterno da vossa
divindade, que já começamos a saborear na terra, pela comunhão do vosso Corpo e
Sangue. Aquilo que se vive hoje brota do memorial da paixão do Senhor. A
Eucaristia não é um amuleto supersticioso, mas é o próprio sustento no caminho
histórico dos discípulos e discípulas do Senhor. Necessariamente, a vida eterna
se desdobra em unidade e paz. É exatamente isso que a celebração Eucarística
produz: comunhão com Deus sacramentalizada na comunhão com os irmãos. Este é o
destino do corpo e Sangue do Senhor, gerar em nós sua Palavra: o “pão que eu
darei é a minha carne para a vida do
mundo”.
Não se pode
esquecer que, com o “Pão do Céu” vem o “Verbo da Vida”, com a finalidade de
garantir vivos os que dele comem. Atanázio de Alexandria dizia: “Depois de se
pronunciarem as grandes orações e as santas invocações, o Verbo desce ao pão e
ao cálice e converte-os no Corpo e Sangue do Verbo.” A oração à qual Santo
Atanásio se refere é a grande bênção da Igreja, a oração eucarística,
pronunciada sobre os dons e sobre a comunidade dos comungantes. Nesta oração
vemos claramente, quando a acompanhamos com piedade e inteligência, que a
eucaristia tem como fim, objetivo último, a transformação dos que comungam no
próprio Cristo. Nenhuma concepção devocional, ainda que carregada de boas
intenções e sentimentos religiosos positivos, alcançará a profundidade do
mistério que ali se realiza: a real possibilidade de nos tornarmos um com o
Cristo, associando-nos ao seu mistério pascal: vida, missão, paixão-morte, ressurreição
e segunda vinda.
O Mistério da Fé
Muitos
cristãos ainda pensam que a expressão “Eis o mistério da Fé” se dirige ao Pão e
Vinho eucaristizados. De fato, a tradução do latim Misteryum Fidei para o
português não foi das melhores levando a tal consideração. A versão francesa
“Grande é o mistério da fé” parece ser mais adequada. O grande Mistério é a
“morte e ressurreição de Jesus”, acontecimento a partir do qual toda a sua vida
foi interpretada e a partir de “onde” nasceu a própria Igreja, como comunidade
dos seus seguidores e seguidoras.
A aclamação
memorial “toda vez que se come deste pão, toda vez que se bebe deste vinho se
recorda a paixão de Jesus Cristo e se fica esperando a sua volta” responde
satisfatoriamente à pergunta: qual é o Mistério da Fé? A paixão de Nosso Senhor
(incluindo morte e ressurreição) e sua volta não somente no final dos tempos,
mas a cada vez que nos juntamos para celebrar em sua memória. São Cromácio que
viveu no século IV afirmava em suas pregações e comentários que a morte de
Jesus é sua verdadeira Páscoa.
A Vida que nos vem das duas Mesas
Ao
participarmos da Mesa da Palavra e da Mesa do Banquete, somos inseridos nesta
lógica do evangelista João, da participação na Vida Eterna. Nós mergulhamos na
Páscoa de Jesus, seu transitum (passagem) da morte para a vida, através de
nossa participação ativa ao redor do Ambão e do Altar. Nós vamos ao encontro do
Senhor e Ele vem ao nosso encontro. Por isso, é de se esperar que as ações
rituais manifestem esta realidade essencial para a vida cristã.
Os espaços
sagrados de nossas comunidades, portanto, devem permitir à assembléia
aproximar-se da Mesa da Palavra para escutar o ensino do Mestre e da Mesa do
Pão para nela comungar. Se isto ainda não pode se tornar uma prática comum em
nossas igrejas, sobretudo por “culpa” da arquitetura não ser funcional, está na
hora de promovermos algumas adaptações, pelo bem da fé de nosso povo.
5- LIGANDO A PALAVRA COM A AÇÃO EUCARÍSTICA
O Senhor,
hoje, presente no meio de seu povo, alimenta-nos com a Palavra e com o Pão para
que tenhamos vida e vida em abundância, e nos transformemos num culto agradável
ao Pai. Todavia, “o culto agradável a Deus nunca é um ato meramente privado,
sem conseqüências em nossas relações sociais; requer o testemunho público da
própria fé” (Sacramentum Caritatis, 83).
Na
apresentação das oferendas do pão e do vinho, frutos da terra e que serão
transformadas pelo Espírito Santo em Corpo e Sangue do Senhor, elevemos nossa
ação de graças ao Pai pela obra de suas mãos e de seu Filho para a salvação do
mundo. “Bendito sejais, Senhor, Deus do universo, pelo pão que recebemos de
vossa bondade, fruto da terra e do trabalho humano, que agora vos apresentamos,
e para nós se vai tornar pão da vida / e vinho da salvação”.
Neste dia do
Corpo de Deus, a comunidade, cristã recorda o Deus que se fez companheiro de
caminhada, armando sua tenda no meio do povo e estabelecendo com ele a aliança;
acolhe a Palavra libertadora de Jesus e proclama o triunfo sobre as forças da
morte; renova a comunhão com ele participando da ceia eucarística. “Todas as
vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a vossa
morte, enquanto esperamos a vossa vinda!”
O encontro com
Cristo, aprofundado na Eucaristia, suscita, na comunidade e em cada batizado, a
urgência de testemunhar e de evangelizar. Entrar em comunhão com Cristo no
memorial de sua Páscoa significa, ao mesmo tempo, experimentar o dever de
fazer-se missionário do acontecimento libertador atualizado pela celebração
eucarística. O Senhor novamente nos envia a impregnar a sociedade dos valores
da Eucaristia.
6. ORIENTAÇÕES GERAIS
1. A
solenidade do Corpo e Sangue do Senhor é o único dia em que se permite fazer
exposição e bênção do Santíssimo Sacramento imediatamente após a celebração da
eucaristia. Faria bem uma leitura do Missal Romano com atenção às orações,
prefácios e rubricas.
2. Prepare-se,
além das hóstias que serão distribuídas ao povo, uma hóstia grande para a
exposição.
3. Esta
solenidade, em si mesma, já possui “traços ostensivos” suficientes. Seria bom
cuidar de não recuperar nenhum sentido triunfalista ou apologético, já
superados pela reforma da Liturgia. Sobriedade e brevidade são as
características fundamentais do Rito Romano.
4. Valorizar
nos vários momentos da celebração, a participação das crianças, jovens e
adultos que celebraram sua Primeira Eucaristia neste ano, ou mais recentemente.
5. Onde houver
procissão eucarística pelas ruas, jamais e nunca fazê-la antes da Missa e sim
depois. O culto eucarístico brota da celebração do “Mistério Pascal”.
Consagra-se uma hóstia grande para a procissão.
6. O Ritual
Romano – A Sagrada Comunhão e o Culto Eucarístico fora da Missa dos números 101 a 108, nos dá a seguinte
orientação: “ O povo cristão dá um testemunho público de fé e piedade para com
o Santíssimo Sacramento nas procissões em que a Eucaristia é levada pelas ruas
em rito solene com canto. (...) Entre as procissões eucarísticas adquire
importância e significado especiais na vida pastoral da paróquia ou da cidade a
que costuma ser realizada cada ano na solenidade do Corpo e do Sangue de Cristo
ou outro dia mais apropriado perto desta solenidade. Convém, pois, que, onde as
circunstâncias dos tempos atuais o permitirem e onde puder ser realmente um
sinal de fé e adoração da comunidade, esta procissão seja mantida, segundo a
determinação do direito. (...) Convém que a procissão com o Santíssimo
Sacramento se realize após a Missa na qual se consagrará a hóstia a ser levada
na procissão.” Não se trata de uma questão de proibição, mas de uma teologia
interna que deve ser respeitada.
7. Primeiro
que neste dia não se trata de um culto eucarístico fora da Missa. Segundo
porque a adoração do Santíssimo na Quinta-Feira Santa, a exposição e procissão
com o Santíssimo neste dia e em outros dias na comunidade, dependem da
Celebração Eucarística. Portanto, devemos valorizar primeiro a Ceia do Senhor e
depois valorizarmos também os momentos de adoração do Santíssimo Sacramento.
7- MÚSICA RITUAL
O canto é
parte necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para
animar ou enfeitar a liturgia. Por isso devemos cantar a liturgia e não cantar na liturgia. Os cantos e músicas,
executados com atitude espiritual e,
condizentes com a Solenidade de hoje, ajudam a comunidade a penetrar no
mistério celebrado. Portanto, não basta só saber que os cantos são da
Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, é preciso executá-los com atitude espiritual. A escolha dos cantos deve
ser cuidadosa, para que a comunidade tenha o direito de cantar o mistério
celebrado. O canto de abertura
deve nos introduzir no mistério celebrado.
1. Canto de abertura. Deus
alimenta seu povo (Salmo 81/80,17). “Todos,
convidados, cheguem ao banquete do Senhor...”, CD: Festas Litúrgicas II, melodia da faixa 1. Temos outras opções
muito condizentes com esta Solenidade: “Eis meu povo o banquete” (Hinário
Litúrgico III da CNBB, p. 312), ou “O pão sofrido da terra” (Zé Vicente).
Ensina a
Instrução Geral do Missal Romano que o canto de abertura tem por objetivo, além
de unir a assembléia, inseri-la no mistério celebrado (IGMR nº 47). Nesse
sentido os Hinários Litúrgicos da CNBB nos oferece uma ótima opção, que estão
gravados no CD: Festas Litúrgicas II.
2. Hino de louvor. “Glória a
Deus nas alturas.” Vejam o CD Tríduo Pascal I e II e também no CD
Festas Litúrgicas I; Partes fixas do Ordinário da Missa do Hinário Litúrgico
III da CNBB e também a versão da CNBB musicado por Irmã Miria Reginaldo Veloso
e outros compositores.
O Hino de
Louvor, na versão original e mais antiga, é um hino cristológico, isto é,
voltado para Cristo, que exprime o significado do amor do Pai agindo no Filho.
O louvor, o bendito, a glória e a adoração ao Pai (primeira parte do Hino de
Louvor) se desdobram no trabalho do Filho Único: tirar o pecado do mundo,
exprimindo e imprimindo na história humana a compaixão do Pai. Lembremo-nos: o
Hino de Louvor não se confunde com a “doxologia menor” (Glória ao Pai, ao Filho
e ao Espírito Santo). O Hino de Louvor encontra-se no Missal Romano em prosa ou
nas publicações da CNBB versificado numa versão que facilita o canto da
assembléia.
3. Salmo responsorial 147/148. “Glorifica
o Senhor, Jerusalém... ele te sacia com flor de trigo”. “Glorifica o Senhor, Jerusalém; Celebra o teu
Deus, ó Sião!”, CD: Festas Litúrgicas II, melodia da faixa 2.
O Salmo
responsorial é uma resposta que damos àquilo que ouvimos na primeira leitura.
Isto mostra que o salmo é compromisso de vida e ele também atualiza e leitura
para a comunidade celebrante. Primeira leitura, Palavra proposta e salmo
Palavra resposta. Por isso deve ser cantado da Mesa da Palavra (Ambão) por ser
Palavra de Deus. Valorizar bem o ministério do salmista.
4. Seqüencia. “Lauda Sion
Salvatorem”. “Terra, exulte de alegria,
louva teu pastor e guia”, CD: Festas Litúrgicas II, melodia da faixa 5.
5. Aclamação ao Evangelho. “Eu
sou o pão da vida (João 6,51). “Aleluia... Eu sou o pão vivo descido do céu...,
CD: Festas Litúrgicas II, melodia da faixa 6. O canto de aclamação ao evangelho
acompanha os versos que estão no Lecionário Dominical.
6. Refrão após a homilia. Um
refrão muito oportuno após a homilia acompanhada do silêncio seria “Nós somos
muitos mas formamos um só corpo”, CD: Cantos de Abertura e Comunhão, melodia da
faixa 6, que está no Hinário Litúrgico da CNBB, pág. 300.
7. Apresentação dos dons. A fé
na Eucaristia deve manifestar-se na partilha para com os necessitados e também
para com as necessidades da Igreja. Devemos ser oferenda com nossas oferendas.
“Tanta gente vai andando à procura de uma luz...”, CD: Festas Litúrgicas II,
faixa 7. Outro canto muito oportuno para hoje seria “Os cristãos tinham tudo em
comum”.
8. Canto de comunhão. Quem come minha carne... (João 6,56). Sem
dúvida, o canto de comunhão mais adequado para a Solenidade do Corpo e Sangue
de Cristo neste Ano A é “Nós somos muitos mas formamos um só corpo”, CD: Cantos
de Abertura e Comunhão, melodia da faixa 6 ...”. Este canto é o trecho da segunda leitura
de hoje, 1Coríntios 10,16-17 e 11,25-26. Outros cantos também nos ajudam a fazer
a ligação com o Evangelho:; “Eu sou o pão que vem do céu”, CD: Festas
Litúrgicas II, melodia da faixa 8.
O canto de
comunhão deve retomar o sentido do Evangelho da Solenidade de hoje. Esta é a
sua função ministerial. Na realidade, aquilo que se proclama no Evangelho nos é
dado na Eucaristia, ou seja: é o Evangelho que nos dá o “tom” com o qual o
Cristo se dirige a nós em cada celebração eucarística reforçando estes
conteúdos bíblico-litúrgicos, garantindo ainda mais a unidade entre a mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia. Isto
significa que comungar o corpo e sangue de Cristo é compromisso com o Evangelho
proclamado. Portanto, o mesmo Senhor que nos falou no Evangelho, nós o
comungamos no pão e no vinho. Por essa
união indissociável das três mesas (da Palavra, da Eucaristia, do povo), o
canto que entoamos, durante a procissão da Comunhão, deveria trazer presente o
que escutamos nas leituras de hoje. Nossas vozes refletindo a mensagem do
Evangelho durante o canto de comunhão, devem expressar que aceitamos o Cristo
inteiro, pois Ele é o mesmo na Eucaristia e na Palavra.
8- O ESPAÇO CELEBRATIVO
1. Seria muito
interessante que se preparasse o arranjo floral para a mesa da Palavra
utilizando um grande pão partido. Não um pão desenhado ou de isopor, mas pão
verdadeiro. Não se trata de uma alegoria, pois não são elementos artificiais
querendo indicar uma realidade verdadeira. Mas trata-se de explicitar
“plasticamente”, exteriorizar através de sinais sensíveis verdadeiros, a
verdade profunda da Palavra compartilhada com o Senhor, além de estarmos
relacionando diretamente a mesa da Palavra com a Mesa da Eucaristia. O que,
absolutamente, não cabe, é ornar a mesa da Eucaristia com pães e usar hóstias
para a Comunhão, que em nada se parece com alimento (cf. IGMR, nn. 282-283). A
introdução do Missal recomenda que a “hóstia” se pareça com alimento.
2. O espaço da
celebração deve recordar para nós a Jerusalém. Portanto, o lugar da celebração
deve ser preparado para as núpcias do Cordeiro. Deve ser belo, sem ser luxuoso;
deve ser simples, sem ser desleixado; deve ser aconchegante para que todos se
sintam participantes do banquete. A mesa da Eucaristia é o lugar de
convergência de toda a ação litúrgica. Assim o altar não pode ser “escondido”
por imensas toalhas, arranjos de flores e outros objetos. O altar é Cristo. É
ele o ator principal da liturgia. “As flores, por exemplo, não são mais
importantes que o altar, o ambão e outros lugares simbólicos. Nem a toalha é
mais importante que o altar. Os excessos desvalorizam os sinais principais. A
sobriedade da decoração favorece a concentração no mistério celebrado” (Guia
Litúrgico Pastoral, página 110).
9. AÇÃO RITUAL
Celebramos o
mistério eucarístico, caminho mais profundo da comunhão com o Senhor e sua
Páscoa. Na Eucaristia acolhemos o dom da vida divina e nos associamos a Jesus e
à sua morte e ressurreição. Celebrar a eucaristia, hoje, comporta um
compromisso: buscar alcançar a sua profundidade e o seu sentido teológico e a
sua espiritualidade eclesial, deixando de lado motivações religiosas egoístas e
manipuladoras que adulteram o seu verdadeiro sentido.
Ritos Iniciais
1. Valorizar
os ritos iniciais, que constituem a assembléia como Corpo Vivo do Senhor. A
presença real do Senhor ressuscitado, se manifesta também nos sinais sensíveis
da comunidade reunida em nome do Senhor que “ora e canta”, pelo tom de vós,
pelo conjunto de gestos, símbolos e atitude orante e consciente da assembléia,
dos acólitos, dos leitores, salmista e outros ministérios e, principalmente de
quem preside.
2. O Hino de
louvor “Glória a Deus nas alturas” é antiqüíssimo e venerável, com ele a
Igreja, congrega no Espírito Santo, glorifica e suplica a Deus e ao Cordeiro.
Não é permitido substituir o texto desse hino por outro (cf. IGMR n. 53). O CD:
Festas Litúrgicas I propõe, na faixa 2, uma melodia para esse hino que pode ser
cantado de forma bem festivo, solista e assembléia. Vejam também os outros CDs.
3. Na Oração
do Dia, suplicamos ao Senhor Jesus Cristo que possamos colher continuamente os
frutos da redenção. A Eucaristia é o memorial da morte e ressurreição do
Cristo, mas não um mausoléu. Deus alimenta seu povo.
Rito da Palavra
1. A
compreensão atual da Eucaristia recuperou o valor da mesa da Palavra,
intimamente ligada ao altar. A Palavra é também pão que nutre e fortifica a
comunidade de fé. Esta, por sua vez, merece receber de bons leitores e
salmistas, homiliastas e proponentes de preces (precistas), uma Palavra bem
proclamada, meditada e rezada.
2. Dar
destaque especial à Liturgia da Palavra, proclamando bem as leituras,
especialmente o Evangelho. O Evangeliário pode ser acompanhado de tochas e
incenso. E a proclamação deve ser feita de tal maneira que a comunidade viva e
experiência da Encarnação de Jesus o Verbo (Palavra) que se fez carne e habitou
entre nós. Palavra que é o próprio Cristo, recebendo acolhida na assembléia
reunida, seu Corpo. Cristo, Pão da Vida, se faz presente e nos alimenta com a
Palavra.
3. A Palavra é
realçada também por momentos de silêncio,
por exemplo. Após as leituras, o salmo e a homilia, fortalecendo a atitude de
acolhida à Palavra de Deus. No silêncio, o Espírito torna fecunda a Palavra no
coração da comunidade e de cada pessoa. Nunca
é demais insistir: proclamem-se bem as leituras até mesmo fazendo um breve
silêncio entre cada uma delas. Por exemplo, após o salmo responsorial, não iniciar logo a segunda leitura. Dar
uma pequena pausa para assimilar-se a riqueza do salmo.
Rito da Eucarística
1. Realizar a
procissão das oferendas vinda da assembléia. Com o pão e o vinho, dons da
Eucaristia, trazer outros dons, sinais que tornam presente os inúmeros gestos
de amor, de caridade e de solidariedade da comunidade cristã. Neste momento
caberia bem a coleta de alimentos não-perecíveis e sua distribuição aos
necessitados.
2. Na Oração
sobre as Oferendas pão e vinho são símbolos de unidade e paz. Merece atenção a
esta oração que é inspirada na Didaqué e em 1Coríntios 10,17, utilizando o
simbolismo do trigo e da uva reunidos até formarem pão e vinho, para simbolizar
a unidade da Igreja em Cristo. Pois a festa de Corpus Christi é também a festa
do seu Corpo Místico, a Igreja, que Ele nutre e leva à unidade da mútua doação.
3. Mais
importante que a bênção do Santíssimo é a Oração Eucarística. Esta sim é a
bênção das bênçãos. Por isso, todos se esmerem em prepará-la bem: aclamações do
povo, Santo, aclamação memorial, amém final cantados ajudam na participação. O
presidente cuide de, na pessoa do Cristo, falar ao Pai, a quem neste momento se
adora “Por Cristo, com Cristo e em Cristo, na unidade do Espírito Santo”. Não é
uma oração dirigida à assembléia. Por isso, não tem sentido olhar para o povo
como se estivesse falando com ele, mas para Deus, a quem se dirige esta prece.
Jesus é o modelo de louvor ao Pai. Quem preside deve se inspirar na sua maneira
de rezar: Mt 14,19; Jo 11,41; 17,1.
4. Temos dois
prefácios para a Solenidade de hoje. No prefácio I da Santíssima Eucaristia, contemplamos
a Eucaristia como alimento e bebida, no prefácio II, contemplamos a Eucaristia
na dimensão da comunhão, fé e caridade.
5. Quanto ao
prefácio: quem preside procure proclamá-lo com ênfase, mas ao mesmo tempo
calmamente, de forma serena e orante. Frase por frase. Cada frase é importante,
anunciadora do mistério que hoje celebramos. Basta prestar bem atenção nelas! A
boa proclamação do Prefácio, como abertura solene da grande oração eucarística
(bem proclamada também), tem um profundo sentido evangelizador, pois, por seu
conteúdo e, sobre tudo, por ser oração, toca fundo no coração da assembléia.
6. Cantar com
vibração o “Amém” conclusivo da Oração Eucarística. Por Cristo, com Cristo, em
Cristo...
7. Um lembrete
quanto à comunhão na missa: “A verdade do sinal exige que o pão eucarístico
seja reconhecido com alimento, e que, portanto, sempre que possível, o pão,
embora ázimo seja preparado de tal forma que possa ser repartido entre todos.
Não sendo possível repartir entre todos, em razão do sinal que se expressa,
convém que alguma parte do pão eucarístico obtido pela fração seja distribuída
ao menos a algum fiel no momento da comunhão [...]. Valem todos os esforços
para garantir aos comungantes o santo alimento oferecido na mesma celebração,
deixando a reserva eucarística para a finalidade a que se destina, a saber, a
comunhão aos enfermos e ao culto eucarístico’ (IGMR, nn. 282-283).
8. Valorizar o
rito da fração do pão, “gesto realizado por Cristo na última ceia, que no tempo
apostólico deu o nome a toda a ação eucarística, significa que muitos fiéis
pela Comunhão no único pão da vida, que é o Cristo, morto e ressuscitado pela
salvação do mundo, formam um só corpo (1Coríntios 10,17” (IGMR, nº 83).
9. Cantar o
Cordeiro de Deus de tal modo que dê relevo particular à fração do pão. Executar
o canto como Ladainha: Solista e assembléia. O presidente deve destacar bem o
“partir o pão” para que toda a assembléia perceba e acompanhe este gesto.
Muitas vezes a movimentação exagerada e o barulho no abraço da paz ofusca este
gesto tão significativo que é a “fração do pão”.
10. A comunhão
expressa mais nitidamente o mistério da Eucaristia quando distribuída em duas
espécies, como ordenou Jesus na última ceia, “tomai comei, tomai bebei”. Vale
todo esforço e tentativa no sentido de se recuperar a comunhão no Corpo e
Sangue do Senhor para todos, conforme autoriza e incentiva a Igreja. “A
comunhão realiza mais plenamente o seu aspecto de sinal quando sob as duas
espécies. Sob essa forma se manifesta mais perfeitamente o sinal do banquete
eucarístico e se exprime de modo mais claro a vontade divina de realizar a nova
e eterna Aliança no Sangue do Senhor, assim como a relação entre o banquete
eucarístico e o banquete escatológico no Reino do Pai” (IGMR, nº 240).
11. Após a
comunhão, deixe ainda algum espaço de silêncio. Silêncio para você que preside
e para a assembléia. Silêncio orante, contemplativo e de adoração. Silencio
para todos se conscientizarem de que são o verdadeiro corpo do Senhor. Talvez a
assembléia ainda não esteja habituada com este espaço de silêncio. Motive-a com
breves e piedosas palavras para este momento silencioso, de profunda
contemplação da maravilha que Deus fez por nós nesta celebração.
12. Na Oração
após a comunhão meditamos na alegria eterna que já começamos a saborear na
Eucaristia; é um memorial vivo, no qual assimilamos o Senhor, mediante a
refeição da comunhão cristã, saboreando um antegosto da glória futura. O
“Sacrum Convivium”, de São Tomás de Aquino.
13. Em seguida
realiza-se a procissão eucarística, com a hóstia consagrada na mesma
celebração. Seguem os ritos processionais com o Santíssimo Sacramento.
Omitem-se os Ritos Finais
1. Os cantos
durante a procissão deverão contribuir para que todos manifestem sua fé em
Cristo, atentos somente ao Senhor. Durante a procissão, devemos cantar cantos
que utilizamos durante a comunhão nas celebrações ou cantos de caminhada.
Devemos evitar cantos intimistas, individualistas tais como: “Eu amo você meu
Jesus”; “Eu quero”; “Eu sinto”; “Pão e vinho são pra ti, Senhor”; “E quando eu
levantar este pão... e este cálice; “Como Zaqueu, eu quero subir...; “Ti olhar,
ti tocar, e ver meu Deus como és lindo”, etc. Optar por cantos que expressam a
comunhão do Senhor com a Igreja.
2. Os cantos para a procissão. “O povo
de Deus, no deserto andava”; “Glória Jesus na hóstia santa”; “Povo que és peregrino,
buscas a libertação”; “O pão da vida, a comunhão, nos une a Cristo e aos
irmãos...” “Quando te domina o cansaço...” (A força da Eucaristia) de Irmã
Míria. “É bom estarmos juntos, à mesa do Senhor” de irmã Míria; “O pão da vida,
a comunhão, nos une a Cristo e aos irmãos
3. Ao fim da
procissão antes da bênção cantar “Tão sublime sacramento”.
4. Como em
toda a missa, toda expressão de adoração ao Santíssimo é singela e digna, sem
exageros (as rubricas ensinam).
5. Após o
canto se dará a bênção com o Santíssimo Sacramento na Igreja ou outro lugar
mais apropriado; em seguida, se repõe o Santíssimo Sacramento.
6. Após a
celebração e a procissão, seria significativo fazer uma confraternização com
comes e bebes expressando o nosso desejo de concretizar na vida do dia a dia a
partilha como Jesus nos ensina.
10- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Eucaristia
então é realmente centro e fundamento da nossa vida cristã. Não como uma
realidade celestial que nada tem a ver com a vida diária. Eucaristia está
sempre no meio da nossa vida. Aí celebramos toda a nossa existência de que
Jesus quis participar quando veio entre nós.
Celebremos o Mistério Pascal do
Senhor, valorizando os gestos de partilha possibilitando a todos o direito de
lutar pela vida e ter o direito de “sentar para comer”.
O objetivo da
Igreja e da nossa equipe diocesana de liturgia é ajudar os padres e as
comunidades de nossa diocese e todas aquelas outras comunidades fora de nossa
diocese que acessar nosso site celebrar melhor o mistério pascal de Cristo.
Um abraço fraterno a todos
Pe. Benedito Mazeti
Assessor diocesano de Liturgia
Bispado de São José do Rio Preto
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