domingo, 29 de março de 2015

QUINTA-FEIRA DA CEIA DO SENHOR - ANO B

02 de abril de 2015

Leituras

     Êxodo 12,1-8.11-14
     Salmo 115/116,12-13.15-116bc.17-18
     1Coríntios 11,23-26
     João 13,1-15


“E TENDO AMADO OS SEUS QUE ESTAVAM NO MUNDO AMOU-OS ATÉ O FIM”


1- PONTO DE PARTIDA

Quinta-Feira Santa da Ceia do Senhor. Com esta celebração, iniciamos o Tríduo Pascal, no qual fazemos memória do nucleio central de nossa fé: a paixão, morte e ressurreição de Jesus. No Tríduo Pascal, celebramos a Páscoa de Jesus em três dimensões. Hoje celebramos a Páscoa da ceia. Amanhã, celebraremos a Páscoa da paixão. Na Vigília Pascal e no domingo de Páscoa, celebraremos a Páscoa da ressurreição.

Na Páscoa da ceia, celebramos o mandato novo de Jesus na ceia que realizou com seus apóstolos: “Fazei isto em memória de mim”. Naquela celebração pascal, Jesus dá uma prova concreta de amor por seu povo, pois Ele se doa totalmente a nós. O centro do rito é uma ceia, com a família reunida, com a comunidade reunida.

E essa doação e entrega se concretiza no serviço que Jesus presta, simbolizado no gesto do lava-pés. Isso nos sugere que a partilha di banquete eucarístico deve ser continuada no serviço fraterno da caridade e na busca da inclusão social.

2- REFLEXÃO BÍBLICA, EXEGÉTICA E LITÚRGICA

Contemplando os textos

Primeira leitura – Êxodo 12,1-8.11-14. É a narrativa de como os judeus deviam celebrar a Páscoa, ao deixar o Egito. A origem da está na tradição mais antiga de Israel como povo de pastores. Imolava-se um cordeiro e tingia-se com seu sangue a porta da tenda para afugentar o mal, as pragas que poderia acontecer ao rebanho. Com a libertação do Egito, tornou-se a festa central do Povo de Deus, o dia nacional da libertação, quando o Senhor, com mão forte e braço estendido, libertou seu povo da escravidão. “Esse dia será para vocês um memorial permanente” (Êxodo 12,14).  Portanto o ritual da Páscoa do Primeiro Testamento é a transformação de um rito celebrado por nômades por ocasião de uma festa pastoril da primavera.

A citação abreviada da fórmula que fala da atuação de Deus “Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair do Egito, da casa da servidão” (Êxodo 12,12; cf. Êxodo 20,2), transforma a celebração da Páscoa em uma revelação atual do Deus de Israel, que envolve o passado e o futuro de Israel. Por isso, cada celebração nova da ação libertadora de Deus no passado encerra uma confissão de fé na atuação presente e um ato de esperança na atuação futura de Deus.

Com relação ao rito da ceia pascal, o texto nos dá algumas indicações importantes:

- a Páscoa marca o início de uma nova era, o tempo da libertação. É a vitória do povo sobre as forças opressoras;

- para que esta nova era aconteça é preciso que haja partilha (versículo 4);

- é uma festa que visa a preservação da vida: servirá de sinal para a preservação de Israel como povo, pois estava ameaçado de desaparecer pela política do Faraó;

- é uma festa de memória histórica. É celebrada às pressas. Os que dela participam devem estar preparados para uma longa viagem que os levará para fora do sistema opressor e os conduzirá a uma nova sociedade baseada na justiça e na liberdade.

Descobrindo em Jesus o verdadeiro Cordeiro (João 13,1; 18,28) e fazendo coincidir a imolação dos cordeiros no Templo de Jerusalém com a morte de Cristo (João 9,14.31.42; 1Coríntios 5,6-8), João convida os cristãos a compreenderem que toda doutrina do rito pascal se consuma no sacrifício de Cristo que, de fato, constitui o povo definitivo, obtém-lhe verdadeiramente a libertação total do domínio do mal, e situa o cristão como um peregrino em marcha para a terra prometida (1Pedro 1,17) onde o Cordeiro reinará cercado de todo o povo resgatado por Ele (Apocalipse 5,6-13; 7,2-17; 12,11; 19,1-9).

Salmo responsorial 116/115,12-13.15-16bc.17-18. O Salmo 116/115 é um canto Eucarístico, ou de ação de graças. A ação de graças incluiu vários ritos: invocação do Senhor para o louvor, cumprimento dos votos, testemunho público diante da assembléia; e um rito com um “cálice de salvação”, talvez para beber. Nos versículos de 15 a 16, aparece o tema da libertação: a libertação pode ser imagem, pois está unida com a salvação no perigo de morte.

Mostra de maneira clara no Salmo um agradecimento de alguém que recebeu de Deus uma grande graça, a graça da vida, a libertação de alguma doença (versículo 8). Por isso o salmista, com muita confiança, faz um gesto público de louvor, “erguendo o cálice da salvação”. Essa pessoa que partilhar com o povo a ação de Deus na sua vida.

Nossa liturgia eucarística retomou dois versículos deste Salmo: ma missa oferecemos ao Pai o sacrifício do seu Filho: é a nossa suprema ação de graças, que Ele aceita; é o cumprimento dos nossos votos na presença de toda a assembléia eucarística. Depois participamos deste “cálice da salvação”, invocando o nome do Senhor.

O rosto de Deus neste Salmo é de um Deus que inclina o ouvido, salva e liberta. É o mesmo esquema do êxodo: o povo clama, Deus escuta e liberta. E o Deus deste Salmo é o mesmo do êxodo e da Aliança.

Uma frase importante do Salmo é: “É sentida por demais pelo Senhor a morte de seus santos, seus amigos”. Custa para Deus aceitar que a vida de seus fiéis desapareça prematuramente. Deus sofre quando um de seus servos morre de uma enfermidade fatal, isto é, sente muito quando a doença acaba com a vida de uma servo seu. Porque Ele é o Deus da vida.

Foi por isso que Jesus curou todos os doentes que encontrou em suas viagens missionárias, vencendo até a própria morte. E por causa disso muitos aprenderam a amar Deus Pai em Deus Filho.

Com o salmista, vamos erguer o cálice da libertação, porque, mesmo vivendo no meio dos conflitos e sofrimentos, experimentamos a alegria da sua presença amorosa no meio de nós:

O CÁLICE POR NÓS ABENÇOADO
É ANOSSA COMUNHÃO COM O SANGUE DO SENHOR.

            Segunda leitura – 1Coríntios 11,23-26.  De início, o Apóstolo indica as circunstâncias precisas do acontecimento: “Na noite em que foi entregue o Senhor Jesus tomou o pão...” (11,23). Ele se refere não à última ceia, mas  à noite em que o Cristo foi entregue, noite que veio à tona a maldade humana, a traição de Judas Iscariotes, a dispersão dos discípulos, a negação de Pedro, mas, ao mesmo tempo, deu origem ao supremo gesto de amor de Cristo, a Eucaristia, que sintetiza o todo o sentido de sua vida e de sua morte.
           
            A mais antiga narrativa da Ceia do Senhor vem do Apóstolo Paulo. Ele escreveu a uma comunidade dividida e que não estava ligando a celebração da Ceia à repartição dos bens e a solidariedade. As comunidades cristãs celebravam a Eucaristia como memorial da Páscoa de Jesus. O contexto dessa narração nos mostra como Paulo insiste que não se trata apenas de um rito, mas de uma prática profunda de comunhão fraterna.

            A Ceia do Senhor é comemoração da morte do Senhor e proclamação de Sua volta. Participar nesta Ceia pela comunhão do Corpo e Sangue de Cristo é confessar que a nossa vida repousa sobre novos eixos. Os eixos do pecado e da morte, que marcaram a existência anterior, foram substituídos pelos eixos do perdão e da vida, fundamentados na morte e ressurreição de Jesus Cristo. Na morte, Jesus revelou que toda a razão de ser de sua vida neste mundo era existir para os outros, colocar-se a serviço dos outros e entregar-se em favor dos outros, isto é, lavar os pés uns dos outros. Na ressurreição, Deus revelou que este modo de ser-homem é o modo de existir autentico de toda pessoa humana. Crer nesta morte e ressurreição e participar nelas pela comunhão do Corpo e Sangue de Cristo morto e ressuscitado, é reconhecer e abraçar uma mudança radical de existir neste mundo. A razão de nossa existência será de agora em diante lavar os pés uns dos outros, isto é, dar a vida pelos outros para assim recebê-la de volta de Deus. Comungar o Corpo e Sangue de Cristo sem esta mudança é recebê-los indignamente e “comer e beber a sua própria condenação” (versículo 29).
           
            Evangelho – João 13,1-15. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós e nós vimos a sua glória...”. Em todo o ministério público de Jesus (João 2,11: “Este início dos sinais, Jesus o fez em Cana da Galiléia e manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele”) e o que é mais surpreendente, esta glória se manifesta na cruz (João 17,1: “Pai, chegou a hora, glorifica o teu Filho para que o teu Filho glorifique a ti”).

            Esta glorificação acontece mediante a morte, João se refere logo de início em 13,1 (“Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegou a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”).
           
            O termo “hora” para João não indica um momento determinado do dia, mas possui uma significação simbólica e teológica e engloba a morte e glorificação do Cristo (João 7,30; 8,20; 17,1).

Na Quinta-Feira Santa a Igreja une numa mesma celebração litúrgica, a memória do Lava-pés, da Instituição da Eucaristia e da “primeira ordenação sacerdotal”. Comparando com as narrações da Última Ceia em Mateus, Marcos e Lucas com a de João, constata-se que nesta última a memória da Instituição da Última Ceia e da Nova Aliança no sangue de Jesus foi substituída pela memória do Lava-pés e do Novo Mandamento. “Como eu lavei os pés de vocês, também vocês devem lavar os pés uns dos outros (versículo 14), ou em um termo menos figurativo: Como eu os amei, assim também vocês devem amar uns aos outros” (versículo 34).

Através do Lava-pés, os apóstolos se tornam participantes da obra salvadora de Cristo: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo” (13,8), esta participação se realiza em primeiro lugar pelo batismo a que refere 13,10: “Quem se banhou não tem necessidade de se lavar, porque está inteiramente puro”. Com efeito, através do batismo, como diz Paulo, o cristão é “sepultado com o Cristo na morte para que, como o Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova” (Romanos 6,4).

As duas referências de Judas (versículos 2 e 10) parece, pelo contrário, bastante importante para a compreensão do texto. Cristo não exclui o traidor do benefício do rito do Lava-pés; Judas, porém, é um “impuro” e o rito não terá para ele nenhuma utilidade. Ainda assim essa referência faz surgir o sentido da leitura: mesmo diante daquele que o trairá, o Senhor se abaixa.

O Evangelho de João capítulo 13 não fala da Eucaristia, como fazem Mateus, Marcos e Lucas. Em seu lugar, aparece a cena da narração do Lava-pés, durante a Última Ceia, quando Jesus celebrou a Páscoa com seus discípulos. Observando bem, João trabalhou o mistério da Eucaristia de maneira completa no capítulo 6 quando afirma que Jesus é o “Pão da vida” (João 6,35); “Eu sou o pão que desceu do céu” (João 6,41); “Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente” (João 6,51). O Evangelho de João, escrito no final do século I da era cristã, não inclui o rito da instituição da Eucaristia (já era vivência comum nas comunidades cristãs), mas inclui a prática dela decorrente: o modo como os cristãos deviam relacionar-se uns com os outros – no serviço, no amor e na gratuidade. O exemplo fantástico é o próprio Jesus que lava os pés dos discípulos. “Se que eu sou o Mestre e Senhor lavei os seus pés, vocês também devem lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei o exemplo (...)” versículos 14-15).

Consciente de estar realizando o projeto do Pai, Jesus mostra como esse projeto se traduz em ações concretas que serão a norma da comunidade: despoja-se do manto (sinal da dignidade do senhor) e pega o avental (toalha: ferramenta do servo). É o Senhor que se torna servo. De fato, quem devia lavar os pés eram os escravos. Jesus faz tudo sozinho: derrama água, lava, enxuga. Ao retomar o manto não se diz que Ele pôs o avental e sim que vestiu o manto por cima. Isso significa que seu serviço continuará. O Lava-pés de Jesus se prolonga até a cruz e nela tem seu ponto alto.

Jesus se entrega, oferece sua vida por nossa libertação. Fazendo a refeição com os seus discípulos, ensina-nos a abrir o coração no gesto de partilha e comunhão. Comer do mesmo prato e beber do mesmo copo é exigência para vivermos a irmandade e a fraternidade. Jesus, porém, vai além do comer juntos. Ao lavar os pés dos discípulos, repete o gesto dos escravos da época. Rompe assim com o esquema dominante do seu tempo. Pedro, que acha normal o sistema de dominação, resiste ao gesto de Jesus, não compreendendo e não aceitando que o Mestre lave os pés dos discípulos. Lavar os pés é colocar-se a serviço, especialmente na construção da paz. É sermos solidários com as vítimas das guerras, dos terremotos, da dengue, da fome e da desigualdade social. É um ato de amor.

3. DA PALAVRA CELEBRADA AO COTIDIANO DA VIDA

A liturgia de hoje lembra três momentos fundamentais da história da salvação.

Primeiro momento: a Páscoa dos judeus – jantar comemorativo da libertação do Egito. Eles comiam o cordeiro pascal, lembrando a mão forte de Javé que os havia libertado (primeira leitura).

Segundo momento: a Páscoa de Jesus – foi a última ceia de Jesus. Marca o início da celebração da Páscoa Cristã. A missa vespertina da Quinta-Feira Santa atualiza para nós o gesto prático que Jesus fez no cenáculo com seus apóstolos. Primeiro, Jesus fez o rito do jantar dos judeus, recordando a Páscoa judaica: a libertação do Egito, a passagem do mar Vermelho e a Primeira Aliança ao pé do monte Sinai. Em segundo lugar, nessa mesma ceia, Jesus fez a passagem para a nova Páscoa, a Nova Aliança, agora selada no seu sangue derramado e no pão compartilhado, memória que os cristãos celebram sempre em cada missa. João expressa essa realidade com o rito simbólico do lava-pés. A Eucaristia leva necessariamente para a prática, parta o serviço. Todo o contexto da última ceia, conforme Leonardo Boff, aponta para o martírio: corpo doado, sangue derramado. A instituição da Eucaristia não é um rito simbólico: nela, Jesus faz a entrega de si mesmo. É um gesto definitivo, um só (por isso, a missa não renova o sacrifício, mas o traz presente, tornando-o visível de novo no sacramento).

Terceiro momento: a Páscoa dos cristãos – na segunda leitura, São Paulo narra a prática dos primeiros cristãos: reuniam-se nas casas para fazer a memória de Jesus. O grande ensinamento dessa tradição judeu-cristã é que nós somos chamados para a caminhada da libertação. Marcados pelo amor de Deus para construirmos um povo novo, nossa vocação é viver em comunidade, promover a paz, a justiça, a solidariedade: viver a Páscoa de Jesus, não conformar-se com os valores deste mundo.

O centro da Quinta-Feira Santa é a instituição da Eucaristia, do sacerdócio cristão a serviço e o novo mandamento do amor, fundado na não-violência. Nesse tripé está nosso ideal cristão, nosso sonho de um novo mundo:

·         A instituição da Eucaristia nos lembra a partilha dos bens. Se todos somos filhos e filhas do mesmo Pai, se todos somos irmãos, a mesa do mundo deve ser para todos, sem fome, sem miséria, sem exclusões. Por que o mundo não coloca as potencialidades enormes de riqueza que tem a serviço da vida? Eis o convite da Eucaristia. Quem comunga sinceramente deve querer um mundo mais partilhado.

·         O sacerdócio cristão colocado a serviço do povo nos lembra que o poder deve ser partilhado. Que o maior é aquele que serve. Que nossa atitude fundamental deve ser a do lava-pés, e não a busca desenfreada das honras, do prestígio, que acaba dominando os mais fracos. “Se eu que sou Mestre e Senhor vos lavei os pés...” Esse gesto de Jesus nos mostra como a tão apregoada democracia, da qual o mundo ocidental tanto fala, não é eucarística, porque não se põe a serviço, mas concentra sempre mais.
·         O mandamento do amor nos lembra que a atitude suprema do ser humano, a exemplo de Cristo, é o perdão, a acolhida, a solidariedade, o empenho pela justiça, da qual vem a paz. Nunca o ódio, o revide, a violência, a guerra.

“Ao entrar neste mundo, tão marcado pelas injustiças e pelo ódio, pela segregação e perda de sentido da vida, Jesus Cristo vem nos ensinar a amar com o amor de Deus e a sermos felizes”.

O Mestre toma nas mãos o jarro com água e lava os pés dos discípulos. Veio para servir e faz questão de nos ensinar a fazer como ele. Ser discípulo é assumir como lema de cada dia o serviço gratuito aos irmãos e irmãs, a começar pelos mais necessitados.

A beleza do amor gratuito está em viver a generosidade e a alegria de Deus que “nos amou primeiro” e quer o nosso bem antes que nós possamos amá-lo e agradecer-lhe. Os gestos de amor gratuito não pesam, pois nascem da bondade do coração e alegram a pessoa que ama no mais profundo de seu ser. A felicidade está em dar (At 20,35), isto é, em experimentar, como fruto da bondade, a beleza de fazer o bem, de ajudar os outros, a exemplo do próprio Deus. Ao lavar os pés, Jesus acrescenta: “Sereis felizes, se fizerdes assim” (João 13,17). Para ser feliz assim, é preciso amar gratuitamente.

4- A PALAVRA DE FAZ CELEBRAÇÃO

A glória da Cruz de Cristo Jesus

A antífona de entrada cantada pela assembléia põe em relevo a Cruz afirmando-a como a única glória dom povo cristão (cf. Gálatas 6,14). Numa feliz versão para essa antífona, o compositor Pe. Campos articula a Cruz e o mandamento do amor, muito importante para compreender em que consiste exatamente a glória da cruz: “Nós nos gloriamos na cruz de nosso Senhor, que hoje resplandece com novo mandamento do amor”. O amor extremo com o qual Deus, em Jesus, nos ama é o “fundamento” da cruz e do sacramento que, ritualmente, nos faz dela participantes. Conforme a Oração do Dia é “banquete do seu amor” que gera a “caridade e a vida”. é neste sentido que as Constituições Apostólicas (século IV) nos trazem, no texto mais antigo de uma Anáfora siríaca, o sentido da Cruz de Jesus: “O Juiz foi julgado, o Salvador foi condenado, o Impassível foi cravado numa cruz e o Imortal, por natureza, morreu. Ele que faz viver foi sepultado, para libertar do sofrimento e arrancar da morte aqueles por quem viera, e para quebrar os laços do diabo e libertar os homens de seus enganos.” A experiência salvadora da Cruz fundada no amor de Deus, em Jesus, tem por objetivo retirar o Antigo Adão da morte, recriando-o como nova criatura à imagem do Novo Adão, o Ressuscitado. Para isso o caminho da Cruz tornou-se para Jesus, uma rota exigente: mergulhou na morte para dela retirar os que tinham sido por ela encarcerados.

A ação ritual do Lava-Pés é a demonstração mais silenciosa desta verdade, à qual os cristãos subordinam sua existência. O primado do amor que se desdobra em caridade, em auxílio mútuo. Através do serviço que os cristãos e cristãs prestam aos seus irmãos e irmãs, o bom odor de Cristo se vê espalhado e isso como fruto da renovação experimentada pelos sacramentos... e estes, sobretudo a Eucaristia, não podem ser celebrados desconectados deste desdobramento ético vital.

5- LIGANDO A PALAVRA COM A AÇÃO EUCARÍSTICA

No centro da liturgia eucarística, repetimos e atualizamos as palavras do Apóstolo Paulo: “Todas as vezes que vocês comem deste pão e bebem deste cálice estão anunciando a morte do Senhor até que ele venha”.

O mistério da fé que celebramos na Eucaristia é o mistério pascal da morte e ressurreição do Senhor Jesus, atuante nas realidades pessoal, comunitária e social. É a celebração do mistério pascal de Jesus Cristo representado na ação simbólico-ritual com o pão e o vinho.

Anunciar a morte do Senhor “até que ele venha” implica para todos nós o compromisso de transformar nossa vida, de tal forma que se torne eucaristia, sinal de comunhão.

Como “cume e fonte”, a celebração eucarística deve nos ajudar a discernir e expressar, na liturgia, a presença pascal de Cristo em nossa vida pessoal, comunitária e social; deve nos levar a fazer de toda a nossa vida uma caminhada pascal e a nos comprometermos com a transformação do mundo.

Quando nos reunimos para celebrar a Eucaristia, estamos vindo das nossas tribulações e angústias do dia-a-dia para buscarmos em Cristo força e sustento para nossa caminhada. Na missa, a Palavra de Deus nos educa e o mistério pascal de Cristo nos convoca para ofertarmos nossa vida e transformá-la numa oferta agradável a deus, completando assim o que falta à Paixão de Cristo. Na última ceia, antecipando sua Paixão, Cristo renovou, no seu sangue, a Primeira Aliança. Celebrando agora sua memória na missa, estamos nos oferecendo com Cristo, entrando em comunhão com ele e proclamando sua ressurreição “até que ele venha”.

6- O LAVA-PÉS

Tradicionalmente a “ação ritual do lava-pés” evoca o significado profundo da entrega de Jesus, antecipada e anunciada profeticamente, no sacramento da Eucaristia. Embora opcional essa ação ritual, costuma ser celebrada em todas as paróquias e comunidades, é de grande valor e estima por parte dos fiéis. Ele tem duplo significado: primeiro, é gesto profético que anuncia a morte de Jesus como Servo Sofredor; Ele realiza um trabalho de escravo, antecipando sua morte na cruz, que era uma condenação reservada aos escravos. Segundo, é sinal de sua doação total, de seu amor. E este amor deverá ser vivido por nós, seus discípulos e discípulas, na continuação da missão do Servo do Senhor: “eu dei o exemplo para que vocês façam a mesma coisa que eu fiz” (João 13,15).

Infelizmente, em não poucas partes, ganhou aspecto bastante teatral, sobretudo quando a comunidade não é envolvida e assiste como expectadora a um grupo que se veste como apóstolos. Não é preciso que as pessoas se vistam com figurino da época, mas assumam a “psicologia” dos personagens.

            Escolher pessoas engajadas na pastoral, ou outras que prestam um serviço significativo, ou, ainda, pessoas ligadas com o tema da CF deste ano; não é necessário que os “apóstolos” sejam homens, nem que sejam em número de doze (é preciso evitar que o Lava-pés se pareça com teatro ou folclore).

7- PARA A TRASLADAÇÃO DO PÃO EUCARÍSTICO

Após a oração pós-comunhão, o pão eucarístico é levado até a capela do Santíssimo, para ser guardado no tabernáculo (sacrário). O objetivo primeiro é guardar o pão necessário para a comunhão na Sexta-Feira Santo, já que nesse dia não haverá celebração eucarística. No entanto, criou-se em torno deste gesto simples uma prática de adoração eucarística que, até o Concílio Vaticano II, parecia às vezes mais importante que a própria missa. Isso é característico do “culto eucarístico” que se foi desenvolvendo a partir da Idade Média, lá pelos séculos XII e XIII, quando nasceu a teologia da presença real de Jesus na Eucaristia para combater os protestantes (já não mais entendida como ceia pascal). Com aquela teologia, vieram as devoções eucarísticas: ver e contemplar a hóstia, expor e adorar o Santíssimo, fazer hora santa, organizar procissões... Com a renovação conciliar houve uma tentativa de retomar a teologia bíblica da Eucaristia como ceia pascal, com ação de graças, fração do pão, comunhão de todo o povo de Deus no pão e no vinho, em memória de Jesus. Mas, na Quinta-Feira Santa, alguma coisa ficou das devoções em torno do “Santíssimo”: procissão solene com o pão eucarístico, com velas e incenso; incensação do “Santíssimo”; adoração do Santíssimo, ainda que não mais exposto no “ostensório” como antigamente, mas guardado no sacrário; não mais com adoração solene até a celebração na tarde da Sexta-Feira Santa, mas estendendo-se até a meia noite... O destaque na Sexta-Feira Santa é a Cruz e não adoração do Santíssimo.

O momento de adoração pode ser deixado à iniciativa pessoal. Em algumas comunidades é costume organizar horários para determinados grupos. Neste caso, é bom pensar em algum roteiro que possibilite meditar sobre a Eucaristia, mistério central de nossa fé. Como fazer isso?

Antes de tudo, vamos lembrar que “... a celebração da Eucaristia no sacrifício da Missa é a origem e o fim do culto que lhe é prestado fora da Missa (Introdução Eucharisticum Mysterium, nº 3. De modo que, tanto a devoção particular como o culto público ao Santíssimo Sacramento, deve estar no prolongamento daquilo que celebramos na liturgia eucarística: o mistério da morte-ressurreição do Senhor, celebrado em ação de graças, em doação e súplica, participando da morte e ressurreição do Senhor, vivendo na intimidade da comunhão com Ele. Outra espiritualidade eucarística não há.

Poder-se-ia organizar momentos de adoração com textos bíblicos, cantos, orações, refrões. O silêncio também é muito importante. Os textos bíblicos poderiam ser os seguintes:

* 1Reis 19,4-8;
* 1Coríntios 11,17-34;
* João 13, 1-15. 15-30.31-38;
* João 14,1-10.11-14;
* João 15,12-17.18-25;
* João 17,1-26.

Outra opção para a Vigília Eucarística é a leitura pausada de João 14-17 e intercalada por cantos e salmos. Do capítulo 14 a 17 de João, o contexto é de Última Ceia.

Cantos significativos para este momento comunitário ver em Música Ritual, nº  8.

Outra opção interessante são os refrões de Taizé.

8. ORIENTAÇÕES GERAIS

1. Prepare-se uma capela lateral para a reposição do Santíssimo Sacramento e para a vigília eucarística.

2. O Tríduo Pascal começa com a celebração da Missa da Ceia do Senhor. A celebração é festiva: usa-se o branco, flores, incenso e canta-se o hino de louvor (glória). O “aleluia” continua reservado para ser cantado apenas na Vigília Pascal.

3. Para a preparação da celebração é essencial a leitura do Missal, e do Lecionário, para o conhecimento das leituras, das orações, rubricas e orientações.

4. A celebração da Ceia do Senhor, nesta Quinta-Feira Santa, rememora o amor, fundamento da vida e obra de Jesus. A participação neste banquete, que também pode ser lida como “sacrifício” por seu vínculo estreito com a entrega de si mesmo, antecipada no pão e vinho abençoados, nutre na comunidade dos fiéis a vocação para o serviço mútuo.

5. Aqui vão sugestões para os cantos desta noite. “Quanto a nós, devemos gloriar-nos na cruz...”, Hinário Litúrgico II da CNBB, página 45; “Ninguém pode orgulhar a não ser nisto...” Hinário Litúrgico II da CNBB, página 45; “Onde o amor e a caridade Deus ai está”, Hinário Litúrgico II da CNBB, página 274 ou Ofício Divino das Comunidades, página 323; “Quanto tempo eu desejei...” Hinário Litúrgico II da CNBB, página 288 ou Ofício Divino das Comunidades, página 324; “Jesus erguendo-se da Ceia...”, Hinário Litúrgico II da CNBB, página 238; “Jesus ergueu-se da ceia...”, Hinário Litúrgico II da CNBB, página 239; “Hoje é festa, diz o povo...”, Hinário Litúrgico II da CNBB, página 232 e Ofício Divino das Comunidades, página 322; “Eu quis comer esta ceia agora...” Hinário Litúrgico II da CNBB, página 224.

6. Este repertório indicado está gravado nos CD’s “Tríduo Pascal I” e “Tríduo Pascal II”.

7. A cor das vestes litúrgicas é o branco

8. No início da Celebração Eucarística (Ceia do Senhor), o Tabernáculo (sacrário) deve estar vazio e a porta aberta.

9. É costume em alguns lugares canta o Hino de louvor (Glória) acompanhado do toque de sinos. Os instrumentos também podem ser tocados durante este hino; depois permanecerão guardados até o Glória na Vigília Pascal.

10. Fazer uma acolhida fraterna e calorosa às pessoas que vem a celebração. O presidente e a equipe litúrgica recebem os fiéis.

11. Nesta celebração, é importante que haja participação dos catequistas, dos pais e das crianças ou adolescentes que estão sendo iniciados para a Eucaristia. Na semana após a Páscoa, é oportuno haver uma catequese sobre o significado dos ritos realizados nesta celebração.

12. Na homilia, levar a Vigília junto do Santíssimo Sacramento. Essa Vigília não deve ultrapassar a meia-noite. Usar os subsídios que estão no Manual da Campanha da Fraternidade.

13. Não há o Creio nesta missa.

14. Em vez de “galheta” com vinho, usem uma jarra com vinho suficiente para dar a comunhão no vinho a todos; assim irá se realizar mais plenamente o sinal que o Cristo nos deixou (Introdução Geral do Missal Romano, nn. 240-252).

15. O memorial do mistério pascal de Cristo, segundo a ordem do Senhor, se realiza “fazendo o que ele fez naquela ceia derradeira”: “Tomou o pão” (preparação dos dons), “pronunciou a bênção de ação de graças” (oração eucarística ou anáfora), “partiu o pão” (fração do pão) “e deu a seus discípulos” (comunhão).

16. Para preparar a mesa, trazendo em procissão o pão e o vinho, cante-se aquele hino à Caridade proposto pelo Missal Romano (CD: Tríduo Pascal I).

17. A oração eucarística é a oração do povo sacerdotal chamado a celebrar a Aliança que Deus, seu parceiro, estabeleceu por meio da Páscoa de seu Filho. Fazem-se necessários o conhecimento e o aprofundamento de seu sentido e estrutura literário-teológica como a confissão da fidelidade de Deus e da fragilidade humana. A oração eucarística é um todo, cuja unidade de estrutura e gênero literário deve ser respeitada. Vale lembrar que apenas a oração eucarística I e a III não têm prefácio próprio e a oração eucarística II admite troca de prefácio. As demais orações eucarísticas são uma unidade inseparável.

18. Deve-se consagrar pão (ou hóstias) suficiente para a Quinta-Feira Santa e para o dia seguinte, já que na Sexta-Feira Santa não haverá missa, mas somente distribuição da comunhão.

19. No final da celebração, devem ser retiradas as toalhas do altar e, se possível, as cruzes da igreja; (Se não for possível tirá-las, poderão ser veladas, para que na celebração da Sexta-Feira só apareça uma única cruz.

20. A equipe de liturgia ou o sacristão(a) não devem esquecer de preparar bacia, jarra, toalhas, cadeiras para o Lava-Pés; cruz processional (turíbulo ou incensório de cerâmica com incenso); véu de ombro; tochas acesas para a procissão com o Santíssimo; pano para cobrir as cruzes.

21. Atenção! É bom lembrar que o Lava-pés e a adoração do Santíssimo são ritos complementares. O mais importante é a celebração eucarística, sem ela não haveria adoração do Santíssimo.

22. No território das paróquias onde houver reserva eucarística, essas devem ser recolhidas e levadas à Igreja para serem consumidas. Na Missa a comunhão a ser distribuída deve ser aquela que foi consagrada na própria celebração. Cuide-se que, nos casos extremos, haja comunhão apenas para os irmãos moribundos.

9. MÚSICA RITUAL

O canto é parte necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para animar ou enfeitar a celebração. Por isso devemos cantar a liturgia e não cantar na liturgia. Os cantos e músicas, executados com atitude espiritual e, condizentes com o tempo litúrgico, com cada domingo, com as festas ou com a liturgia de um dia especial, ajudam a comunidade a penetrar no mistério celebrado. Portanto, não basta só saber que os cantos são da Quinta-Feira Santa, é preciso executá-los com atitude espiritual, isto é, de maneira orante. A escolha dos cantos deve ser cuidadosa, para que a comunidade tenha o direito de cantar o mistério celebrado e não cantos que um grupinho ou um movimento impõe.

1. Canto de abertura. O cristão deve gloriar-se na cruz de Cristo (Gálatas 6,14). “Quanto a nós, devemos gloriar-nos na cruz...”, CD: Tríduo Pascal – I, melodia da faixa 1; “Ninguém pode orgulhar a não ser nisto...” CD: Tríduo Pascal – I, melodia da faixa 2.

2. Hino de louvor. “Glória a Deus nas alturas...” Vejam o CD: Tríduo Pascal I e II e também no CD: Festas Litúrgicas, Partes fixas do Ordinário da Missa do Hinário Litúrgico III da CNBB e também a versão da CNBB musicado por Irmã Miria e outros compositores.

3. Salmo responsorial 116/115; cf. 1Coríntios 10,16. O cálice da bênção. “O cálice por nós abençoado” CD: Tríduo Pascal – I, melodia da faixa 4.

4. Aclamação ao Evangelho: O novo mandamento (João 13,34). O cristão está sempre em obediência a Cristo.  “Eu vos dou um novo mandamento”, CD: Tríduo Pascal – I, melodia da faixa 5.

5. Canto para acompanhar a ação ritual do Lava-pés. “Quanto tempo eu desejei...” Hinário Litúrgico II da CNBB, página 288, uma guarânia muito bonita; “Jesus erguendo-se da Ceia...”, CD: Tríduo Pascal – I, melodia da faixa 6; “Jesus ergueu-se da ceia...”, CD: Tríduo Pascal – I, melodia da faixa 7.

6. Canto de apresentação dos dons: O canto de apresentação das oferendas, conforme orientamos em outras ocasiões, não necessita versar sobre pão e vinho. Seu tema é o mistério que se celebra acontecendo na fraternidade da Igreja reunida em oração na Quinta-Feira Santa. Não resta dúvida de que o canto mais apropriado para esta ação ritual seja este: “Onde o amor e a caridade Deus ai está...”, CD: Tríduo Pascal – I, melodia da faixa 8.

7. Canto de comunhão: 1Coríntios 11,24-25. Palavras da instituição da Ceia da despedida. “Eu quis comer esta ceia agora...”, CD: Tríduo Pascal – I, melodia da faixa 9; “Hoje é festa, diz o povo...”, CD: Tríduo Pascal – I, melodia da faixa 10; “Nós somos muitos, mas formamos um só corpo...”, CD: Cantos de Abertura e Comunhão, melodia da faixa 6, ou Hinário Litúrgico III, página 300.

O canto de comunhão deve retomar o sentido do Evangelho desta noite. Esta é a sua função ministerial. Na realidade, aquilo que se proclama no Evangelho nos é dado na Eucaristia, ou seja: é o Evangelho que nos dá o “tom” com o qual o Cristo se dirige a nós em cada celebração eucarística reforçando estes conteúdos bíblico-litúrgicos, garantindo ainda mais a unidade entre a mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia. Isto significa que comungar o corpo e sangue de Cristo é compromisso com o Evangelho proclamado. Portanto, o mesmo Senhor que nos falou no Evangelho, nós o comungamos no pão e no vinho.

8. Cantos para o momento da adoração do Santíssimo. “Vamos todos louvar juntos...”, Hinário Litúrgico II da CNBB, página 301; “Prova de amor maior não há...”, Hinário Litúrgico II da CNBB, página 286; “Deus de amor, nós te adoramos neste sacramento...”, Ofício Divino das Comunidades, página 326; “Onde o amor e a caridade...”, CD Tríduo Pascal – I, faixa 8.

10- O ESPAÇO DA CELEBRAÇÃO

1. O ambiente da celebração deve ser realmente o de uma refeição festiva. Onde for possível, dispor os bancos ou cadeiras em semicírculo ao redor da mesa do Altar. Preparar o ambiente com toalhas brancas, muitas flores, 12 velas, pão ázimo e vinho.

2. Neste dia voltam as flores, a cor branca e o hino de louvor “Glória a Deus”, mas ainda não se canta o “Aleluia”.

3. A cruz é uma peça importante nas celebrações do Mistério Pascal do Senhor. Ela é entendida pela Instrução Geral do Missal Romano como um elemento que deve recordar aos fiéis o acontecimento da fé ali celebrado.

            4. O simbolismo da cruz traz presente o anúncio da paixão e ressurreição do Senhor principalmente nesta Quinta-Feira Santa. O canto de abertura deixa claro que não se separa a Ceia da Cruz. A cruz processional, a mesma que será usada na procissão de abertura, esteja na entrada da Igreja, por onde todos passam. É uma forma de trazer presente o mistério que será celerado. Ela pode ficar aí até o início da celebração, ladeada de velas e flores, de forma que chame a atenção de todos os que vão chegando para a celebração.

5. “Os detalhes merecem cuidado especial, pois nunca devem se sobrepor ao essencial. As flores, por exemplo, não são mais importantes que o altar, o ambão e outros lugares simbólicos. Nem a toalha é mais importante que o altar. Os excessos desvalorizam os sinais principais. A sobriedade da decoração favorece a concentração no mistério celebrado” (Guia Litúrgico Pastoral, página 110).

11. AÇÃO RITUAL

A celebração da Ceia do Senhor, nesta Quinta-Feira Santa, rememora o amor, fundamento da vida e obra de Jesus. A participação neste banquete, que também pode ser lida como “sacrifício” por seu vínculo estreito com a entrega de si mesmo, antecipada no pão e vinho abençoados, nutre na comunidade dos fiéis a vocação para o serviço mútuo.

Ritos Iniciais

1. Na procissão de entrada, podem participar, além do presidente da celebração, os ministros da Eucaristia, os participantes do lava-pés. Levar, além da Cruz Processional, bacia, jarra de água, toalha, flores e velas. Também as pessoas que estão se preparando para os Sacramentos da Iniciação Cristã, podem ingressar junto com os ministros e o presidente.

2. A antífona do Missal Romano nos traz uma versão livre de Gálatas 6,14: “A cruz de nosso Senhor Jesus Cristo deve ser nossa glória: nele está a nossa vida e ressurreição; foi ele que nos salvou e libertou”. Na procissão de entrada trazer, como de costume, à frente, a Cruz Processional, ornada discretamente nesse caso, com uma flor pequena, mas que não tire a visão da Cruz.

3. Após a saudação inicial, fazer o acendimento das velas do candelabro. Cada grupo de catequese ou pastoral presente pode acender uma vela do candelabro, expressando com quem quer estar em comunhão nesta Páscoa. Outra possibilidade é, ao acender as velas, fazer a recordação da vida, lembrando o caminho pascal realizado pela comunidade ao longo da Quaresma e da Campanha da fraternidade.

4. Após a saudação presidencial, um diácono ou um ministro devidamente preparado, introduz a assembléia no mistério celebrado com estas palavras semelhantes:

Celebramos a instituição da eucaristia, do sacerdócio cristão e a entrega do mandamento do amor. Os cristãos devem celebrar a Ceia como expressão de sua existência vivida na entrega amorosa e voluntária de si mesmos pela salvação do mundo, sobretudo pelos que mais sofrem. O Senhor nos transmitiu seu mandamento, devolvamos aquilo que recebemos em gestos que traduzam a própria vida do Senhor.

4. O Hino de louvor deve ser executado com exultação e alegria pelo início das festividades da Páscoa.

5. Na Oração do Dia, reunidos para a Santa Ceia, contemplamos o Cristo que deu à sua Igreja o sacrifício eucarístico, como banquete do seu amor.

Rito da Palavra

1. Antes de ler, é preciso primeiro mergulhar na Luz da Palavra, rezar a Palavra. Pois, “na liturgia da Palavra, Cristo está realmente presente e atuante no Espírito Santo. Daí decorre a exigência para os leitores, ainda mais para quem proclama o Evangelho, de ter uma atitude espiritual de quem está sendo porta-voz de Deus que fala ao seu povo”.
           
2. Como sempre, a proclamação das leituras e o canto do Salmo terá preparação esmerada e garantirá que se manifeste a unidade das duas mesas, da Palavra e da Eucaristia, na celebração de abertura do Tríduo Pascal.

Rito do Lava-Pés

1. Para o rito da lava-pés, seria muito conveniente escolher pessoas engajadas na comunidade: jovens, casais, catequistas, idosos, etc. 

1) Depois da homilia um breve tempo de silêncio;

2) O presidente se aproxima, cinge-se toma a bacia com água e lava os pés dos
     dos discípulos.

            3) Depois de lavar os pés dos discípulos, o presidente passa a bacia e a tolha para
                os jovens para que eles lavem os pés de algumas pessoas.
            
            4) O canto para acompanhar esta ação ritual pode ser aquela Guarânia bem
                conhecida do Pe. Élio Atahíde: “Quanto tempo eu desejei com vocês unir-me
                nessa refeição”!, Hinário Litúrgico II da CNBB, página 288.

Rito da Eucaristia

1. Deixar o Altar sem toalhas até o início da liturgia eucarística. Duas ou três pessoas (donas de casa, catequistas, jovens, casais, por exemplo) preparam o Altar à vista da assembléia dando o caráter de Ceia: toalha, prato (patena), cálice, pão e vinho.

2. Seria muito bom que se cantasse, na apresentação das oferendas, o texto proposto pelo Missal Romano: “Onde o amor e a caridade, Deus aí está”.

            3. Neste dia, tão especial para a Igreja, abertura do Tríduo Pascal, sugerimos, ao invés de partículas que pouco manifestam o caráter de “alimento” do sacramento, o uso de pão ázimo como as partículas, mas feito especialmente para a celebração. Se não for possível pão ázimo para toda a assembléia, ao menos para os que estão exercendo ministérios litúrgicos na celebração, para os que participaram do lava-pés e também para as pessoas engajadas na comunidade.

4. É muito significativo realizar, na procissão das oferendas, uma coleta para os mais necessitados como prevê a rubrica do Missal Romano, página 249.

5. Na Oração sobre as oferendas rezamos que todas as vezes que comemoramos este Mistério, realiza-se a obra de nossa redenção.

6. Cantar a Oração Eucarística (ação de graças); cantem ao menos o Prefácio; cantem o Santo, aclamação eucarística, outras aclamações e o Amém final.

7. A aclamação eucarística nesse dia poderia retomar o texto da segunda: “Todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte enquanto esperamos vossa vinda”.

8. Nem pelo tom de voz nem de qualquer outra maneira se isole a narrativa da última ceia do resto da oração eucarística, como se fosse uma peça à parte.

9. Não se deter na elevação do pão e do cálice, pois o centro da Oração Eucarística não é a presença real de Cristo na Eucaristia, mas a ação de graças dirigida em adoração ao Pai.

10. A narrativa da instituição da eucaristia não é uma imitação da última ceia; por isso não se parte o pão neste momento como algumas vezes acontece. A liturgia eucarística, como se disse, é fazer o que Jesus fez: tomou o pão e o vinho, deus graças, partiu o pão e o deu (comer e beber). O partir o pão, como Jesus fez, corresponde à fração do pão em vista da comunhão. Por isso, a Redemptionis Sacramentum, número 55, considera um abuso partir o pão durante o relato da instituição.

11. O “amém” final do por Cristo, em Cristo..., que merece a mesma exultação, é a assinatura do povo à prece que o ministro ordenado, em nome da Igreja, elevou a Deus por Cristo, com Cristo, em Cristo, na unidade do Espírito Santo. Pelo menos nesta Quinta-Feira Santa, aos domingos e dias de festa merece ser cantado.

12. Fazer com que todos percebam o gesto da fração do pão, acompanhado do canto Cordeiro de Deus. A fração do Pão antes da comunhão deve ser feita de modo que todos possam acompanhar este gesto, tão significativo. Não precisa ter pressa. Aguarde-se que o povo conclua o abraço da paz (se houver) para iniciar a fração do pão com calma. Inicia-se o hino do “Cordeiro de Deus” só quando começa a fração do pão. Este hino é muito antigo, feito exatamente para acompanhar esta ação ritual. Seu sentido é este: vendo o Cordeiro sendo partido e repartido, a assembléia prorrompe no canto: “Cordeiro de Deus...!

13. Na Oração depois da comunhão, depois de renovados, com o sacramento do amor, passemos da Ceia sacramental para a Ceia celestial.

14. Prepara-se a trasladação do Pão Eucarístico (Omite-se os ritos finais da Missa).

15. O translado das espécies para uma capela lateral ou outro espaço adequado deve ser feito no cibório (âmbula), colocado no sacrário que, após uma breve adoração, deve ser fechado. Inicia-se assim a vigília eucarística, que deve durar conforme a conveniência da comunidade. O rito não prevê exposição e bênção do Santíssimo. O Missal também não prevê que a vigília eucarística se estenda até a meia-noite. Veja a orientação da rubrica: “Os fiéis sejam exortados a adorarem o Santíssimo, durante algum tempo da noite, segundo as circunstâncias do lugar. Contudo, após a meia-noite esta adoração seja feita sem nenhuma solenidade”.  O destaque na Sexta-Feira Santa é a Cruz do Senhor. Que a vigília não se estenda até antes da celebração da Solene ação litúrgica da Sexta-feira da Paixão. No máximo, prolongue-se até o amanhecer. Convém criar distinção entre os momentos celebrativos.

12- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta liturgia deve fazer penetrar, por seu rito e pela palavra que o explica, o sentido salvífico da Cruz de Cristo, no sentido de que o cristão, aceitando o esvaziamento de Jesus por nós e associando-se a seu modo de viver e morrer, entra na comunhão eterna com Ele e com o Pai.

Terminada a Missa, os cristãos hoje passarão alguns momentos de recolhimento e oração diante do Santíssimo Sacramento. Nessa adoração silenciosa poderão deixar-se penetrar das últimas confidencias que o Senhor fez aos seus discípulos antes de se dirigir ao jardim das Oliveiras, sobretudo seu mandamento único e perfeito: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei!”

O objetivo da Igreja e da nossa equipe diocesana de liturgia é ajudar os padres e as comunidades de nossa diocese e todas aquelas outras comunidades fora de nossa diocese que acessar nosso site celebrar melhor o mistério pascal de Cristo.


Um abraço fraterno a todos

Pe. Benedito Mazeti
Assessor diocesano de Liturgia
Bispado de São José do Rio Preto


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