terça-feira, 12 de maio de 2015

SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR - ANO B

17 de maio de 2015

Leituras
     Atos 1,1-11
     Salmo 46/47,2-3.6-9
     Efésios 1,17-23
     Marcos 16,15-20

“VÓS, QUE DESCENTES ATÉ NÓS PELO CAMINHO DO AMOR, PELO MESMO CAMINHO, FAZEI-NOS SUBIR ATÉ VÓS”
(Liturgia das Horas, I vésperas, v. II, p. 821)


1- PONTO DE PARTIDA

Hoje é o Domingo da Ascensão do Senhor. Chegamos, hoje, a um momento muito importante dentro do Tempo Pascal. É uma festa que tem o seu sentido dentro do espírito que caracteriza estes cinquenta dias de Páscoa. É bom lembrar que estamos vivenciamos dias de Páscoa e não após a Páscoa.

O mistério da Ascensão do Senhor significa “elevação, subida” também para nós, seus discípulos e discípulas missionários que têm como meta a evangelização. Ele elevou-se ao céu, não para afastar-se de nossa humanidade, mas para dar a todos nós a certeza de que nos conduzirá à gloria da imortalidade.

Unidos em comunhão com todos os cristãos espalhados pelo mundo celebramos Ascensão de Jesus, plenitude da Páscoa, cuja memória nós atualizamos na Eucaristia. Jesus conclui sua missão, despede-se dos seus discípulos, mas sem abandoná-los e é elevado e glorificado pelo Pai. A Igreja, convocada para dar continuidade à missão de Jesus, prepara-se para celebrar a Solenidade de Pentecostes e comemora também o dia das comunicações. 

2- REFLEXÃO BÍBLICA, EXEGÉTICA E LITÚRGICA

Contemplando os textos

Primeira leitura – Atos 1,1-11. Lucas liga os Atos dos Apóstolos ao Evangelho que ele mesmo escreveu por um breve resumo (Atos 1,1-3). Neste resumo ele refere-se também às aparições de Jesus ressuscitado (versículo 3) e à Ascensão (versículo 2c) já contadas no fim do Evangelho. Os outros evangelhos não falam que Jesus tinha aparecido durante quarenta dias. Com isso Lucas esboça as etapas da história da salvação: o tempo de Jesus “desde o começo do seu trabalho até o dia em que foi levado para o céu”; o tempo anterior a esta etapa que abrange a história do “povo de Israel” e que é o tempo da promessa e da esperança; o tempo posterior ao tempo de Jesus, que vai da ascensão até a volta no fim do mundo, é o tempo da Igreja.

            Lucas atribui ao próprio Jesus ressuscitado a inauguração dos “Atos dos Apóstolos”, isto é, do tempo e da história da Igreja. Para ele é de suma importância que seu segundo livro não comece com os discípulos desamparados e desorientados (cf. Lucas 24,17-21), mas com o Senhor ressuscitado que os procura e ensina durante quarenta dias sobre “o Reino de Deus” (versículo 3; cf. o valor simbólico do número quarenta!). A ressurreição não é somente um fim glorioso da carreira terrestre de Jesus, mas ao mesmo tempo o fundamento salvador da Igreja. A missão salvadora dos apóstolos e da Igreja está intimamente ligada ao Jesus terrestre e glorificado, à Sua Palavra e à Sua obra (ao Seu “fazer e ensinar”: Atos 1,1), ao Seu poder e à Sua missão.

            Na versão dos Atos dos Apóstolos, a Ascensão aparece antes de tudo com a inauguração da missão da Igreja no mundo. Os quarenta dias (versículo 3) fixados por Lucas como a duração da estadia do Ressuscitado sobre a terra devem ser compreendidos no sentido de um último tempo de preparação (o número quarenta designa sempre um período de espera na Escritura): são uma medida proporcional e não cronológica. Com isso a ressurreição não constitui um limite, mas a preliminar de uma nova etapa do Reino: a sessão de Cristo à direita do Pai e a missão da Igreja pelo mundo afora. A esse respeito, é muito significativa a observação sobre os anjos convidando os apóstolos a não ficarem com os olhos fixos no céu (cf. versículo 11).

            A imagem da nuvem não deve ser tomada num sentido material. Para Lucas, a nuvem é apenas o sinal da presença divina, como o foi sobre a Tenda de reunião e no templo de Jerusalém. De forma alguma trata-se de um fenômeno metereológico, mas de um acontecimento teológico: a entrada de Jesus de Nazaré na glória do Pai, e a certeza de sua presença no mundo. Jesus ressuscitado é, de agora em diante, o lugar da presença de Deus no mundo, o único lugar sagrado da nova humanidade.

            A idéia de separação e de ruptura ainda reforçada pela afirmação de que não cabe aos homens conhecerem o fim de sua história (versículo 7) e pelo apelo dos apóstolos ao realismo do qual queriam fugir (versículo 11). Sem dúvida Lucas quer mostrar que Cristo só pode separar-se de pessoas que só pensam no estabelecimento imediata do Reino (versículo 6) e que só está presente naqueles que aceitam o longo caminhar que passa pela missão e pelo serviço a favor da humanidade (versículo 8). Quer mostrar também que, para começar sua missão, é preciso que a Igreja rompa com Cristo carnal. Não podemos mais, de agora em diante, nos unir a Cristo a não ser por intermédio dos apóstolos revestidos do Espírito de Cristo. É, pois, uma maneira de ver a Igreja que se esforça depois da insistência de Lucas sobre a separação entre Jesus e os cristãos.
            A efusão do Espírito Santo (versículo 5) ainda não é o fim nem o início do fim dos tempos e do pleno desabrochar do Reino. O Reino não somente abrangerá o povo de Israel, mas todos os povos. A preocupação para conhecer o fim dos tempos é, pois, substituída pela preocupação de levar o Evangelho “até os confins do mundo” (cf. Marcos 13,10; Mateus 24,14). Lucas não nega a segunda vinda em glória (versículo 11c), mas não toca mais no problema da preocupação com a data da mesma.

            Salmo responsorial – 46/47,2-3.6-9. No princípio, este Salmo acompanhava a Arca da Aliança na procissão para o Templo de Jerusalém. A entronização no Templo evocava o senhorio de Deus sobre Israel, sobre todos os povos e sobre todo o universo. A aplicação litúrgica à realeza universal de Cristo é legítima.
           
            É o primeiro Salmo que celebra a realeza do Senhor. Recorda quatro vezes que o Senhor é Rei (versículos 3.7.8.9) não sé de Israel, mas do mundo inteiro (versículos 3..8.9). A palavra Deus aparece sete vezes. Freqüentemente esse número significa totalidade, Deus, portanto, é o rei de toda a terra.
           
O rosto de Deus no Salmo 46/47. Deus Altíssimo é terrível e grande rei sobre toda a terra (versículo 3), submetendo nações e povos. O Salmo engrandece a realeza de Deus sobre toda a terra.

Olhando para Jesus, o Salmo 46/47 adquire rumo e cores novas. Jesus mudou completamente o sentido da realeza, dando nova orientação ao exercício do poder. Ele é rei universal, mas sua subida foi para a cruz, para dar vida a todos (João 10,10). E é a partir da cruz que atrai todos para si, como réu universal (João 12,32). Como grão de trigo que morre para produzir fruto (João 12,24), ressuscita e volta ao Pai, tornando-se caminho para a humanidade que procura a vida (João 14,6).

            Cantemos, neste salmo, o poder do Senhor que se revela em Jesus Cristo, conduzindo o mundo inteiro no seu plano de amor para que todos tenham vida em plenitude.

            Segunda leitura – Efésios 1,17-23. A sabedoria que Paulo pede a Deus para seus correspondentes (versículo 17) é este dom sobrenatural já conhecido dos sábios do Antigo Testamento (cf. Provérbios 3,13-18), mas consideravelmente ampliado na sua definição cristã: ela não é somente a prática da lei, o conhecimento da vontade divina sobre o mundo; não é mais uma explicação do mundo, mas a revelação do destino de um homem (versículo 17) e da herança da glória que dela resulta (Efésios 1,14), tão contrastante com a miséria da existência humana (Romanos 8,20); enfim, ela é a descoberta do poder de Deus, já manifestado na ressurreição de Cristo (versículo 20), garantia de nossa própria transfiguração.

            Paulo se detém um pouco na contemplação deste poder divino. Este poder não é mais somente o que Deus revelou para criar a terra e impor-lhe suas vontades (Jó 38): ele inverte mesmo estas leis, pois é capaz de mudar um crucificado em Senhor ressuscitado (versículo 21a) e de organizar, desde já, as estruturas do mundo que virá (v. 21b). Neste sentido, a sabedoria é uma esperança (versículo 18), pois é confiança na ação de Deus de Jesus Cristo no mundo.

Mas o poder de Deus não reserva apenas para o futuro a manifestação de seu vigor: desde agora, tudo é realizado por ele, que colocou Cristo como cabeça de todos os homens e mulheres no mistério mesmo da Igreja, sua plenitude (versículo 22-23). Paulo pediu para os cristãos da comunidade de Éfeso o dom da sabedoria, a fim de que eles compreendessem com prioridade como a Igreja é sinal deste poder de Deus desvendado em Jesus Cristo. Com efeito, é um privilégio extraordinário para a Igreja ter por chefe o Senhor do universo e ser seu corpo.

            Os cristãos têm a esperança de participar na glória de Cristo, porque Ele venceu todas as barreiras e poderes contrários que possam ameaçar a plena realização desta vocação (Efésios 1,21-22a). Porque os cristãos pertencem à Igreja, que é tão repleta de Cristo e de Seu Espírito que pode ser chamada Seu Corpo de que Ele é a cabeça. Desta cabeça, através do Corpo que é a Igreja, a plenitude de Deus há de se expandir sobre tudo que existe, para que, reunindo tudo em Cristo como cabeça, se realize a plenitude dos tempos ou da história (cf. Efésios 1,10).

Evangelho – Marcos 16,15-20. Os discípulos são enviados a pregar. Tanto aqui em Marcos com em Mateus 28,16-20 e Lucas 24,47, o mandato apostólico acompanha a aparição pascal do Senhor Ressuscitado. Os milagres que acompanharão a pregação revelam uma experiência da Igreja missionária: a dos carismas. As curas, as maravilhas ai citados acontecem também nos Atos dos Apóstolos. São eles: expulsar demônios, falar novas línguas, manusear ou caminhar sobre serpentes e beber veneno sem ser afetado (cf. Lucas 10,19). Beber veneno, pegar em serpentes, etc..., são símbolos da extraordinária força e coragem dos discípulos de Cristo na sua missão evangélica. Na autorização fica claro o universalismo cristão entre os pagãos, universalismo que em Marcos prova ser coisa pacífica em Roma, em comunidade formada de ex-pagãos, aliás em germe em Marcos 7,27 e 13,10. A cura material dos enfermos pela unção com óleo tornou-se um sinal do poder sobre as enfermidades dado aos apóstolos, é Jesus que opta pelos que sofrem. Os carismas não são diretamente para confirmar a fé que está sendo anunciada, mas um dom aos crentes, embora com valor de defesa secundário.

“Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus, foi levado ao céu e sentou-se à direita de Deus”. Sentar-se à direita de Deus é expressão semita e significa estar na mesma esfera divina e participar de seu poder divino.

Esta expressão à direita de Deus vem do uso que a Igreja primitiva fez dos salmos 117/118,16 para convencer os judeus da Ressurreição de Cristo com provas das Sagradas Escrituras (cf. Atos 4,11; 1Pedro 2,7; Mateus 21,9.42; 23,39; Lucas 13,35; Hebreus 13,6). Esta citação é principalmente reproduzida num contexto de exaltação do Servo sofredor.

Mas sentar á direita de Deus pode ter uma significação messiânica, inspirando-se, então, no Salmo 109/110, outro salmo freqüente na catequese da Igreja primitiva que afirmava assim, que a obra messiânica de Jesus não terminava com a sua morte, mas tomava, ao contrário, um novo impulso para além desta morte (Mateus 22,44; 26,64; Atos 7,55-56; Romanos 8,34; 1Pedro 3,22).

Enfim, este tema provavelmente tem ressonâncias sacerdotais, a julgarmos pela abundância das referencias a Ele feitas pela carta aos hebreus (Hebreus 1,3.13; 1,8.10.12; 12,2; 13,6). A atitude do sacerdote é a atitude de pé. Estar sentado, para Cristo, significa, pois, que seu ato sacerdotal terminou e que Ele foi do agrado de Deus. Não há mais, então, sacrifício válido sobre a terra: o culto se tornou caduco pelo sacerdócio de Jesus.

Não basta conhecer o Evangelho. É necessário incorporar-se no Reino pelo batismo. “Batizar” do grego (baptízo) não é apenas “submergir-se” (bápto), senão também “lavar”/purificar” (Lucas 11,38; Marcos 7,14). Além de pregar o Evangelho, é preciso batizar, para que as pessoas se purifiquem, produzindo um “novo nascimento” espiritual (João 3,5s). Para Paulo, o batismo leva o cristão a con-viver com Cristo, a incorporar-se a Ele (Romanos 6,8). O banho batismal deve fazer-se em nome das Três Pessoas Divinas, a Santíssima Trindade (Mateus 28,19). Batizar “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo – o que sugere uma purificação e uma consagração do fiel à Trindade. “Em nome de” expressa também autoridade.
4- DA PALAVRA CELEBRADA AO COTIDIANO DA VIDA

Não podemos esquecer que a ascensão de Cristo está intimamente ligada com a sua Ressurreição. É parte integrante desse movimento de volta do Cristo ao Pai. Depois de passar pelo túnel da morte, Ele volta ao Pai, abrindo para nós a possibilidade de ingressar no Reino definitivo. Neste dia a nossa frágil natureza humana penetra na glória de Deus. Cristo sobe aos céus para nos tornar participantes de sua divindade. Enquanto contemplamos o mistério da volta de Cristo ao Pai, precisamos tomar consciência que nossa missão é testemunhá-lo no coração no coração das realidades humanas.

A teologia da Ascensão, mais ainda que a da Ressurreição, exige que se supere adequadamente a sua representação sensível. Antes de tudo é preciso saber que ela se insere no Mistério Pascal. Pode-se dizer que a Páscoa é um movimento dotado de três momentos: o primeiro, a Sua morte, a Ressurreição em sentido restrito, consiste na superação do Poder da Morte e, portanto, na dissolução deste, o que, em termos afirmativos, pode conceber-se como Nova Criação. Isto aparece claramente no segundo movimento, consiste na manifestação do Senhor Ressuscitado: a Vida que então brota manifesta-se divina e, com isto, põe em questão a sua própria visibilidade (cf. João 20,19-28). Esta se supera na Ascensão, mas esta superação é apenas um aspecto deste terceiro momento do Mistério Pascal: o essencial deste é revelar a Vida Divina, agora humanizada, de volta ao Pai e, portanto, reintegrando a todos nós na esfera originária do Divino e, agora, não mais como intenção, mas segundo a forma efetiva que lhe é dada pela Ressurreição. É como terceiro momento do Mistério Pascal e, portanto, na unidade deste, que a Ascensão deve ser compreendida.

Quem é fiel ao projeto do Pai, vai ser “elevado”, isto é, terá vida plena e glorificada junto à Trindade. Quem percorre o mesmo “caminho” de Jesus subirá, como Ele, á vida plena. A Igreja tem sido fiel à missão que Jesus, ao deixar este mundo, lhe confiou? O nosso testemunho tem transformado a realidade que nos rodeia? É relativamente freqüente ouvirmos dizer que os seguidores de Jesus gostam mais de olhar para o céu e só louvar do que se comprometerem na transformação do mundo. Estamos, efetivamente, atentos aos problemas e às angústias dos seres humanos, ou vivemos de olhos postos no céu, num espiritualismo alienado? Sentimo-nos questionados pelas inquietações, pelas misérias, pelos sofrimentos, pelos sonhos, pelas esperanças que enchem o coração dos que nos rodeiam? Sentimo-nos solidários com todos os seres humanos, particularmente com aqueles que sofrem?

a) A oração. Que significa abrir o coração a Jesus ressuscitado que estreita os nossos laços amorosos com Ele. Isso requer duas atitudes que, em nossa vida, encontram a sua síntese: uma atitude de oração e uma atitude de ação. Deus não é a nossa subjetividade ou uma sensação psicológica. Deus é uma pessoa e, como tal, entramos em relação com Ele assim como nos relacionamos com as pessoas a quem amamos: conversando, criando laços, partilhando intimidade. Eis a prática da oração. A oração é o nosso momento de diálogo e abertura com Cristo. Quando rezamos, deixamos que o Espírito dilate o nosso coração para que possamos, aí dentro, apreender, na fé, a presença inexplicável de Deus. Por isso, o cristão que não reza é como um marido que não dialoga com sua esposa. Aos poucos, um se fecha ao outro, e a relação vai esvaziando-se. Quando rezamos, somos como a terra que, sob a chuva, se abre para fecundar a semente. Como diz Maria, nessa abertura orante, Deus realiza em nós maravilhas...

b) A ação. A atitude da ação é conseqüência, também causa, da nossa atitude de oração. Esta nos torna mais sensíveis à presença do Senhor ressuscitado em tudo que é a negação do “céu” e se nos apresenta como sinal do “inferno”: a fome, a tortura, o desemprego, o egoísmo, a indiferença pelas pessoas, as doenças sem tratamento, as guerras, o terrorismo e tantos outros males que assolam a humanidade. É aí que o Senhor quer ser encontrado, servido e amado, para que possamos transformar esse “inferno”, fruto do pecado estruturado e historizado no sistema capitalista, em “céu”, ou seja, em realidade justa, livre e verdadeira.

            Há uma definição de inferno dada pelo escritor russo Dostoievski, que permanece atual: “O inferno é a ausência de amor”. Amar não é apenas querer bem uma pessoa. É querer bem todas as pessoas, principalmente estes que mais necessitam do nosso amor, da nossa doação, da nossa luta: os trabalhadores oprimidos por uma ordem social que procura preservar a divisão dos homens e mulheres em diferentes classes sociais. Se, de alguma forma, nos voltamos para as causas dos trabalhadores ou, como tais, assumimos as aspirações de nossa classe, estamos fazendo o que Jesus fez: subindo da terra ao céu, isto é, superando os sinais de pecado, as forças da morte e implantando essa realidade nova e justa que é o pré anuncio do Reino que está prometido pelo Pai. Portanto há em nossa vida um movimento de “ascensão”, todas as vezes que procuramos quebrar as barreiras do pecado, da injustiça, da morte, para que as pessoas tenham a vida e a vida em abundância, como diz Jesus no Evangelho de João (10,10).

            Na carta aos Efésios é dito que Jesus “está acima de todas as autoridades que existem neste mundo”. Eis o grande desafio lançado pela Igreja primitiva: obedecer antes a Deus que aos homens. Para nós, cristãos, as determinações humanas são válidas na medida em que não contrariam as exigências de nossa fé e os imperativos de nossa caridade. Não podemos obedecer uma autoridade que pretende ser mais sábia que Deus e mais poderosa que o Cristo Senhor. A presença ressuscitada de Jesus aparece, hoje, nos sinais de justiça, de liberdade, de amor, que vemos em cada pessoa, nos movimentos sociais que lutam por uma justa reforma agrária e pão, liberdade, por terra nos centros urbanos, por moradia...

Como ouvimos na segunda leitura, dizer que fazemos parte do “corpo de Cristo” significa que devemos viver numa comunhão total com Ele e que, nessa comunhão, recebemos, a cada instante, a vida que nos alimenta. Significa, também, viver em comunhão, em solidariedade total com todos os nossos irmãos e irmãs, membros do mesmo “corpo” alimentados pela mesma vida. Paulo implora aos cristãos de Éfeso a graça do conhecimento do mistério de Deus. Participando deste segredo, saibamos perceber a riqueza da nossa fé comprometida com a comunidade e também com as lutas sociais.

É oportuno citar uma homilia de Santo Agostinho, bispo do século V, para a festa de hoje:

Hoje, nosso Senhor Jesus Cristo subiu ao céu; suba também com Ele o nosso coração. Ouçamos as palavras do Apóstolo: “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres” (Colossenses 3,1-2). Assim como ele subiu sem se afastar de nós, também nós subimos com Ele, embora não se tenha realizado ainda em nosso corpo o que nos está prometido. Cristo já foi levado ao mais alto dos céus; contudo continua sofrendo na terra através das tribulações que nós experimentamos como seus membros. Dou testemunho dessa verdade quando se fez ouvir lá no céu: Saulo, Saulo, por que me persegues?” (Atos 9,4). E ainda: “Eu estava com fome e me destes de comer” (Mateus 25,35).

Cristo está no céu, mas também está conosco. É como dizia Santo Agostinho:  Nós, mesmo permanecendo na terra, estamos também com Ele. Por sua divindade, por seu poder e por seu amor Ele está conosco. Embora não possamos realizar isso pela divindade, como Ele, ao menos podemos realizar pelo amor que temos pra com Ele.

Existe a unidade entre Cristo, nossa cabeça, e nós, seu corpo. Ninguém senão Ele poderia realizar esta unidade que nos identifica com Ele mesmo, pois tornou-se Filho do Homem por nossa causa, e nós, por meio Dele, nos tornamos filhos de Deus.  

            Contando os últimos dias da presença de Jesus entre os seus, Lucas quer chamar a atenção para a última palavra de Jesus. Escutando-a, sejamos enviados tal como os apóstolos.

            O mistério da Ascensão do Senhor nos mergulha no mistério da Aliança que existe entre o céu e a terra, entre o divino e o humano. Santo Agostinho diz que “Jesus Cristo não deixou o céu quando de lá desceu até nós; também não se afastou de nós quando subiu novamente ao céu”. Ele, por sua misericórdia, mergulhou até o fundo da nossa condição humana e, depois, subiu ao céu levando a humanidade consigo, fazendo-nos participar desse mistério da Ascensão.

            A assembléia eucarística da Ascensão aprofunda a fé na divindade do Senhor Jesus. Mas é uma fé de companheiro de Deus: ela colabora com ele na espiritualização do universo, não sem lentidão e despojamento, pois este projeto só pode ser realizado em plenitude para depois da morte. A eucaristia também é o meio através do qual a Igreja se encontra com seu Senhor na oração de intercessão que Ele que não desiste de formular para todos os seres humanos diante do trono de seu Pai.

3- A PALAVRA SE FAZ CELEBRAÇÃO

O assentimento do Pai

Festejar a “volta” de Jesus para o Pai, longe de nos entristecer, alegra-nos, pois se trata da festa do assentimento do Pai à experiência terrena de Jesus. É uma espécie de pronunciamento de Deus acerca do itinerário pascal de Jesus, reconhecendo-lhe finalmente como Filho com toda pompa e circunstância (isto literalmente, o que é óbvio pelas narrativas lucanas). No âmbito da experiência ritual, podemos perceber que a fazemos em toda Eucaristia, quando nosso coração a Deus se eleva, tornando-se coração filial, pois só a partir de tal posição (de filhos no Filho) podemos dar graças a Deus: Corações ao alto! Nosso coração está em Deus! A experiência da ascensão nos alcança cada vez que fazemos a Eucaristia (a Anáfora): “Assim, o que na vida do nosso Redentor era visível passou aos ritos sacramentais”.

Ressurreição e Ascensão

Em toda celebração Eucarística fazemos memória da Ascensão do Senhor. Na maioria das orações Eucarísticas ela é recordada explícita ou implicitamente. A Ascensão junto com o Pentecostes são facetas de um só acontecimento que é a Páscoa de Jesus. Nós o desmembramos para melhor celebrar cada aspecto.

No caso da Ascensão, o aspecto nos é clarificado pela oração depois da comunhão, que retoma o significado do diálogo invitatório da oração eucarística: “Deus eterno e todo-poderoso, que nos concedeis viver na terra com as realidades do céu, fazei que nossos corações se voltem para o alto, onde está junto de vós nossa humanidade”.

A experiência litúrgica da assembléia consta, toda ela, progressivamente, de pôr o coração em Deus no sentido de decidir e agir de seu lugar, da sua direita, pois em Jesus já estamos eternamente ao lado do Pai. A Eucaristia celebrada pela comunidade é fundamental para assegurar que estamos, porém, agindo conforme o coração de Deus que nos visita em seu filho Ressuscitado (cf. Benedictus, como canto de comunhão para o tempo pascal). O itinerário quaresmal transformou o nosso coração de pedra em coração de carne, coração de filhos no Filho!

5- LIGANDO A PALAVRA COM A AÇÃO EUCARÍSTICA

            Ao celebrarmos a memória da Ascensão de Jesus aos céus, entramos no sentido mais profundo da sua ressurreição e da missão que Ele nos confiou. Paulo nos diz que o Pai exaltou Jesus como Senhor do céu e da terra. Deus fez dele a plenitude de tudo o que existe. Nele, todos os elementos do universo encontram unidade e sentido.

            Neste sentido, agradecendo a Deus essa elevação sagrada de todo o universo com Jesus, recebemos de Deus a confirmação de que nós todos, seres humanos, fomos, com Ele, introduzidos na intimidade definitiva de Deus. Com Maria e os apóstolos, aguardamos a força do alto, conforme a promessa de Jesus. Fazemos isso em comunhão com todas as Igrejas cristãs, iniciando, hoje, a novena de Pentecostes e a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.

            Atentos às orações litúrgicas da festa de hoje, veneramos ai, presentes em forma de oração, o que significa a festa da Ascensão do Senhor: “já é nossa vitória”; “comunhão de dons entre o céu e a terra” (sobre as oferendas); “subiu para tornar-nos participantes da sua divindade” (prefácio II); “no céu está a nossa humanidade” (após a comunhão); e “subiu para dar-nos a certeza de que nos conduzirá à glória da imortalidade” (prefácio I).

            Para nós, ministros e assembléia, esta festa significa afirmar que somos membros de seu corpo, chamados na esperança a participar de sua glória (coleta).

            Celebramos, portanto, com os corações voltados para o alto (após a comunhão), transbordando de alegria pascal (prefácio I).

6. ORIENTAÇÕES GERAIS

1. Os cinqüenta dias que vão desde o Domingo de Páscoa na Ressurreição do Senhor até o Domingo de Pentecostes devem ser celebrados com verdadeira alegria como se fosse um grande domingo. Esses cinqüenta dias é como se fosse um só dia de festa, “símbolo da felicidade eterna” (Santo Atanásio). Os domingos pascais se caracterizam pela ausência de elementos penitenciais e pela acentuação de elementos festivos. A alegria deve ser a característica do Tempo Pascal. A alegria deve estar presente nas pessoas da comunidade e também no espaço litúrgico, na cor branca (ou amarela), nas flores, no canto alegre do “Aleluia”, na alegria de sermos aspergidos pela água batismal, no gesto da acolhida e da paz. O Tempo Pascal constitui-se em “um grande domingo”. Mesmo sendo a Ascensão do Senhor, vivenciamos dias de Páscoa e não após a Páscoa.

2. Dar destaque durante o Tempo Pascal para a água batismal. Onde há pia batismal, ela deve ser o ponto de referência para a realização de ritos como aspersão, renovação de promessas, compromissos. Onde não há pia batismal, preparar alguma vasilha de cerâmica, de preferência junto do Círio Pascal.

4. A equipe de celebração, além de zelar pelo clima favorável à participação da assembléia, cuide para que cada ministério seja bem executado e tenha a devida preparação. Deve também acolher com carinho as pessoas que chegam para participar da celebração.

7- MÚSICA RITUAL

O canto é parte necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para animar ou enfeitar a liturgia. Por isso devemos cantar a liturgia e não cantar na liturgia. Os cantos e músicas, executados com atitude espiritual e, condizentes com cada domingo, ajudam a comunidade a penetrar no mistério celebrado. Portanto, não basta só saber que os cantos são do Tempo Pascal, é preciso executá-los com atitude espiritual. A escolha dos cantos deve ser cuidadosa, para que a comunidade tenha o direito de cantar o mistério celebrado. A função da equipe de canto não é simplesmente cantar o que gosta, mas cantar o mistério da liturgia da Ascensão do Senhor. Os cantos devem estar em sintonia com o Ano Litúrgico, com a Palavra proclamada e com o sacramento celebrado. Não devemos esquecer que toda liturgia é uma celebração da Igreja corpo de Cristo e não de um grupo, de uma pastoral ou de um movimento.

Ensina a Instrução Geral do Missal Romano que o canto de abertura tem por objetivo, além de unir a assembleia, “inseri-la no mistério celebrado” (IGMR nº 47). Nesse sentido o Hinário Litúrgico II da CNBB nos oferece uma ótima opção, que estão gravados no CD: Liturgia X, Tempo Pascal Ano B. Encontramos também no Ofício Divino das Comunidades ótimas opções.

1. Canto de abertura. Jesus há de voltar assim como subiu na glória (Atos 1,11).  Um canto adequado que inspira os fiéis no que é próprio desta Solenidade é fundamental. Sugerimos o canto “Aleluia! Batei palmas, povos todos!”, do Hinário Litúrgico II da CNBB página 42, e gravado no CD: Liturgia X, melodia da faixa 15. Seu texto explica a dinâmica da Ascensão, que é “ida” de Jesus para junto do Pai, pois assim se devemos compreender as expressões: “Nos mandou levar a todos a mensagem do amor... todos são povo de Deus” e “O Senhor é vencedor, triunfante sobre o céu”.
2. Refrão para o acendimento do Círio Pascal. “Cristo-Luz, ó Luz, ó Luz bendita...”, CD Festas Litúrgicas I, faixa 9; “Salve Luz eterna, és tu Jesus...”, Hinário Litúrgico II da CNBB, página 292.

3. Canto para acompanhar a aspersão com a água. “Eu vi foi água”, CD: Tríduo Pascal II, melodia da faixa 12 ou Hinário Litúrgico II da CNBB, página 225; “Banhados em Cristo”, CD: Tríduo Pascal II, melodia da faixa 11 ou Hinário Litúrgico II da CNBB, página 196. Outra opção é o refrão: “Jesus o seu batismo na Páscoa completou, passou as grandes águas o mar atravessou, abrindo o caminho, teu povo libertou”. (bis). Mesma música do domingo de Ramos “os filhos dos hebreus”.

4. Hino de louvor. “Glória a Deus nas alturas.” Vejam o CD Tríduo Pascal I e II e também no CD Festas Litúrgicas I; Partes fixas do Ordinário da Missa do Hinário Litúrgico III da CNBB e também a versão da CNBB musicado por Irmã Miria Reginaldo Veloso e outros compositores.

O Hino de Louvor, na versão original e mais antiga, é um hino cristológico, isto é, voltado para Cristo, que exprime o significado do amor do Pai agindo no Filho. O louvor, o bendito, a glória e a adoração ao Pai (primeira parte do Hino de Louvor) se desdobram no trabalho do Filho Único: tirar o pecado do mundo, exprimindo e imprimindo na história humana a compaixão do Pai. Lembremo-nos: o Hino de Louvor não se confunde com a “doxologia menor” (Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo). O Hino de Louvor encontra-se no Missal Romano em prosa ou nas publicações da CNBB versificado numa versão que facilita o canto da assembléia. 

5. Salmo responsorial 46/47. Exaltação de Deus diante dos povos. “Por entre aclamações Deus se elevou, o Senhor subiu ao toque da trombeta”, CD: Liturgia X, melodia da faixa 16.

6. Aclamação ao Evangelho. Proclamação universal do Evangelho (Mateus 28, 19-20). “Ide ao mundo, ensinai aos povos todos...”, CD: Liturgia X, melodia igual a faixa 3. O canto de aclamação ao evangelho acompanha os versos que estão no Lecionário Dominical.

7. Apresentação dos dons. O canto de apresentação das oferendas, conforme orientamos em outras ocasiões, não necessita versar sobre pão e vinho. Seu tema é o mistério que se celebra acontecendo na fraternidade da Igreja reunida em oração, no Tempo Pascal. “Cristo ressuscitou, o sertão se abriu em flor”, CD: Liturgia X, melodia da faixa 12.

8. Canto de comunhão. “Estou convosco até o fim dos tempos” (Mateus 28,20). “O Senhor subiu ao céu”, Salmo 67/68, CD: Liturgia X, melodia da faixa 17.

O canto de comunhão deve retomar o sentido do Evangelho da Solenidade da Ascensão do Senhor onde contemplamos Cristo nos enviando em missão e voltando para a direita do Pai. Esta é a sua função ministerial. A liturgia de cada Domingo, principalmente de hoje oferece para realçar a relação entre “a Mesa da Palavra” e “a Mesa Eucarística”, mediante o simbolismo do pão e do vinho. O Canto de Comunhão sugere esta ligação. Sem a nossa ligação com Cristo na glória, não somos capazes de uma verdadeira ação missionária.
8- ESPAÇO CELEBRATIVO

1. O espaço celebrativo deve remeter à alegria do Tempo Pascal: as flores, o Círio Pascal e a fonte batismal devidamente ornamentados. Onde for possível, as alfaias brancas com elementos dourados remeterão à vitória. É importante que o espaço celebrativo da Vigília Pascal continue o mesmo para todo o Tempo Pascal. A Tradição Romana usa a cor branca neste tempo. Talvez, de acordo com a nossa cultura, podemos caprichar, usando o dourado ou várias cores fortes. O Tempo Pascal não é nada mais, nada menos do que a própria celebração da Páscoa prolongada durante sete semanas de júbilo e de alegria. É o tempo da alegria, que culmina na festa de Pentecostes. Tudo isso deve ficar evidente no espaço da celebração.

2. O Círio Pascal deve estar sempre presente, junto à Mesa da Palavra em todas as celebrações do Tempo Pascal. É importante que o Círio seja aceso no início da celebração, após o canto de abertura, enquanto a assembléia entoa um refrão pascal. Ele é o sinal do Cristo ressuscitado, Senhor de nossas vidas.

9. AÇÃO RITUAL

Celebramos a subida de Jesus ao céu, para junto de Deus. A Ascensão nos recorda que nossa humanidade, por meio de Jesus, já tem lugar garantido no seio da Santíssima Trindade. Nele encontramos o caminho de volta! Mas também celebramos a permanência de Jesus em nosso meio sabendo que Deus, em definitivo, “está no meio de nós”.

A assembléia é o primeiro sinal do Mistério de Cristo. Somos convocados para estar reunidos diante do Pai, em Cristo, na força do Espírito Santo. Esta convocação e o próprio Batismo nos qualificam para o culto verdadeiro em Jesus Cristo. Por isso, valem algumas iniciativas:

Receber bem as pessoas na porta da Igreja, para que todos sejam valorizados por terem atendido à convocação de Deus.

Ritos Iniciais

1. Na procissão de entrada, o uso abundante de incenso recorda os inúmeros relatos bíblicos, nos quais Deus se manifesta na nuvem, na fumaça e colabora também para manifestar que em Jesus fomos alcançados pelo céu. O incenso é um símbolo muito importante para esta celebração. O rito da incensação está descrito na Instrução Geral do Missal Romano ou no Cerimonial dos Bispos.

2. Na procissão de entrada entrar com as pessoas que foram batizadas ou pessoas que receberam um dos sacramentos na Vigília Pascal, ou crianças com vestes brancas.

3. Durante o Hino de louvor (glória), pode-se queimar mais incenso em um braseiro para isso preparado. Pode-se também ser feito após a homilia, como está indicado mais à frente.

4. Após o canto de abertura, fazer um pequeno lucernário, solenizando o acendimento do Círio Pascal: uma pessoa acende o Círio e diz: “Bendita sejas, Deus da Vida, pela ressurreição de Jesus Cristo e por essa luz radiante!”. Ou outros refrões que revela o sentido pascal: “Salve, luz eterna és tu, Jesus!/ Teu clarão é a fé que nos conduz! (Hinário II, pág. 292). “Cristo-Luz, ó Luz bendita,/ Vinde nos iluminar”!/ Luz do mundo, Luz da Vida,/ Ensinai-nos a amar! (CD: Festas Litúrgicas I) e a seguir, incensa o Círio pascal e a comunidade reunida. O acendimento do Círio Pascal pode ser solenizado também antes da procissão de entrada se a comunidade preferir.

5. Se a comunidade tiver dificuldade para fazer este pequeno lucernário, a procissão de entrada pode ter à frente o Círio Pascal aceso. Neste caso, não se usa cruz processional, que permanece em seu lugar de costume.

6. Na celebração de hoje seria muito oportuno a saudação inicial de Romanos 15,13:

“O Deus da esperança, que nos cumula de toda alegria e paz em nossa fé, pela ação do Espírito Santo, esteja convosco”.

7. Após a saudação presidencial e o acendimento do Círio dar o sentido litúrgico. O Missal deixa claro que o sentido litúrgico da celebração pode ser feito pelo presidente, pelo diácono um leigo/a devidamente preparado (Missal Romano página 390).

Hoje é o Domingo da Ascensão do Senhor. O mistério da Ascensão do Senhor significa “elevação, subida” também para nós, seus discípulos e discípulas missionários que têm como meta a evangelização. Ele elevou-se ao céu, não para afastar-se de nossa humanidade, mas para dar a todos nós a certeza de que nos conduzirá à gloria da imortalidade.

8. No lugar do Ato Penitencial, faça-se a aspersão da assembléia que manifesta a união de Cristo e dos cristãos pela recordação do Batismo com a água que foi abençoada na Vigília Pascal. Ajudar a comunidade a aprofundar sua consagração batismal. Não havendo água abençoada na Vigília Pascal, o ministro reza o oração de bênção conforme o Tempo Pascal que está no Missal Romano página 1002. No ato da aspersão, a assembléia canta: “Banhados em Cristo, somos u’a nova criatura./ As coisas antigas já se passaram,/ Somos nascidos de novo./ Aleluia, aleluia, aleluia! Outra opção é o canto “Eu vi foi água manar”. Outro refrão oportuno para a aspersão:  “Jesus o seu batismo na Páscoa completou, passou as grandes águas o mar atravessou, abrindo o caminho, teu povo libertou. (bis). Mesma música do Domingo de Ramos “os filhos dos hebreus”. Ver em Música Ritual.

            9. Solenizar o hino de louvor (glória), recordando que Jesus Cristo, nosso irmão, foi introduzido na glória dos céus, à direita do Pai fazendo a queima do incenso.

10. Na Oração do Dia, suplicamos a Deus, afirmamos que o Mistério da Ascensão já é nossa vitória e somos chamados a participar da glória do Cristo.

Rito da Palavra

1. As leituras nos recordam o Mistério da Ascensão. Mas a Palavra de Deus, longe de ser apenas uma informação, é experiência desse Mistério. Por isso, é preciso aprimorar na proclamação e incentivar o povo, para que deixe de acompanhar as leituras em folhetos, publicações ou Bíblias. Na liturgia a Palavra de Deus deve ser escutada.

2. Na profissão de fé, convidar os que receberam os sacramentos na Vigília Pascal para se aproximarem do Círio Pascal com velas acesas.

3. Às preces elaboradas pela equipe de liturgia, acrescentar esta prece da Liturgia das Horas, I vésperas, v. II, p. 821: “Vós, que descestes até nós pelo caminho do amor, pelo mesmo caminho, fazei-nos subir até vós”.

4. A cada prece responder cantando: ESCUTAI-NOS, SENHOR DA GLÓRIA!

Rito da Eucarística

            1. O rito da incensação, retomado durante a apresentação das oferendas, deve ser feito com calma. Procure-se dar valor na incensação da assembléia Corpo do Senhor, manifestando assim a presença de Deus no meio da comunidade reunida em oração. O canto da procissão das oferendas dura enquanto durar a incensação.
           
2. Na Oração sobre as Oferendas a Ascensão do Senhor é o encontro do céu e da terra, isto é, a nossa humanidade está junto de Deus.

3. Valorizar momentos onde a “unidade” entre o céu e a terra se manifestam mais claramente. O momento do Hino do Santo, quando o presidente proclama ao final do prefácio que a assembléia canta a uma só voz com os anjos e santos, seria melhor realçado se jovens dançassem em torno do Altar com incenso, recordando a visão de Isaias 6, donde provém o hino angélico. Tudo deve ser preparado e ensaiado antes.

4. Valorizar as respostas da assembléia. Ao dizer: “Ele está no meio de nós!”.

5. Nos prefácios I/II, contemplamos Jesus que subiu ai céu para nos fazer participar de sua glória.

6. Se possível cantar o prefácio que realça, neste dia, o mistério da Ascensão (Missal Romano, página 426 e 427). Nas celebrações da Palavra, fazer o momento de louvor com a Louvação da Ascensão (Bendito Pascal) indicada no Hinário Litúrgico II, da CNBB, página 158.

7. Proclamar com vibração a ação de graças (Oração Eucarística).

8. Cantar com vibração o “Amém” conclusivo da Oração Eucarística. Por Cristo, com Cristo...

9. A oração do Senhor (Pai nosso) é sempre feira em comunhão com Jesus, o Filho amado de Deus Pai. A introdução do Pai nosso pode ser feita com palavras semelhantes a estas:

Irmãos e irmãs, a nossa oração ressoa com palavras humanas no coração de Cristo, que está diante do Pai. Juntamente com Ele rezemos: Pai nosso...

10. A Eucaristia é antecipação do banquete celeste. Como tal, seria muito conveniente onde for possível, além de comungar em duas espécies, os fiéis recebessem o dom sagrado no próprio Altar, como sinal de que sua Ascensão, Jesus rompeu a barreira que separa o divino do humano. De acordo com as orientações em vigor, a comunhão pode ser sob as duas espécies para toda a assembléia. “A comunhão realiza mais plenamente o seu aspecto de sinal quando sob as duas espécies. Sob essa forma se manifesta mais perfeitamente o sinal do banquete eucarístico e se exprime de modo mais claro a vontade divina de realizar a nova e eterna Aliança no Sangue do Senhor, assim como a relação entre o banquete eucarístico e o banquete escatológico no Reino do Pai” (IGMR, nº 240).

Ritos Finais
           
1. Na Oração após a Comunhão suplicamos a Deus que nossos corações se voltem para o alto, isto é, o cristão deve viver com a mente no Céu.

            2. Dar a bênção final própria para o Tempo Pascal, conforme o Missal Romano, página 523 e 524, não deixando que as celebrações desse período percam seu caráter festivo e especial do Ano Litúrgico.

3. Ritualizar bem o envio, impondo as mãos sobre a assembléia, enviando-a em missão.

4. As palavras do rito de envio devem estar em consonância com o mistério celebrado: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a todas as pessoas”. Ide em paz e o Senhor vos acompanhe!

Todos: Graças a Deus, aleluia, aleluia!

10- CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Ao voltar ao Pai, Cristo nos privou de uma certa presença neste mundo. Mas esta privação tornou-se uma forma nova de presença: realidade infinita. Podemos acolher essa nova presença de Cristo porque ela nos torna capazes de participar da própria realidade de Deus. Ele apenas deixou de se manifestar aos seres humanos. No decorrer desta celebração eucarística, reconheceremos que Deus nos dá os bens do céu já agora, enquanto caminhamos na terra. E pediremos que Ele se digne infundir em nossos corações um desejo de viver na terra com as realidades do céu (cf. Oração depois da comunhão).

            Celebremos nossa Páscoa, na pureza e na verdade, aleluia, aleluia.

O objetivo da Igreja e da nossa equipe diocesana de liturgia é ajudar os padres e as comunidades de nossa diocese e todas aquelas outras comunidades fora de nossa diocese que acessar nosso site celebrar melhor o mistério pascal de Cristo.

Um abraço fraterno a todos
           


Pe. Benedito Mazeti

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