sexta-feira, 27 de março de 2015

DOMINGO DE RAMOS DA PAIXÃO DO SENHOR - ANO B


 29 de março de 2015

Leituras

    Marcos 11,1-10 (Evangelho da bênção). Hosana no mais alto do céu.
    Isaias 50,4-7. O Senhor Deus me presta socorro.
    Salmo 21/22,8-9.17-18a.19-20.23.24. Anunciarei vosso nome a meus irmãos.
    Filipenses 2,6-11. Foi obediente até à morte, e morte de cruz!
    Marcos 14,1-15,47 ou 15,1-39. Ele era mesmo o Filho de Deus.


“BENDITO O QUE VEM EM NOME DO SENHOR”


1- PONTO DE PARTIDA

Domingo de Ramos é a porta de entrada da Semana Santa. Com a celebração de hoje, entramos na “Grande Semana” ou mais conhecida “Semana Santa”. Para as comunidades cristãs, esta semana maior sempre será um conforto com o problema do mal no mundo. Muito sofrimento. Além das catástrofes naturais, há no mundo muita opção de morte, desde a violência da guerra, o terrorismo, a violência urbana, a morte pela fome e a falta de justiça e paz, até a violência contra a própria natureza.

Durante esta semana somos levados a rever e rememorar os acontecimentos finais da vida de Jesus Cristo. O auge da Semana Santa é o Tríduo Pascal: Quinta-Feira Santa, Sexta-Feira Santa (ou da Paixão e morte de Jesus) e Sábado Santo (ou Vigília Pascal.

2- REFLEXÃO BÍBLICA, EXEGÉTICA E LITÚRGICA

Contemplando os textos

Evangelho da bênção – Marcos 11,1-10 . O Evangelho faz parte da semana pascal do evangelista João. É um “texto sinótico” do Quarto Evangelho, e pode ser comparado com Mateus 21,1-9. Nos sinóticos, a entrada de Jesus em Jerusalém (que é sua primeira visita aí) e a purificação do Templo formam um conjunto. Conforme João, Jesus já tinha ido várias vezes a Jerusalém (2,13; 5,1), e desde o capítulo 7 Ele se encontra ai quase permanentemente.

No texto de João, não encontramos a preparação da entrada em Jerusalém mediante a missão dos apóstolos para conseguir um jumentinho, como em Marcos 11,1-6. João coloca imediatamente em cena o povo que vai ao encontro de Jesus com ramos de palmeira, gritando a aclamação messiânica “Hosana”, que significa “Salvai-nos” e faz parte do Salmo 118/117, “salmo pascal” (Hallel) (João 12,12-13; cf. Marcos 11,7-10). Ao “Hosana, bendito o que vem em nome do Senhor”, cumprimento do Salmo 118/117, João acrescenta algo que não está tal qual nos Evangelhos sinóticos: “o rei de Israel” (cf. Marcos 11,10). A partir deste termo, coloca em termos o motivo do jumentinho do rei messiânico, citando como Mateus 21,5, o texto de Zacarias 9,9-10. O mais característico do texto de João é o versículo 16, dizendo que, depois da glorificação (= morte e ressurreição) de Jesus os apóstolos se lembraram do fato e entenderam que foi um cumprimento das Sagradas escrituras. João gosta de insistir que as Escrituras só foram entendidas depois da morte (glorificação) de Jesus (2,17.22; 7,31; 20,9). É o Espírito que faz entender (cf. 14,26). É, portanto, na comunhão dos que são de Cristo, que se encontra o sentido das Escrituras. Ao mesmo tempo, isto explica porque os judeus não entenderam (no tempo de Jesus) nem entendem (no tempo de João) as Escrituras (cf. 5,39.46s).

João retoma a idéia tradicional de que Jesus é o Rei messiânico, sentado num jumentinho, mas não no mesmo sentido que Mateus 21,5, pois João omite a menção de que este rei é suave (prays) o que se revela em Zacarias 9,9, no fato de ele montar num burrinho. Em outros termos, João não se interessa em descrever Jesus como o Rei humilde, mas como o “Rei de Israel”, título que está presente no começo do seu Evangelho (João 1,49) e que voltará em outra discussão irônica no fim, quando Poncio Pilatos coloca na cruz de Cristo o título “Rei dos judeus” e não quer mais mudar o que escreveu. Também, na história do processo de Jesus, os judeus são apresentados como desistindo de suas ambições de ter um rei, um Messias: só César mesmo (João 19,15). Tudo isto nos leva a descobrir a intenção de João de destacar o título “Rei de Israel”, o que significa a mesma coisa que Messias, mas no contexto do Quarto Evangelho soa um pouco mais polêmico, já que a Igreja está em discussão com os que se consideram Israel, mas já não são: o judaísmo rabínico.

O Evangelho de João não dá oportunidade para uma pregação sobre Jesus como rei humilde. Sim, como Messias, cumprindo as Escrituras a respeito do “Rei messiânico”. Em comparação com Marcos, Mateus e Lucas, a cena perdeu muito de seu colorido popular. Tronou-se praticamente uma mera confissão de fé messiânica, mas confissão inconsciente, pois só mais tarde lembraram-se do sentido (João 12,16). Ora, mesmo os fariseus unem-se a esta confissão do messianismo de Jesus, reconhecendo que tudo que “todo mundo vai atrás dele” (João 12, 19). Certamente, João quer ilustrar também, por estas palavras, a situação no seu tempo.

É sobretudo o lugar na liturgia que valoriza o presente Evangelho. É o começo da “Semana Santa”. Fica claro o contraste entre o entusiasmo da multidão do Domingo de Ramos e a traição na Sexta-Feira Santa.

Num certo sentido, Domingo de Ramos é a festa de Cristo Rei. O Evangelho de João oferece perspectivas interessantes sobre este tema, sobretudo no capítulo 18 e 19. Torna claro que o Reino de Jesus não é “deste mundo” (João 19,36). O texto do capítulo 12 prepara este tema. No capítulo 12, Jesus é Clamado como Messias pelos judeus. Porém estamos ainda na primeira parte do Quarto Evangelho, o “livro dos Sinais”, em que o “evento” de Jesus fica ambíguo e sujeito a mal entendidos, já que os próprios discípulos só entendem depois (João 12,16). No capítulo 19 estamos na segunda parte, o “livro da Exaltação”. Aí, tudo se torna claro, Jesus é Rei e Messias, mas não no sentido em que o mundo o entende. Sexta-Feira Santa dá a luz para entender o Domingo de Ramos. Também “todo mundo vai atrás dele” (João 12,19), mas não no sentido em que o mundo entende isso.

O messianismo (realeza) de Jesus, celebrado no Domingo de Ramos, é a vitória sobre o mundo, pela cruz. A ressurreição de Lázaro, que, na visão de João, é a ocasião para a manifestação popular descrita em João 12,12ss, é o anúncio da ressurreição daquele que é “Ressurreição e vida”. É isto que se celebra na idéia do messianismo de Jesus: a “vida” que ele dá, como dom de Deus, na sua morte e ressurreição.

É evidente que este Evangelho dá uma base para desenvolvimento no sentido da superação do messianismo terrestre de qualquer espécie.

Outra opção para o Evangelho da bênção é Marcos 11,1-10, que é o evangelista do ano.

Primeira leitura – Isaias 50,4-7 . O texto é do terceiro dos assim chamados “Cânticos do Servo de Javé”. Pertence a um profeta chamado Dêutero-Isaias que compôs Isais 40-55 e exerceu sua missão em meados do século VI AC entre os exilados da Babilônia.  O poema abrange os versículos de 4-9. Nos versículos 5b-6 aparece a motivação típica (protesto de inocência) que prepara a súplica dos salmos de lamentação individual: “não fui rebelde, não me esquivei; aos que me feriam apresentei as minhas costas...” é preferível qualificar o poema como um salmo individual de confiança. De fato, a partir do versículo 7 se desenvolvem os dois motivos básicos de tais salmos: a afirmação de confiança e a certeza de ser atendido.

A lamentação individual no Antigo Testamento é própria de pessoa de bem em geral, que se consideram injustamente perseguidas. Entre elas aparecem sobretudo os mediadores, ou porta-vozes da Palavra de Deus, como Moisés (cf. Números 11,10-15; Deuteronômio 18,15-19), Elias (1Reis 19,1-18) e Jeremias (17,17-18;20,7-17). Eles sofrem precisamente em conseqüência da ingrata missão de mediadores.

Antes de tudo o profeta se apresenta como um discípulo (versículo 4a). Atento às palavras do Mestre, ele não guarda o conteúdo da mensagem para si, mas a transmite aos outros (cf. Jeremias 1,7; Ezequiel 2,3-3,4; Deuteronômio 18,18). Esta mensagem já não é uma palavra ameaçadora como nos profetas pré-exílicos, mas uma palavra libertadora, capaz de reconfortar os desanimados (cf. Isaias 40,6-11.27-31; 41,14; 42,1-7; Ezequiel 37,11). Como profeta ele está continuamente atento às palavras que recebe de Deus (cf. Jeremias 15,16: “Todas as manhãs ele desperta meus ouvidos para que escute como discípulo” (versículo 4b). somente assim torna capaz de levar sua missão em frente sem desfalecer (versículo 5). Como outros profetas (cf. Amós 7,10-17; Miquéias 2,6.10; Jeremias 20, 7-18) também o Dêutero-Isaias sofreu o desprezo e a perseguição (versículo 6) da parte de seus ouvintes no exílio, por causa da mensagem que proclamava. Presume-se que o motivo dessa reação da comunidade exílica contra o profeta tenha sido o seu universalismo, pois anunciava o reino messiânico também aos pagãos (cf. Isaias 45,14; 49,6). Mas como os justos perseguidos dos salmos de lamentação individual (cf. Salmo 5; 6; 22, etc.), ou como Jeremias (15,17, 17,13; 20,11), o profeta põe toda a sua confiança em Deus, que o fortifica (versículo 7) e frustrará os insultos dos adversários (versículo 8-9).

Também Jesus está animado da mesma confiança dos profetas que sofreram por causa da mensagem que deviam anunciar. Inspirado na figura do Servo Sofredor, Ele entra resolvido em Jerusalém para levar a sua missão até o fim. Ali enfrentará toda espécie de desonra por causa de sua doutrina, na certeza do apoio divino que o levaria à vitória final.

Qual é o personagem que se esconde atrás do título “servo”, tão rico de conteúdo para p pensamento cristão? É um dos problemas do Primeiro Testamento mais discutidos pelos entendidos. Tem-se formulado numerosas hipóteses de interpretação. Há três correntes maiores.

A primeira vê o Servo de Javé um indivíduo, distinto do povo (em Isaias 49,6 e 53,3-8 ele desempenha um papel junto ao povo, enquanto nas outras partes e Dêutero-Isaias a expressão “o Servo de Javé” indica o povo todo!). Mas não se chegou a um acordo a respeito desse personagem. Trata-se de uma figura do passado (Moisés; Davi ou um de seus descendentes); ou no futuro (o Messias; um rei glorioso dos fins dos tempos)? A dificuldade não vem de hoje. Ela já aparece no Novo Testamento: “De quem disse isto o profeta: de si mesmo ou de outro?” (Atos 8,32-35).

De qualquer modo unem-se na figura do Servo de Javé traços proféticos e reais. E ele é também salvador, sacerdote e vítima ao mesmo tempo que, pelos seus sofrimentos, “intercede pelos culpados” (Isaias 53,12). Ele tem uma missão missionária junto a todos os povos.

A segunda corrente dá à expressão “Servo de Javé” um sentido coletivo. Ele não vê no Servo um indivíduo, distinto do povo de Israel. É o povo que será luz das nações; que deverá sofrer a perseguição e a morte pela salvação dos povos. Admite-se que se trataria de um grupo pequeno de fiéis no meio do povo. Seria o pequeno resto que permanece fiel a Deus e que deve servir de testemunha aos demais membros do povo e às nações.

A terceira corrente as duas anteriores. Ele dá a expressão um sentido representativo. Usa-se o termo: personalidade corporativa. O Servo de Javé incorporaria na sua pessoa todo o povo, seu passado e o seu futuro. O profeta que escreveu os cantos teria projetado nele o verdadeiro Israel. O Novo Testamento proclama a realização destas expectativas em Jesus de Nazaré, na sua vida, paixão e morte, e ressurreição.

Salmo responsorial 21/22,8-9.17-18a.19-20.23-24. O Salmo é uma súplica a Deus numa hora de sofrimento e abandono. Salmo de grande intensidade, expressa em imagens vigorosas, em pedidos insistentes, e também numa esperança triunfante.

O limite do sofrimento é sentir o abandono de Deus, que parece não ouvir a oração. A gozação das pessoas redobra a dor do salmista, seu sentimento de abandono; contudo, são também um argumento para mover a Deus, ao qual os insultos atingem. Do extremo da dor passa para o a segurança da esperança: a salvação é certa, próxima, e já pode convidar a comunidade a unir-se com ele no louvor a Deus.

A lamentação e a prece de um inocente perseguido terminam em ação de graças pela libertação esperada (versículos 23-27 e adaptam-se à liturgia nacional pelo versículo 24 e o final universalista (versículos 28-32, em que a vinda do Reino de Deus no mundo inteiro aparece logo após as provações do servo fiel. Próximo do poema do Servo Sofredor (Isaias 52,13-53,12), este salmo, cujo início Cristo pronunciou sobre a cruz e no qual os evangelistas viram descritos diversos episódios da Paixão, é, portanto, messiânico, ao menos em sentido típico. É a súplica de uma pessoa num momento de intenso sofrimento e abandono, retomada por Jesus no momento angustiante de sua cruz, entreguemos ao Pai a nossa vida e a vida de tantos irmãos e irmãs que passam pelo vale do sofrimento e da morte.

O rosto de Deus no Salmo 21/22. Há uma relação íntima e pessoal entre o justo e Deus, a ponto de o justo chamá-lo de “meu Deus”. Os antepassados confiavam em Deus e eram libertos (versículos 5-6). Por causa desse Deus da Aliança é que essa pessoa tem a coragem e a confiança de clamar. A imagem mais bela de Deus neste Salmo é, portanto, a do Deus que ouve o clamor do pobre injustiçado e o liberta, fazendo-o cantar hinos de louvor (versículos 23-27). Aparece de maneira clara o rosto de um Deus libertador.

De acordo com Marcos (15,34) e Mateus (27, 46), Jesus rezou este Salmo na cruz. Ele, portanto, é o justo inocente que clama confiante. E Deus lhe responde com a ressurreição. Jesus em toda a sua vida ouviu todos os clamores do povo e atendeu com misericórdia. Ele é, portanto, a resposta do Deus que ouve os clamores e liberta.

Segunda leitura – Filipenses 2,6-11. No contexto de uma exortação de Filipos Paulo cita um hino cristológico. Através desta citação sugere que as principais coordenadas da salvação operada através de Cristo marquem a existência cristã. Estas coordenadas aparecem na estrutura do hino.

Na glorificação (doxologia) “Jesus Cristo é o Senhor” em que culmina o hino, dirige-se a Jesus o nome que no Primeiro Testamento é reservado a Deus. Conforme o hino, Jesus, morto na cruz e depois exaltado, recebe de Deus e da comunidade o nome de “Javé”. Antes Ele não tinha este nome. Ele era Deus preexistente. Assumindo a natureza humana poderia ter-se valido desta igualdade com Deus Pai. Ma ao tornar-se homem e inaugurar a Sua missão preferia apresentar-se á humanidade como servo de Deus e não como senhor do universo. Esta preferência não era somente de ordem subjetiva, mas de ordem objetiva. Ele revela que a pessoa humana se realiza mais na submissão a Deus do que no senhorio sobre o mundo e o universo. A soberania da pessoa humana só será plenamente humana se e na medida que ela for serviço de Deus. O fato que Jesus recebe o senhorio sobre o universo depois de Sua obediência até a morte revela que nela não há nada de usurpação.

“Jesus é Javé”. Esta confissão de fé ou glorificação (doxologia) não é uma divinização ou deificação indevida que existia no mundo no mundo greco-romano, em que reis e imperadores se deixavam idolatrar como deuses. Não era uma blasfêmia para os primeiros cristãos e não o é para nós, porque nela se professa que se procura a salvação em alguém que deu honra a Deus e recebeu honra de Deus. “Esvaziou-se (ou: aniquilou-se) a si mesmo... feito obediente até a morte da cruz”. Na confissão de fé “Jesus é Javé” professamos que Deus deu razão a Jesus e que nós também Lhe damos razão. Isto não é blasfêmia, porque nisso também professamos que a realização plena da pessoa humana existe na dependência absoluta de Deus antes, durante e depois da morte; e que, por isso, pode-se arriscar a vida pela glória de Deus.

Evangelho – Marcos 14,1-15,47 ou 15,1-39 (mais breve). A narração da Paixão segundo o evangelista Marcos é a mais antiga versão de que dispomos e a base daquilo que encontramos também nos outros evangelhos sinóticos.
Marcos não disfarça o terrível paradoxo do sofrimento do Senhor. Já em 1Coríntios 11,23 a noite da paixão chama-se “a noite em que foi entregue”. Toda a narração da Paixão de Marcos está sob o signo da traiçoeira entrega. Por Judas Iscariotes Jesus é entregue ao Sinédrio (Marcos 14,10.11.18.21.42.44); pelo Sinédrio é entregue a Poncio Pilatos (Marcos 15,1.10); por Pilatos é entregue aos soldados (Marcos 15,15: dez vezes usa-se o verbo paradidomai!). Os soldados O entregam à morte (Marcos 15,25). Por fim, Deus mesmo O entrega à sua própria sorte, morrendo com um grito de abandono nos lábios (Marcos 15,34). Em Marcos 14,41 o evangelista resume todas estas afirmações na frase: “Ele é entregue em mãos dos pecadores (Marcos 14,41).

Jesus padeceu sozinho. Não foi compreendido por ninguém e abandonado por todos, inclusive pelos Seus discípulos. São justamente estes que põem em movimento este processo crescente de abandono, de entrega e traição: Judas O trai, Pedro O renega e todos O abandonam. No Getsêmani, durante a hora mais escura da paixão, os discípulos dormem (Marcos 14,37-40), seus discípulos fogem na hora de sua prisão (Marcos 14,50) e, para ridicularizar esta fuga, Marcos dá um interesse particular ao episódio do moço fugindo nu (Marcos 14,41-52), evangelho mais longo. O isolamento de Cristo é assinalado no decorrer da sessão do Sinédrio: quando encontram falsas testemunhas contra ele (Marcos 14,56-60), quando Pedro proclama seu contra-testemunho (Marcos 14,62-71), só resta uma única testemunha para testemunhar “duas vezes” (Marcos 14,72, próprio de Marcos), como queria a lei judaica a favor de Jesus: o pobre galo! O isolamento de Jesus é portanto total. Seus discípulos permanecem “à distância” (Marcos 15,40).

Marcos também ressalta o silêncio de Cristo no decorrer de seu processo (Marcos 14,61; 15,3-4). Contrário a Lucas e a João, Marcos só assinalará uma única palavra de Jesus Crucificado, fiel à sua proposta de realçar o “segredo messiânico” (Marcos 5,43; 7,24; 9,30). Por este silêncio, Jesus quer marcar a distância que separa sua missão real daquilo que as pessoas esperam, o mistério de sua pessoa, dos títulos que Lhe são atribuídos.

O tema do isolamento silencioso de Jesus Cristo é o eco da maneira pela qual Marcos defende a dignidade messiânica de Jesus no seio dos mais escandalosos insultos. A oposição do rei dos judeus e de um agitador homicida, a ridícula entronização real de Jesus na sala do corpo da guarda, as zombarias em volta da cruz isolam Jesus em sua pretensão messiânica. Mas assim que Ele chegou ao extremo deste isolamento, até na morte, foi reconhecido como “Filho de Deus” (Marcos 15,39) numa profissão de fé que por si só aniquila todas as zombarias da multidão, e um grupo de discípulos se constitui (Marcos 15,40-43), que não estará distanciado de Cristo, mas em breve formará sua Igreja.

Sabemos hoje porque os discípulos se escandalizaram e fugiram. Era, porque a sorte de Jesus não correspondia às expectativas judaico-nacionalistas e terrestre-messiânicas por eles compartilhadas com a grande massa do povo.

Cada evangelista tem um modo todo próprio de apresentar esta narração da Paixão e Morte de Jesus:

Marcos caracteriza a Paixão por um realismo trágico: Cristo morre em silêncio e morre na solidão e aparentemente abandonado pelo Pai. Mateus compara o Mistério da Nova Aliança inaugurada por Cristo com a Antiga Aliança concluída com Moisés. Lucas parece insistir mais na Cruz como fator de conversão. Mateus apresenta o Cristo á luz da fé e O vê em relação à Igreja; Marcos frisa o desconcerto produzido pelos acontecimentos referentes a Jesus e a seus discípulos; Lucas acentua a ligação entre os discípulos, aqueles que querem seguir a Jesus e a sua Cruz. João é mais teológico. Numa perspectiva diferente de Mateus, Marcos e Lucas, a morte de Jesus aparece como manifestação de sua verdadeira realeza, que consiste em dar a vida. Para João, na Paixão e Morte de Jesus tudo acontece porque Jesus quis. As Escrituras deviam encontrar sua realização em Jesus. Portanto, Jesus morreu quando quis, quando achou que sua missão estava cumprida. Para João, quem morre na cruz é o Rei Jesus, isto é, o Rei Messias.

Pontos altos da Narração da Paixão de Marcos são as perguntas do sumo sacerdote, chefe do Sinédrio: “És o Messias, o Filho de Deus bendito?” (Marcos 14,61) e de Pilatos: “Tu és o rei dos judeus?” (Marcos 15,2.9.12). Nos dois casos Jesus responde afirmativamente a estas perguntas. Mas estas respostas, em vez de levarem a reconhecimento e respeito, provocam a mais infame gozação (Marcos 14,65; 15,16-20). Da parte dos romanos, Jesus é desprezado em favor de um assassino e tratado como e executado com “delinqüentes comuns”. Da parte dos judeus repetem-se em forma de escárnios as falsas acusações alegadas no processo diante do Sinédrio: a destruição e reconstrução do Templo (Marcos 14,58 e 15,29-30) e a dignidade messiânica (Marcos 14,61-62 e 15,31-32). Duas vezes Jesus é desafiado para mostrar a veracidade de Suas pretensões, descendo da Cruz (Marcos 15,30.32). O verdadeiro motivo de sua eliminação está ai: não conseguiram conviver com um Homem que veio libertar e salvar pra valer. O seu último grito é a oração do salmo 22/21: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” Não é um grito de revolta, gritou pelo Pai porque confiou. Aqui a Cruz passa a ser anúncio. Faz rasgar o véu do templo que não mais abrigará a presença de Deus, e abre os olhos e os lábios do primeiro homem que, no Evangelho de Marcos, profere pronuncia a confissão cristã da fé: “Na verdade este homem era o filho de Deus”. Por sinal, este homem é um pagão e de alguma maneira cúmplice da execução de Jesus.

3- DA PALAVRA CELEBRADA AO COTIDIANO DA VIDA

A partir da entrada de Jesus em Jerusalém, no Domingo de Ramos, os acontecimentos vão afunilando. Depois de três anos de missão, de anúncio do Reino de Deus, de muitos contatos, curas, milagres e pregações, o projeto de Jesus entra num confronto decisivo.

Por um lado, o povo que foi tantas vezes por ele ajudado, que percebeu nele uma saída de vida, aclama-O, cheio de profunda esperança, como aquele que haveria de cumprir as promessas de Deus, como aquele que seria o “vingador dos pobres”.

Por outro lado, as elites dominantes, em parceria com o Império Romano, cheias de privilégios, detentoras de altos rendimentos, donas de todo o poder político, econômico e religioso, não aceitam essa liderança e tramam a morte do Justo.

É o que percebemos no Domingos de Ramos da Paixão do Senhor, portal da Semana Santa: um processo rapidíssimo, uma traição, um beijo falso, um julgamento sob pressão, um juiz covarde, a condenação de Jesus à morte. O povo se frustra, desanima. Parece que não adianta lutar, que as coisas têm de ser assim mesmo. Parece que tudo termina por aí: os pobres sempre mais pobres, as violências crescendo, a injustiça aumentando e tirando a paz do mundo e os inocentes morrendo.

Mas não é bem assim. Com a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, o Bom Deus nos mostra o caminho da salvação, que passa pela cruz, porque Ele respeita a liberdade humana, gananciosa e cheia de pecados. Foi o caminho que Deus escolheu com a Encarnação de Jesus. Realizou um esvaziamento (kenose) de si mesmo no serviço, no lava-pés. Assumiu sobre si nossas dores. Enfrentou o sofrimento e a perseguição dos poderosos. Historicamente, essa opção de Deus também resultou em violência: a morte do Filho de Deus, o Justo e santo, numa cruz.

Contraditoriamente, porém, dessa cruz, instrumento de morte, brotou a vida, a ressurreição, a semente do novo, a proposta da Igreja das comunidades fraternas. No mundo em que vivemos, afundado na ganância e no pecado, a salvação passa por esse processo de morte-vida. O mistério do mal (do sofrimento do justo, do inocente; das traições das infidelidades e violências) só começa a ter um princípio de explicação quando se olha para a cruz de Jesus. Parece que até Deus fica impotente diante do grito do Justo, diante do sofrimento de Jó, diante do Cristo pendente da cruz (“Não é possível que passe de mim este cálice?”; “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”).

4- A PALAVRA SE FAZ CELEBRAÇÃO

Palmas: Sinais da Vitória

A tradição ortodoxa conhece, segundo a liturgia de São João Crisóstomo um tropário chamado de apolitikion, rezado logo após um pequeno refrão de abertura. Trata-se da Oração Principal da Festa. Para o Domingo de Ramos o tropário diz: ó Deus, antes da tua paixão, dando-nos uma garantia da ressurreição geral, ressuscitaste Lázaro dos mortos. Por isso, nós também, como filhos dos hebreus, levamos os símbolos da vitória, clamando: Ó vencedor da morte, Hosana nas alturas! Bendito o que vem em nome do Senhor!” Em nossa liturgia ocidental, o rito de Ramos começa com uma antífona que coincide com o final desse tropário oriental: Saudemos com hosanas o Filho de Davi! Bendito o que nos vem em nome do Senhor! Jesus, rei de Israel, Hosana nas alturas! A exortação que se segue, preparando a bênção dos ramos, articula a rememoração da entrada em Jerusalém com a nossa participação na ressurreição.

O tropário oriental, porém, nos apresenta este nexo de maneira mais clara e além disso nos dá a chave para celebrarmos os mistérios da Semana Santa, cujo Domingo de Ramos é abertura: “ó vencedor morte, Hosana nas alturas!” Com os olhos pascais é que a liturgia nos convida a adentrar nos ritos que se seguem durante esta semana. Nosso olhar atravessa o sofrimento e foca a atenção na Páscoa.

O sentido das palmas nas mãos, segundo, segundo este tropário, vai na mesma direção: “Levamos os símbolos da vitória”. A liturgia, portanto, já nos ritos iniciais, interpreta a paixão e ressurreição do Senhor e nela nos envolve como participantes desse mistério central da nossa fé. Um outro tropário, que vem logo em seguida diz: “Fomos sepultados contigo pelo batismo, ó Cristo Deus, e pela tua Ressurreição, merecemos a vida eterna. Por isso a ti cantamos em alta voz: Hosana nas alturas”.  Esta referencia ao batismo é interessantíssima se entendermos que a Quaresma tem forte conotação batismal e que a Vigília Pascal renova os iniciados as suas promessas de ser seguidores e seguidoras (e fiéis missionários e missionárias) do Servo Sofredor, recebido e proclamado hoje pelas multidões Rei e, ainda, segundo a liturgia Oriental manifestação de Deus que a nós se revelou.

5- LIGANDO A PALAVRA COM A AÇÃO EUCARÍSTICA

Seguindo os passos de Jesus, fazemos memória de sua entrada em Jerusalém para realizar o mistério de sua morte e ressurreição e que chamamos de “mistério pascal”. Com os ramos nas mãos, aclamamos Jesus como o verdadeiro Messias, nos associamos à sua cruz para podermos participar de sua ressurreição e vida (exortação inicial). Demos graças, porque só assim nosso sofrimento e nossa morte têm sentido, e na comunhão do seu corpo glorioso já participamos da vida nova, ultrapassando a morte.

Damos graças ao Pai que hoje nos apresenta, em Jesus, o sentido que buscamos para nosso sofrimento e morte. Ao comungar seu corpo glorioso, participamos desde já da vida que vence definitivamente a morte.

6- O SIMBOLISMO DOS RAMOS

O simbolismo da “arvore” é muito forte na Bíblia: as árvores do paraíso, especialmente a “árvore do conhecimento do bem e do mal” e a “árvore da vida” (Gênesis 2,9; Apocalipse 2,7; 22,14) são símbolos da Torá. O cedro do Líbano, a figueira, o carvalho e principalmente a videira, entre outras, muitas vezes simbolizam o povo de Israel. Valor simbólico especial tem a oliveira: um ramo seu é o sinal de que acabou o dilúvio e a vida voltou à terra (Gênesis 8,11;9,1.7-11) É de seu fruto que se extrai o azeite, óleo fundamental para a alimentação e a saúde, carregado também de um rico valor simbólico, como na unção de reis, profetas e sacerdotes. Paulo fala da salvação dos pagãos comparando-os a uma “oliveira selvagem” que foi enxertada na oliveira boa, Israel (Romanos 11,16-24).

Os ramos desta procissão são uma metáfora da própria paixão, morte e ressurreição, na relação vida-morte-vida. As árvores têm seus ramos verdes arrancados, o que simboliza a morte, pois esses ramos secarão; mas elas também os “doam” para servir ao Senhor da Vida. Os vegetais, representados pelas árvores, foram dados a nós como alimento, são o nosso sustento, como tão bem nos diz o Gênesis. De certa forma, então, eles “morrem” para que nós tenhamos vida!

7. ORIENTAÇÕES GERAIS

1. O Domingo de Ramos abre a. Semana Santa e conta boa participação da Comunidade. Por isso, e, sobretudo, pelo seu importante significado teológico e espiritual, deve-se dedicar imenso zelo na preparação das celebrações. Uma boa leitura do Lecionário, do Missal Romano, do Hinário II da CNBB, das rubricas dará indicações do que deve ser preparado, depois, obviamente, de sorver o sentido litúrgico oferecido pelos textos bíblicos e eucológicos na reunião da equipe de Liturgia.
2. Três símbolos podem ser expressamente valorizados na celebração deste domingo: os ramos, a procissão de ramos e a proclamação do Evangelho da Paixão do Senhor.

3. Há comunidades que celebram a primeira parte (bênção de ramos e procissão de ramos no Domingo) como celebração independente, e a liturgia da Paixão dias antes da Quinta-Feira Santa. É uma ótima prática. Mas não deve ser simplesmente imposta à    comunidade. Deve-se primeiro combinar com todos.

            4. Os ritos iniciais desta celebração, nos quais se dá a bênção dos ramos, deveriam ser realizados a uma certa distância da igreja para que se possa depois fazer uma verdadeira procissão. Pode começar numa capela, na praça de um cemitério, se der uma distância boa, numa rua do bairro. Sendo capela rural, começar numa residência ou mesmo embaixo de uma árvore ou num outro lugar significativo. Deve ser um lugar mais ou menos distante da igreja. Se for uma comunidade de periferia, sair de um lugar significativo onde teve início algumas lutas populares por melhores condições de vida do bairro, ou de uma residência ou também de um ponto significativo.

5. É bom que a procissão venha de uma capela para a matriz ou igreja maior. A unidade entre a procissão festiva e a missa marcada pela celebração da Paixão do Senhor pode ser feita através da cruz processional, que conduz a procissão e, na celebração eucarística, é colocada ao lado do altar.

6. Cada pessoa leve o seu ramo enfeitado para a procissão. A equipe de celebração deve providenciar ramos para quem não trouxe. Além dos ramos pode-se também trazer plantas medicinais.

7. A equipe cuide do visual, bonito, discreto, como forma de louvor a Deus.

8. A cor litúrgica deste dia é o vermelho, lembrando a realeza de Jesus.

9. Lembretes para a equipe de celebração: além das coisas costumeiras, é preciso preparar, no local onde começa a procissão, os seguintes objetos: ramos, mesinha para colocar os ramos, caldeira com água benta (se for o caso, incensório preparado com incenso), cruz para a procissão, castiçais e velas acessas, o Lecionário e o Missal Romano.

10. Na procissão com os ramos: Neste dia o mais importante não é a bênção, mas a procissão com os ramos. A bênção é feita por causa da procissão. Por isso, não tem sentido nenhum fazer primeiro a procissão e depois a oração de bênção sobre os ramos.

11. Deve-se conciliar a piedade popular, isto é, a devoção de muitas pessoas que vem mais para “benzer o ramo” com a exigência de maior aprofundamento da fé por parte daqueles que têm uma caminhada de comunidade.

12. Durante a procissão, cantar de preferência cantos de acordo com o mistério celebrado. É importante cuidar do conteúdo e estilo dos cantos usados na procissão. O estilo indicado é dos hinos próprios que estão no CD Liturgia XIII e no Hinário II da CNBB. O conteúdo é de aclamação ao Cristo Rei. Não é o momento de cantar cantos marianos ou ao Espírito Santo (“A nós descei”... “Vem Maria vem”...

13. Onde não tiver condições de celebrar a procissão nem a entrada solene, no caso de capelas rurais e capelas de periferia muito distantes da matriz, faça-se uma “Celebração da Palavra de Deus”, sábado à tarde ou domingo em um horário que favoreça a participação de todos. A comunidade pode estar impedida de ter a Missa, mas não de se reunir e celebrar.

14. Nos ritos finais: Na despedida, o presidente convida a assembléia a intensificar a oração e a vida comunitária nestes dias de preparação para a Páscoa. Lembrar aos que não trouxeram os envelopes da Campanha da Fraternidade, que tragam na Quinta-Feira Santa e entreguem no momento da procissão dos dons. O Missal prevê neste dia uma coleta para as pessoas necessitadas, página 249.

8- MÚSICA RITUAL

O canto é parte necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para animar ou enfeitar a celebração. Por isso devemos cantar a liturgia e não cantar na liturgia. Os cantos e músicas, executados com atitude espiritual e, condizentes com o tempo litúrgico, com cada domingo, com as festas ou com a liturgia de um dia especial, ajudam a comunidade a penetrar no mistério celebrado. Portanto, não basta só saber que os cantos são do Domingo de Ramos, é preciso executá-los com atitude espiritual, isto é, de maneira orante. A escolha dos cantos deve ser cuidadosa, para que a comunidade tenha o direito de cantar o mistério celebrado e não cantos que um grupinho ou um movimento impõe.

1. Canto de abertura: “Hosana ao Filho de Davi!”, CD, Liturgia XIII, melodia da faixa 14; “Hosana, hosana e viva!”, CD Liturgia XIII melodia da faixa 15; “Hosana hei, hosana há”, ensaiado no encontro diocesano de liturgia sobre a Quaresma, Semana Santa e Tempo Pascal e está na página 439 do Ofício Divino das comunidades.

2. Cantos durante a procissão: “Os filhos dos Hebreus com ramos de palmeira”, CD Liturgia XIII; “Glória, louvor e honra a ti”, CD Liturgia XIII; “Cristo vence, Cristo reina”, Hinário II, página 211; “Os filhos dos Hebreus, com ramos de oliveira”, Hinário II, pág. 29; “Os filhos dos Hebreus, com ramos de oliveira”, Hinário II, pág. 28.

Ao entrar na Igreja, cantar o Salmo 23/24 com o refrão próprio para este dia: “Os filhos dos hebreus”.

3. Salmo responsorial 22/21: Oração na desolação. “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”, CD Liturgia XIV, faixa 15

4. Aclamação ao Evangelho: A obediência de Cristo até a morte na cruz. (Filipenses 2,8-9). “Salve, ó Cristo obediente”, CD Liturgia XIII, melodia da faixa 17.

5. Canto de apresentação dos dons: O canto de apresentação das oferendas, conforme orientamos em outras ocasiões, não necessita versar sobre pão e vinho. Seu tema é o mistério que se celebra acontecendo na fraternidade da Igreja reunida em oração no Domingo de Ramos da Paixão do Senhor. “Ó morte, estás vencida”, CD: Liturgia XIII, melodia da faixa 18 ou no Hinário Litúrgico II da CNBB, página 267. Outro canto apropriado para esta ação ritual é: “Em Jerusalém, prenderam Jesus”, Hinário Litúrgico II da CNBB, página 173.

6. Canto de comunhão: O cálice de Jesus (Mateus 26,42). “Eu vim para que todos tenham vida”, CD: Liturgia XIII melodia faixa 13. “Pai, se este cálice”, CD: Liturgia XIII, melodia da faixa 19 “Oferecerei o seu sacrifício” Salmo 116/115, Hinário Litúrgico II da CNBB, página 63; “Prova de amor maior não há”, CD Tríduo Pascal – I, melodia da faixa 18 ou Hinário Litúrgico II da CNBB, página 286; “Eu me entrego, Senhor em tuas mãos”, CD Tríduo Pascal – I, melodia da faixa 11 ou Hinário Litúrgico II da CNBB página 34; “Se o grão de trigo não morrer”, Hinário Litúrgico II da CNBB, página 21.

A comunhão consuma a unidade de todos e manifesta que sua fonte é o corpo de Cristo “entregue por nós”, “por um Espírito eterno” (Hebreus 9,14). “Pela fração do pão e pela comunhão os fiéis, embora muitos, recebem o corpo e sangue do Senhor de um só pão e de só um cálice, do mesmo modo como os apóstolos, das mãos do próprio Cristo” (IGMR, 72,3).

9- O ESPAÇO CELEBRATIVO


1. É costume em nossas Igrejas e Oratórios, as comunidades ornarem toda a construção com Ramos. Algo que pode ficar muito bonito e construir um “baldaquinho” com Ramos sobre a Mesa do Altar. Nada sofisticado, mas simples. O baldaquinho evoca a Tenda, lugar da presença e esteve presente em muitas construções sagradas do Cristianismo. Em Roma, é famoso o Baldaquinho de Bernini, arte barroca no centro da Basílica de São Pedro. É importante, porém, que o Baldaquinho não tire a visibilidade do Altar, dificulte o acesso ou “concorra” com ele, mas manifeste a sua dignidade e importância. O baldaquinho pode ser preparado com antecedência, ou pode ser levado ritualmente durante a celebração, conforme sugerimos abaixo em “Ação Ritual”. Veja o gráfico de sua representação.

2. A preparação do espaço deve manter a reserva simbólica, própria do Tempo da Quaresma. A ornamentação com folhagem de palmeira deve ser discreta. São as pessoas quem deve portas ramos. Cuide-se para não transformar a igreja numa floresta...

3. O local da celebração pode ter o corredor central coberto por ervas aromáticas. Uma vez pisadas exalarão delicioso perfume. Esse é um costume antigo das celebrações estacionais, ainda praticado em Roma.

4. Para simbolizar esta realidade da celebração, podemos fazer um arranjo especial para este dia que está no livro “Arte floral a serviço da liturgia”, página 78-79, Edições Paulinas.

10- AÇÃO RITUAL

Fazer uma acolhida muito fraterna e pessoal a quem chega para a celebração, principalmente os visitantes. Que todos possam sentir sua dignidade humana respeitada e sua identidade cristã reconhecida. Não devemos esquecer que os ritos iniciais, com o sentido de formar o Corpo vivo do Senhor, sejam bem valorizados neste domingo e sempre.

Jesus se aproxima da descida do monte das Oliveiras quando toda a multidão dos discípulos começaram, alegres puseram-se a louvar a Deus com voz forte por todos os milagres que tinham visto. Eles diziam: “Bendito seja aquele que vem, como rei, em nome do Senhor! Paz no céu e glória no mais alto dos céus!” (Lucas 19,37-38).

Enquanto o povo vai chegando, criar um clima orante através de refrões meditativos preparando os corações para a celebração.

Ritos Iniciais

1. A Liturgia de Ramos nos prepara também para a Paixão de Jesus. Agitando palmas, símbolo da vitória contra o mal, iniciamos nossa caminhada com Jesus em direção ao Reino definitivo.

2. O presidente introduz a procissão, dando-lhe o sentido de oração feita com os pés e todo o corpo para seguirmos Jesus hoje em nossa missão. Na Igreja Armênia, uma grande cruz processional representa o Senhor e vai na frente da procissão. O padre pega um ramo e o prende na haste da cruz.

3. Procurar envolver todas as crianças nesta celebração mesmo as que não estão na catequese. Incentivá-las durante a procissão a cantar ou recitar em voz alta o refrão: “Bendito o que vem em nome do Senhor, hosana nas alturas” (cf. Mateus 21,14-16).

4. Neste domingo, pode-se aproveitar a sugestão e imagem do Baldaquinho acima e, durante os dois ritos de introdução na Liturgia da Palavra e da Eucaristia, “montá-lo” primeiro sobre a Mesa da Palavra e depois sobre a Mesa da Eucaristia, o Altar, ou somente sobre a Mesa da Palavra.

5. Durante a procissão de Ramos, pode levar o Evangeliário em um andor, conforme a sugestão anterior. Quatro pessoas levam consigo grandes palmas de modo a formar um “baldaquinho peregrino”. Cada pessoa figura como uma das colunas e as palmas como a “cúpula”:

6. Ao entrar na igreja atrás da cruz e do presidente, a assembléia caminha com Cristo e deixa-se introduzir na celebração do mistério da sua paixão, morte e ressurreição.

7. Uma vez que se entra na Igreja, o Evangeliário é posto sobre a Mesa da Palavra, como de costume. As pessoas com as Palmas permanecem ao redor do Altar, “desmontando” o baldaquinho.

8. A celebração (de cunho estacional) não inclui ato penitencial. A procissão foi expressão ritual que substitui o ato penitencial.

9. Na Oração do Dia suplicamos a Deus que é todo poderoso que nos ajude a seguir o exemplo de Cristo que deu sua vida na cruz e possamos ressuscitar com Ele na sua glória.

Rito da Palavra

1. Após a Oração do Dia, enquanto se entoa um refrão apropriado, essas pessoas se dirigem à Mesa da Palavra e sobre ela montam a cobertura do baldaquinho.

2. Durante o canto de aclamação “Salve ó Cristo, obediente!” o Evangeliário deve ser levado até a Mesa da Palavra e de lá, feita a narrativa da Paixão, conforme o costume da comunidade. Se for dialogado conforme o “costume latino”, é preciso que se respeite a linguagem ritual que exige a presença do Livro (o Evangeliário) que é um dos sinais sensíveis da Palavra de Deus, de onde se fará a introdução do relato, sua narrativa e a conclusão.

3. Durante a homilia, o baldaquinho pode temporariamente ser desfeito, voltando a se formar sobre a Mesa do Altar, da seguinte forma: As pessoas entram na procissão de oferendas à frente ou depois daqueles que levam os dons do pão e do vinho e montam o baldaquinho sobre o Altar.

4. Se tiver dificuldade de ritualizar desse modo, pode-se montar o baldaquinho somente na Mesa da Palavra.

5. É bom lembrar que a leitura da Paixão merece uma boa preparação, com bastante antecedência, distribuindo os diversos papéis para tornar mais dinâmica a participação. Personagens que ocorrem no Evangelho deste domingo, texto mais longo: narrador(a), Judas, Simão Pedro, grupo dos discípulos, duas testemunhas, sumo sacerdote, o povo, uma criada que interroga a Pedro, outras pessoas além da criada, sumos sacerdotes e anciãos, Pilatos, os soldados de Pilatos. Para o texto mais curto: narrador(a), Pilatos, soldados de Pilatos, pessoas insultando e zombando de Jesus, o oficial e os soldados. Quem preside, diz as palavras de Jesus.

6. Na liturgia da Palavra: A leitura da Paixão do Senhor (sem as lanternas que acompanham a procissão do Evangeliário, sem o incenso, sem a saudação “O Senhor esteja convosco...” sem fazer o sinal da cruz sobre o livro e sobre si mesmo; no final, não se beija o livro nem se diz “Palavra da salvação...”). Cuidado que o folheto não traz esta orientação litúrgica.

7. Sobre a leitura do Evangelho da Paixão do Senhor, o Lecionário Dominical sugere o texto longo ou o mais breve. Quando optamos pelo texto longo, pode-se intercalar algum refrão meditativo, para facilitar a participação da assembléia. (Por exemplo: Prova de amor maior não há...). Também quanto ao texto longo ou mesmo o mais breve, as pessoas podem acompanhar a leitura sentadas. Quando o texto narrar a morte de Jesus, todos se ajoelham fazendo uma pausa e uns momentos de silêncio. No momento do silêncio pode-se cantar um canto próprio, mas não longo. (Por exemplo: “Morreu, meu Jesus, na cruz, na cruz...”, ensaiado num encontro diocesano sobre a Quaresma e Semana Santa; “Eu me entrego Senhor, em tuas mãos”, Hinário Litúrgico II da CNBB, página 34, ou o refrão “Prova de amor maior não há”, somente com a estrofe: “E chegando a minha Páscoa, vos amei até o fim...”.

8. A narração do Evangelho, caso seja acertado, pode ser acompanhada pela assembléia assentada. Feita em forma dialogal poderá também ajudar na participação.
9. A homilia não deve se alongar. O cansaço da assembléia pode comprometer a participação. O homiliasta deve ser claro e conciso, deixando que os ritos falem por si. Haja também tempo para o silêncio e a meditação.

Rito da Eucaristia

1. A oração sobre as oferendas destaca que pelo sofrimento de Cristo fomos reconciliados com o Pai.

2. Na preparação das oferendas, junto com os dons da Eucaristia, destacar a coleta da Campanha da Fraternidade como uma “ação ritual” a nível nacional.

3. Preparar a forma como será feita a coleta e um recipiente onde as pessoas poderão deixar sua oferta. Perto, também poderá ser colocado um cartaz da CF 2012. As pessoas irão em procissão até perto do altar. Neste momento poderá ser feita a Oração da CF ou cantar o Hino.

4. O Prefácio é próprio para o Domingo de Ramos e enfatiza o sofrimento do justo inocente pela salvação de todos. A Oração Eucarística pode ser a III que enfatiza “quatro” vezes a palavra sacrifício, isto é, que a nossa vida deve ser uma doação do nascer ao por do sol como foi a vida de Cristo.

5. A comunhão em duas espécies não é só desejável, bem como poderá evidenciar o que foi narrado no início do Evangelho: “o vinho novo no Reino de Deus” (versículo 25).

Ritos Finais

1. Na oração depois da comunhão, peçamos a Deus que pela morte e ressurreição de Cristo nos alcancemos a salvação.

2. O rito do envio pode estar em consonância com o mistério celebrado: Irmãos e irmãs, a Paixão de Jesus Cristo nos abriu as portas do céu. Vão em paz e o Senhor vos acompanhe.

3. É comum além, de entrar em procissão no início da celebração guiados pela cruz, também retirar-se do espaço sagrado em procissão, igualmente guiados pela cruz.

11- CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Humanamente olhando a Cruz, ela revela a dor, sofrimento, desprezo, abandono, injustiça, tortura, manipulação da pessoa humana, morte. A Cruz iluminada pela fé fala de salvação, de comunhão, de misericórdia, de amor extremado, de Reino e de eternidade. Ressurreição já plantada em nós, que, nestes dias de oração e meditação, deve deitar raízes fundas em nós, para dar razão ao nosso viver, despido, por vezes, de razões válidas e fortes.

O objetivo da Igreja e da nossa equipe diocesana de liturgia é ajudar os padres e as comunidades de nossa diocese e todas aquelas outras comunidades fora de nossa diocese que acessar nosso site celebrar melhor o mistério pascal de Cristo.


Um abraço fraterno a todos
Pe. Benedito Mazeti



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