Leituras
Marcos 11,1-10 (Evangelho da bênção). Hosana
no mais alto do céu.
Isaias 50,4-7. O Senhor Deus me presta
socorro.
Salmo 21/22,8-9.17-18a.19-20.23.24.
Anunciarei vosso nome a meus irmãos.
Filipenses 2,6-11. Foi obediente até à
morte, e morte de cruz!
Marcos 14,1-15,47 ou 15,1-39. Ele era
mesmo o Filho de Deus.
“BENDITO O QUE VEM EM NOME DO SENHOR”
1- PONTO DE PARTIDA
Domingo de
Ramos é a porta de entrada da Semana Santa. Com a celebração de hoje, entramos
na “Grande Semana” ou mais conhecida “Semana Santa”. Para as comunidades
cristãs, esta semana maior sempre será um conforto com o problema do mal no
mundo. Muito sofrimento. Além das catástrofes naturais, há no mundo muita opção
de morte, desde a violência da guerra, o terrorismo, a violência urbana, a
morte pela fome e a falta de justiça e paz, até a violência contra a própria
natureza.
Durante esta
semana somos levados a rever e rememorar os acontecimentos finais da vida de
Jesus Cristo. O auge da Semana Santa é o Tríduo Pascal: Quinta-Feira Santa,
Sexta-Feira Santa (ou da Paixão e morte de Jesus) e Sábado Santo (ou Vigília
Pascal.
2- REFLEXÃO BÍBLICA, EXEGÉTICA E LITÚRGICA
Contemplando os textos
Evangelho da bênção – Marcos 11,1-10 .
O Evangelho faz parte da semana pascal do evangelista João. É um “texto
sinótico” do Quarto Evangelho, e pode ser comparado com Mateus 21,1-9. Nos
sinóticos, a entrada de Jesus em Jerusalém (que é sua primeira visita aí) e a purificação
do Templo formam um conjunto. Conforme João, Jesus já tinha ido várias vezes a
Jerusalém (2,13; 5,1), e desde o capítulo 7 Ele se encontra ai quase
permanentemente.
No texto de
João, não encontramos a preparação da entrada em Jerusalém mediante a missão
dos apóstolos para conseguir um jumentinho, como em Marcos 11,1-6. João coloca
imediatamente em cena o povo que vai ao encontro de Jesus com ramos de
palmeira, gritando a aclamação messiânica “Hosana”, que significa “Salvai-nos”
e faz parte do Salmo 118/117, “salmo pascal” (Hallel) (João 12,12-13; cf.
Marcos 11,7-10). Ao “Hosana, bendito o que vem em nome do Senhor”, cumprimento
do Salmo 118/117, João acrescenta algo que não está tal qual nos Evangelhos
sinóticos: “o rei de Israel” (cf. Marcos 11,10). A partir deste termo, coloca
em termos o motivo do jumentinho do rei messiânico, citando como Mateus 21,5, o
texto de Zacarias 9,9-10. O mais característico do texto de João é o versículo
16, dizendo que, depois da glorificação (= morte e ressurreição) de Jesus os
apóstolos se lembraram do fato e entenderam que foi um cumprimento das Sagradas
escrituras. João gosta de insistir que as Escrituras só foram entendidas depois
da morte (glorificação) de Jesus (2,17.22; 7,31; 20,9). É o Espírito que faz entender
(cf. 14,26). É, portanto, na comunhão dos que são de Cristo, que se encontra o
sentido das Escrituras. Ao mesmo tempo, isto explica porque os judeus não
entenderam (no tempo de Jesus) nem entendem (no tempo de João) as Escrituras
(cf. 5,39.46s).
João retoma a
idéia tradicional de que Jesus é o Rei messiânico, sentado num jumentinho, mas
não no mesmo sentido que Mateus 21,5, pois João omite a menção de que este rei
é suave (prays) o que se revela em Zacarias 9,9, no fato de ele montar num
burrinho. Em outros termos, João não se interessa em descrever Jesus como o Rei
humilde, mas como o “Rei de Israel”, título que está presente no começo do seu
Evangelho (João 1,49) e que voltará em outra discussão irônica no fim, quando
Poncio Pilatos coloca na cruz de Cristo o título “Rei dos judeus” e não quer
mais mudar o que escreveu. Também, na história do processo de Jesus, os judeus
são apresentados como desistindo de suas ambições de ter um rei, um Messias: só
César mesmo (João 19,15). Tudo isto nos leva a descobrir a intenção de João de
destacar o título “Rei de Israel”, o que significa a mesma coisa que Messias,
mas no contexto do Quarto Evangelho soa um pouco mais polêmico, já que a Igreja
está em discussão com os que se consideram Israel, mas já não são: o judaísmo
rabínico.
O Evangelho de
João não dá oportunidade para uma pregação sobre Jesus como rei humilde. Sim,
como Messias, cumprindo as Escrituras a respeito do “Rei messiânico”. Em
comparação com Marcos, Mateus e Lucas, a cena perdeu muito de seu colorido
popular. Tronou-se praticamente uma mera confissão de fé messiânica, mas
confissão inconsciente, pois só mais tarde lembraram-se do sentido (João
12,16). Ora, mesmo os fariseus unem-se a esta confissão do messianismo de
Jesus, reconhecendo que tudo que “todo mundo vai atrás dele” (João 12, 19).
Certamente, João quer ilustrar também, por estas palavras, a situação no seu
tempo.
É sobretudo o
lugar na liturgia que valoriza o presente Evangelho. É o começo da “Semana
Santa”. Fica claro o contraste entre o entusiasmo da multidão do Domingo de
Ramos e a traição na Sexta-Feira Santa.
Num certo
sentido, Domingo de Ramos é a festa de Cristo Rei. O Evangelho de João oferece
perspectivas interessantes sobre este tema, sobretudo no capítulo 18 e 19.
Torna claro que o Reino de Jesus não é “deste mundo” (João 19,36). O texto do
capítulo 12 prepara este tema. No capítulo 12, Jesus é Clamado como Messias
pelos judeus. Porém estamos ainda na primeira parte do Quarto Evangelho, o
“livro dos Sinais”, em que o “evento” de Jesus fica ambíguo e sujeito a mal
entendidos, já que os próprios discípulos só entendem depois (João 12,16). No
capítulo 19 estamos na segunda parte, o “livro da Exaltação”. Aí, tudo se torna
claro, Jesus é Rei e Messias, mas não no sentido em que o mundo o entende.
Sexta-Feira Santa dá a luz para entender o Domingo de Ramos. Também “todo mundo
vai atrás dele” (João 12,19), mas não no sentido em que o mundo entende isso.
O messianismo
(realeza) de Jesus, celebrado no Domingo de Ramos, é a vitória sobre o mundo,
pela cruz. A ressurreição de Lázaro, que, na visão de João, é a ocasião para a
manifestação popular descrita em João 12,12ss, é o anúncio da ressurreição
daquele que é “Ressurreição e vida”. É isto que se celebra na idéia do
messianismo de Jesus: a “vida” que ele dá, como dom de Deus, na sua morte e
ressurreição.
É evidente que
este Evangelho dá uma base para desenvolvimento no sentido da superação do
messianismo terrestre de qualquer espécie.
Outra opção
para o Evangelho da bênção é Marcos 11,1-10, que é o evangelista do ano.
Primeira leitura – Isaias 50,4-7 . O
texto é do terceiro dos assim chamados “Cânticos do Servo de Javé”. Pertence a
um profeta chamado Dêutero-Isaias que compôs Isais 40-55 e exerceu sua missão
em meados do século VI AC entre os exilados da Babilônia. O poema abrange os versículos de 4-9. Nos
versículos 5b-6 aparece a motivação típica (protesto de inocência) que prepara
a súplica dos salmos de lamentação individual: “não fui rebelde, não me
esquivei; aos que me feriam apresentei as minhas costas...” é preferível
qualificar o poema como um salmo individual de confiança. De fato, a partir do
versículo 7 se desenvolvem os dois motivos básicos de tais salmos: a afirmação
de confiança e a certeza de ser atendido.
A lamentação
individual no Antigo Testamento é própria de pessoa de bem em geral, que se
consideram injustamente perseguidas. Entre elas aparecem sobretudo os
mediadores, ou porta-vozes da Palavra de Deus, como Moisés (cf. Números
11,10-15; Deuteronômio 18,15-19), Elias (1Reis 19,1-18) e Jeremias
(17,17-18;20,7-17). Eles sofrem precisamente em conseqüência da ingrata missão
de mediadores.
Antes de tudo
o profeta se apresenta como um discípulo (versículo 4a). Atento às palavras do
Mestre, ele não guarda o conteúdo da mensagem para si, mas a transmite aos
outros (cf. Jeremias 1,7; Ezequiel 2,3-3,4; Deuteronômio 18,18). Esta mensagem
já não é uma palavra ameaçadora como nos profetas pré-exílicos, mas uma palavra
libertadora, capaz de reconfortar os desanimados (cf. Isaias 40,6-11.27-31;
41,14; 42,1-7; Ezequiel 37,11). Como profeta ele está continuamente atento às
palavras que recebe de Deus (cf. Jeremias 15,16: “Todas as manhãs ele desperta
meus ouvidos para que escute como discípulo” (versículo 4b). somente assim
torna capaz de levar sua missão em frente sem desfalecer (versículo 5). Como
outros profetas (cf. Amós 7,10-17; Miquéias 2,6.10; Jeremias 20, 7-18) também o
Dêutero-Isaias sofreu o desprezo e a perseguição (versículo 6) da parte de seus
ouvintes no exílio, por causa da mensagem que proclamava. Presume-se que o
motivo dessa reação da comunidade exílica contra o profeta tenha sido o seu
universalismo, pois anunciava o reino messiânico também aos pagãos (cf. Isaias
45,14; 49,6). Mas como os justos perseguidos dos salmos de lamentação
individual (cf. Salmo 5; 6; 22, etc.), ou como Jeremias (15,17, 17,13; 20,11),
o profeta põe toda a sua confiança em Deus, que o fortifica (versículo 7) e
frustrará os insultos dos adversários (versículo 8-9).
Também Jesus
está animado da mesma confiança dos profetas que sofreram por causa da mensagem
que deviam anunciar. Inspirado na figura do Servo Sofredor, Ele entra resolvido
em Jerusalém para levar a sua missão até o fim. Ali enfrentará toda espécie de
desonra por causa de sua doutrina, na certeza do apoio divino que o levaria à
vitória final.
Qual é o
personagem que se esconde atrás do título “servo”, tão rico de conteúdo para p
pensamento cristão? É um dos problemas do Primeiro Testamento mais discutidos
pelos entendidos. Tem-se formulado numerosas hipóteses de interpretação. Há
três correntes maiores.
A primeira vê
o Servo de Javé um indivíduo, distinto do povo (em Isaias 49,6 e 53,3-8 ele
desempenha um papel junto ao povo, enquanto nas outras partes e Dêutero-Isaias
a expressão “o Servo de Javé” indica o povo todo!). Mas não se chegou a um
acordo a respeito desse personagem. Trata-se de uma figura do passado (Moisés;
Davi ou um de seus descendentes); ou no futuro (o Messias; um rei glorioso dos
fins dos tempos)? A dificuldade não vem de hoje. Ela já aparece no Novo
Testamento: “De quem disse isto o profeta: de si mesmo ou de outro?” (Atos
8,32-35).
De qualquer
modo unem-se na figura do Servo de Javé traços proféticos e reais. E ele é
também salvador, sacerdote e vítima ao mesmo tempo que, pelos seus sofrimentos,
“intercede pelos culpados” (Isaias 53,12). Ele tem uma missão missionária junto
a todos os povos.
A segunda
corrente dá à expressão “Servo de Javé” um sentido coletivo. Ele não vê no
Servo um indivíduo, distinto do povo de Israel. É o povo que será luz das
nações; que deverá sofrer a perseguição e a morte pela salvação dos povos.
Admite-se que se trataria de um grupo pequeno de fiéis no meio do povo. Seria o
pequeno resto que permanece fiel a
Deus e que deve servir de testemunha aos demais membros do povo e às nações.
A terceira
corrente as duas anteriores. Ele dá a expressão um sentido representativo.
Usa-se o termo: personalidade corporativa. O Servo de Javé incorporaria na sua
pessoa todo o povo, seu passado e o seu futuro. O profeta que escreveu os
cantos teria projetado nele o verdadeiro Israel. O Novo Testamento proclama a
realização destas expectativas em Jesus de Nazaré, na sua vida, paixão e morte,
e ressurreição.
Salmo responsorial 21/22,8-9.17-18a.19-20.23-24.
O Salmo é uma súplica a Deus
numa hora de sofrimento e abandono.
Salmo de grande intensidade, expressa em imagens vigorosas, em pedidos
insistentes, e também numa esperança triunfante.
O limite do
sofrimento é sentir o abandono de Deus, que parece não ouvir a oração. A
gozação das pessoas redobra a dor do salmista, seu sentimento de abandono;
contudo, são também um argumento para mover a Deus, ao qual os insultos
atingem. Do extremo da dor passa para o a segurança da esperança: a salvação é
certa, próxima, e já pode convidar a comunidade a unir-se com ele no louvor a
Deus.
A lamentação e
a prece de um inocente perseguido terminam em ação de graças pela libertação
esperada (versículos 23-27 e adaptam-se à liturgia nacional pelo versículo 24 e
o final universalista (versículos 28-32, em que a vinda do Reino de Deus no
mundo inteiro aparece logo após as provações do servo fiel. Próximo do poema do
Servo Sofredor (Isaias 52,13-53,12), este salmo, cujo início Cristo pronunciou
sobre a cruz e no qual os evangelistas viram descritos diversos episódios da
Paixão, é, portanto, messiânico, ao menos em sentido típico. É a súplica de uma
pessoa num momento de intenso sofrimento e abandono, retomada por Jesus no
momento angustiante de sua cruz, entreguemos ao Pai a nossa vida e a vida de
tantos irmãos e irmãs que passam pelo vale do sofrimento e da morte.
O rosto de
Deus no Salmo 21/22. Há uma relação íntima e pessoal entre o justo e Deus, a
ponto de o justo chamá-lo de “meu Deus”. Os antepassados confiavam em Deus e
eram libertos (versículos 5-6). Por causa desse Deus da Aliança é que essa
pessoa tem a coragem e a confiança de clamar. A imagem mais bela de Deus neste
Salmo é, portanto, a do Deus que ouve o clamor do pobre injustiçado e o
liberta, fazendo-o cantar hinos de louvor (versículos 23-27). Aparece de
maneira clara o rosto de um Deus libertador.
De acordo com
Marcos (15,34) e Mateus (27, 46), Jesus rezou este Salmo na cruz. Ele,
portanto, é o justo inocente que clama confiante. E Deus lhe responde com a
ressurreição. Jesus em toda a sua vida ouviu todos os clamores do povo e
atendeu com misericórdia. Ele é, portanto, a resposta do Deus que ouve os
clamores e liberta.
Segunda leitura – Filipenses 2,6-11. No
contexto de uma exortação de Filipos Paulo cita um hino cristológico. Através
desta citação sugere que as principais coordenadas da salvação operada através
de Cristo marquem a existência cristã. Estas coordenadas aparecem na estrutura
do hino.
Na
glorificação (doxologia) “Jesus Cristo é o Senhor” em que culmina o hino,
dirige-se a Jesus o nome que no Primeiro Testamento é reservado a Deus.
Conforme o hino, Jesus, morto na cruz e depois exaltado, recebe de Deus e da
comunidade o nome de “Javé”. Antes Ele não tinha este nome. Ele era Deus
preexistente. Assumindo a natureza humana poderia ter-se valido desta igualdade
com Deus Pai. Ma ao tornar-se homem e inaugurar a Sua missão preferia
apresentar-se á humanidade como servo de Deus e não como senhor do universo.
Esta preferência não era somente de ordem subjetiva, mas de ordem objetiva. Ele
revela que a pessoa humana se realiza mais na submissão a Deus do que no
senhorio sobre o mundo e o universo. A soberania da pessoa humana só será
plenamente humana se e na medida que ela for serviço de Deus. O fato que Jesus
recebe o senhorio sobre o universo depois de Sua obediência até a morte revela
que nela não há nada de usurpação.
“Jesus é
Javé”. Esta confissão de fé ou glorificação (doxologia) não é uma divinização
ou deificação indevida que existia no mundo no mundo greco-romano, em que reis
e imperadores se deixavam idolatrar como deuses. Não era uma blasfêmia para os
primeiros cristãos e não o é para nós, porque nela se professa que se procura a
salvação em alguém que deu honra a Deus e recebeu honra de Deus. “Esvaziou-se (ou:
aniquilou-se) a si mesmo... feito obediente até a morte da cruz”. Na confissão
de fé “Jesus é Javé” professamos que Deus deu razão a Jesus e que nós também
Lhe damos razão. Isto não é blasfêmia, porque nisso também professamos que a
realização plena da pessoa humana existe na dependência absoluta de Deus antes,
durante e depois da morte; e que, por isso, pode-se arriscar a vida pela glória
de Deus.
Evangelho – Marcos 14,1-15,47 ou 15,1-39
(mais breve). A narração da Paixão segundo o evangelista Marcos é a mais
antiga versão de que dispomos e a base daquilo que encontramos também nos
outros evangelhos sinóticos.
Marcos não
disfarça o terrível paradoxo do sofrimento do Senhor. Já em 1Coríntios 11,23 a
noite da paixão chama-se “a noite em que foi entregue”. Toda a narração da
Paixão de Marcos está sob o signo da traiçoeira entrega. Por Judas Iscariotes
Jesus é entregue ao Sinédrio (Marcos 14,10.11.18.21.42.44); pelo Sinédrio é
entregue a Poncio Pilatos (Marcos 15,1.10); por Pilatos é entregue aos soldados
(Marcos 15,15: dez vezes usa-se o verbo paradidomai!). Os soldados O entregam à
morte (Marcos 15,25). Por fim, Deus mesmo O entrega à sua própria sorte,
morrendo com um grito de abandono nos lábios (Marcos 15,34). Em Marcos 14,41 o
evangelista resume todas estas afirmações na frase: “Ele é entregue em mãos dos
pecadores (Marcos 14,41).
Jesus padeceu
sozinho. Não foi compreendido por ninguém e abandonado por todos, inclusive
pelos Seus discípulos. São justamente estes que põem em movimento este processo
crescente de abandono, de entrega e traição: Judas O trai, Pedro O renega e
todos O abandonam. No Getsêmani, durante a hora mais escura da paixão, os
discípulos dormem (Marcos 14,37-40), seus discípulos fogem na hora de sua
prisão (Marcos 14,50) e, para ridicularizar esta fuga, Marcos dá um interesse
particular ao episódio do moço fugindo
nu (Marcos 14,41-52), evangelho mais longo. O isolamento de Cristo é
assinalado no decorrer da sessão do Sinédrio: quando encontram falsas
testemunhas contra ele (Marcos 14,56-60), quando Pedro proclama seu contra-testemunho
(Marcos 14,62-71), só resta uma única testemunha para testemunhar “duas vezes”
(Marcos 14,72, próprio de Marcos), como queria a lei judaica a favor de Jesus: o pobre galo! O isolamento de Jesus é
portanto total. Seus discípulos permanecem “à distância” (Marcos 15,40).
Marcos também
ressalta o silêncio de Cristo no decorrer de seu processo (Marcos 14,61;
15,3-4). Contrário a Lucas e a João, Marcos só assinalará uma única palavra de
Jesus Crucificado, fiel à sua proposta de realçar o “segredo messiânico”
(Marcos 5,43; 7,24; 9,30). Por este silêncio, Jesus quer marcar a distância que
separa sua missão real daquilo que as pessoas esperam, o mistério de sua pessoa, dos títulos que Lhe são atribuídos.
O tema do isolamento silencioso de Jesus Cristo é
o eco da maneira pela qual Marcos defende a dignidade messiânica de Jesus no
seio dos mais escandalosos insultos. A oposição do rei dos judeus e de um
agitador homicida, a ridícula entronização real de Jesus na sala do corpo da
guarda, as zombarias em volta da cruz isolam Jesus em sua pretensão messiânica.
Mas assim que Ele chegou ao extremo deste isolamento, até na morte, foi
reconhecido como “Filho de Deus” (Marcos 15,39) numa profissão de fé que por si
só aniquila todas as zombarias da multidão, e um grupo de discípulos se
constitui (Marcos 15,40-43), que não estará distanciado de Cristo, mas em breve
formará sua Igreja.
Sabemos hoje
porque os discípulos se escandalizaram e fugiram. Era, porque a sorte de Jesus
não correspondia às expectativas judaico-nacionalistas e terrestre-messiânicas
por eles compartilhadas com a grande massa do povo.
Cada
evangelista tem um modo todo próprio de apresentar esta narração da Paixão e
Morte de Jesus:
Marcos
caracteriza a Paixão por um realismo trágico: Cristo morre em silêncio e morre
na solidão e aparentemente abandonado pelo Pai. Mateus compara o Mistério da
Nova Aliança inaugurada por Cristo com a Antiga Aliança concluída com Moisés.
Lucas parece insistir mais na Cruz como fator de conversão. Mateus apresenta o
Cristo á luz da fé e O vê em relação à Igreja; Marcos frisa o desconcerto
produzido pelos acontecimentos referentes a Jesus e a seus discípulos; Lucas
acentua a ligação entre os discípulos, aqueles que querem seguir a Jesus e a
sua Cruz. João é mais teológico. Numa perspectiva diferente de Mateus, Marcos e
Lucas, a morte de Jesus aparece como manifestação de sua verdadeira realeza,
que consiste em dar a vida. Para João, na Paixão e Morte de Jesus tudo acontece
porque Jesus quis. As Escrituras deviam encontrar sua realização em Jesus.
Portanto, Jesus morreu quando quis, quando achou que sua missão estava
cumprida. Para João, quem morre na cruz é o Rei Jesus, isto é, o Rei
Messias.
Pontos altos
da Narração da Paixão de Marcos são as perguntas do sumo sacerdote, chefe do
Sinédrio: “És o Messias, o Filho de Deus bendito?” (Marcos 14,61) e de Pilatos:
“Tu és o rei dos judeus?” (Marcos 15,2.9.12). Nos dois casos Jesus responde
afirmativamente a estas perguntas. Mas estas respostas, em vez de levarem a
reconhecimento e respeito, provocam a mais infame gozação (Marcos 14,65;
15,16-20). Da parte dos romanos, Jesus é desprezado em favor de um assassino e
tratado como e executado com “delinqüentes comuns”. Da parte dos judeus
repetem-se em forma de escárnios as falsas acusações alegadas no processo
diante do Sinédrio: a destruição e reconstrução do Templo (Marcos 14,58 e
15,29-30) e a dignidade messiânica (Marcos 14,61-62 e 15,31-32). Duas vezes
Jesus é desafiado para mostrar a veracidade de Suas pretensões, descendo da
Cruz (Marcos 15,30.32). O verdadeiro motivo de sua eliminação está ai: não
conseguiram conviver com um Homem que veio libertar e salvar pra valer. O seu
último grito é a oração do salmo 22/21: “Meu Deus, meu Deus, por que me
abandonaste?” Não é um grito de revolta, gritou pelo Pai porque confiou. Aqui a Cruz passa a ser anúncio. Faz
rasgar o véu do templo que não mais abrigará a presença de Deus, e abre os
olhos e os lábios do primeiro homem que, no Evangelho de Marcos, profere
pronuncia a confissão cristã da fé: “Na verdade este homem era o filho de
Deus”. Por sinal, este homem é um pagão e de alguma maneira cúmplice da
execução de Jesus.
3- DA PALAVRA CELEBRADA AO COTIDIANO DA VIDA
A partir da
entrada de Jesus em Jerusalém, no Domingo de Ramos, os acontecimentos vão
afunilando. Depois de três anos de missão, de anúncio do Reino de Deus, de
muitos contatos, curas, milagres e pregações, o projeto de Jesus entra num
confronto decisivo.
Por um lado, o
povo que foi tantas vezes por ele ajudado, que percebeu nele uma saída de vida,
aclama-O, cheio de profunda esperança, como aquele que haveria de cumprir as
promessas de Deus, como aquele que seria o “vingador dos pobres”.
Por outro
lado, as elites dominantes, em parceria com o Império Romano, cheias de
privilégios, detentoras de altos rendimentos, donas de todo o poder político,
econômico e religioso, não aceitam essa liderança e tramam a morte do Justo.
É o que
percebemos no Domingos de Ramos da Paixão do Senhor, portal da Semana Santa: um
processo rapidíssimo, uma traição, um beijo falso, um julgamento sob pressão,
um juiz covarde, a condenação de Jesus à morte. O povo se frustra, desanima.
Parece que não adianta lutar, que as coisas têm de ser assim mesmo. Parece que
tudo termina por aí: os pobres sempre mais pobres, as violências crescendo, a
injustiça aumentando e tirando a paz do mundo e os inocentes morrendo.
Mas não é bem
assim. Com a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, o Bom Deus nos mostra o
caminho da salvação, que passa pela cruz, porque Ele respeita a liberdade
humana, gananciosa e cheia de pecados. Foi o caminho que Deus escolheu com a
Encarnação de Jesus. Realizou um esvaziamento (kenose) de si mesmo no serviço,
no lava-pés. Assumiu sobre si nossas dores. Enfrentou o sofrimento e a
perseguição dos poderosos. Historicamente, essa opção de Deus também resultou
em violência: a morte do Filho de Deus, o Justo e santo, numa cruz.
Contraditoriamente,
porém, dessa cruz, instrumento de morte, brotou a vida, a ressurreição, a
semente do novo, a proposta da Igreja das comunidades fraternas. No mundo em
que vivemos, afundado na ganância e no pecado, a salvação passa por esse
processo de morte-vida. O mistério do mal (do sofrimento do justo, do inocente;
das traições das infidelidades e violências) só começa a ter um princípio de
explicação quando se olha para a cruz de Jesus. Parece que até Deus fica
impotente diante do grito do Justo, diante do sofrimento de Jó, diante do
Cristo pendente da cruz (“Não é possível que passe de mim este cálice?”; “Meu
Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”).
4- A PALAVRA SE FAZ CELEBRAÇÃO
Palmas: Sinais da Vitória
A tradição
ortodoxa conhece, segundo a liturgia de São João Crisóstomo um tropário chamado
de apolitikion, rezado logo após um
pequeno refrão de abertura. Trata-se da Oração Principal da Festa. Para o
Domingo de Ramos o tropário diz: ó Deus, antes da tua paixão, dando-nos uma
garantia da ressurreição geral, ressuscitaste Lázaro dos mortos. Por isso, nós
também, como filhos dos hebreus, levamos os símbolos da vitória, clamando: Ó
vencedor da morte, Hosana nas alturas! Bendito o que vem em nome do Senhor!” Em
nossa liturgia ocidental, o rito de Ramos começa com uma antífona que coincide
com o final desse tropário oriental: Saudemos com hosanas o Filho de Davi!
Bendito o que nos vem em nome do Senhor! Jesus, rei de Israel, Hosana nas
alturas! A exortação que se segue, preparando a bênção dos ramos, articula a
rememoração da entrada em Jerusalém com a nossa participação na ressurreição.
O tropário
oriental, porém, nos apresenta este nexo de maneira mais clara e além disso nos
dá a chave para celebrarmos os mistérios da Semana Santa, cujo Domingo de Ramos
é abertura: “ó vencedor morte, Hosana nas alturas!” Com os olhos pascais é que
a liturgia nos convida a adentrar nos ritos que se seguem durante esta semana.
Nosso olhar atravessa o sofrimento e foca a atenção na Páscoa.
O sentido das
palmas nas mãos, segundo, segundo este tropário, vai na mesma direção: “Levamos
os símbolos da vitória”. A liturgia, portanto, já nos ritos iniciais,
interpreta a paixão e ressurreição do Senhor e nela nos envolve como
participantes desse mistério central da nossa fé. Um outro tropário, que vem
logo em seguida diz: “Fomos sepultados contigo pelo batismo, ó Cristo Deus, e
pela tua Ressurreição, merecemos a vida eterna. Por isso a ti cantamos em alta
voz: Hosana nas alturas”. Esta
referencia ao batismo é interessantíssima se entendermos que a Quaresma tem
forte conotação batismal e que a Vigília Pascal renova os iniciados as suas
promessas de ser seguidores e seguidoras (e fiéis missionários e missionárias)
do Servo Sofredor, recebido e proclamado hoje pelas multidões Rei e, ainda,
segundo a liturgia Oriental manifestação de Deus que a nós se revelou.
5- LIGANDO A PALAVRA COM A AÇÃO EUCARÍSTICA
Seguindo os
passos de Jesus, fazemos memória de sua entrada em Jerusalém para realizar o
mistério de sua morte e ressurreição e que chamamos de “mistério pascal”. Com
os ramos nas mãos, aclamamos Jesus como o verdadeiro Messias, nos associamos à
sua cruz para podermos participar de sua ressurreição e vida (exortação
inicial). Demos graças, porque só assim nosso sofrimento e nossa morte têm
sentido, e na comunhão do seu corpo glorioso já participamos da vida nova, ultrapassando
a morte.
Damos graças
ao Pai que hoje nos apresenta, em Jesus, o sentido que buscamos para nosso
sofrimento e morte. Ao comungar seu corpo glorioso, participamos desde já da
vida que vence definitivamente a morte.
6- O SIMBOLISMO DOS
RAMOS
O simbolismo
da “arvore” é muito forte na Bíblia: as árvores do paraíso, especialmente a
“árvore do conhecimento do bem e do mal” e a “árvore da vida” (Gênesis 2,9;
Apocalipse 2,7; 22,14) são símbolos da Torá. O cedro do Líbano, a figueira, o
carvalho e principalmente a videira, entre outras, muitas vezes simbolizam o
povo de Israel. Valor simbólico especial tem a oliveira: um ramo seu é o sinal
de que acabou o dilúvio e a vida voltou à terra (Gênesis 8,11;9,1.7-11) É de
seu fruto que se extrai o azeite, óleo fundamental para a alimentação e a
saúde, carregado também de um rico valor simbólico, como na unção de reis,
profetas e sacerdotes. Paulo fala da salvação dos pagãos comparando-os a uma
“oliveira selvagem” que foi enxertada na oliveira boa, Israel (Romanos
11,16-24).
Os ramos desta
procissão são uma metáfora da própria paixão, morte e ressurreição, na relação
vida-morte-vida. As árvores têm seus ramos verdes arrancados, o que simboliza a
morte, pois esses ramos secarão; mas elas também os “doam” para servir ao
Senhor da Vida. Os vegetais, representados pelas árvores, foram dados a nós
como alimento, são o nosso sustento, como tão bem nos diz o Gênesis. De certa
forma, então, eles “morrem” para que nós tenhamos vida!
7. ORIENTAÇÕES GERAIS
1. O Domingo de Ramos abre a.
Semana Santa e conta boa participação da Comunidade. Por isso, e, sobretudo,
pelo seu importante significado teológico e espiritual, deve-se dedicar imenso
zelo na preparação das celebrações. Uma boa leitura do Lecionário, do Missal
Romano, do Hinário II da CNBB, das rubricas dará indicações do que deve ser
preparado, depois, obviamente, de sorver o sentido litúrgico oferecido pelos
textos bíblicos e eucológicos na reunião da equipe de Liturgia.
2. Três símbolos podem ser
expressamente valorizados na celebração deste domingo: os ramos, a procissão de
ramos e a proclamação do Evangelho da Paixão do Senhor.
3. Há comunidades que celebram
a primeira parte (bênção de ramos e procissão de ramos no Domingo) como
celebração independente, e a liturgia da Paixão dias antes da Quinta-Feira
Santa. É uma ótima prática. Mas não deve ser simplesmente imposta à comunidade. Deve-se primeiro combinar com
todos.
4. Os
ritos iniciais desta celebração, nos quais se dá a bênção dos ramos, deveriam
ser realizados a uma certa distância da igreja para que se possa depois fazer
uma verdadeira procissão. Pode começar numa capela, na praça de um cemitério,
se der uma distância boa, numa rua do bairro. Sendo capela rural, começar numa
residência ou mesmo embaixo de uma árvore ou num outro lugar significativo.
Deve ser um lugar mais ou menos distante da igreja. Se for uma comunidade de
periferia, sair de um lugar significativo onde teve início algumas lutas
populares por melhores condições de vida do bairro, ou de uma residência ou
também de um ponto significativo.
5. É bom que a
procissão venha de uma capela para a matriz ou igreja maior. A unidade entre a
procissão festiva e a missa marcada pela celebração da Paixão do Senhor pode
ser feita através da cruz processional, que conduz a procissão e, na celebração
eucarística, é colocada ao lado do altar.
6. Cada pessoa leve o seu ramo
enfeitado para a procissão. A equipe de celebração deve providenciar ramos para
quem não trouxe. Além dos ramos pode-se também trazer plantas medicinais.
7. A equipe cuide do visual,
bonito, discreto, como forma de louvor a Deus.
8. A cor litúrgica deste dia é
o vermelho, lembrando a realeza de Jesus.
9. Lembretes para a equipe de celebração: além das coisas
costumeiras, é preciso preparar, no local onde começa a procissão, os seguintes
objetos: ramos, mesinha para colocar os ramos, caldeira com água benta (se for
o caso, incensório preparado com incenso), cruz para a procissão, castiçais e
velas acessas, o Lecionário e o Missal Romano.
10. Na procissão com os ramos: Neste dia o mais
importante não é a bênção, mas a procissão com os ramos. A bênção é feita por causa da procissão. Por isso, não tem sentido
nenhum fazer primeiro a procissão e depois a oração de bênção sobre os ramos.
11. Deve-se conciliar a piedade
popular, isto é, a devoção de muitas pessoas que vem mais para “benzer o ramo”
com a exigência de maior aprofundamento da fé por parte daqueles que têm uma
caminhada de comunidade.
12. Durante a procissão, cantar
de preferência cantos de acordo com o mistério celebrado. É importante cuidar
do conteúdo e estilo dos cantos usados na procissão. O estilo indicado é dos
hinos próprios que estão no CD Liturgia XIII e no Hinário II da CNBB. O
conteúdo é de aclamação ao Cristo Rei. Não é o momento de cantar cantos
marianos ou ao Espírito Santo (“A nós descei”... “Vem Maria vem”...
13. Onde não tiver condições de
celebrar a procissão nem a entrada solene, no caso de capelas rurais e capelas
de periferia muito distantes da matriz, faça-se uma “Celebração da Palavra de
Deus”, sábado à tarde ou domingo em um horário que favoreça a participação de
todos. A comunidade pode estar impedida de ter a Missa, mas não de se reunir e
celebrar.
14. Nos ritos finais: Na despedida, o presidente convida a assembléia
a intensificar a oração e a vida comunitária nestes dias de preparação para a
Páscoa. Lembrar aos que não trouxeram os envelopes da Campanha da Fraternidade,
que tragam na Quinta-Feira Santa e entreguem no momento da procissão dos dons.
O Missal prevê neste dia uma coleta para as pessoas necessitadas, página 249.
8- MÚSICA RITUAL
O canto é
parte necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para
animar ou enfeitar a celebração. Por isso devemos cantar a liturgia e não
cantar na liturgia. Os cantos e músicas, executados com atitude espiritual e,
condizentes com o tempo litúrgico, com cada domingo, com as festas ou com a
liturgia de um dia especial, ajudam a comunidade a penetrar no mistério
celebrado. Portanto, não basta só saber que os cantos são do Domingo de Ramos, é preciso executá-los com atitude
espiritual, isto é, de maneira orante. A escolha dos cantos deve ser cuidadosa,
para que a comunidade tenha o direito de cantar o mistério celebrado e não
cantos que um grupinho ou um movimento impõe.
1. Canto de abertura:
“Hosana ao Filho de Davi!”, CD, Liturgia XIII, melodia da faixa 14; “Hosana,
hosana e viva!”, CD Liturgia XIII melodia da faixa 15; “Hosana hei, hosana há”,
ensaiado no encontro diocesano de liturgia sobre a Quaresma, Semana Santa e
Tempo Pascal e está na página 439 do Ofício Divino das comunidades.
2. Cantos durante a
procissão: “Os filhos dos Hebreus com ramos de palmeira”, CD Liturgia
XIII; “Glória, louvor e honra a ti”, CD Liturgia XIII; “Cristo vence, Cristo reina”,
Hinário II, página 211; “Os filhos dos Hebreus, com ramos de oliveira”, Hinário
II, pág. 29; “Os filhos dos Hebreus, com ramos de oliveira”, Hinário II, pág.
28.
Ao entrar na Igreja, cantar o
Salmo 23/24 com o refrão próprio para este dia: “Os filhos dos hebreus”.
3. Salmo responsorial
22/21: Oração na
desolação. “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”, CD Liturgia XIV,
faixa 15
4. Aclamação ao Evangelho:
A obediência de Cristo até a
morte na cruz. (Filipenses 2,8-9). “Salve, ó Cristo obediente”, CD
Liturgia XIII, melodia da faixa 17.
5. Canto de apresentação
dos dons: O canto de apresentação das oferendas, conforme orientamos em
outras ocasiões, não necessita versar sobre pão e vinho. Seu tema é o mistério
que se celebra acontecendo na fraternidade da Igreja reunida em oração no
Domingo de Ramos da Paixão do Senhor. “Ó morte, estás vencida”, CD: Liturgia
XIII, melodia da faixa 18 ou no Hinário Litúrgico II da CNBB, página 267. Outro
canto apropriado para esta ação ritual é: “Em Jerusalém, prenderam Jesus”,
Hinário Litúrgico II da CNBB, página 173.
6. Canto
de comunhão: O cálice de Jesus
(Mateus 26,42). “Eu vim para que todos tenham vida”, CD: Liturgia XIII
melodia faixa 13. “Pai, se este cálice”, CD: Liturgia XIII, melodia da faixa 19
“Oferecerei o seu sacrifício” Salmo 116/115, Hinário Litúrgico II da CNBB,
página 63; “Prova de amor maior não há”, CD Tríduo Pascal – I, melodia da faixa
18 ou Hinário Litúrgico II da CNBB, página 286; “Eu me entrego, Senhor em tuas
mãos”, CD Tríduo Pascal – I, melodia da faixa 11 ou Hinário Litúrgico II da
CNBB página 34; “Se o grão de trigo não morrer”, Hinário Litúrgico II da CNBB,
página 21.
A comunhão
consuma a unidade de todos e manifesta que sua fonte é o corpo de Cristo
“entregue por nós”, “por um Espírito eterno” (Hebreus 9,14). “Pela fração do
pão e pela comunhão os fiéis, embora muitos, recebem o corpo e sangue do Senhor
de um só pão e de só um cálice, do mesmo modo como os apóstolos, das mãos do
próprio Cristo” (IGMR, 72,3).
9- O ESPAÇO CELEBRATIVO
1. É costume
em nossas Igrejas e Oratórios, as comunidades ornarem toda a construção com
Ramos. Algo que pode ficar muito bonito e construir um “baldaquinho” com Ramos
sobre a Mesa do Altar. Nada sofisticado, mas simples. O baldaquinho evoca a
Tenda, lugar da presença e esteve presente em muitas construções sagradas do
Cristianismo. Em Roma, é famoso o Baldaquinho de Bernini, arte barroca no
centro da Basílica de São Pedro. É importante, porém, que o Baldaquinho não
tire a visibilidade do Altar, dificulte o acesso ou “concorra” com ele, mas
manifeste a sua dignidade e importância. O baldaquinho pode ser preparado com
antecedência, ou pode ser levado ritualmente durante a celebração, conforme
sugerimos abaixo em “Ação Ritual”. Veja o gráfico de sua representação.
2. A preparação do espaço deve
manter a reserva simbólica, própria do Tempo da Quaresma. A ornamentação com
folhagem de palmeira deve ser discreta. São as pessoas quem deve portas ramos.
Cuide-se para não transformar a igreja numa floresta...
3. O local da celebração pode
ter o corredor central coberto por ervas aromáticas. Uma vez pisadas exalarão
delicioso perfume. Esse é um costume antigo das celebrações estacionais, ainda
praticado em Roma.
4. Para simbolizar esta
realidade da celebração, podemos fazer um arranjo especial para este dia que
está no livro “Arte floral a serviço da liturgia”, página 78-79, Edições
Paulinas.
10- AÇÃO RITUAL
Fazer uma
acolhida muito fraterna e pessoal a quem chega para a celebração,
principalmente os visitantes. Que todos possam sentir sua dignidade humana respeitada e sua identidade cristã
reconhecida. Não devemos esquecer
que os ritos iniciais, com o sentido de formar o Corpo vivo do Senhor, sejam
bem valorizados neste domingo e sempre.
Jesus se aproxima da descida do
monte das Oliveiras quando toda a multidão dos discípulos começaram, alegres
puseram-se a louvar a Deus com voz forte por todos os milagres que tinham
visto. Eles diziam: “Bendito seja aquele que vem, como rei, em nome do Senhor!
Paz no céu e glória no mais alto dos céus!” (Lucas 19,37-38).
Enquanto o
povo vai chegando, criar um clima orante através de refrões meditativos
preparando os corações para a celebração.
Ritos Iniciais
1. A Liturgia de Ramos nos
prepara também para a Paixão de Jesus. Agitando palmas, símbolo da vitória
contra o mal, iniciamos nossa caminhada com Jesus em direção ao Reino
definitivo.
2. O presidente introduz a
procissão, dando-lhe o sentido de oração feita com os pés e
todo o corpo para
seguirmos Jesus hoje em nossa missão. Na Igreja Armênia, uma grande cruz
processional representa o Senhor e vai na frente da procissão. O padre pega um
ramo e o prende na haste da cruz.
3. Procurar envolver todas as crianças nesta celebração mesmo
as que não estão na catequese. Incentivá-las durante a procissão a cantar ou
recitar em voz alta o refrão: “Bendito o que vem em nome do Senhor, hosana nas
alturas” (cf. Mateus 21,14-16).
4. Neste domingo, pode-se
aproveitar a sugestão e imagem do Baldaquinho acima e, durante os dois ritos de
introdução na Liturgia da Palavra e da Eucaristia, “montá-lo” primeiro sobre a
Mesa da Palavra e depois sobre a Mesa da Eucaristia, o Altar, ou somente sobre
a Mesa da Palavra.
5. Durante a procissão de
Ramos, pode levar o Evangeliário em um andor, conforme a sugestão anterior.
Quatro pessoas levam consigo grandes palmas de modo a formar um “baldaquinho
peregrino”. Cada pessoa figura como uma das colunas e as palmas como a
“cúpula”:
6. Ao entrar
na igreja atrás da cruz e do presidente, a assembléia caminha com Cristo e
deixa-se introduzir na celebração do mistério da sua paixão, morte e
ressurreição.
7. Uma vez que se entra na
Igreja, o Evangeliário é posto sobre a Mesa da Palavra, como de costume. As
pessoas com as Palmas permanecem ao redor do Altar, “desmontando” o
baldaquinho.
8. A celebração (de cunho
estacional) não inclui ato penitencial. A procissão foi expressão ritual que
substitui o ato penitencial.
9. Na Oração
do Dia suplicamos a Deus que é todo poderoso que nos ajude a seguir o exemplo
de Cristo que deu sua vida na cruz e possamos ressuscitar com Ele na sua
glória.
Rito da Palavra
1. Após a Oração do Dia,
enquanto se entoa um refrão apropriado, essas pessoas se dirigem à Mesa da
Palavra e sobre ela montam a cobertura do baldaquinho.
2. Durante o canto de aclamação
“Salve ó Cristo, obediente!” o Evangeliário deve ser levado até a Mesa da
Palavra e de lá, feita a narrativa da Paixão, conforme o costume da comunidade.
Se for dialogado conforme o “costume latino”, é preciso que se respeite a linguagem
ritual que exige a presença do Livro (o Evangeliário) que é um dos sinais
sensíveis da Palavra de Deus, de onde se fará a introdução do relato, sua
narrativa e a conclusão.
3. Durante a homilia, o
baldaquinho pode temporariamente ser desfeito, voltando a se formar sobre a
Mesa do Altar, da seguinte forma: As pessoas entram na procissão de oferendas à
frente ou depois daqueles que levam os dons do pão e do vinho e montam o
baldaquinho sobre o Altar.
4. Se tiver dificuldade de
ritualizar desse modo, pode-se montar o baldaquinho somente na Mesa da Palavra.
5. É bom lembrar que a leitura
da Paixão merece uma boa preparação, com bastante antecedência, distribuindo os
diversos papéis para tornar mais dinâmica a participação. Personagens que
ocorrem no Evangelho deste domingo, texto mais longo: narrador(a), Judas, Simão
Pedro, grupo dos discípulos, duas testemunhas, sumo sacerdote, o povo, uma
criada que interroga a Pedro, outras pessoas além da criada, sumos sacerdotes e
anciãos, Pilatos, os soldados de Pilatos. Para o texto mais curto: narrador(a),
Pilatos, soldados de Pilatos, pessoas insultando e zombando de Jesus, o oficial
e os soldados. Quem preside, diz as palavras de Jesus.
6. Na liturgia da Palavra: A leitura da Paixão do Senhor
(sem as lanternas que acompanham a procissão do Evangeliário, sem o incenso,
sem a saudação “O Senhor esteja convosco...” sem fazer o sinal da cruz sobre o
livro e sobre si mesmo; no final, não se beija o livro nem se diz “Palavra da
salvação...”). Cuidado que o folheto não traz esta orientação litúrgica.
7. Sobre a leitura do Evangelho
da Paixão do Senhor, o Lecionário Dominical sugere o texto longo ou o mais
breve. Quando optamos pelo texto longo, pode-se intercalar algum refrão
meditativo, para facilitar a participação da assembléia. (Por exemplo: Prova de
amor maior não há...). Também quanto ao texto longo ou mesmo o mais breve, as
pessoas podem acompanhar a leitura sentadas. Quando o texto narrar a morte de
Jesus, todos se ajoelham fazendo uma pausa e uns momentos de silêncio. No
momento do silêncio pode-se cantar um canto próprio, mas não longo. (Por
exemplo: “Morreu, meu Jesus, na cruz, na cruz...”, ensaiado num encontro
diocesano sobre a Quaresma e Semana Santa; “Eu me entrego Senhor, em tuas
mãos”, Hinário Litúrgico II da CNBB, página 34, ou o refrão “Prova de amor
maior não há”, somente com a estrofe: “E chegando a minha Páscoa, vos amei até
o fim...”.
8. A narração do Evangelho,
caso seja acertado, pode ser acompanhada pela assembléia assentada. Feita em
forma dialogal poderá também ajudar na participação.
9. A homilia não deve se
alongar. O cansaço da assembléia pode comprometer a participação. O homiliasta
deve ser claro e conciso, deixando que os ritos falem por si. Haja também tempo
para o silêncio e a meditação.
Rito da Eucaristia
1. A oração
sobre as oferendas destaca que pelo sofrimento de Cristo fomos reconciliados
com o Pai.
2. Na
preparação das oferendas, junto com os dons da Eucaristia, destacar a coleta da
Campanha da Fraternidade como uma “ação ritual” a nível nacional.
3. Preparar a
forma como será feita a coleta e um recipiente onde as pessoas poderão deixar
sua oferta. Perto, também poderá ser colocado um cartaz da CF 2012. As pessoas
irão em procissão até perto do altar. Neste momento poderá ser feita a Oração
da CF ou cantar o Hino.
4. O Prefácio
é próprio para o Domingo de Ramos e enfatiza o sofrimento do justo inocente
pela salvação de todos. A Oração Eucarística pode ser a III que enfatiza
“quatro” vezes a palavra sacrifício, isto é, que a nossa vida deve ser uma
doação do nascer ao por do sol como foi a vida de Cristo.
5. A comunhão
em duas espécies não é só desejável, bem como poderá evidenciar o que foi
narrado no início do Evangelho: “o vinho novo no Reino de Deus” (versículo 25).
Ritos Finais
1. Na oração
depois da comunhão, peçamos a Deus que pela morte e ressurreição de Cristo nos
alcancemos a salvação.
2. O rito do envio pode estar
em consonância com o mistério celebrado: Irmãos e irmãs, a Paixão de Jesus
Cristo nos abriu as portas do céu. Vão em paz e o Senhor vos acompanhe.
3. É comum
além, de entrar em procissão no início da celebração guiados pela cruz, também
retirar-se do espaço sagrado em procissão, igualmente guiados pela cruz.
11- CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Humanamente
olhando a Cruz, ela revela a dor, sofrimento, desprezo, abandono, injustiça,
tortura, manipulação da pessoa humana, morte. A Cruz iluminada pela fé fala de
salvação, de comunhão, de misericórdia, de amor extremado, de Reino e de
eternidade. Ressurreição já plantada em nós, que, nestes dias de oração e
meditação, deve deitar raízes fundas em nós, para dar razão ao nosso viver,
despido, por vezes, de razões válidas e fortes.
O objetivo da
Igreja e da nossa equipe diocesana de liturgia é ajudar os padres e as comunidades
de nossa diocese e todas aquelas outras comunidades fora de nossa diocese que
acessar nosso site celebrar melhor o mistério pascal de Cristo.
Um abraço
fraterno a todos
Pe. Benedito
Mazeti
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