27 de setembro de 2015
Leituras
Números 11,25-29
Salmo 18/19,8.10.12-13
Tiago 5,1-6
Marcos 9,38-43.45.47-48
“QUEM NÃO É CONTRA NÓS É A NOSSO FAVOR”
1- PONTO DE PARTIDA
Domingo da tolerância
com os fracos. Na celebração de hoje o Senhor nos recorda o cuidado que devemos
ter com os pequenos e fracos e nos adverte para não os escandalizar. A
celebração de hoje também nos mostra que a ação missionária da Igreja não tem
fronteiras. Ela não pode ser exclusividade de um determinado grupo. Para Jesus
toda pessoa de bem exerce um serviço missionário, mesmo que não integre o grupo
dos seus seguidores. Nesse contexto, celebrar a Eucaristia nos impulsiona a
colocar nossos dons e carismas a serviço da edificação do Povo de Deus, que se
encontra além dos limites demarcados pelas nossas igrejas. É preciso saber que
as igrejas não são donas do Evangelho.
2- REFLEXÃO BÍBLICA,
EXEGÉTICA E LITÚRGICA
Primeira leitura - Números 11,25-29. A primeira leitura de hoje nos relata o
episódio dos setenta anciãos. O cansaço manifestado por Moisés (versículos
11ss) serviu como razão para o Senhor lhe prometer setenta auxiliares cheios de
carismas (versículos 16s). O próprio Deus tira parte do espírito profético de
Moisés e o passa aos seus setenta novos colaboradores. No momento em que eles
recebem o espírito de liderança de Moisés, começam a “profetizar”. Fica claro o
interesse da tradição bíblica em legitimar o movimento profético, bastante
desenvolvido no Reino de Israel, atribuindo-lhe a origem aos tempos de Moisés.
Josué, o
futuro substituto de Moisés e líder do povo (Números 27,12-23) mostra-se cioso
da autoridade de Moisés. Não se preocupam os setenta anciãos, que participavam
do poder delegado – e, portanto, controlável – de Moisés. De fato, eles
profetizavam na tenda de reunião, no santuário, à sombra do poder sacerdotal.
Josué está mais preocupado com os dois outros homens, que não faziam parte dos
setenta anciãos (cf. versículo 16). Sobre eles também desceu o espírito de
liderança de Moisés. Ao contrário dos setenta anciãos, que logo “pararam”,
estes dois continuavam profetizando, fora da tenda, sem o controle de Moisés e
dos sacerdotes (versículo 27). Josué, intérprete dos sacerdotes que tinham o
controle da religião, chega a pedir a Moisés que os proíba de continuar
profetizando (versículo 28). A resposta de Moisés, porém, vale para todos
aqueles que, na Igreja, revestidos do carisma sacerdotal, querem controlar o
carisma profético: “Quem dera que todo o povo do Senhor fossem profetas, e o
Senhor lhes concedesse o seu espírito” (versículo 29)!
Eldad e Medad
também se tornaram profetas confirmados pelo Espírito do Senhor. Eles não
estavam profetizando a serviço de seus interesses, mas da Aliança de Israel com
seu Deus
O texto quer
afirmar que o Espírito de Deus não está preso a uma instituição e que ninguém é
proprietário dos carismas que Ele distribui. O maior desprendimento é exigido
daqueles que na Igreja, gozam de carismas, pois sempre correm o risco de impor
ao Espírito os caminhos de sua ação, isto é, mandar na ação do Espírito de
Deus.
Salmo responsorial 18/19,8.10.12-13.14 –
O Salmo responsorial de hoje inicia confirmando que a Palavra de Deus é
perfeita, conforto para a vida e
sabedoria dos humildes. O versículo 10 afirma que o temor do Senhor é puro e
estável para sempre e suas decisões são verdadeiras não privilegiando ninguém.
Os versículos de 12 a
15 numa breve oração, o salmista se une humildemente à grandiosidade dessa
dupla ordem descrita: primeiro, pedindo que Deus o perdoe e o liberte daquilo
que perturba a ordem da lei; mesmo das faltas que ele não vê. Uma vez
purificado, ele pede que o seu hino, suas palavras cordiais, possam responder
ao hino sem palavras da criação.
O rosto de
Deus no Salmo 18/19 é muito interessante. Duas imagens de Deus são muito fortes
neste salmo: o Deus da Aliança (versículos 8-15), que entrega a Lei a seu povo,
e o Deus Criador, reconhecido como tal por suas criaturas em todo o mundo
(versículos 2-7).
O Novo
Testamento viu em Jesus o cumprimento perfeito da Nova Aliança, aquele que faz
ver de forma perfeita o Pai (João 1,18; 14,9). Jesus louva o Pai por ter
revelado seu projeto aos pequeninos (Mateus 11,25) e mandou aprender com os
lírios do campo e as aves do céu o amor que o Pai tem por nós (Mateus 6,25-30).
Cantando este
salmo na celebração de hoje, agradeçamos ao Senhor que inspira os profetas a
anunciar a salvação, a denunciar as injustiças e a levar esperança para todos.
Seu Espírito age muito além de nossas instituições.
OS PRECEITOS DO SENHOR SÃO PRECISOS,
ALEGRIA AO CORAÇÃO.
Segunda leitura – Tiago 5,1-6. Tiago,
com estilo profético ataca os que se apegam de modo exagerado aos seus bens
materiais. Colocar os bens materiais acima de Deus e das pessoas é totalmente
contrário à mensagem cristã.
Como um
profeta, Tiago repete os “ais” que Jesus pronunciou contra os ricos, os fartos,
os glutões, os exploradores do próximo (cf. Lucas 6,20s). Desde a ressurreição
de Cristo, o mundo está em julgamento e os cristãos procedem com valores
contrários: o terrestre cede ao celeste.
Tais riquezas
consistem em alimentos, vestuário e jóias. “Ferrugem” e “traças” (versículos
2-3) testemunharão contra a dureza e a avareza dos ricos, os quais preferiram
ver estragadas e corroidas suas coisas do que doar aos carentes (cf.
Eclesiástico 29,13). Ferrugens, traças simbolizam também o remorso, a ruína do
rico. Segundo o pecado serão castigados (Sabedoria 11,7). Jesus orienta a não
acumular bens que a ferrugem e a traça corroem (Mateus 6,19s; Lucas 12,33). Não
levaram a sério a mandamento de Jesus. Mas, permaneceram na sua, como se o
mundo durasse para sempre, como se Deus não os julgasse. Pobre e insensato
aquele que, após a morte e ressurreição de Cristo, não se prepara para o juízo
divino e busca sua segurança e auto-suficiência nos valores deste mundo.
Os versículos
4-6 ensinam que há uma tríplice injustiça clamando a Deus por justiça: roubar o
salário, abusar os bens nos prazeres, explorar e oprimir o pobre. Tiago se
refere em primeiro lugar, aos que possuem terras e, a seguir, também aos de
outros setores de trabalho. O salário vem à tona, que, alem de mínimo, vinha
sendo retido. A Lei de Deus questionava em juízo e garantia o salário mínimo, a
ser pago no final do dia (Levítico 19,13; Deuteronômio 24,13; Miquéias 3,3-5;
Jeremias 22,13; Tobias 4,14; Jó 24,9; Eclesiástico 4,1-6). Sem o salário o
trabalhador passaria fome. O salário roubado era comparado a um clamor que,
como o sangue de Abel, pedia vingança ao céu (Gênesis 4,10; Êxodo 2,23s;
Deuteronômio 24,15; Isaias 5,8s). Deus mesmo promete sua ajuda aos injustiçados
que Lhe pedem (Êxodo 22,26). O livro do Eclesiástico identifica a exploração do
operário ao homicídio (Eclesiástico 34,22-27). Os profetas protestam contra
semelhantes repressões (Miquéias 3,1-3.9-10; Amós 5,12; 6,12). Os ricos foram
julgados e os pobres, graças á sua confiança em Deus foram justiçados. O
Criador faz justiça a todos os pobres, não só aos cristãos. Tal justiça divina
não nos isenta de contribuir para superar as injustiças sociais, embora a
última esperança esteja em Deus.
Tiago denuncia
a origem das riquezas acumuladas com o sangue do trabalhador (versículos 4-6).
A severidade do apóstolo é compreensível em face do escândalo de nosso tempo: a
crescente concentração de renda e as desigualdades sociais.
O “justo”
condenado não é Jesus, mas o cristão pobre, oprimido e perseguido,
coletivamente (cf. Sabedoria 2,10.12.18; Isaias 57,1; Salmo 94,21), o qual
confia em Deus e não será por Ele abandonado. O pecado dos ricos é tanto mais
grave e odioso, quanto menos defesa tem o pobre.
Evangelho – Marcos 9,37-42.44.46-47.
Ressaltando a palavra-chave mais importante destas sentenças pode-se dizer, em
outras palavras: não escandalizar-se do bem que acontece fora da Igreja
(versículos 38 a
40); não dar escândalo a ninguém que pertence à Igreja (versículos 41 a 42; tirar de nós tudo que
causa escândalo versículos 43 a
48). Ou ainda: em Jesus Deus Pai
quer atingir todas as pessoas: os de fora (versículos 38 a 40), os mais pequeninos
de dentro (versículo 42) e “o homem todo” (versículos 43 a 47).
João reclama
que se proíba toda a atividade em nome de Jesus a quem não pertence
reconhecidamente ao grupo dos discípulos. Jesus opõe com muita clareza a este
exclusivismo. João quer ver a atuação do Espírito de Deus e de Jesus enquadrada
em um grupo bem definido, para evitar dispersão de forças, perda de prestígio,
confusão. Mas Jesus rejeita essa tendência. Para Ele o bem não tem fronteiras,
nem religiosas, nem sagradas, nem denominacionais, nem ideológicas... a pessoa
humana não tem o direito de encurtar
a mão de Deus e de se projetar como instrumento exclusivo dela. Deus
e o Senhor são maiores do que a Igreja.
Os versículos
43-48 fala de automutilação. Na época da publicação do Evangelho as
perseguições romanas e da sinagoga contra os cristãos podem ter influenciado os
versículos 42 a
47. Melhor é entrar mutilado para a Vida do que ter todos os membros, negar o
Senhor e abandonar a fé. Neste trecho do Evangelho de hoje o escândalo é
representado pelas mãos, pés e olhos que deveriam ser cortados e arrancados. É
certo que Jesus não está falando de uma mutilação física, mas simbolicamente de
acordo com os sentidos e a cultura daquela época.
Metaforicamente
as mãos indicam poder e força que são geradores de riqueza, concentração de
bens e impedimento para as ações que o Reino requer. Os pés são símbolo do
orgulho, um comportamento incompatível com a prática que Jesus lhes estava
ensinando. O Divino Mestre mesmo deu o exemplo de como devem ser seus
discípulos ao lavar seus pés na ultima ceia, repelindo todo sinal de orgulho e
soberba.
Quanto aos
olhos, naquela cultura, são símbolos de julgamento e da decisão. Estimulam
cobiça, desejos e intenções.
Poderíamos
resumir numa progressão contrária à citação no Evangelho, que: o olho vê,
avalia e cobiça; o pé aproxima a pessoa da coisa cobiçada e a mão leva a
adquirir para si. Portanto, não resta dúvida: o que se deve arrancar é a sede
de poder com desejos e facilidades de dominar, aparecer, oprimir.
No tempo de
Cristo a automutilação era proibida no judaísmo. O que Jesus quer dizer é que
devemos cortar o mal pela raiz e não cortar um dos membros.
3- DA PALAVRA CELEBRADA AO COTIDIANO DA VIDA
O
que chamou a nossa atenção no Evangelho? Quem são os personagens? Que
sentimentos nós podemos perceber em João? E em Jesus, que sentimentos nós podemos
perceber? Que relação há entre este Evangelho e a primeira leitura e o Salmo
responsorial?
Qual
é a boa Notícia que esta Palavra traz para nós? Que atitude nos pede? Como
podemos viver e expressar esta Palavra em nossa celebração?
O Evangelho
deste domingo nos alerta: “Ai de quem escandalizar”, mas também, “Ai de quem
não escandalizar”. É clara a relação entre os fatos do Livro dos Números e do
Evangelho de Marcos. Esse paralelismo ilumina muitas situações de nosso tempo.
Deus derrama
seu Espírito sobre os “setenta anciãos”. O espírito, no entanto,
inexplicavelmente e contra todas as orientações, se derrama também sobre os
dois que não haviam participado da tenda e eles se põem em missão. Imediatamente
o escândalo é denunciado. Josué protesta dirigindo-se a Moisés. O Evangelho
mostra João expondo a Jesus o fato consumado. Nos dois episódios, evidencia-se
a mentalidade sectária dos líderes e apóstolos em contraste com a tolerância e
o espírito aberto de Moisés e, sobretudo, de Jesus Cristo.
Frente à
resposta de Jesus: “Não o impeçais... quem não está contra nós está a nosso
favor”, a comunidade dos discípulos aparece intolerante e sectária, mais
preocupada com a expansão e o êxito do grupo do que com a realidade que está em jogo. No entender de
Jesus, não fica bem para um seguidor seu aparecer como “o maior”, como também
não é coerente atribuir-se excessiva importância, controlando e fazendo os
outros dependerem dele.
A Palavra de
Deus, neste domingo, nos alerta para a existência de “um Cristianismo que
transcende” os muros da comunidade eclesial. Que “ultrapassa as instituições e
mediações” da Igreja. Apesar de ser
a Igreja sacramento e de ser apontada por Jesus como caminho, ninguém deve se
escandalizar da presença ativa do Espírito de Deus e do Senhor Jesus fora da
Igreja. A ação do
Espírito Santo chega também àqueles que não conhecem a Cristo, pois o Senhor
“quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade”
(1Timóteo 2,4).
Inúmeros são
os profetas e missionários que, ao longo dos séculos de história da Igreja,
levaram a semente do Evangelho de Cristo ao coração das culturas, tendo de
romperem como os limites das instituições e mediações eclesiais. São Francisco
Xavier é um exemplo eloqüente de atuação missionária. Ser missionários é
experimentar profundamente a nossa pequenez, para saborear a grandeza da
solidariedade dos pequenos e dos outros povos.
Houve um tempo
na Igreja em que se dizia: “Fora da Igreja não há salvação”. Hoje, talvez, não
pensamos mais assim, porém temos muita dificuldade de viver a unidade e a
comunhão com os que são diferentes de nós. Jesus vem corrigir essa deficiência
e nos ensina o caminho da abertura para com os de “fora”, os que praticam uma
religião diferente da nossa.
Durante um
curso de Formação Litúrgica em
São Paulo , os cristãos e assessores, num total de 65 pessoas,
foram em uma tarde/noite de sexta-feira celebrar com os nossos irmãos em
Abraão, numa sinagoga, o Shabat judaico.
Após a
celebração, um conhecido rabino que presidiu o culto, recebeu estas pessoas,
conversou animadamente e ao se despedir, com um característico sotaque, disse a
todos:
“Precisamos manter nossas diferenças. Mas
não podemos admitir divisões entre nós. Porque diferentes, mas unidos, juntos
poderemos trabalhar pela paz, pela inclusão, pela igualdade, contra a opressão
etc.”
Mesmo fora da
Igreja Católica houve profetas que trabalharam pelo bem da humanidade. Por
exemplo: Martin Luther King em suas palavras de pastor protestante profetizou contra
abusos aos homens e mulheres negros. Na Índia, Gandhi, profetizou contra o
materialismo e lutou por um mundo humano e justo.
A celebração
litúrgica, expressando a fé por meio de um conjunto de ações simbólicas
recebidas da tradição, é uma referência importante, é uma identidade na qual
nos reconhecemos como Igreja. Depois do Concílio Vaticano II houve um grande
esforço para organizar a “pastoral litúrgica”. É um esforço de enraizamento que
pede, ao mesmo tempo, abertura. Significa que devemos evitar qualquer sinal, ou
mesmo um discurso, que reforce a divisão e adotar expressões que nos ajudem
adorar a Deus em comunhão com outras Igrejas e religiões.
4- A PALAVRA SE FAZ
CELEBRAÇÃO
Em alguns
grupos de pessoas, há uma dificuldade e, às vezes, até mesmo uma rejeição ao
adjetivo “todo-poderoso” atribuído a
Deus nos vocativos das orações litúrgicas. Tal dificuldade ou rejeição se
explica porque tal expressão adjetiva pode conduzir a uma má compreensão da
identidade divina bem como do modo como Deus procede para com suas criaturas.
Entretanto,
não há como desconsiderar o fato de que o poder de Deus reside, sobretudo, no
Amor. A Oração do Dia nos recorda isso: “mostrai-nos vosso poder sobretudo no
perdão e na misericórdia”. Portanto, o Senhor é todo-poderoso em Amor. Seu amor pela obra
criada é “tremendo”, a ponto de descer os ricos de seus tronos e elevar aos
humildes. Essa verdade nós a podemos contemplar em Jesus de Nazaré, centro de
nosso louvor e ação de graças.
Um outro
aspecto importante a considerar é que a consciência de nossa fraqueza e
pequenez vem acompanhada da consciência de que há alguém maior e mais forte que
nós e que a Ele não nos podemos igualar por conta própria, sem com isso não nos
desfigurar enquanto criaturas e pessoas humanas.
5- LIGANDO A PALAVRA COM A AÇÃO EUCARÍSTICA
A Palavra de
Deus deste 26º domingo amplia nossos conceitos e práticas missionárias, muitas
vezes restritas aos meios eclesiais e às pessoas da comunidade. A obra
missionária do anúncio da Boa-Nova e do aproximar-se e ter compaixão dos
pequenos e sofredores não tem fronteiras.
A eucaristia é
“fonte e força para a missão”, porque nos torna participantes do ato supremo de
caridade do Filho de Deus: a doação total de si mesmo para a nossa salvação.
Prestemos atenção à aclamação de resposta ao “Eis o mistério da fé”:
“Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição, vinde,
Senhor Jesus”.
É também da Eucaristia
que brota a missão. A comunidade de Antioquia envia seus membros para a missão,
depois de terem jejuado, rezado, celebrado a Eucaristia e compreendido que o
Espírito Santo escolhera Paulo e Barnabé para serem enviados (cf. Atos 13,2-4).
Em cada
celebração eucarística, pela escuta da Palavra e pela participação na “ceia do
Senhor” renovamos a missão e para ela somos enviados solenemente. A Eucaristia
renova a missão porque restabelece a fé e os compromissos batismais. Tal como
os discípulos de Emaús – depois de terem escutado a Palavra e reconhecido o
Ressuscitado ao partir o pão, eles assumiram a missão que lhes cabia e
alegremente partiram para anunciar de modo incessante que Jesus Cristo vive –,
que todos possam exclamar: verdadeiramente o Senhor ressuscitou!
Eucaristia e
comunhão eclesial exigem-se e complementam-se. Essa unidade confessada e celebrada
clama por uma realização mais perfeita e ecumênica, na qual a Eucaristia venha
a ser, de verdade, lugar de comunhão e de edificação de todos no mesmo Corpo de
Cristo. A comunidade eclesial dá graças ao Pai por essa comunhão ao rezar:
“Pela Palavra do Evangelho do vosso Filho reunistes uma só Igreja de todos os
povos, línguas e nações. Vivificada pela força do Evangelho do vosso Filho não
deixais, por meio dela, de congregar na unidade todos os seres humanos”
(Prefácio da Oração Eucarística para Diversas Circunstancias VI-A).
6. ORIENTAÇÕES GERAIS
1. Acolher de
maneira fraterna as pessoas que vão chegando para a celebração.
2. Dia 28
celebramos a memória de São Venceslau, amigo dos pobres; dia 29 celebramos a
Festa dos três Arcanjos, Miguel, Gabriel e Rafael nomeados nas Sagradas
Escrituras; dia 30 celebramos a memória de São Jerônimo, presbítero e doutor da
Igreja. Foi escritor, filósofo,
teólogo, retórico, gramático, dialético, historiador, exegeta e doutor, como ninguém
nas Sagradas Escrituras; dia 1º de outubro, celebramos memória de Santa
Terezinha do Menino Jesus; dia 02, fazemos memória dos Santos Anjos da Guarda e
lembramos o massacre na casa de detenção no Carandiru, em São Paulo , onde morreram
111 pessoas. É bom lembrar que no dia 2 de outubro, é Também aniversário de
nascimento de Gandhi e Dia Internacional da Não-Violência (declarado pelas
Nações Unidas).
3. O
repertório litúrgico para este domingo está no CD: Liturgia IX; CD: Liturgia
VI; CD: Festas Litúrgicas II; CD: Liturgia VII e CD, Cantos de Abertura e
Comunhão do Hinário Litúrgico CNBB (Paulus).
7- MÚSICA RITUAL
O canto é
parte necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para
animar ou enfeitar a liturgia. Por isso devemos cantar a liturgia e não cantar na liturgia. Os cantos e músicas,
executados com atitude espiritual e,
condizentes com cada domingo, ajudam a comunidade a penetrar no mistério
celebrado. Portanto, não basta só saber que os cantos são do Tempo Comum, é
preciso executá-los com atitude espiritual. A escolha dos cantos deve ser
cuidadosa, para que a comunidade tenha o direito de cantar o mistério
celebrado. A função da equipe de canto não é
simplesmente cantar o que gosta, mas cantar o mistério da liturgia deste 15º
Domingo do Tempo Comum. Os cantos devem estar em sintonia com o Ano Litúrgico,
com a Palavra proclamada e com o sacramento celebrado. Não devemos esquecer que
toda liturgia é uma celebração da Igreja corpo de Cristo e não de um grupo, de
uma pastoral ou de um movimento. Jamais os cantos devem ser escolhidos para satisfazer o ego de um grupo ou de um
movimento ou de uma pastoral.
1. Canto de abertura. “Senhor,
tudo o que fizeste conosco, o fizeste com direito e justiça”, (Daniel
3,31.29.30.43.42) “Senhor, tu tens
razão,”, articulado com o Salmo 124/125,
CD: Liturgia VII, mesma melodia da faixa 9 articulado com o Salmo 124/125.
Outra ótima opção é o canto “Canta meu povo, canta o louvor de teu Deus!”, CD:
Festas Litúrgicas II, melodia da faixa 15.
2. Hino de louvor. “Glória a
Deus nas alturas...” Vejam o CD Tríduo
Pascal I e II e também no CD Festas Litúrgicas e também a versão da CNBB
musicado por Irmã Miria e outros compositores.
O Hino de
Louvor é chamado de “doxologia maior” em contraposição com a “doxologia menor”
que é o “Glória ao Pai...”. Trata-se de um hino antiqüíssimo, iniciando com o
louvor dos anjos na noite do Natal do Senhor (Lucas 2,14), desenvolveu-se
antigamente no Oriente, como homenagem a Jesus Cristo. Não constitui uma
aclamação à Santíssima Trindade, mas um hino Cristológico, isto é, os louvores
se concentram no Filho Jesus. É um hino pelo qual, a Igreja reunida no Espírito
Santo entoa louvores ao Pai e dirige súplicas ao Filho, Cordeiro e Mediador.
3. Salmo responsorial. A Lei do
Senhor, “sabedoria dos humildes”. “A
lei do Senhor Deus é perfeita, alegria ao coração”, CD: Liturgia IX, melodia da
faixa 12.
O Salmo
responsorial é um dos cantos mais importantes da liturgia da Palavra. É um tipo
de leitura da Bíblia. Por isso, é melhor que não seja cantado por todos, mas
cantado por uma só pessoa: o salmista.
A comunidade toda deverá ouvir atentamente e responder com o refrão. Sendo um
canto bíblico, não deverá ser substituído por outro canto. O salmo nos permite
dar uma resposta (por isso responsorial) à proposta que Deus nos faz na
primeira leitura. Por isso ele é compromisso de vida. Ou como diz o profeta
Isaias 55,10-11: “A chuva cai e a terra responde com frutos”. Deus fala e a
comunidade responde na fé, na esperança e no amor. Além da resposta, o Salmo
atualiza a primeira leitura para a comunidade celebrante.
Primeira
leitura: Palavra proposta
Salmo
responsorial: Palavra resposta.
4. O canto ritual do Aleluia. “O
mistério é revelado aos pequenos”, (Mateus 11,25). “Eu te louvo, ó Pai santo,
Deus do céu, Senhor da terra”, CD: Liturgia VI, mesma melodia da faixa 10. O
canto de aclamação ao evangelho acompanha os versos que estão no Lecionário
Dominical.
Mais do que
qualquer outra aclamação (Amém ou Hosana), o Aleluia é expressão de pura
alegria de êxtase. É o júbilo, a que Santo Agostinho se referia como “a voz de
pura alegria, sem palavra”. Este júbilo nos ensina que não podemos racionalizar
muito o mistério da Palavra. A Palavra deve tocar não nosso intelecto, mas o
coração.
O canto ritual
do Aleluia (ou aclamação do Evangelho é executado de forma “responsorial”.
- Aleluia (por
um solista);
- Aleluia
(retomado por toda a assembléia);
- Versículo
(por um solista)
- Aleluia
(retomado por toda a assembléia).
Esta forma
responsorial só é completa, quando o versículo bíblico é cantado, pois, caso
contrário, a resposta não tem seu verdadeiro efeito.
5. Apresentação dos dons. Momento de partilha para com as necessidades
do culto e da Igreja. Devemos ser oferendas com as nossas oferendas para
socorrer os necessitados. “As mesmas mãos que plantaram a semente aqui estão”,
CD: Liturgia VII, melodia da faixa 4.
6. Canto de comunhão. “Se teu
olho te leva a pecar, arranca-o! É melhor entrar no reino de Deus com um olho
só do que, tendo os dois, ser jogado no inferno...”, (Marcos 9, 47-48). “É
melhor, com apenas um olho dar entrada no Reino de Deus.”, articulado com o Salmo
112/113, CD: Liturgia IX, melodia da faixa 13.
O Evangelho
nos mostra Jesus revelando que o mal deve ser cortado pela raiz (Marcos
9,43-48). Nesse sentido a Igreja oferece também outras duas ótimas opções: “Um
cálice foi levantado, um pão entre nós partilhado”, CD: Cantos de Abertura e
comunhão, melodia da faixa 19. “O Senhor poderoso em Amor”. Encontra-se também
gravado no CD: Cantos de Abertura e Comunhão: Hinário Litúrgico III. Estes três
cantos são os mais apropriados para retomarem o Evangelho neste Domingo.
O fato de a
Antífona da Comunhão, em geral, retomar um texto do Evangelho do dia revela a
profunda unidade entre a Liturgia da Palavra e a Liturgia, Eucarística e
evidencia que a participação na Ceia do Senhor, mediante a Comunhão, implica um
compromisso de realizar, no dia-a-dia da vida, aquela mesma entrega do Corpo e
do Sangue de Cristo, oferecidos uma vez por todas (Hebreus 7,27).
8- ESPAÇO CELEBRATIVO
Além do Altar
e do Ambão, outro elemento importante do espaço celebrativo de nossas igrejas é
a sédia, ou cadeira presidencial, ocupada por quem preside a celebração. Não é
um “trono” de honra, mas um lugar do servidor maior da assembléia. A sédia é,
na liturgia, um sinal da autoridade do Cristo Mestre e servidor, não do
autoritarismo dominador. Autoridade tem a ver com ensino. Muitas das vezes em
que Jesus ensina, é relatado que Ele se assenta, como no Evangelho de hoje.
“Jesus sentou-se, chamou os discípulos e lhes disse: Se alguém quiser ser o
primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos” (versículo
35). Assim faziam os mestres de seu tempo. Mas de Jesus se dizia que Ele
ensinava como quem tem autoridade (Marcos 1,22). O maior ensino de Jesus é o
amor serviçal, capaz de dar pelo outro a vida.
9- REDESCOBRINDO O MISSAL ROMANO
Um erro grave
nas celebrações da eucaristia é a distribuição da comunhão do sacrário como
prática normal. Assim pecamos contra toda a dinâmica da ceia eucarística, que
consta da preparação das oferendas, da ação de graças, sobre os dons trazidos,
da fração do pão consagrado e da distribuição àqueles que, com a oblação deste
pão, se oferecem a si mesmos com Jesus ao Pai (cf. IGMR 56 h).
10. AÇÃO RITUAL
Antes de
iniciar a celebração, deixar a cruz na entrada da Igreja ladeada com duas
velas, para que todos possam perceber o mistério da cruz na celebração deste
Domingo.
Valorizar os
momentos de silêncio durante a
celebração (no início da celebração, após cada leitura e o canto do salmo, após
a homilia, após a comunhão...) para que o louvor bote do coração e da vida, não
só dos lábios.
Ritos Iniciais
1. Na
procissão de entrada a cruz, como de costume, pode ser trazida à frente,
ladeada por velas como no Domingo anterior. Quando chegar ai santuário
(presbitério), ela é depositada no lugar de costume, e as velas permanecem
ladeando-a.
2. A
celebração tem início com a reunião da comunidade cristã (IGMR 27.47). O canto
de abertura começa tendo em conta essa realidade eclesial, e vai introduzir a
assembléia no Mistério celebrado. Sugerimos como canto de abertura, o “Eu sou a
salvação do povo meu”, muito oportuno para a celebração de hoje.
3. Logo após o
beijo do Altar e terminado o canto de abertura, sugerimos que a saudação do
presidente seja a fórmula inspirada em 2Coríntios 13,14:
“A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o
amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco”.
4. Após a
saudação inicial, conforme propõe o Missal Romano, dar o sentido litúrgico da
celebração, isto é, o mistério celebrado:
Domingo da tolerância com os fracos. Irmãos
e irmãs, estamos reunidos em nome de Cristo para ouvir sua Palavra e participar
de seu corpo e Sangue, louvando e bendizendo ao Pai por suas maravilhas. Como
discípulos e discípulas, somos instruídos pelo próprio Cristo a reconhecer a
atuação de sua graça e bondade no mundo, nas culturas e em todas as iniciativas
geradoras de vida. Ninguém age em nome de Cristo se não está com ele.
Alegremo-nos com todos os esforços pela justiça, pela paz, pela erradicação do
mal e pela verdade, ainda que tais iniciativas não partam de nós.
5. O
presidente da celebração motiva a comunidade para que silencie o coração e
recordem pessoas que sendo cristãs ou membros de outros caminhos religiosos,
manifestam o poder do Amor de Deus no cuidado com a sua criação.
6. Sugerimos
para o ato penitencial a fórmula n. 1 do Missal Romano. Dentro das
possibilidades seja cantado: “Eu confesso a Deus e a vós irmãos”, CD: “Santo é
o Senhor”, melodia da faixa 10, Paulus.
7. Cada
Domingo do Tempo Comum é Páscoa semanal. Cantar de maneira festiva o Hino de
louvor (glória).
8. A Oração do
Dia nos deixa claro que Deus mostra seu poder no perdão e na misericórdia.
Rito da Palavra
1. Antes de
iniciar a Liturgia da Palavra, cantar um refrão meditativo. Pode ser: “A vossa
Palavra Senhor,/ É sinal de interesse por nós”. Pode ser também esse outro
refrão: “Tua Palavra é lâmpada para os meus pés Senhor. Lâmpada para os meus
pés e luz./ Luz para o meu caminho”.
2. Na
Profissão de fé, que pode ser dialogada, a exemplo da Vigília Pascal, a
comunidade, iluminada pela Palavra de Deus, renove seu compromisso de
solidariedade com os pobres e seu compromisso com a necessidade de respeito e
diálogo com outras igrejas cristãs e também com outras religiões.
3. As preces
sejam feitas do Ambão, pois são ressonâncias orante da Palavra de Deus.
Lembrem-se, nos petições, de todos aqueles que colaboram por um mundo novo,
cristãos e não cristãos.
Rito da Eucaristia
1. A
preparação dos dons tem uma finalidade prática, expressa na procissão com que o
pão e o vinho são trazidos ao altar. Segundo o costume das refeições judaicas,
bendiz-se a Deus pelo alimento básico, o pão, e pela bebida mais significativa,
o vinho. Evitar chamar este momento de “ofertório”, pois ele acontece após a
narrativa da ceia (consagração).
2. Na Oração
sobre o pão e o vinho suplicamos ao Deus de misericórdia que “por esta oferenda
abra-se para nós a fonte de toda a bênção”.
3. A Prece
eucarística VI-D, “Jesus que passa fazendo o bem”, é uma feliz opção para este
Domingo. Ela expressa, com profundidade teológica e rico caráter poético, a
ação de Cristo no mundo e nossa pertença à vida do Mestre Jesus. Outra opção é
a Prece Eucarística para Diversas Circunstancias I, que expressa também com
profundidade a importância da unidade da Igreja.
4. Se for
escolhida outra oração eucarística sugerimos o Prefácio dos Domingos do Tempo
Comum I página 428 do Missal Romano o qual destaca o Mistério Pascal e que o
povo de Deus é chamado a proclamar as Suas maravilhas a todos os povos. Seguindo
esta lógica, cujo embolismo reza: “...que pelo mistério da sua Páscoa,
realizou uma obra admirável. Por ele, vós nos chamastes das trevas à vossa luz
incomparável, fazendo-nos passar do pecado e da morte à glória de sermos o
vosso povo, sacerdócio régio e nação santa, para anunciar, por todo o mundo, as
vossas maravilhas”. O grifo no texto identifica aqueles elementos em maior
consonância com o Mistério celebrado neste Domingo e que pode ser aproveitado
na celebração, ao modo de mistagogia. Usando este prefácio, o presidente deve
escolher a I, II ou a III Oração Eucarística. A II admite troca de prefácio. As
demais não admitem um prefácio diferente. As demais não podem ter os prefácios
substituídos sem grave prejuízo para a unidade teológica e literária da
eucologia.
5. Dar maior
atenção a toda a liturgia eucarística como ação de graças – dom gratuito que
Jesus Cristo faz de sua vida ao Pai pela libertação da Humanidade: cantar o
prefácio (ou a louvação da celebração da Palavra), o santo as aclamações e o
Amém final da Oração Eucarística. Evitem-se cantos e gestos devocionais e
individualistas (“Bendito, louvado seja”, “Deus está aqui”, “Eu te adoro,
hóstia divina” etc.).
6. A narrativa
da instituição da eucaristia não é uma imitação da última ceia; por isso não se parte o pão neste momento como algumas
vezes acontece. A liturgia eucarística, como se disse, é fazer o que
Jesus fez: tomou o pão e o vinho, deus graças, partiu o pão e o deu (comer e
beber). O partir o pão, como Jesus fez, corresponde à fração do pão em vista da
comunhão. Por isso, a Redemptionis Sacramentum, número 55, considera um abuso
partir o pão durante o relato da instituição.
7. Neste
Domingo é muito oportuno apresentar o pão e o vinho para o convite à comunhão
utilizando o Salmo 33,9: “Provai e vede,
como o Senhor é bom, Feliz de quem nele encontra seu refúgio. Eis o Cordeiro de
Deus que tira o pecado do mundo...”
Ritos Finais
1. Na oração
pós-comunhão pedimos a Deus que a Eucaristia que recebemos renove a nossa vida
e nos dê a herança eterna.
2. As palavras
do rito de envio podem estar em consonância com o mistério celebrado. Tenham um coração aberto e solidário. Vivei
em contínua conversão. Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe.
3. Nos ritos
finais somos convocados para estar com o Senhor e sermos enviados em missão
(cf. Marcos 3,14), para sermos sacramento de unidade e da salvação de todo o
ser humano mensageiros de solidariedade, de paz, justiça, transformação pascal,
vida, salvação, aliança entre todos os povos de diferentes igrejas cristãs,
religiões e culturas.
11- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Que esta
celebração tire de nós todo pré-conceito e a pretensão de sermos os donos da
verdade.
Celebremos a
Páscoa semanal do Senhor valorizando os que assumem a sua missão em nossa
diocese e no mundo inteiro, convivendo com as diferenças religiosas e
promovendo a paz, a justiça e a fraternidade.
O objetivo da
Igreja e da nossa equipe diocesana de liturgia é ajudar os padres e as
comunidades de nossa diocese e todas aquelas outras comunidades fora de nossa
diocese que acessar nosso site celebrar melhor o mistério pascal de Cristo.
Um abraço
fraterno a todos
Pe. Benedito
Mazeti
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