Leituras
Êxodo 12,1-8.11-14
Salmo 115/116,12-13.15-116bc.17-18
1Coríntios 11,23-26
João 13,1-15
“E TENDO AMADO OS SEUS QUE ESTAVAM NO
MUNDO AMOU-OS ATÉ O FIM”
1- PONTO DE PARTIDA
Quinta-Feira
Santa da Ceia do Senhor. Com esta celebração, iniciamos o Tríduo Pascal, no
qual fazemos memória do nucleio central de nossa fé: a paixão, morte e
ressurreição de Jesus. No Tríduo Pascal, celebramos a Páscoa de Jesus em três
dimensões. Hoje celebramos a Páscoa da ceia. Amanhã, celebraremos a Páscoa da
paixão. Na Vigília Pascal e no domingo de Páscoa, celebraremos a Páscoa da
ressurreição.
Na Páscoa da
ceia, celebramos o mandato novo de Jesus na ceia que realizou com seus
apóstolos: “Fazei isto em memória de mim”. Naquela celebração pascal, Jesus dá
uma prova concreta de amor por seu povo, pois Ele se doa totalmente a nós. O
centro do rito é uma ceia, com a família reunida, com a comunidade reunida.
E essa doação
e entrega se concretiza no serviço que Jesus presta, simbolizado no gesto do
lava-pés. Isso nos sugere que a partilha di banquete eucarístico deve ser
continuada no serviço fraterno da caridade e na busca da inclusão social.
2- REFLEXÃO BÍBLICA, EXEGÉTICA E LITÚRGICA
Contemplando os
textos
Primeira leitura – Êxodo 12,1-8.11-14.
É a narrativa de como os judeus deviam celebrar a Páscoa, ao deixar o Egito. A
origem da está na tradição mais antiga de Israel como povo de pastores.
Imolava-se um cordeiro e tingia-se com seu sangue a porta da tenda para
afugentar o mal, as pragas que poderia acontecer ao rebanho. Com a libertação
do Egito, tornou-se a festa central do Povo de Deus, o dia nacional da
libertação, quando o Senhor, com mão forte e braço estendido, libertou seu povo
da escravidão. “Esse dia será para vocês um memorial permanente” (Êxodo 12,14). Portanto o ritual da Páscoa do Primeiro
Testamento é a transformação de um rito celebrado por nômades por ocasião de
uma festa pastoril da primavera.
A citação
abreviada da fórmula que fala da atuação de Deus “Eu sou o Senhor teu Deus, que
te fez sair do Egito, da casa da servidão” (Êxodo 12,12; cf. Êxodo 20,2),
transforma a celebração da Páscoa em uma revelação atual do Deus de Israel, que
envolve o passado e o futuro de Israel. Por isso, cada celebração nova da ação
libertadora de Deus no passado encerra uma confissão de fé na atuação presente
e um ato de esperança na atuação futura de Deus.
Com relação ao
rito da ceia pascal, o texto nos dá algumas indicações importantes:
- a Páscoa
marca o início de uma nova era, o tempo da libertação. É a vitória do povo
sobre as forças opressoras;
- para que
esta nova era aconteça é preciso que haja partilha (versículo 4);
- é uma festa
que visa a preservação da vida: servirá de sinal para a preservação de Israel
como povo, pois estava ameaçado de desaparecer pela política do Faraó;
- é uma festa
de memória histórica. É celebrada às pressas. Os que dela participam devem
estar preparados para uma longa viagem que os levará para fora do sistema
opressor e os conduzirá a uma nova sociedade baseada na justiça e na liberdade.
Descobrindo em
Jesus o verdadeiro Cordeiro (João 13,1; 18,28) e fazendo coincidir a imolação
dos cordeiros no Templo de Jerusalém com a morte de Cristo (João 9,14.31.42;
1Coríntios 5,6-8), João convida os cristãos a compreenderem que toda doutrina do
rito pascal se consuma no sacrifício de Cristo que, de fato, constitui o povo
definitivo, obtém-lhe verdadeiramente a libertação total do domínio do mal, e
situa o cristão como um peregrino em marcha para a terra prometida (1Pedro
1,17) onde o Cordeiro reinará cercado de todo o povo resgatado por Ele
(Apocalipse 5,6-13; 7,2-17; 12,11; 19,1-9).
Salmo responsorial
116/115,12-13.15-16bc.17-18. O Salmo 116/115 é um canto Eucarístico, ou de
ação de graças. A ação de graças incluiu vários ritos: invocação do Senhor para
o louvor, cumprimento dos votos, testemunho público diante da assembléia; e um
rito com um “cálice de salvação”, talvez para beber. Nos versículos de 15 a 16,
aparece o tema da libertação: a libertação pode ser imagem, pois está unida com
a salvação no perigo de morte.
Mostra de
maneira clara no Salmo um agradecimento de alguém que recebeu de Deus uma
grande graça, a graça da vida, a libertação de alguma doença (versículo 8). Por
isso o salmista, com muita confiança, faz um gesto público de louvor, “erguendo
o cálice da salvação”. Essa pessoa que partilhar com o povo a ação de Deus na
sua vida.
Nossa liturgia
eucarística retomou dois versículos deste Salmo: ma missa oferecemos ao Pai o
sacrifício do seu Filho: é a nossa suprema ação de graças, que Ele aceita; é o
cumprimento dos nossos votos na presença de toda a assembléia eucarística.
Depois participamos deste “cálice da salvação”, invocando o nome do Senhor.
O rosto de
Deus neste Salmo é de um Deus que inclina o ouvido, salva e liberta. É o mesmo
esquema do êxodo: o povo clama, Deus escuta e liberta. E o Deus deste Salmo é o
mesmo do êxodo e da Aliança.
Uma frase
importante do Salmo é: “É sentida por demais pelo Senhor a morte de seus
santos, seus amigos”. Custa para Deus aceitar que a vida de seus fiéis
desapareça prematuramente. Deus sofre quando um de seus servos morre de uma
enfermidade fatal, isto é, sente muito quando a doença acaba com a vida de uma
servo seu. Porque Ele é o Deus da vida.
Foi por isso
que Jesus curou todos os doentes que encontrou em suas viagens missionárias,
vencendo até a própria morte. E por causa disso muitos aprenderam a amar Deus
Pai em Deus Filho.
Com o
salmista, vamos erguer o cálice da libertação, porque, mesmo vivendo no meio
dos conflitos e sofrimentos, experimentamos a alegria da sua presença amorosa
no meio de nós:
O CÁLICE POR
NÓS ABENÇOADO
É ANOSSA
COMUNHÃO COM O SANGUE DO SENHOR.
Segunda leitura – 1Coríntios 11,23-26. De início, o Apóstolo indica as
circunstâncias precisas do acontecimento: “Na noite em que foi entregue o
Senhor Jesus tomou o pão...” (11,23). Ele se refere não à última ceia, mas à noite em que o Cristo foi entregue, noite
que veio à tona a maldade humana, a traição de Judas Iscariotes, a dispersão
dos discípulos, a negação de Pedro, mas, ao mesmo tempo, deu origem ao supremo
gesto de amor de Cristo, a Eucaristia, que sintetiza o todo o sentido de sua
vida e de sua morte.
A
mais antiga narrativa da Ceia do Senhor vem do Apóstolo Paulo. Ele escreveu a
uma comunidade dividida e que não estava ligando a celebração da Ceia à
repartição dos bens e a solidariedade. As comunidades cristãs celebravam a
Eucaristia como memorial da Páscoa de Jesus. O contexto dessa narração nos
mostra como Paulo insiste que não se trata apenas de um rito, mas de uma
prática profunda de comunhão fraterna.
A
Ceia do Senhor é comemoração da morte do Senhor e proclamação de Sua volta.
Participar nesta Ceia pela comunhão do Corpo e Sangue de Cristo é confessar que
a nossa vida repousa sobre novos eixos. Os eixos do pecado e da morte, que
marcaram a existência anterior, foram substituídos pelos eixos do perdão e da vida, fundamentados na
morte e ressurreição de Jesus Cristo. Na morte, Jesus revelou que toda a razão
de ser de sua vida neste mundo era existir para os outros, colocar-se a serviço
dos outros e entregar-se em favor dos outros, isto é, lavar os pés uns dos
outros. Na ressurreição, Deus revelou que este modo de ser-homem é o modo de
existir autentico de toda pessoa humana. Crer nesta morte e ressurreição e
participar nelas pela comunhão do Corpo e Sangue de Cristo morto e
ressuscitado, é reconhecer e abraçar uma mudança radical de existir neste
mundo. A razão de nossa existência será de agora em diante lavar os pés uns dos
outros, isto é, dar a vida pelos outros para assim recebê-la de volta de Deus.
Comungar o Corpo e Sangue de Cristo sem esta mudança é recebê-los indignamente
e “comer e beber a sua própria condenação” (versículo 29).
Evangelho – João 13,1-15. “E o Verbo se
fez carne e habitou entre nós e nós vimos a sua glória...”. Em todo o
ministério público de Jesus (João 2,11: “Este início dos sinais, Jesus o fez em
Cana da Galiléia e manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele”) e
o que é mais surpreendente, esta glória se manifesta na cruz (João 17,1: “Pai,
chegou a hora, glorifica o teu Filho para que o teu Filho glorifique a ti”).
Esta
glorificação acontece mediante a morte, João se refere logo de início em 13,1
(“Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegou a sua hora de passar deste
mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o
fim”).
O
termo “hora” para João não indica um momento determinado do dia, mas possui uma
significação simbólica e teológica e engloba a morte e glorificação do Cristo (João
7,30; 8,20; 17,1).
Na
Quinta-Feira Santa a Igreja une numa mesma celebração litúrgica, a memória do
Lava-pés, da Instituição da Eucaristia e da “primeira ordenação sacerdotal”.
Comparando com as narrações da Última Ceia em Mateus, Marcos e Lucas com a de
João, constata-se que nesta última a memória da Instituição da Última Ceia e da
Nova Aliança no sangue de Jesus foi substituída pela memória do Lava-pés e do
Novo Mandamento. “Como eu lavei os pés de vocês, também vocês devem lavar os
pés uns dos outros (versículo 14), ou em um termo menos figurativo: Como eu os
amei, assim também vocês devem amar uns aos outros” (versículo 34).
Através do
Lava-pés, os apóstolos se tornam participantes da obra salvadora de Cristo: “Se
eu não te lavar, não terás parte comigo” (13,8), esta participação se realiza
em primeiro lugar pelo batismo a que refere 13,10: “Quem se banhou não tem
necessidade de se lavar, porque está inteiramente puro”. Com efeito, através do
batismo, como diz Paulo, o cristão é “sepultado com o Cristo na morte para que,
como o Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim
também nós vivamos vida nova” (Romanos 6,4).
As duas
referências de Judas (versículos 2 e 10) parece, pelo contrário, bastante
importante para a compreensão do texto. Cristo não exclui o traidor do
benefício do rito do Lava-pés; Judas, porém, é um “impuro” e o rito não terá
para ele nenhuma utilidade. Ainda assim essa referência faz surgir o sentido da
leitura: mesmo diante daquele que o trairá, o Senhor se abaixa.
O Evangelho de
João capítulo 13 não fala da Eucaristia, como fazem Mateus, Marcos e Lucas. Em
seu lugar, aparece a cena da narração do Lava-pés, durante a Última Ceia,
quando Jesus celebrou a Páscoa com seus discípulos. Observando bem, João
trabalhou o mistério da Eucaristia de maneira completa no capítulo 6 quando
afirma que Jesus é o “Pão da vida” (João 6,35); “Eu sou o pão que desceu do
céu” (João 6,41); “Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão
viverá eternamente” (João 6,51). O Evangelho de João, escrito no final do
século I da era cristã, não inclui o rito da instituição da Eucaristia (já era
vivência comum nas comunidades cristãs), mas inclui a prática dela decorrente:
o modo como os cristãos deviam relacionar-se uns com os outros – no serviço, no
amor e na gratuidade. O exemplo fantástico é o próprio Jesus que lava os pés
dos discípulos. “Se que eu sou o Mestre e Senhor lavei os seus pés, vocês
também devem lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei o exemplo (...)”
versículos 14-15).
Consciente de
estar realizando o projeto do Pai, Jesus mostra como esse projeto se traduz em
ações concretas que serão a norma da comunidade: despoja-se do manto (sinal da
dignidade do senhor) e pega o avental (toalha: ferramenta do servo). É o Senhor
que se torna servo. De fato, quem devia lavar os pés eram os escravos. Jesus
faz tudo sozinho: derrama água, lava, enxuga. Ao retomar o manto não se diz que
Ele pôs o avental e sim que vestiu o manto por cima. Isso significa que seu
serviço continuará. O Lava-pés de Jesus se prolonga até a cruz e nela tem seu
ponto alto.
Jesus se
entrega, oferece sua vida por nossa libertação. Fazendo a refeição com os seus
discípulos, ensina-nos a abrir o coração no gesto de partilha e comunhão. Comer
do mesmo prato e beber do mesmo copo é exigência para vivermos a irmandade e a
fraternidade. Jesus, porém, vai além do comer juntos. Ao lavar os pés dos
discípulos, repete o gesto dos escravos da época. Rompe assim com o esquema
dominante do seu tempo. Pedro, que acha normal o sistema de dominação, resiste
ao gesto de Jesus, não compreendendo e não aceitando que o Mestre lave os pés
dos discípulos. Lavar os pés é colocar-se a serviço, especialmente na
construção da paz. É sermos solidários com as vítimas das guerras, dos terremotos,
da dengue, da fome e da desigualdade social. É um ato de amor.
3. DA PALAVRA CELEBRADA AO COTIDIANO DA VIDA
A liturgia de
hoje lembra três momentos fundamentais da história da salvação.
Primeiro momento: a Páscoa dos judeus –
jantar comemorativo da libertação do Egito. Eles comiam o cordeiro pascal,
lembrando a mão forte de Javé que os havia libertado (primeira leitura).
Segundo momento: a Páscoa de Jesus –
foi a última ceia de Jesus. Marca o início da celebração da Páscoa Cristã. A
missa vespertina da Quinta-Feira Santa atualiza para nós o gesto prático que
Jesus fez no cenáculo com seus apóstolos. Primeiro, Jesus fez o rito do jantar
dos judeus, recordando a Páscoa judaica: a libertação do Egito, a passagem do
mar Vermelho e a Primeira Aliança ao pé do monte Sinai. Em segundo lugar, nessa
mesma ceia, Jesus fez a passagem para a nova Páscoa, a Nova Aliança, agora
selada no seu sangue derramado e no pão compartilhado, memória que os cristãos
celebram sempre em cada missa. João expressa essa realidade com o rito
simbólico do lava-pés. A Eucaristia leva necessariamente para a prática, parta
o serviço. Todo o contexto da última ceia, conforme Leonardo Boff, aponta para
o martírio: corpo doado, sangue derramado. A instituição da Eucaristia não é um
rito simbólico: nela, Jesus faz a entrega de si mesmo. É um gesto definitivo,
um só (por isso, a missa não renova o sacrifício, mas o traz presente,
tornando-o visível de novo no sacramento).
Terceiro momento: a Páscoa dos cristãos
– na segunda leitura, São Paulo narra a prática dos primeiros cristãos:
reuniam-se nas casas para fazer a memória de Jesus. O grande ensinamento dessa
tradição judeu-cristã é que nós somos chamados para a caminhada da libertação.
Marcados pelo amor de Deus para construirmos um povo novo, nossa vocação é
viver em comunidade, promover a paz, a justiça, a solidariedade: viver a Páscoa
de Jesus, não conformar-se com os valores deste mundo.
O centro da
Quinta-Feira Santa é a instituição da Eucaristia, do sacerdócio cristão a
serviço e o novo mandamento do amor, fundado na não-violência. Nesse tripé está
nosso ideal cristão, nosso sonho de um novo mundo:
·
A instituição da Eucaristia nos lembra a
partilha dos bens. Se todos somos filhos e filhas do mesmo Pai, se todos somos
irmãos, a mesa do mundo deve ser para todos, sem fome, sem miséria, sem
exclusões. Por que o mundo não coloca as potencialidades enormes de riqueza que
tem a serviço da vida? Eis o convite da Eucaristia. Quem comunga sinceramente
deve querer um mundo mais partilhado.
·
O sacerdócio cristão colocado a serviço do povo
nos lembra que o poder deve ser partilhado. Que o maior é aquele que serve. Que
nossa atitude fundamental deve ser a do lava-pés, e não a busca desenfreada das
honras, do prestígio, que acaba dominando os mais fracos. “Se eu que sou Mestre
e Senhor vos lavei os pés...” Esse gesto de Jesus nos mostra como a tão
apregoada democracia, da qual o mundo ocidental tanto fala, não é eucarística,
porque não se põe a serviço, mas concentra sempre mais.
·
O mandamento do amor nos lembra que a atitude
suprema do ser humano, a exemplo de Cristo, é o perdão, a acolhida, a
solidariedade, o empenho pela justiça, da qual vem a paz. Nunca o ódio, o
revide, a violência, a guerra.
“Ao entrar
neste mundo, tão marcado pelas injustiças e pelo ódio, pela segregação e perda
de sentido da vida, Jesus Cristo vem nos ensinar a amar com o amor de Deus e a
sermos felizes”.
O Mestre toma
nas mãos o jarro com água e lava os pés dos discípulos. Veio para servir e faz
questão de nos ensinar a fazer como ele. Ser discípulo é assumir como lema de
cada dia o serviço gratuito aos irmãos e irmãs, a começar pelos mais
necessitados.
A beleza do
amor gratuito está em viver a generosidade e a alegria de Deus que “nos amou
primeiro” e quer o nosso bem antes que nós possamos amá-lo e agradecer-lhe. Os
gestos de amor gratuito não pesam, pois nascem da bondade do coração e alegram
a pessoa que ama no mais profundo de seu ser. A felicidade está em dar (At
20,35), isto é, em experimentar, como fruto da bondade, a beleza de fazer o
bem, de ajudar os outros, a exemplo do próprio Deus. Ao lavar os pés, Jesus
acrescenta: “Sereis felizes, se fizerdes assim” (João 13,17). Para ser feliz
assim, é preciso amar gratuitamente.
4- A PALAVRA DE FAZ CELEBRAÇÃO
A glória da Cruz de
Cristo Jesus
A antífona de
entrada cantada pela assembléia põe em relevo a Cruz afirmando-a como a única
glória dom povo cristão (cf. Gálatas 6,14). Numa feliz versão para essa
antífona, o compositor Pe. Campos articula a Cruz e o mandamento do amor, muito
importante para compreender em que consiste exatamente a glória da cruz: “Nós
nos gloriamos na cruz de nosso Senhor, que hoje resplandece com novo mandamento
do amor”. O amor extremo com o qual Deus, em Jesus, nos ama é o “fundamento” da
cruz e do sacramento que, ritualmente, nos faz dela participantes. Conforme a
Oração do Dia é “banquete do seu amor” que gera a “caridade e a vida”. é neste
sentido que as Constituições Apostólicas (século IV) nos trazem, no texto mais
antigo de uma Anáfora siríaca, o sentido da Cruz de Jesus: “O Juiz foi julgado,
o Salvador foi condenado, o Impassível foi cravado numa cruz e o Imortal, por
natureza, morreu. Ele que faz viver foi sepultado, para libertar do sofrimento
e arrancar da morte aqueles por quem viera, e para quebrar os laços do diabo e
libertar os homens de seus enganos.” A experiência salvadora da Cruz fundada no
amor de Deus, em Jesus, tem por objetivo retirar o Antigo Adão da morte,
recriando-o como nova criatura à imagem do Novo Adão, o Ressuscitado. Para isso
o caminho da Cruz tornou-se para Jesus, uma rota exigente: mergulhou na morte
para dela retirar os que tinham sido por ela encarcerados.
A ação ritual
do Lava-Pés é a demonstração mais silenciosa desta verdade, à qual os cristãos
subordinam sua existência. O primado do amor que se desdobra em caridade, em
auxílio mútuo. Através do serviço que os cristãos e cristãs prestam aos seus
irmãos e irmãs, o bom odor de Cristo se vê espalhado e isso como fruto da
renovação experimentada pelos sacramentos... e estes, sobretudo a Eucaristia,
não podem ser celebrados desconectados deste desdobramento ético vital.
5- LIGANDO A PALAVRA COM A AÇÃO EUCARÍSTICA
No centro da
liturgia eucarística, repetimos e atualizamos as palavras do Apóstolo Paulo:
“Todas as vezes que vocês comem deste pão e bebem deste cálice estão anunciando
a morte do Senhor até que ele venha”.
O mistério da
fé que celebramos na Eucaristia é o mistério pascal da morte e ressurreição do
Senhor Jesus, atuante nas realidades pessoal, comunitária e social. É a
celebração do mistério pascal de Jesus Cristo representado na ação simbólico-ritual com o pão e o
vinho.
Anunciar a
morte do Senhor “até que ele venha” implica para todos nós o compromisso de
transformar nossa vida, de tal forma que se torne eucaristia, sinal de
comunhão.
Como “cume e
fonte”, a celebração eucarística deve nos ajudar a discernir e expressar, na
liturgia, a presença pascal de Cristo em nossa vida pessoal, comunitária e
social; deve nos levar a fazer de toda a nossa vida uma caminhada pascal e a
nos comprometermos com a transformação do mundo.
Quando nos
reunimos para celebrar a Eucaristia, estamos vindo das nossas tribulações e
angústias do dia-a-dia para buscarmos em Cristo força e sustento para nossa
caminhada. Na missa, a Palavra de Deus nos educa e o mistério pascal de Cristo
nos convoca para ofertarmos nossa vida e transformá-la numa oferta agradável a
deus, completando assim o que falta à Paixão de Cristo. Na última ceia,
antecipando sua Paixão, Cristo renovou, no seu sangue, a Primeira Aliança.
Celebrando agora sua memória na missa, estamos nos oferecendo com Cristo,
entrando em comunhão com ele e proclamando sua ressurreição “até que ele
venha”.
6- O LAVA-PÉS
Tradicionalmente
a “ação ritual do lava-pés” evoca o significado profundo da entrega de Jesus,
antecipada e anunciada profeticamente, no sacramento da Eucaristia. Embora
opcional essa ação ritual, costuma ser celebrada em todas as paróquias e
comunidades, é de grande valor e estima por parte dos fiéis. Ele tem duplo significado:
primeiro, é gesto profético que
anuncia a morte de Jesus como Servo Sofredor; Ele realiza um trabalho de
escravo, antecipando sua morte na cruz, que era uma condenação reservada aos
escravos. Segundo, é sinal de sua
doação total, de seu amor. E este amor deverá ser vivido por nós, seus
discípulos e discípulas, na continuação da missão do Servo do Senhor: “eu dei o
exemplo para que vocês façam a mesma coisa que eu fiz” (João 13,15).
Infelizmente,
em não poucas partes, ganhou aspecto bastante teatral, sobretudo quando a
comunidade não é envolvida e assiste como expectadora a um grupo que se veste
como apóstolos. Não é preciso que as pessoas se vistam com figurino da época,
mas assumam a “psicologia” dos personagens.
Escolher
pessoas engajadas na pastoral, ou outras que prestam um serviço significativo,
ou, ainda, pessoas ligadas com o tema da CF deste ano; não é necessário que os
“apóstolos” sejam homens, nem que sejam em número de doze (é preciso evitar que
o Lava-pés se pareça com teatro ou folclore).
7- PARA A TRASLADAÇÃO DO PÃO EUCARÍSTICO
Após a oração
pós-comunhão, o pão eucarístico é levado até a capela do Santíssimo, para ser
guardado no tabernáculo (sacrário). O objetivo primeiro é guardar o pão
necessário para a comunhão na Sexta-Feira Santo, já que nesse dia não haverá
celebração eucarística. No entanto, criou-se em torno deste gesto simples uma
prática de adoração eucarística que, até o Concílio Vaticano II, parecia às
vezes mais importante que a própria missa. Isso é característico do “culto
eucarístico” que se foi desenvolvendo a partir da Idade Média, lá pelos séculos
XII e XIII, quando nasceu a teologia da presença real de Jesus na Eucaristia
para combater os protestantes (já não mais entendida como ceia pascal). Com
aquela teologia, vieram as devoções eucarísticas: ver e contemplar a hóstia,
expor e adorar o Santíssimo, fazer hora santa, organizar procissões... Com a
renovação conciliar houve uma tentativa de retomar a teologia bíblica da
Eucaristia como ceia pascal, com ação de graças, fração do pão, comunhão de
todo o povo de Deus no pão e no vinho, em memória de Jesus. Mas, na Quinta-Feira
Santa, alguma coisa ficou das devoções em torno do “Santíssimo”: procissão
solene com o pão eucarístico, com velas e incenso; incensação do “Santíssimo”;
adoração do Santíssimo, ainda que não mais exposto no “ostensório” como
antigamente, mas guardado no sacrário; não mais com adoração solene até a
celebração na tarde da Sexta-Feira Santa, mas estendendo-se até a meia noite...
O destaque na Sexta-Feira Santa é a Cruz e não adoração do Santíssimo.
O momento de
adoração pode ser deixado à iniciativa pessoal. Em algumas comunidades é
costume organizar horários para determinados grupos. Neste caso, é bom pensar
em algum roteiro que possibilite meditar sobre a Eucaristia, mistério central
de nossa fé. Como fazer isso?
Antes de tudo,
vamos lembrar que “... a celebração da Eucaristia no sacrifício da Missa é a
origem e o fim do culto que lhe é prestado fora da Missa (Introdução
Eucharisticum Mysterium, nº 3. De modo que, tanto a devoção particular como o
culto público ao Santíssimo Sacramento, deve estar no prolongamento daquilo que
celebramos na liturgia eucarística: o mistério da morte-ressurreição do Senhor,
celebrado em ação de graças, em doação e súplica, participando da morte e
ressurreição do Senhor, vivendo na intimidade da comunhão com Ele. Outra
espiritualidade eucarística não há.
Poder-se-ia
organizar momentos de adoração com textos bíblicos, cantos, orações, refrões. O
silêncio também é muito importante. Os textos bíblicos poderiam ser os
seguintes:
* 1Reis 19,4-8;
* 1Coríntios 11,17-34;
* João 13, 1-15. 15-30.31-38;
* João 14,1-10.11-14;
* João 15,12-17.18-25;
* João 17,1-26.
Outra opção para a Vigília Eucarística é a
leitura pausada de João 14-17 e intercalada por cantos e salmos. Do capítulo 14
a 17 de João, o contexto é de Última Ceia.
Cantos significativos para este
momento comunitário ver em Música Ritual, nº
8.
Outra opção interessante são os
refrões de Taizé.
8. ORIENTAÇÕES GERAIS
1. Prepare-se
uma capela lateral para a reposição do Santíssimo Sacramento e para a vigília
eucarística.
2. O Tríduo
Pascal começa com a celebração da Missa da Ceia do Senhor. A celebração é
festiva: usa-se o branco, flores, incenso e canta-se o hino de louvor (glória).
O “aleluia” continua reservado para ser cantado apenas na Vigília Pascal.
3. Para a
preparação da celebração é essencial a leitura do Missal, e do Lecionário, para
o conhecimento das leituras, das orações, rubricas e orientações.
4. A
celebração da Ceia do Senhor, nesta Quinta-Feira Santa, rememora o amor,
fundamento da vida e obra de Jesus. A participação neste banquete, que também
pode ser lida como “sacrifício” por seu vínculo estreito com a entrega de si
mesmo, antecipada no pão e vinho abençoados, nutre na comunidade dos fiéis a
vocação para o serviço mútuo.
5. Aqui vão
sugestões para os cantos desta noite. “Quanto a nós, devemos gloriar-nos na
cruz...”, Hinário Litúrgico II da CNBB, página 45; “Ninguém pode orgulhar a não
ser nisto...” Hinário Litúrgico II da CNBB, página 45; “Onde o amor e a
caridade Deus ai está”, Hinário Litúrgico II da CNBB, página 274 ou Ofício
Divino das Comunidades, página 323; “Quanto tempo eu desejei...” Hinário
Litúrgico II da CNBB, página 288 ou Ofício Divino das Comunidades, página 324;
“Jesus erguendo-se da Ceia...”, Hinário Litúrgico II da CNBB, página 238;
“Jesus ergueu-se da ceia...”, Hinário Litúrgico II da CNBB, página 239; “Hoje é
festa, diz o povo...”, Hinário Litúrgico II da CNBB, página 232 e Ofício Divino
das Comunidades, página 322; “Eu quis comer esta ceia agora...” Hinário
Litúrgico II da CNBB, página 224.
6. Este
repertório indicado está gravado nos CD’s “Tríduo Pascal I” e “Tríduo Pascal
II”.
7. A cor das
vestes litúrgicas é o branco
8. No início
da Celebração Eucarística (Ceia do Senhor), o Tabernáculo (sacrário) deve estar
vazio e a porta aberta.
9. É costume
em alguns lugares canta o Hino de louvor (Glória) acompanhado do toque de
sinos. Os instrumentos também podem ser tocados durante este hino; depois
permanecerão guardados até o Glória na Vigília Pascal.
10. Fazer uma
acolhida fraterna e calorosa às pessoas que vem a celebração. O presidente e a
equipe litúrgica recebem os fiéis.
11. Nesta
celebração, é importante que haja participação dos catequistas, dos pais e das
crianças ou adolescentes que estão sendo iniciados para a Eucaristia. Na semana
após a Páscoa, é oportuno haver uma catequese sobre o significado dos ritos
realizados nesta celebração.
12. Na
homilia, levar a Vigília junto do Santíssimo Sacramento. Essa Vigília não deve
ultrapassar a meia-noite. Usar os subsídios que estão no Manual da Campanha da
Fraternidade.
13. Não há o
Creio nesta missa.
14. Em vez de
“galheta” com vinho, usem uma jarra com vinho suficiente para dar a comunhão no
vinho a todos; assim irá se realizar mais plenamente o sinal que o Cristo nos
deixou (Introdução Geral do Missal Romano, nn. 240-252).
15. O memorial
do mistério pascal de Cristo, segundo a ordem do Senhor, se realiza “fazendo o
que ele fez naquela ceia derradeira”: “Tomou o pão” (preparação dos dons),
“pronunciou a bênção de ação de graças” (oração eucarística ou anáfora),
“partiu o pão” (fração do pão) “e deu a seus discípulos” (comunhão).
16. Para
preparar a mesa, trazendo em procissão o pão e o vinho, cante-se aquele hino à
Caridade proposto pelo Missal Romano (CD: Tríduo Pascal I).
17. A oração
eucarística é a oração do povo sacerdotal chamado a celebrar a Aliança que
Deus, seu parceiro, estabeleceu por meio da Páscoa de seu Filho. Fazem-se
necessários o conhecimento e o aprofundamento de seu sentido e estrutura
literário-teológica como a confissão da fidelidade de Deus e da fragilidade
humana. A oração eucarística é um todo, cuja unidade de estrutura e gênero
literário deve ser respeitada. Vale lembrar que apenas a oração eucarística I e
a III não têm prefácio próprio e a oração eucarística II admite troca de
prefácio. As demais orações eucarísticas são uma unidade inseparável.
18. Deve-se
consagrar pão (ou hóstias) suficiente para a Quinta-Feira Santa e para o dia
seguinte, já que na Sexta-Feira Santa não haverá missa, mas somente
distribuição da comunhão.
19. No final
da celebração, devem ser retiradas as toalhas do altar e, se possível, as
cruzes da igreja; (Se não for possível tirá-las, poderão ser veladas, para que
na celebração da Sexta-Feira só apareça uma única cruz.
20. A equipe
de liturgia ou o sacristão(a) não devem esquecer de preparar bacia, jarra,
toalhas, cadeiras para o Lava-Pés; cruz processional (turíbulo ou incensório de
cerâmica com incenso); véu de ombro; tochas acesas para a procissão com o
Santíssimo; pano para cobrir as cruzes.
21. Atenção! É
bom lembrar que o Lava-pés e a adoração do Santíssimo são ritos complementares.
O mais importante é a celebração eucarística, sem ela não haveria adoração do
Santíssimo.
22. No território das paróquias
onde houver reserva eucarística, essas devem ser recolhidas e levadas à Igreja
para serem consumidas. Na Missa a comunhão a ser distribuída deve ser aquela
que foi consagrada na própria celebração. Cuide-se que, nos casos extremos,
haja comunhão apenas para os irmãos moribundos.
9. MÚSICA RITUAL
O canto é
parte necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para
animar ou enfeitar a celebração. Por isso devemos cantar a liturgia e não
cantar na liturgia. Os cantos e músicas, executados com atitude espiritual e,
condizentes com o tempo litúrgico, com cada domingo, com as festas ou com a
liturgia de um dia especial, ajudam a comunidade a penetrar no mistério
celebrado. Portanto, não basta só saber que os cantos são da Quinta-Feira
Santa, é preciso executá-los com atitude espiritual, isto é, de maneira orante.
A escolha dos cantos deve ser cuidadosa, para que a comunidade tenha o direito
de cantar o mistério celebrado e não cantos que um grupinho ou um movimento
impõe.
1. Canto de abertura. O cristão deve gloriar-se na cruz de
Cristo (Gálatas 6,14). “Quanto a nós, devemos gloriar-nos na cruz...”, CD:
Tríduo Pascal – I, melodia da faixa 1; “Ninguém pode orgulhar a não ser
nisto...” CD: Tríduo Pascal – I, melodia da faixa 2.
2. Hino de louvor. “Glória a
Deus nas alturas...” Vejam o CD: Tríduo
Pascal I e II e também no CD: Festas Litúrgicas, Partes fixas do Ordinário da
Missa do Hinário Litúrgico III da CNBB e também a versão da CNBB musicado por
Irmã Miria e outros compositores.
3. Salmo responsorial
116/115; cf. 1Coríntios 10,16. O
cálice da bênção. “O cálice por nós abençoado” CD: Tríduo Pascal – I,
melodia da faixa 4.
4. Aclamação ao Evangelho: O novo mandamento (João 13,34). O
cristão está sempre em obediência a Cristo. “Eu vos dou um novo mandamento”, CD: Tríduo
Pascal – I, melodia da faixa 5.
5. Canto para acompanhar a ação ritual do Lava-pés. “Quanto
tempo eu desejei...” Hinário Litúrgico II da CNBB, página 288, uma guarânia
muito bonita; “Jesus erguendo-se da Ceia...”, CD: Tríduo Pascal – I, melodia da
faixa 6; “Jesus ergueu-se da ceia...”, CD: Tríduo Pascal – I, melodia da faixa
7.
6. Canto de apresentação
dos dons: O canto de apresentação das oferendas, conforme orientamos em
outras ocasiões, não necessita versar sobre pão e vinho. Seu tema é o mistério
que se celebra acontecendo na fraternidade da Igreja reunida em oração na
Quinta-Feira Santa. Não resta dúvida de que o canto mais apropriado para esta
ação ritual seja este: “Onde o amor e a caridade Deus ai está...”, CD: Tríduo
Pascal – I, melodia da faixa 8.
7. Canto
de comunhão: 1Coríntios 11,24-25. Palavras da instituição da Ceia da despedida. “Eu quis comer esta ceia
agora...”, CD: Tríduo Pascal – I, melodia da faixa 9; “Hoje é festa, diz o
povo...”, CD: Tríduo Pascal – I, melodia da faixa 10; “Nós somos muitos, mas
formamos um só corpo...”, CD: Cantos de Abertura e Comunhão, melodia da faixa
6, ou Hinário Litúrgico III, página 300.
O canto de
comunhão deve retomar o sentido do Evangelho desta noite. Esta é a sua função
ministerial. Na realidade, aquilo que se proclama no Evangelho nos é dado na
Eucaristia, ou seja: é o Evangelho que nos dá o “tom” com o qual o Cristo se
dirige a nós em cada celebração eucarística reforçando estes conteúdos
bíblico-litúrgicos, garantindo ainda mais a unidade
entre a mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia. Isto significa que comungar
o corpo e sangue de Cristo é compromisso com o Evangelho proclamado. Portanto,
o mesmo Senhor que nos falou no Evangelho, nós o comungamos no pão e no vinho.
8. Cantos para o momento da adoração do
Santíssimo. “Vamos todos louvar juntos...”, Hinário Litúrgico II da
CNBB, página 301; “Prova de amor maior não há...”, Hinário Litúrgico II da
CNBB, página 286; “Deus de amor, nós te adoramos neste sacramento...”, Ofício
Divino das Comunidades, página 326; “Onde o amor e a caridade...”, CD Tríduo
Pascal – I, faixa 8.
10- O ESPAÇO DA CELEBRAÇÃO
1. O ambiente
da celebração deve ser realmente o de uma refeição festiva. Onde for possível,
dispor os bancos ou cadeiras em semicírculo ao redor da mesa do Altar. Preparar
o ambiente com toalhas brancas, muitas flores, 12 velas, pão ázimo e vinho.
2. Neste dia
voltam as flores, a cor branca e o hino de louvor “Glória a Deus”, mas ainda
não se canta o “Aleluia”.
3. A cruz é
uma peça importante nas celebrações do Mistério Pascal do Senhor. Ela é
entendida pela Instrução Geral do Missal Romano como um elemento que deve
recordar aos fiéis o acontecimento da fé ali celebrado.
4.
O simbolismo da cruz traz presente o anúncio da paixão e ressurreição do Senhor
principalmente nesta Quinta-Feira Santa. O canto de abertura deixa claro que
não se separa a Ceia da Cruz. A cruz processional, a mesma que será usada na
procissão de abertura, esteja na entrada da Igreja, por onde todos passam. É
uma forma de trazer presente o mistério que será celerado. Ela pode ficar aí
até o início da celebração, ladeada de velas e flores, de forma que chame a
atenção de todos os que vão chegando para a celebração.
5. “Os
detalhes merecem cuidado especial, pois nunca devem se sobrepor ao essencial.
As flores, por exemplo, não são mais importantes que o altar, o ambão e outros
lugares simbólicos. Nem a toalha é mais importante que o altar. Os excessos
desvalorizam os sinais principais. A sobriedade da decoração favorece a
concentração no mistério celebrado” (Guia Litúrgico Pastoral, página 110).
11. AÇÃO RITUAL
A celebração
da Ceia do Senhor, nesta Quinta-Feira Santa, rememora o amor, fundamento da
vida e obra de Jesus. A participação neste banquete, que também pode ser lida
como “sacrifício” por seu vínculo estreito com a entrega de si mesmo,
antecipada no pão e vinho abençoados, nutre na comunidade dos fiéis a vocação
para o serviço mútuo.
Ritos Iniciais
1. Na
procissão de entrada, podem participar, além do presidente da celebração, os
ministros da Eucaristia, os participantes do lava-pés. Levar, além da Cruz
Processional, bacia, jarra de água, toalha, flores e velas. Também as pessoas
que estão se preparando para os Sacramentos da Iniciação Cristã, podem
ingressar junto com os ministros e o presidente.
2. A antífona
do Missal Romano nos traz uma versão livre de Gálatas 6,14: “A cruz de nosso
Senhor Jesus Cristo deve ser nossa glória: nele está a nossa vida e
ressurreição; foi ele que nos salvou e libertou”. Na procissão de entrada
trazer, como de costume, à frente, a Cruz Processional, ornada discretamente
nesse caso, com uma flor pequena, mas que não tire a visão da Cruz.
3. Após a
saudação inicial, fazer o acendimento das velas do candelabro. Cada grupo de
catequese ou pastoral presente pode acender uma vela do candelabro, expressando
com quem quer estar em comunhão nesta Páscoa. Outra possibilidade é, ao acender
as velas, fazer a recordação da vida, lembrando o caminho pascal realizado pela
comunidade ao longo da Quaresma e da Campanha da fraternidade.
4. Após a
saudação presidencial, um diácono ou um ministro devidamente preparado,
introduz a assembléia no mistério celebrado com estas palavras semelhantes:
Celebramos a instituição da eucaristia, do
sacerdócio cristão e a entrega do mandamento do amor. Os cristãos devem
celebrar a Ceia como expressão de sua existência vivida na entrega amorosa e
voluntária de si mesmos pela salvação do mundo, sobretudo pelos que mais
sofrem. O Senhor nos transmitiu seu mandamento, devolvamos aquilo que recebemos
em gestos que traduzam a própria vida do Senhor.
4. O Hino de
louvor deve ser executado com exultação e alegria pelo início das festividades
da Páscoa.
5. Na Oração
do Dia, reunidos para a Santa Ceia, contemplamos o Cristo que deu à sua Igreja
o sacrifício eucarístico, como banquete do seu amor.
Rito da Palavra
1. Antes de
ler, é preciso primeiro mergulhar na Luz da Palavra, rezar a Palavra. Pois, “na
liturgia da Palavra, Cristo está realmente presente e atuante no Espírito
Santo. Daí decorre a exigência para os leitores, ainda mais para quem proclama
o Evangelho, de ter uma atitude espiritual de quem está sendo porta-voz de Deus
que fala ao seu povo”.
2. Como
sempre, a proclamação das leituras e o canto do Salmo terá preparação esmerada
e garantirá que se manifeste a unidade das duas mesas, da Palavra e da
Eucaristia, na celebração de abertura do Tríduo Pascal.
Rito do Lava-Pés
1. Para o rito
da lava-pés, seria muito conveniente escolher pessoas engajadas na comunidade:
jovens, casais, catequistas, idosos, etc.
1) Depois da
homilia um breve tempo de silêncio;
2) O
presidente se aproxima, cinge-se toma a bacia com água e lava os pés dos
dos discípulos.
3)
Depois de lavar os pés dos discípulos, o presidente passa a bacia e a tolha
para
os jovens para que eles lavem
os pés de algumas pessoas.
4)
O canto para acompanhar esta ação ritual pode ser aquela Guarânia bem
conhecida do Pe. Élio Atahíde:
“Quanto tempo eu desejei com vocês unir-me
nessa refeição”!, Hinário
Litúrgico II da CNBB, página 288.
Rito da Eucaristia
1. Deixar o
Altar sem toalhas até o início da liturgia eucarística. Duas ou três pessoas
(donas de casa, catequistas, jovens, casais, por exemplo) preparam o Altar à
vista da assembléia dando o caráter de Ceia: toalha, prato (patena), cálice,
pão e vinho.
2. Seria muito
bom que se cantasse, na apresentação das oferendas, o texto proposto pelo
Missal Romano: “Onde o amor e a caridade, Deus aí está”.
3.
Neste dia, tão especial para a Igreja, abertura do Tríduo Pascal, sugerimos, ao
invés de partículas que pouco manifestam o caráter de “alimento” do sacramento,
o uso de pão ázimo como as partículas, mas feito especialmente para a
celebração. Se não for possível pão ázimo para toda a assembléia, ao menos para
os que estão exercendo ministérios litúrgicos na celebração, para os que
participaram do lava-pés e também para as pessoas engajadas na comunidade.
4. É muito
significativo realizar, na procissão das oferendas, uma coleta para os mais
necessitados como prevê a rubrica do Missal Romano, página 249.
5. Na Oração
sobre as oferendas rezamos que todas as vezes que comemoramos este Mistério,
realiza-se a obra de nossa redenção.
6. Cantar a
Oração Eucarística (ação de graças); cantem ao menos o Prefácio; cantem o
Santo, aclamação eucarística, outras aclamações e o Amém final.
7. A aclamação
eucarística nesse dia poderia retomar o texto da segunda: “Todas as vezes que
comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte
enquanto esperamos vossa vinda”.
8. Nem pelo
tom de voz nem de qualquer outra maneira se isole a narrativa da última ceia do
resto da oração eucarística, como se fosse uma peça à parte.
9. Não se
deter na elevação do pão e do cálice, pois o centro da Oração Eucarística não é
a presença real de Cristo na Eucaristia, mas a ação de graças dirigida em
adoração ao Pai.
10. A
narrativa da instituição da eucaristia não é uma imitação da última ceia; por
isso não se parte o pão neste momento como algumas vezes acontece. A liturgia
eucarística, como se disse, é fazer o que Jesus fez: tomou o pão e o vinho,
deus graças, partiu o pão e o deu (comer e beber). O partir o pão, como Jesus
fez, corresponde à fração do pão em vista da comunhão. Por isso, a Redemptionis
Sacramentum, número 55, considera um abuso partir o pão durante o relato da
instituição.
11. O “amém”
final do por Cristo, em Cristo..., que merece a mesma exultação, é a assinatura
do povo à prece que o ministro ordenado, em nome da Igreja, elevou a Deus por
Cristo, com Cristo, em Cristo, na unidade do Espírito Santo. Pelo menos nesta
Quinta-Feira Santa, aos domingos e dias de festa merece ser cantado.
12. Fazer com
que todos percebam o gesto da fração do pão, acompanhado do canto Cordeiro de
Deus. A fração do Pão antes da comunhão deve ser feita de modo que todos possam
acompanhar este gesto, tão significativo. Não precisa ter pressa. Aguarde-se
que o povo conclua o abraço da paz (se houver) para iniciar a fração do pão com
calma. Inicia-se o hino do “Cordeiro de Deus” só quando começa a fração do pão.
Este hino é muito antigo, feito exatamente para acompanhar esta ação ritual.
Seu sentido é este: vendo o Cordeiro sendo partido e repartido, a assembléia
prorrompe no canto: “Cordeiro de Deus...!
13. Na Oração
depois da comunhão, depois de renovados, com o sacramento do amor, passemos da
Ceia sacramental para a Ceia celestial.
14. Prepara-se
a trasladação do Pão Eucarístico (Omite-se os ritos finais da Missa).
15. O
translado das espécies para uma capela lateral ou outro espaço adequado deve
ser feito no cibório (âmbula), colocado no sacrário que, após uma breve adoração,
deve ser fechado. Inicia-se assim a vigília eucarística, que deve durar
conforme a conveniência da comunidade. O rito não prevê exposição e bênção do
Santíssimo. O Missal também não prevê que a vigília eucarística se estenda até a
meia-noite. Veja a orientação da rubrica: “Os fiéis sejam exortados a adorarem
o Santíssimo, durante algum tempo da noite, segundo as circunstâncias do lugar.
Contudo, após a meia-noite esta adoração seja feita sem nenhuma
solenidade”. O destaque na Sexta-Feira
Santa é a Cruz do Senhor. Que a vigília não se estenda até antes da celebração
da Solene ação litúrgica da Sexta-feira da Paixão. No máximo, prolongue-se até
o amanhecer. Convém criar distinção entre os momentos celebrativos.
12- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta liturgia deve
fazer penetrar, por seu rito e pela palavra que o explica, o sentido salvífico
da Cruz de Cristo, no sentido de que o cristão, aceitando o esvaziamento de
Jesus por nós e associando-se a seu modo de viver e morrer, entra na comunhão
eterna com Ele e com o Pai.
Terminada a
Missa, os cristãos hoje passarão alguns momentos de recolhimento e oração
diante do Santíssimo Sacramento. Nessa adoração silenciosa poderão deixar-se
penetrar das últimas confidencias que o Senhor fez aos seus discípulos antes de
se dirigir ao jardim das Oliveiras, sobretudo seu mandamento único e perfeito:
“Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei!”
O objetivo da
Igreja e da nossa equipe diocesana de liturgia é ajudar os padres e as
comunidades de nossa diocese e todas aquelas outras comunidades fora de nossa
diocese que acessar nosso site celebrar melhor o mistério pascal de Cristo.
Um abraço
fraterno a todos
Pe. Benedito
Mazeti
Assessor
diocesano de Liturgia
Bispado de São José do Rio Preto
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