quinta-feira, 13 de novembro de 2014

33º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO A

16 de novembro de 2014

Leituras

         Provérbios 31,10-13.19-20.30-31
         Salmo 127/128,1-5
         1Tessalonicenses 5,1-6
         Mateus 25,14-30 

“VENHA PARTICIPAR DA MINHA ALEGRIA”


1- PONTO DE PARTIDA

Domingo dos talentos. Nesta época, sentimo-nos diferentes. No início do ano, de janeiro a março, tudo tem que começar. Em novembro e dezembro, tudo tem que terminar. Dentro de uma pedagogia de vida celebrada dentro do tempo, neste final de ano a liturgia da Palavra nos põe em contato com o fim da nossa vida. Assim como nos damos conta de que o final do ano de 2014 já está chegando e que é hora dos últimos encaminhamentos, assim também nossa vida vai passando. Os textos bíblicos nos oferece cunho escatológico. Isso não significa que nossas celebrações devem transmitir uma carga negativa, a tal ponto de sermos mais rigorosos no explicitar o julgamento de Deus do que o próprio Deus. A vida é valiosa demais! Por isso o tempo é valioso. Não podemos permitir que o tempo passe e a vida não seja vivida de maneira autêntica.

Neste domingo da parábola dos talentos, reunimo-nos para celebrar a Páscoa de Jesus e pedir-lhe que nos torne comunidade vigilante e responsável na administração dos dons que Deus nos concede. Participando da alegria do Senhor, queremos ouvir Dele: “empregado bom e fiel, eu lhe confiarei muito mais”. Escutando com atenção a parábola, recebemos do Senhor a força de vencer todo o medo, para frutificar em boas obras na espera de sua vinda.

2- REFLEXÃO BÍBLICA, EXEGÉTICA E LITÚRGICA

Contemplando os textos

Primeira leitura – Provérbios 31,10-13.19-20.30-31. Lemos nesta leitura somente alguns versículos do poema alfabético dedicado à mulher perfeita. O único versículo explicitamente religioso deste cântico é o versículo 30b: “A mulher que respeita a Deus é que merece elogio”. Mas é claro que todo o canto é religioso e desenvolve em que se concretiza este respeito a Deus. Não se concretiza, portanto, em muita religiosidade, em muitos atos religiosos, nem em uma conformidade com a vontade de Deus que mata iniciativas próprias, mas em audácia em enfrentar as tarefas, os apelos e as dificuldades de cada dia e em aproveitar as oportunidades que se oferecem.
Escutando esta antiga meditação sobre a mulher forte, imagem da comunidade que trabalha e é ativa na espera do Senhor, acolhamos o convite que o Senhor nos faz de uma total consagração no seu serviço.

O elogio desenrola-se em três momentos: a harmonia com o próximo; a gestualidade das mãos e dos dedos; a preferência dada ao Senhor, sobre todas as realidades criadas.

Na protagonista atua-se o desígnio originário do Criador, que plasmou a mulher como companheira de diálogo e de vida no mesmo plano do homem, destinada a libertar o homem do isolamento do “eu”, mediante a presença abençoada do “tu” feminino (versículos 11-12). A mulher ideal é livre e responsável, trabalha de boa vontade e com gosto. Trabalha com alegria. Este aspecto é importante para compreendermos o conceito bíblico do trabalho humano e a parábola evangélica dos talentos (cf. Evangelho). A freqüência com a qual se cita as mãos e os dedos (no total) 6 vezes: versículos 13,19,20,31) cria uma autêntica “dança das mãos”, dança da arte e da caridade: mãos que trabalham a “lã” e o “linho” (versículo 13); mãos experientes no uso de instrumentos delicados como a “roca” e o “fuso” (versículo 19); mãos que, finalmente, se “abrem” ao pobre e “estendem os braços” ao indigente (versículo20).

Os critérios da mulher ideal formulados neste texto inspirado não são de beleza física (versículo 30a), nem a fuga ou o desprezo do mundo, próprios de certos tipos de beatas, mas: ser para o homem uma auxiliar ou companheira igual a ele; gozar de confiança do marido (versículo 11); da prosperidade e de seu aumento; mostrar generosidade para com os necessitados (versículo 20). Uma tal mulher é destinada pelo marido e pelos filhos (versículos 28-29) e goza de boa fama na cidade (versículo 31b).

A mentalidade bíblica pode muito bem servir de base para as justas reivindicações atuais da mulher e dos seus direitos.

Salmo responsorial – Salmo 127/128,1-5. O começo do Salmo é de bem-aventurança: “Feliz”. Temer a Deus tem aqui um sentido bastante genérico, de fidelidade e reverência; manifesta-se em seguir o caminho de Deus, isto é, em cumprir os mandamentos.

A bem-aventurança refere-se à vida cotidiana, do trabalho e da família: bens simples e fundamentais. A imagem vegetal descreve a fecundidade, a mesa reúne ao seu redor a família, que come o fruto do trabalho. Deste modo torna-se experiência profunda e símbolo superior.

A bênção familiar realiza num círculo perfeito e limitado a bênção mais ampla sobre o povo: sai de Sião, onde Deus reside, estende-se a toda a cidade santa, abarca todo Israel, em suas gerações. A bênção do simples e do pleno tem outro nome: paz.

O rosto de Deus no Salmo. Por duas vezes se diz que o Senhor é temido (versículos 1b.4) e uma vez se diz que abençoa. Três vezes, portanto, se fala dele. Temer a Deus não significa sentir medo, mas respeitá-lo e respeitar seus mandamentos com fonte de felicidade e de bênção. O Senhor deseja que o ser humano seja feliz e abençoado, e isso está vinculado aos mandamentos, condições que Israel, como aliado do Senhor. O rosto de Deus neste Salmo é abençoador.
Cantando este Salmo, peçamos que o Senhor nos ensine o caminho da unidade e da partilha. É a partir de Deus que a família melhor se constitui. Dessa forma, cantamos com o salmo 127:

FELIZES OS QUE TEMEM O SENHOR E TRILHAM SEUS CAMINHOS.

Segunda leitura – 1Tessalonicenses 5,1-6. A passagem que lemos na liturgia de hoje, dá normas práticas, em especial exortando à sobriedade cristã. O Apóstolo Paulo aconselha a comunidade de Tessalônica a preparar a vinda do Senhor.

O cristão, crendo em Cristo e esperando a salvação, pode e deve renunciar aos prazeres dos sentidos e buscar as coisas do alto. Há porém, os que não crêem e não esperam, vivendo na noite do pecado e dos sentidos. O fiel se distingue do infiel: internamente, pela fé e esperança; externamente, pela conduta sóbria. Desta forma o cristão é duplamente filho da luz: porque traz dentro de si a luz interior da fé e esperança e, externamente, a de suas boas obras que são reflexo da santidade divina. O infiel, por sua vez, vive em dupla noite (treva): a interior (falta de fé e de esperança) e a exterior (o pecado). Os filhos das trevas são considerados adormecidos, enquanto que os filhos da luz permanecem vigilantes e sóbrios (versículo 6).

A exortação é figurada, alegórica, mas bem bíblica. A luz é símbolo da transcendência e santidade de Deus. O cristão pela fé e conduta santa assemelha-se a Deus, tornando-se luz (Mateus 5,14; 1João 1,5-7).

No versículo 1 Paulo ostenta firmeza de trato: “Não há necessidade... vós mesmos sabeis...”. O versículo 3 descreve a atitude dos maus, como no tempo de Noé, dizendo-se “paz e segurança” (Mateus 24,37). “Catástrofe” diz inevitavelmente morte, destruição, ruína, em oposição à salvação. Paz e segurança traz presente as palavras mentirosas dos falsos profetas, que Ezequiel compara a “raposas no meio das ruínas” (Ezequiel 13, 3-12). Tranqüilizam o povo, escondem a gravidade da situação, propõem remédios indolores para as chagas da infidelidade, da violência e da injustiça (cf. Miquéias 3,5.9; Jeremias 6,13-14).

Os versículos 4-5 apresentam em contraste a atitude dos bons, dos fiéis, que não vivem nas trevas morais, mas na luz, na transparência moral. “Trevas no Novo Testamento opõem-se à “Luz” e implicam um erro da inteligência, da vontade e da vida. Para estes, vigilantes, o dia do Senhor não será surpresa, nem será para a ruína. Trata-se de um viver digno da fé que professa a imagem do ladrão noturno ilustra a vinda de Cristo para os maus. “Filhos da luz”, isto é, iluminados, são os que vivem conforme a Deus que é luz (1João 1,5), a Cristo que é luz (João 8,12). O versículo 6 oferece uma oposição no plano moral e espiritual: “dormir” equivale a viver nas trevas, não estar prevenidos, opondo-se a “velar”, “ser sóbrios”.  “Como os outros...”, isto é, os não-cristãos, um mundo que dorme, “que está sentado nas sombras da morte”, Cântico de Zacarias na oração da manhã (Lucas 1,79).

“Vigilantes e ser sóbrios”. A sobriedade é vigilância, vida santa; “vigilância enquadra melhor com a intenção do espírito, quando ao invés a sobriedade visa mais aos costumes”. Entretanto, aqui, correspondem a uma única realidade complexa: o viver cristão, santo e transcendente.

Existia uma separação entre o tempo profano e o tempo sagrado, entre o tempo do homem e o tempo de Deus. O Reino que Jesus de Nazaré traz constrói-se no cotidiano da existência. A seus olhos, só existe para o cristão um tempo: o tempo profano, que ele deve viver em plenitude com o lugar onde Deus intervém para salvar-nos. Com o Mistério da Encarnação de Cristo não existe mais profano e sagrado.

Eis a tese de Paulo: ao invés de esperar desesperadamente um “Dia do Senhor”, devemos viver com Deus, na luz, cada um dos dias que nos são dados. Também essa é a tese de Mateus, que responde às questões concernentes à vinda do Filho do Homem através das parábolas sobre a vigilância de cada dia (Mateus 24-25).

Evangelho – Mateus 25,14-30. No discurso de Jesus, que Mateus conservou nos capítulos 24 e 25 de seu Evangelho, é conhecido como o discurso escatológico. Neste, o tema abordado é o mesmo de 1Tessalonicenses: a segunda vinda de Jesus e quais as atitudes com as quais o cristão deve esperá-la. O texto do Evangelho deste Domingo faz parte desse discurso. Com a segunda leitura, o Evangelho é unido pela perspectiva escatológica. Com a primeira leitura, tem em comum a idéia do empenho na responsabilidade.

Quando o Evangelho de Mateus foi escrito – por volta dos anos 80 – muitos cristãos começavam a desanimar pelo mesmo motivo dos Tessalonicenses: a demora de Jesus em voltar. Além disso, assumir a fé cristã trazia perseguição do Império Romano, da Sinagoga e até morte. Muitos voltavam atrás! Aquele ardor por Jesus estava esfriando. Mateus quer reavivar esse ardor missionário.

No texto de hoje, conhecido como a parábola dos talentos, Jesus apresenta-se com um patrão que, antes de partir em viagem, reuniu seus servos e distribuiu-lhes sua fortuna. A um deu cinco talentos, a outro dois e ao terceiro, um. Devido à dificuldade de calcularmos a quantia correspondente a esses valores, melhor seria usarmos os termos que a Bíblia do Peregrino apresenta: “A um deu cinco milhões, a outros dois, a outro um, a cada um segundo a sua capacidade”. As partes mais importantes da parábola soa justamente o retorno desse “patrão e o diálogo” com os servos, no qual cada um presta contas de como administrou os bens do patrão em sua ausência.

A parábola descreve a vida cristã no período que vai da glorificação do Senhor e da queda de Jerusalém e do Templo à Parusia final. A velha assembléia judaica é substituída pela nova assembléia: seus membros significam, cada um por sua vez, o Reino que vem: os chefes de comunidade (Mateus 24,45-51), por sua maneira de servir, as mulheres (Mateus 25,1-13), por sua vigilância, os cristãos em geral (Mateus 25,14-30), pela “administração” dos bens recebidos. Em suma, enquanto que a primeira parte do discurso estatológico representa o Reinado de Deus operado e realizado pela intervenção de Deus, a segunda parte traz presente o papel das pessoas nesta realização.

Um dos primeiros traços essenciais do relato de Mateus é o tema do “prazo” (versículo 19) que liga ao do Esposo que demora (Mateus 25,5). Enquanto que Mateus visa o tempo da Igreja, Lucas considera apenas o intervalo entre a morte de Cristo e a queda de Jerusalém (Lucas 19,11).

O interessante é que a perspectiva de Mateus destaca o tempo da Igreja que se segue à queda de Jerusalém e da extraordinária desproporção entre a administração exercida sobre a terra e a recompensa prometida (Mateus 25.212.23.29). O Senhor distribui suas riquezas (a saber, os interesses do Reino) levando em conta as qualidades naturais de cada um... mas um único talento já constituía uma imensa fortuna. Portanto, seria um erro interpretarmos estes “talentos” como somente dons naturais a serem explorados (trata-se dos interesses do Reino, riquezas do Senhor), de que o cristão se torna administrador, porque o reino só avança com sua colaboração.

3- DA PALAVRA CELEBRADA AO COTIDIANO DA VIDA

O patrão da parábola é o próprio Deus. Ele nos confiou os seus próprios bens, a cada um conforme a sua capacidade. A um deu cinco, a outro dois e ao outro um talento. Quais são os talentos que Deus nos confiou? O grande tesouro a nós confiado foi o Reino de Deus para que o façamos frutificar. A parábola de hoje nos quer mostrar como devem agir os que receberam a responsabilidade do Reino da justiça trazido por Jesus.

Na hora do acerto não há discriminação em graus de premiação. Quem lucrou dois e quem lucrou cinco receberam a mesma resposta: “Muito bem, servo bom e fiel! [...]. Venha participar da minha alegria!”. Quem luta pela justiça do Reino é servo bom e fiel! Mas um servo tem medo do patrão. O medo de arriscar nos paralisa e expressa a idéia que se tem de Deus:  “És severo, pois colhes onde não plantaste e ceifas onde não semeaste. Por isso, fiquei com medo e escondi o teu talento no chão, para guardá-lo. Aqui tens o que te pertence”. Esse medroso fez uma imagem de Deus como patrão cruel, um ídolo. A resposta do “patrão” a esse servo foi: “Servo mau e preguiçoso, imprestável!”. Os dois primeiros enfrentaram o risco e este último tornou inútil os bens de Deus. “Deus é amor! Arrisquemos viver por amor! Deus é amor, Ele afasta o medo!”.

Os talentos que recebemos de Deus são, em primeiro lugar, os bens e riquezas do seu Reino: a salvação, a fé, o seu amor, a sua amizade... São também em segundo lugar, os naturais: a vida e saúde, inteligência e vontade, família e educação, iniciativa e trabalho, simpatia e personalidade... a vocação cristã à fé em Cristo é o grande talento que resume todos os outros.

A parábola mostra a grandeza e a fragilidade de Deus. Sua grandeza está em nos entregar seus bens. Nada retém para si. Tudo é entregue. Sua fragilidade é confiar em nós, que podemos desperdiçar toda a sua riqueza. Deus arrisca perder confiando em nós. Sua fragilidade ressalta sua grandeza e bondade.

A Palavra de Deus hoje nos convida a viver como filhos e filhas da sabedoria, da luz e do dia. Impele-nos a entrar na luta com coragem e responsabilidade para que o Reino de Deus cresça neste mundo. Não desperdicemos os talentos, que são de Deus, a nós entregues em confiança.

Em cada celebração que participamos, escutamos do Senhor o convite: “Vem participar da minha alegria!”, pois, de fato, festejamos o que o Senhor mesmo nos permitiu colher de frutos em nosso testemunho do Evangelho. Ao mesmo tempo, recebemos aí a palavra que nos desinstala e a força que nos impulsiona, como fonte nunca estancada, a continuarmos trabalhadores e trabalhadoras ativos(as) em sua missão.
4- A PALAVRA SE FAZ CELEBRAÇÃO

A recompensa de uma eternidade feliz

A Liturgia deste domingo ensina que o dia do juízo de Deus não se sujeita às previsões humanas. O Dia que vem procede do Senhor e virá a seu tempo para receber os talentos que confiou a nós. E este dia será oportunidade para o testemunho da fé, pois tudo aquilo que se opõe ao Reinado de Deus será desmascarado e denunciado, exigindo que uma posição seja adotada e uma postura seja assumida por parte da humanidade. A recompensa para os que optaram pela justiça (Deus!) será o convívio com Ele (cf. Oração sobre as oferendas).

As orações no Rito Romano são inspiradas nas Sagradas Escrituras e trazem expressões oriundas de suas páginas. Quando se fala, então, em recompensa, embora nosso ouvido capte apenas o significado de pagamento pelo que se produziu, é preciso estar atentos, pois o termo refere-se mais a relação que há entre a humanidade e Deus. Quer dizer, se há uma recompensa é porque há uma relação de contrato, de aliança. A conseqüência do cumprimento do acordo (aliança) é receber a recompensa. Mas, ao aplicar esta noção a Deus, a lógica não será retributiva, mas distributiva: Deus dá mais do que seria justo pagar. Ele dá de si mesmo. E aqui se abre a dimensão da liberdade divina que supera qualquer mérito que exija pagamento, ou seja, motivo de justificação. O pagamento de Deus aos Justos é o seu Reinado.

Chegar ao fim na alegria de Deus

O ano litúrgico vai chegando a seu termo e a noção de juízo de Deus se torna muito evidente nos textos bíblicos e eucológicos (orações). Neles, somos exortados a buscar a recompensa no sentido de participar do Reinado de Deus, tendo nosso labor sendo provado no mundo e aprovado no céu. Cada celebração Eucarística antecipa e realiza no “hoje” de nossa vida essa fé: nossa existência, com tudo que ela contém, passa pelo crivo do Evangelho de Jesus, de modo a ser provado e aprovado (ou não) pelo Senhor. Quanto mais nossa experiência de fé for próxima e semelhante daquela inaugurada por Jesus, mais provados e aprovados seremos, mais a aliança cumpriremos e mais ao Reino tenderemos. O oposto também é verdade.

O convite de Jesus é “vem participar da minha alegria!”, não do seu velório. A celebração eucarística deve ser antecipação da alegria eterna vivida, no céu, por todos aqueles que foram justificados.  Desde agora, de forma sacramental, nós queremos participar dessa festa. Não pode faltar alegria, nem na preparação, nem na celebração, nem na vida, vivida em missão. Muitas pessoas não se recordam do que foi dito na celebração, mas sempre lembram como se sentiram. Que se sintam bem!

5- LIGANDO A PALAVRA COM A AÇÃO EUCARÍSTICA

O trabalho (servir), que na liturgia da Palavra é tão elogiado e até mesmo apresentado como uma necessidade para a salvação, nas orações deste Domingo aparece como graça de Deus (oração sobre as oferendas), fonte única da felicidade completa (oração do dia) e como fruto da Eucaristia que celebramos: nos faz crescer na caridade (oração depois da comunhão).

O pão e o vinho colocados sobre o Altar constituem exemplos perfeitos do que são os talentos frutificados pelo trabalho dos dois primeiros servos: dom e esforço. O pão e o vinho são fruto da terra/videira (dom de Deus) e do trabalho humano. São frutos da nossa vida: recebemos de Deus, mas construímos com o suor de nosso rosto. Quando colocamos o pão e o vinho sobre o Altar, também ouvimos, como os dois servos, que recebemos muito mais: eles são o Corpo e o Sangue de Cristo.

Na Eucaristia, memória da morte e ressurreição do Senhor. A morte e a ressurreição, e não somente a morte, são conseqüência e coroamento de uma vida totalmente doada pela vida de seu povo. Na Eucaristia, fazemos a experiência de viver bem! Quem escolhe viver não para si mesmo, mas para o bem do outro, encontra a morte! Mas quem não morre?! Em Jesus aprendemos que a vida doada é vida que ressuscita para tornar-se eterna. Assim Jesus é alimento para viver. Viver como Jesus viveu, viver para ressuscitar, viver para a vida eterna. Isso é viver bem.

6. ORIENTAÇÕES GERAIS

1. Valorizar os talentos que a comunidade recebeu de Deus em cada pessoa que se dedica, faz crescer e produzir frutos na comunidade e na sociedade. Isso pode ser feito em forma de preces, no final da liturgia da Palavra, ou de motivos de louvor, antes da Oração Eucarística.

2. Proclamar bem as leituras e o canto do Salmo responsorial que, com o conjunto das orações, trazem a dimensão escatológica de nossa vida e missão cristã.

3. No dia 17, lembramos a memória de Santa Izabel da Hungria, esposa, religiosa, protetora das floristas e servidora dos pobres. No dia 18 lembramos a memória da Dedicação das Basílicas de São Pedro e São Paulo em Roma.

7- MÚSICA RITUAL

O canto é parte necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para animar ou enfeitar a liturgia. Por isso devemos cantar a liturgia e não cantar na liturgia. Os cantos e músicas, executados com atitude espiritual e, condizentes com cada domingo, ajudam a comunidade a penetrar no mistério celebrado. Portanto, não basta só saber que os cantos são do 33º Domingo do Tempo Comum, é preciso executá-los com atitude espiritual. A escolha dos cantos deve ser cuidadosa, para que a comunidade tenha o direito de cantar o mistério celebrado. A função da equipe de canto não é simplesmente cantar o que gosta, mas cantar o mistério da liturgia deste 18º Domingo do Tempo Comum. Os cantos devem estar em sintonia com o ano litúrgico, com a Palavra proclamada e com o sacramento celebrado. Não devemos esquecer que toda liturgia é uma celebração da Igreja corpo de Cristo e não de um grupo, de uma pastoral ou de um movimento.

A equipe de canto faz parte da assembléia. Não deve ser um grupo que se coloca à frente da assembléia, como se estivesse apresentando um show. A ação litúrgica se dirige ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo. Portanto, a equipe de canto deve se colocar entre o presbitério e a assembléia e estar voltada para o altar, para a presidência e para a Mesa da Palavra.

Ensina a Instrução Geral do Missal Romano que o canto de abertura tem por objetivo, além de unir a assembléia, inseri-la no mistério celebrado (IGMR nº 47). Nesse sentido o Hinário Litúrgico III da CNBB nos oferece uma ótima opção, que estão gravados no CD: Liturgia VII e CD: Cantos de Abertura e Comunhão e Ofício Divino das Comunidades.

1. Canto de abertura. “Meus pensamentos são de paz e não de aflição” (Jeremias 29,11.12.14. As estrofes são do Salmo 142/143. Como comunidade de fé reunida por convocação do Senhor para o seu serviço, para sua liturgia. O nosso valor como discípulos e discípulas de Jesus se exprime em nossa disposição de servir a Deus de acordo com nossas capacidades. Por isso, é muito oportuno dar início à celebração com as palavras do profeta Jeremias: “Sim, eu conheço os desígnios que formei a vosso respeito, desígnios de paz e não de desgraça para vos dar um futuro e uma esperança. Eu me deixarei encontrar por vós...”. É muito adequada a versão deste trecho do profeta (Jeremias 29,11,12.14) oferecida pela CNBB: “De paz são meus pensamentos, onde estiverem, onde estiverem, onde estiverem, os livrarei do sofrimento”, articulado como Salmo 142/143, CD: Liturgia VII, melodia da faixa 15. Este Salmo evidencia exatamente o perfil do discípulo de Jesus: lembrar os feitos de Deus e fazer a Sua vontade multiplicando os talentos. São os dois movimentos captados pela Liturgia: Deus que vem ao encontro das pessoas para relacionar-se com ela, cuidando-a, guiando-a e atraindo-a a Si (movimento descendente, nos qual Deus nos santifica); a Igreja que lhe responde conscientemente, como símbolo da humanidade redimida, fazendo o bem e publicando seu louvor pela boca e pela vida (movimento ascendente, no qual é glorificado).

Para o sentido litúrgico, pode-se aproveitar esta compreensão da Antífona de Entrada (Canto de Abertura), sobretudo se ela for entoada, o que lhe garante um aspecto mistagógico.

O canto de abertura não é para acolher o presidente da celebração nem os ministros. Ele tem a finalidade de congregar a assembleia para participar da ação litúrgica. Nunca dizer vamos acolher o presidente da celebração e seus ministros com o canto de abertura.

2. Hino de louvor. “Glória a Deus nas alturas.” Vejam o CD: Tríduo Pascal I e II e também no CD: Festas Litúrgicas I; Partes fixas do Ordinário da Missa do Hinário Litúrgico III da CNBB e também a versão da CNBB musicado por Irmã Miria Reginaldo Veloso e outros compositores.

O Hino de Louvor, na versão original e mais antiga, é um hino cristológico, isto é, voltado para Cristo, que exprime o significado do amor do Pai agindo no Filho. O louvor, o bendito, a glória e a adoração ao Pai (primeira parte do Hino de Louvor) se desdobram no trabalho do Filho Único: tirar o pecado do mundo, exprimindo e imprimindo na história humana a compaixão do Pai. Lembremo-nos: o Hino de Louvor não se confunde com a “doxologia menor” (Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo). O Hino de Louvor encontra-se no Missal Romano em prosa ou nas publicações da CNBB versificado numa versão que facilita o canto da assembléia.

3. Refrão para motivar a escuta da Palavra: “Deus é amor, arrisquemos viver por amor. Deus é amor, Ele afasta o medo”, da comunidade de Taizé, gravado no CD: “Coração confiante”, editora Paulinas. Próprio para este Domingo. O medo faz com que escondemos os talentos. Pode ser retomado após o silêncio que segue a homilia.

4. Salmo responsorial 127/128. Temer o Senhor e ter um lar feliz. “Felizes os que temem o Senhor e trilham seus caminhos!”. CD: Liturgia VII, melodia da faixa 19.

 O Salmo responsorial é um dos cantos mais importantes da liturgia da Palavra. É um tipo de leitura da Bíblia. Por isso, é melhor que não seja cantado por todos, mas cantado por uma só pessoa: o salmista. A comunidade toda deverá ouvir atentamente e responder com o refrão. Sendo um canto bíblico, não deverá ser substituído por outro canto. O salmo nos permite dar uma resposta (por isso responsorial) à proposta que Deus nos faz na primeira leitura. Por isso ele é compromisso de vida. Ou como diz o profeta Isaias 55,10-11: “A chuva cai e a terra responde com frutos”. Deus fala e a comunidade responde na fé, na esperança e no amor. Além da resposta, o Salmo atualiza a primeira leitura para a comunidade celebrante. Valorizar bem o ministério do salmista.

5. Aclamação ao Evangelho. Produzir fruto em Cristo (João 15,4a.5b.). “Aleluia... Ficai em mim, e eu em vós hei de ficar, diz o Senhor; quem em mim permanece, esse dá muito fruto”, CD: Liturgia VII melodia igual a faixa 17. O canto de aclamação ao evangelho acompanha os versos que estão no Lecionário Dominical.

6. Apresentação dos dons. A escuta da Palavra e colocá-la em prática, deve eliminar da assembléia a hipocrisia, para que ela se torne sensível ao próximo, sobretudo os mais necessitados. A partilha nos torna sinal vivo do Senhor. “Bendito seja Deus Pai, do universo criador”, CD: Liturgia VII, melodia da faixa 12.

7. Canto de comunhão. “Muito bem, servo bom e fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da minha alegria”, Mateus 25,21.23. Somos felizes quando participamos da alegria de Jesus Cristo colocando em prática os talentos que Ele nos confia. “Muito bem, servidor tão fiel! que tão pouco tão bem governou! Muito mais eu lhe vou confiar! Minh’alegria você conquistou, conquistou, conquistou, conquistou”, articulado com o Salmo 61/62, CD: Liturgia VII, melodia da faixa 18 exceto o refrão. A liturgia também nos oferece outra ótima opção: “A minha felicidade é estar com Deus!”, Salmo 72/73,28, Hinário Litúrgico III da CNBB, pág. 390-396.

O canto de comunhão deve retomar o sentido do Evangelho de cada Domingo. Esta é a sua função ministerial. Na realidade, aquilo que se proclama no Evangelho nos é dado na Eucaristia, ou seja: é o Evangelho que nos dá o “tom” com o qual o Cristo se dirige a nós em cada celebração eucarística reforçando estes conteúdos bíblico-litúrgicos, garantindo ainda mais a unidade entre a mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia. Isto significa que comungar o corpo e sangue de Cristo é compromisso com o Evangelho proclamado. Portanto, o mesmo Senhor que nos falou no Evangelho, nós o comungamos no pão e no vinho. É de se lamentar que muitas vezes são escolhidos cantos individualistas de acordo com a espiritualidade de certos movimentos, descaracterizando a missionariedade da liturgia. Toda liturgia é uma celebração da Igreja e não existem ritos para cada movimento e nem para cada pastoral. Cantos de adoração ao Santíssimo, cantos de cunho individualista ou cantos temáticos não expressam a densidade desse momento.
8- O ESPAÇO CELEBRATIVO

1. Usar, no arranjo, flores coloridas, a fim de demonstrar a harmonia desejada para o Reino (evitar excessos, mas caprichar na harmonia). A alegria do Senhor deve estar bem evidente no espaço celebrativo.

9. AÇÃO RITUAL

Nos ritos da celebração, é preciso sentir a alegria do Senhor que nos convida a participar dela plenamente, alegria que nunca se acaba.

Ritos Iniciais

1. Sugerimos, para esta celebração, a saudação presidencial “d” que retoma elementos importantes citados na homilia acima: esperança, alegria e fé. A saudação paulina (Romanos 15,13) vai ajudar a evidenciar o mistério celebrado:

“O Deus da esperança, que nos cumula de toda alegria e paz em nossa fé, pela ação do Espírito Santo, esteja convosco”.

2. Após o sinal da cruz e a saudação do presidente, as comunidades que já deixaram de fazer comentário antes do canto de abertura, porque entenderam o rito da Igreja e a primazia da saudação (Palavra de Deus que nos convoca), podem propor o sentido litúrgico com palavras semelhantes a estas:

Neste Domingo dos talentos o Senhor, a quem esperamos com alegria e atenção, confiou-nos um grande talento: sua própria vida, celebrada e comungada na reunião fraterna, na escuta da Palavra, na partilha dos dons santificados. Mas tal dádiva não deve ser recebida em vão, deve frutificar para a vida da comunidade e da humanidade, encaminhando-nos todos para a comunhão das alegrias celestes.

3. Após o sinal da cruz, a saudação presidencial e o sentido da celebração, fazer a recordação da vida trazendo os fatos que são as manifestações da Páscoa do Senhor na vida. A equipe pode criativamente ajudar a comunidade a recordar acontecimentos e pessoas em que se reconhece hoje a passagem libertadora de Deus. Trazer os acontecimentos de maneira orante e não como noticiário.

4. Segue-se com o convite ao Ato Penitencial, que pode ser realizado com a segunda fórmula: “No início desta celebração eucarística, peçamos a conversão do coração, fonte de reconciliação e comunhão com Deus e com os irmãos” (Missal Romano página 391). Após uns momentos de silêncio executar a fórmula 4 para os Domingos do Tempo Comum, página 394 do Missal Romano.

5. Cada Domingo é Páscoa Semanal, canta com exultação o Hino de louvor (glória).

6. A oração do dia começa exaltando o poder e a misericórdia de Deus e nos garante que só teremos felicidade completa servindo a Deus. 

Rito da Palavra

1. Cada vez mais, cai em desuso os chamados “comentários” antes das leituras. A escuta da Palavra seja preparada por um refrão meditativo que pode ser retomado após a homilia: “Deus é amor, arrisquemos viver por amor. Deus é amor, Ele afasta o medo”, da comunidade de Taizé, gravado no CD: “Coração confiante”, editora Paulinas. Próprio para este Domingo. O medo faz com que escondemos os talentos.

2. As preces da comunidade, podem ser realizadas em forma de Ladainha, seguindo a proposta que oferecemos:

Presidente: Irmãos e irmãs, invoquemos o Senhor nosso Deus, para que se compadeça de nós e nos ajude a sermos comunidade operosa e fecunda, enquanto aguardamos a sua vinda. Digamos juntos:
VINDE, SENHOR JESUS.

Leitor: Vinde, Senhor, instaurar definitivamente o vosso Reino e eliminar do nosso meio a injustiça e a maldade.
Leitor: Vinde, Senhor, quando nossos esforços e lutas não resultarem em todo bem que poderíamos ter feito.
Leitor: Vinde, Senhor, toda vez que a preguiça, o medo, o desânimo e a desilusão nos paralisarem.
Leitor: Vinde, Senhor, inaugurar novo tempo de paz, de fraternidade, de convívio e de respeito.
Leitor: Vinde, Senhor, conduzir a humanidade ao festim das alegrias de vossa casa.
Leitor: E se algum dia for tímido o nosso agir, escura nossa lucidez, triste nossa expressão e frágil o nosso amor, não desistais de nós e ouvi a nossa súplica.
Pode-se elaborar outras suplicas de acordo com a vida da comunidade.

Presidente: Senhor, vós vindes sempre ao nosso encontro, inclinando seus ouvidos aos nossos pedidos e oferecendo-vos como nosso maior dom. Acolhei solícito as nossas súplicas e vinde logo nos salvar. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

Rito da Eucaristia

1. Valorizar o momento da preparação das ofertas. Em vez de simplesmente realizar a coleta, organizar uma procissão, convidando cada um para que traga, diante do Senhor, os frutos do seu trabalho.

2. Quem preside reze, em voz alta, ou cante a oração que bendiz a Deus pelo pão e pelo vinho. Nelas destaca-se que são fruto da terra (videira) e do trabalho humano (dom e trabalho), e se tornarão sacramento da nossa salvação

3. A oração sobre as oferendas destaca o valor da graça de servir a Deus e a recompensa de uma eternidade feliz.

4. Toda a Oração Eucarística seja bem participada pela assembléia, com atitude de louvor e de oferenda de sua vida e talentos, com Cristo, ao Pai. O Amém final seja vibrante, cantado e acompanhado pelo gesto das mãos em oferta.
5. Os prefácios deveriam ser escolhidos sempre em consonância com o Mistério celebrado em cada ocasião, evitando a escolha dos textos genéricos. Para tanto, deve-se observar o conteúdo do embolismo, parte central do Prefácio. Além de ter o núcleo desta parte da Oração Eucarística, será aí que encontraremos maior ou menor sintonia com as outras partes da celebração, no que se refere aos focos do Mistério celebrado: leituras bíblico-litúrgicas, eucologia e demais elementos como hinos, antífonas, etc.

6. Seguindo esta lógica, sugerimos que se escolha o Prefácio dos Domingos do Tempo Comum VI, cujo embolismo reza: “Em vós vivemos, nos movemos e somos. E, ainda peregrinos neste mundo, não só recebemos, todos os dias, as provas do vosso amor de Pai, mas também possuímos, já agora, a garantia da vida futura”. Nosso grifo no texto identifica aqueles elementos em maior consonância com o Mistério celebrado neste Domingo e que pode ser aproveitado na própria, ao modo de mistagogia. Ou a Oração Eucarística para Diversas Circunstâncias II “Deus conduz sua Igreja pelo caminho da salvação”, que apresenta a comunidade como peregrina neste mundo, sempre acompanhada de Cristo e orientada para o Reino. Esta Oração Eucarística e o Prefácio VI trazem a tônica escatológica, afinada ao conjunto da liturgia deste Domingo.

Ritos Finais

1. Na oração depois da comunhão pedimos a Deus que a Eucaristia celebrada na memória de Cristo nos faça crescer na caridade.

2. Para a bênção final sugerimos a oração sobre o povo número 22 do Missal Romano, página 534 (seção após as bênçãos solenes).

3. As palavras do rito de envio podem estar em consonância com o mistério celebrado: Sejais servos bons e fiéis. Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe.

4. É comum além, de entrar em procissão no início da celebração guiados pela cruz, também retirar-se do espaço sagrado em procissão, igualmente guiados pela cruz.

10- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Enquanto esperam a vinda do Senhor, vemos os cristãos entregues a múltiplos afazeres nos quais põem em funcionamento o dinamismo da generosidade ativa. Estão ocupados, não por força, mas com alegria, com a causa do Reino. Seu coração não desfalece. Não se apegam às coisas adquiridas ou a falsas aquisições.

O objetivo da Igreja e da nossa equipe diocesana de liturgia é ajudar os padres e as comunidades de nossa diocese e todas aquelas outras comunidades fora de nossa diocese que acessar nosso site celebrar melhor o mistério pascal de Cristo.

Um abraço fraterno a todos
           

pe. Benedito Mazeti

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