sexta-feira, 4 de julho de 2014

14º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO A

06 de junho de 2014

Leituras

       Zacarias 9,9-10
       Salmo 144/145,1-2.8-11.13-14
       Romanos 8,9.11-13
       Mateus 11,25-30 

“O MEU JUGO É SUAVE E O MEU FARDO É LEVE”


1- PONTO DE PARTIDA

Cada Domingo do Tempo Comum é sempre festa da Páscoa do Senhor. Mesmo após a reforma litúrgica que tentou devolver aos domingos do Tempo Comum seu sentido original, ou seja, de festa pascal, aumentaram tanto as festas de santos e criou-se tanto tema e meses temáticos para ser celebrado nesses domingos que quase não os percebemos mais.

Assusta-nos também que essas festas e domingos temáticos acabam ofuscando o sentido do mistério que está sendo celebrado, sobretudo o rico valor da Palavra de Deus na Liturgia da Palavra. Recuperemos, pois, o sentido desses domingos: verdadeiras festas pascais, isto é, cada Domingo é Páscoa semanal.

Recebemos, ó Deus, a tua misericórdia no meio da tua casa. Teu louvor se estende, com o teu nome, até os confins da terra. Toda a justiça se encontra em tuas mãos (Salmo 48,10-11), antífona do canto de abertura de hoje.

2- REFLEXÃO BÍBLICA, EXEGÉTICA E LITÚRGICA

Primeira leitura – Zacarias 9,9-10. Com o capítulo 9 tem início a segunda parte do Livro de Zacarias (Segundo Zacarias) em que prevalecem os temas messiânicos. Jerusalém é convidada a exultar porque chega o “rei” esperado, como Davi “montando num jumentinho” (versículo 9b), em vez de num cavalo: a sua força não está na cavalaria (que foi introduzida por Salomão), mas na força do Senhor. Por isso será um soberano “justo e salvador, humilde” (versículo 9b). Anunciador de paz e dominador universal (versículo 10), a fé cristã reconhece em Jesus a personagem profetizada por Zacarias (cf. Mateus 21,1-9).

A eleição de Israel, recordam frequentemente os profetas, está fundada a opção gratuita por Deus. O Senhor não abandona o seu Povo, mas guia a História à Sua maneira. Por outro lado, as vitórias e a força de Israel dependem da sua fidelidade à Aliança. Não é certamente com “os carros”, com os “cavalos” (versículo 10), não é com o poder demonstrado pelo Faraó, e no qual confiam os sucessores do rei Davi, que o país mais pequeno entre os povos poderá subsistir. Confiar no próprio poder bélico, nas armas poderosas mais na que na força de Deus foi para Israel o erro que decretou o sofrimento da derrota e do exílio.

Seja como for, a profecia de 9,9-10 expressa a esperança de que um dia Deus criará condições para que Seu povo possa viver em paz. O profeta já entendera que esta paz nacional supunha paz e tranquilidade em âmbito internacional, em todo o hemisfério. Por isso imaginou o futuro messiânico, eliminando todas as reminiscências de guerra e hostilidade em plano internacional (versículo 10b) e nacional (versículos 9-10a). Espera-se o desarmamento total e uma paz universal. Também trará libertação de imposições internas conseguidas por meio de ostentação de poder e propaganda triunfalista (versículo 9b). E ainda dispensará as forças armadas de repressão, de defesa, de ataque e de dominação imperialista (versículo 10).

O tema e o ideal de desarmamento total, esperado e previsto para os tempos messiânicos, encontra-se em muitas profecias. O símbolo de armamento pesado – que é hoje as armas nucleares e armas químicas – constitui no Israel do Primeiro Testamento em carros e cavalos de combate (cf. Oséias 1,7; 2,20; 4,3; Miquéias 5,9; Isaias 30,16; 31,1; Deuteronômio 17,16; 1Samuel 17,47; Salmo 19,8; Salmo 32,16-17; Salmo 146,10s). O rei messiânico, que é o rei de paz, (versículo 10b), não montará em cavalo, nem para Seu próprio uso, nem para uso cerimonial, por ocasião de Sua entrada triunfal em Jerusalém para tomar posse do trono. Para evitar até a aparência de querer mandar pela força ele montará em um jumento, melhor, jumentinho (versículo 9), como os antigos príncipes (cf. Genesis 49,11). Isto não é símbolo de humildade, mas de desarmamento ou, então, da índole pacífica do Messias. Com Ele cumprirá a antiga promessa feita a Abraão (cf. Genesis 12,1-3), isto é, levará a bênção de Deus a todos os homens (versículo 10). Por isso é que Mateus cita este trecho de Zacarias na narração da entrada de Jesus em Jerusalém, aclamado como rei messiânico, para afirmar a Sua realeza, efetuada mediante a humilhação e a Cruz (cf. Mateus 21,1-9.  

O rei messiânico vem para salvar. A palavra hebraica é o particípio passivo de “salvar” (hosana). O rei messiânico e a proteção divina. Ele é fiel a Deus e à Sua vontade é um rei pacífico; Ele goza da proteção de Deus e nem precisa recorrer às armas para se salvar.

Pode-se dizer que esta profecia se realizou de um modo perfeito e ao mesmo tempo inesperado em Jesus. Sem armas (cf. João 18,36; Mateus 26,51-54). Ele conseguiu implantar o Reino de Deus na terra e inaugurou os tempos messiânicos, isto ‘e, os tempos cristãos. Cabe aos cristãos continuarem esse desarmamento e esta conquista pacífica da paz, começando na própria casa. Montar um aparato bélico enorme com a pretensão de assegurar os valores (cultura, civilização etc.) cristãos, isto é, messiânicos, parece uma contradição.

Salmo responsorial 144/145,1-2.8-11.13-14. É um hino de louvor, abrindo o grande louvor final do livro. É um hino de louvor de uma pessoa que convida outras a fazer o mesmo. O contexto é público e o motivo do louvor são as obras de Deus na história do povo. De fato, daqui até o fim, todos os salmos são desse tipo.

O convite começa na primeira pessoa do singular. Domina o tema do Reino de Deus. O tema comum é a misericórdia de Deus. O Salmo 144/145, diante da beleza da criação, que é reflexo da magnitude e perfeição do Criador, bendiz o nome do Senhor. Afirma que o Senhor é misericórdia, piedade, amor, paciência e compaixão. O Senhor ama a todos e é bom para com todos: sua ternura abraça toda a criatura. Vale a pena retomar as afirmações do Salmo a respeito de Deus, pois resumem e expressam muito bem o que a liturgia toda proclama.

O rosto de Deus no Salmo 144/145. Os títulos dados a Deus sintetizam o rosto de Deus neste Salmo: grande, piedoso, bom, fiel, amoroso e justo. “Sua ternura abraça toda a criatura” (versículo 9). Um Deus aliado que faz justiça, defendendo os oprimidos da ganância dos injustos. Aparece também como Criador e doador de vida para todos.

Este salmo ecoa de muitos modos em Jesus, sobretudo em suas obras e maravilhas. Ele amparou os que caíam e, literalmente, endireitou os encurvados (Lucas 13,10-17). O Reino por Ele inaugurado não tem fim (1,34), está sempre mais próximo (Marcos 1,15) e nos compromete (Mateus 10,7).

Demos graças ao Senhor porque Ele sempre se aproxima de nós e sempre nos dá provas do seu amor. Que Ele nos ajude a buscar de novo a sua face. Cantando este Salmo façamos nossa a prece do salmista bendizendo a Deus por sempre nos perdoar com paciência e compaixão. Demos graças ao Senhor

BENDIREI, ETERNAMENTE, VOSSO NOME, Ó SENHOR!

Segunda leitura – Romanos 8,9.11-13. O capítulo 8 da Carta aos Romanos é dedicado a ilustrar a vida segundo o Espírito, que se opõe à vida segundo a carne (cf. Romanos 8,1-13). Os versículos da leitura de hoje mostram a novidade da vida cristã, fundada sobre a força do Espírito que “habita” nos cristãos (versículos 9,11): é o próprio Deus que o anima a partir do interior. Com o Batismo o homem torna-se participante da morte e ressurreição de Jesus, da vida que o Pai deu ao Filho arrancando-O da morte (versículo 11). Esta vida reanima o cristão e torna-o criatura nova.

Neste texto fala-se das origens e rumos da existência cristã. A vida cristã é totalmente divina nas suas origens e não tem nenhum suporte na existência pré-cristã do cristão. A identidade da pessoa é mero receptáculo de novas capacidades existenciais, comunicadas por Deus ao salvar as pessoas: “Quem não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Ele” (versículo 9c). Neste mesmo versículo Paulo chama o Espírito de “Espírito de Deus (Pai)”, “Espírito de Cristo” e “Espírito que vive em vós”.

O Espírito de Cristo no cristão tem nele não somente efeitos espirituais, morais (versículos 12-13) ou místicos (versículo 16), mas também corporais (versículo 11). Aí Paulo atribui a ressurreição de Jesus ao Espírito do Pai. “O poder que vivifica o cristão é, pois, de novo reconduzido até a sua última origem no Pai, porque o Espírito é a manifestação de Sua presença e poder no mundo desde a ressurreição e graças a ela” (Fitzmyer).

Chamando a origem da vida cristã ora de “Espírito de Deus Pai”, ora de “Espírito de Cristo”, ora de “Espírito Santo” e formulando a comunhão  com o Espírito em termos de reciprocidade (“Vós estais no Espírito uma vez que o Espírito de Deus habita em vós”, (versículo 9), Paulo prepara a teologia da índole Trinitária da vida “espiritual” do cristão: vivendo como cristão, o cristão vive em comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo e revela esta comunhão no mundo pelo seu espírito de paz e amor e não de ódio e de matança e morte (versículo 6; cf. Romanos 5,5; 8,35-39), de liberdade e não de escravidão, de confiança e não de medo (versículo 15).

Não é a Lei que salva, nem as obras do corpo. É antes a participação na “morte e ressurreição” de Jesus Cristo (cf. versículo 11), celebrada no Batismo e vivida na fé que nos torna criaturas novas e nos consente viver “renovados” profundamente no Espírito, capazes de obras novas.

Evangelho – Mateus 11,25-30. A mensagem da leitura de hoje é importantíssima para a interpretação correta da figura de Jesus de Nazaré e do Cristianismo como religião revelada por Deus. É preciso saber que o Cristianismo é mais que religião, e sim “revelação”.

Depois de ter censurado severamente os Seus contemporâneos pela incredulidade com que O haviam recebido (cf. Mateus 11,20-24), Jesus abre o Seu coração e os Seus lábios pronunciando uma intensa oração ao Pai. Ele dá graças ao Pai por ter aos “pequeninos”, aos ignorantes (em oposição aos “sábios”, os doutores escribas) a verdade sobre a Sua pessoa e missão (versículos 25-27). Prossegue convidando mesmo os mais pequenos, “cansados e oprimidos”, (versículo 28), a entrar em comunhão com Ele e acolher o “jugo” da mansidão, por Ele testemunha, em lugar da Lei (versículos 29-30).

É raro ouvir palavras intensas como estas, quase um desabafo em forma de oração, bem parecido ao que rezamos em alguns salmos. Nelas ouvimos a voz de Jesus, que reza perante a suspeita e a rejeição que acompanham a Sua missão nas cidades onde realizou muitos milagres (cf. Mateus 11,20-24), e levantadas precisamente por aqueles aos quais os profetas tinham anunciado um Messias humilde (cf. Zacarias 9,9).

Esquematicamente as correspondências que Mateus introduziu no texto para destacar a importância da mensagem, considera-se o papel que a leitura de hoje desempenha no contexto de Mateus.

G           11,16   =  “esta geração”
F            11,18   =  “dizem: ele está com demônio”
E           11,19    =  “a sabedoria foi justificada”
D      11,20-24   =  Jesus pregou em vão ao Seu povo, mas não aos pagãos
                              (“arrepender-se; Tiro e Sidônia/Sodoma; no dia do juízo”)
C      11,25-30   =  Jesus revela a misericórdia de Deus para com os pequenos e aflitos
B           12,1-8  =  os letrados (fariseus) contestam o comportamento de Jesus
A           12,7     =  Oséias 6,6: “QUERO A MISERICÓRDIA...”
B’     12,9-15a   =  os letrados (fariseus) contestam o comportamento de Jesus
C’     12,15b-21 =  Jesus revela a misericórdia de Deus para com os pequenos e
                               aflitos, cumprindo Isaias 42,1-2 “Ele anunciará a justiça
                               aos pagãos, que Nele porão sua esperança”.
F’     12,22-30 =    “disseram: É por Belzebu, o chefe dos demônios, que Ele expulsa
                              os demônios”
E’           12,37 =   “por tuas palavras será justificado”
D’    12,38-45  =   Jesus pregou em vão a Seu povo, mas não aos pagãos
                              (“arrepender-se; os moradores de Nínive/ a rainha do Sul; no juízo”)         
G’          12,45 =   “esta geração”
O conjunto teológico abrange 11,16—12,45. Os elementos G-F-E de um lado e F’-F’-G’ de outro lado servem de moldura. A parte central se compôs em redor da citação de Oséias 6,6: “Quero a misericórdia”. A missão de Jesus é a revelação da misericórdia de Deus. Os elementos C e C’ deixa claro que os iletrados e pequenos, os aflitos e os pagãos são o objeto preferencial desta misericórdia divina. O comportamento de Jesus, em que Deus oferece a Sua misericórdia (A) para as categorias de pessoas explicitadas em C e C’, é contestado pelos letrados do povo, que são os fariseus (B e B’). Nos elementos D e D’ contrastam-se a atitude do povo das cidades de Israel (D) ou desta geração de Israel (D’) de um lado e a atitude de cidades e regiões pagãs de outro lado, ambas as vezes em dois pares de oposições.

A leitura de hoje (11,25-30) também pode ser dividida em três partes:

B     =  11,25-26:    revelação aos pequenos, não aos sábios.
A     =  11,27     :    Jesus é o único mediador da revelação do Pai.
B’    =  11,28-30:   a revelação traz alívio aos aflitos.

As partes B e B’ são confirmadas especialmente pelas citações dos profetas Oséias e Isaias. A parte A é confirmada pelos elementos D e D’e pelas frases: “aqui está quem é maior que o templo” (12,6), expressão própria de Mateus, mas imprimida a partir das expressões que ele em comum com Lucas: “aqui está quem é mais do que Jonas ou Salomão” (12,41s).

A resposta de Jesus não é desconforto nem a mudança de opinião, mas antes o pleno acolhimento da missão recebida do Pai: “Eu te bendigo, ó Pai” (versículo 25). A sua oração relembra a resposta dos três jovens na fornalha ardente, condenados pelos sábios e poderosos do seu tempo (cf. Daniel 3,52). É a humildade que escandaliza, a pequenez na qual alguém não tem condições para reconhecer a presença e a força de Deus, ontem como hoje.

O “jugo” que Jesus nos convida a levar, imitando Ele próprio, não é o da observância da Lei (versículos 29-30; cf. Lamentações 3,27; Jeremias 2,20), que acaba por dar a presunção de ganharmos por nós próprios a salvação, mas o reconhecimento da nossa pequenez e o desejo da salvação que vem só de Deus.

Quem pode suportar esse jugo? Quando Jesus fala de “jugo suave e de fardo leve!” (Mateus 11,30). O que é jugo? Não há dúvida que aqui Jesus fala como um mestre judeu: o jugo que Jesus fala não é a canga dos bois, mas é a Lei. Havia no tempo de Jesus, muitas controvérsias sobre a interpretação da Lei de Deus. Alguns, levados por um zelo sincero, mas talvez excessivo, procuravam na Sagrada Escritura toda uma lista de mandamentos. Uma tradição um pouco posterior a Jesus atesta uma lista de 613 mandamentos. Mais exatamente: 365 (como os dias do ano) proibições ou mandamentos negativos (“Não faça isso... Não faça aquilo... Não matar... Não roubar... Não desejar...”); e 248 obrigações (“Faça isso... Faça aquilo... Reze tal hora e na tal forma...”).
                             
3- DA PALAVRA CELEBRADA AO COTIDIANO DA VIDA

A humildade que caracteriza Jesus Messias, anunciada por Zacarias (primeira leitura), é muitas vezes considerada uma virtude que devemos adquirir, um esforço a mais para ganharmos estima aos olhos de Deus. Na realidade, este modo de conceber as coisas não é mais do que acrescentar lei à lei, preceitos a preceitos, fortalecendo a ilusão de que através da dureza de uma vida virtuosa se pode entrar nas graças de Deus. O Messias humilde do Evangelho é pelo contrário aquele Jesus que vive na obediência ao Pai, porque sabe que a Sua única força está em confiar no Seu amor. Como Jesus, também o cristão vive a verdadeira humildade, quando renuncia o pensamento de que a salvação consiste em ultrapassar com o seu esforço humano as contradições da História e da vida, para confiar só na força que vem de Deus. Esta foi uma mensagem difícil de acolher por parte dos reis de Israel, os quais viam nos carros e nos cavalos a verdadeira ajuda em que podiam confiar, esquecendo a promessa do Senhor, único libertador de Israel. Mas é difícil de aceitar também pelos cristãos de ontem e de hoje. O poder econômico e político, como é posto à disposição pelas biotecnologias, criam a ilusão de conquistar, só com as forças humanas, as condições de liberdade e de paz que pelo contrário são humilhadas pelos interesses desses mesmos poderes.

Os cristãos sabem, como o Apóstolo dos pagãos refere diversas vezes (segunda leitura), que a sua força reside no Espírito, dom gratuito do Pai, que é preciso acolher despojando-se das próprias seguranças e renunciando a procurar na “carne”, no esforço humano centrado sobre si mesmo, o seu próprio sucesso (cf. Romanos 8,13a).

Estamos diante da oração pessoal de Jesus ao Pai. Ele agradece a Deus ;por ter revelado seus segredos aos pequeninos, pastores, pescadores, excluídos que O acolheram e O seguiram pela Galiléia. Revela que a salvação é dom gratuito de Deus a todos, e não é monopólio de elites intelectuais. Jesus chama a Deus de Pai, vive com Ele uma profunda humildade e nos chama a entrar nesta relação filial.

Esta palavra do Evangelho é um convite a retomarmos a experiência amorosa da relação filial de Jesus com o Pai e a traduzi-la numa prática de não-violência. A oposição ao Reino acontecida nas cidades que o rejeitaram ou no confronto com os fariseus, Jesus reage com uma mansidão que, longe de submissão ou resignação, manifesta-se como recusa em aceitar a violência como forma de resolver os conflitos e modo de estruturar a sociedade. O jugo suave de Jesus não significa alienação ou descompromisso, mas sobretudo empenho com a paz, tal como anunciada na primeira leitura: “destruirá as armas de guerra e anunciará a paz”.

Santa Teresa de Ávila reconhecia não ter estudos de teologia por Salamanca e, contudo, alcançou de Deus tal sabedoria espiritual que é doutora da Igreja, isto é, mestra em espiritualidade. É preciso urgente unir fé e ciência, sabedoria e humildade de espírito, como foi o caso de Santo Tomás de Aquino, aí estaremos na situação ideal e mais vantajosa. Não devemos apegar à nossa própria sabedoria, ela é limitada.

Ao convite que o Senhor nos faz – “Venham a mim vocês que estão cansados e fatigados” –, nós respondemos com a nossa participação constante e assídua na liturgia. Os mistérios do Reino e da liturgia são dados àqueles que têm o coração de pobre, que são simples e pequeninos e que, por isso, compreendem a profundidade do jogo da liturgia, sua linguagem orante, de silêncio e se sentido contemplativo.

4- A PALAVRA SE FAZ CELEBRAÇÃO

Trilhar o caminho da vida nova
Seguindo os passos de Jesus, encontramos descanso no mistério de Deus acolhido em nosso coração. Instruídos continuamente por seu ensinamento, somos chamados a trilhar o caminho da vida nova, no amor e serviço solidário aos mais sofredores.

Os segredos do Reino

Nesta celebração, de coração simples e agradecido, demos graças a Deus Pai pelo dom do seu Filho aos humildes, ignorantes e oprimidos. Jesus nos chama à comunhão com ele e com o Pai, oferecendo-nos a liberdade e nos revelando os segredos do Reino. No sinal do pão e do vinho reconhecemos a fonte da vida para todos os que colocam Nele sua confiança.

5- LIGANDO A PALAVRA COM A AÇÃO EUCARÍSTICA

Vinde a mim, diz Jesus nesta Eucaristia, vinde a esta mesa. A primeira antífona para a comunhão deste Domingo nos coloca em conexão com a Solenidade de São Pedro e São Paulo domingo passado e uma extensão do convite do Evangelho: “Provai e vede quão suave é o Senhor, feliz o homem que tem nele o seu refúgio” (Salmo 33,9).

A oração depois da comunhão pede para “que enriquecidos por tão grande dádiva (eucaristia), possamos colher os frutos da salvação sem jamais cessar” o louvor. A Eucaristia (o pão eucaristizado) que daqui a pouco receberemos não é só “fruto” da eucaristia/celebração que estamos colocando em ato, mas é também ela “fonte” de eucaristia/louvor/oração.

A participação neste banquete deve nos levar “cada vez mais a viver a vida” do Reino, nos ensina a oração sobre as oferendas. A vida do Reino é uma vida de “santa alegria” de “gozo das alegrias” eternas que tem sua fonte na consciência de que fomos libertados da escravidão do pecado e da morte, como nos ensina a oração do dia da Missa de hoje.

6. ORIENTAÇÕES GERAIS

1. Cada ministério litúrgico seja exercido com verdadeira humildade e espírito de serviço. Todo batizado é um anunciador do Pai, e também profeta. Na celebração litúrgica, alguns são chamados a colocar-se a serviço da Igreja e da comunidade reunida, como proclamadores da Palavra divina. Deus serve-se da voz dos leitores e salmistas para falar à assembléia, isto é, Deus fala pela boda dos leitores e salmistas. Quem exerce este ministério é sinal vivo da Palavra.

2. As pessoas que forem proclamar as leituras sejam devidamente preparadas. Elas têm a dignidade do próprio Cristo, que é quem nos convoca e fala a seu povo. Leia-se compassadamente. Cuidemos sempre para que os leitores, equipe de canto e salmistas sejam pessoas com um mínimo de formação bíblica e litúrgica e que, efetivamente, vivam a fé que proclamam.

3. É preciso valorizar o uso da veste litúrgica por leitores e salmistas, pois ela torna visível o serviço de quem proclama a Palavra, ela é a marca da função ministerial, isto é, colocar-se a serviço de Deus e da assembléia orante.
4. Lembrar que dia 09 de julho, a Igreja no Brasil faz memória de Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus. Ela foi beatificada pelo papa João Paulo II, em 1991, quando ele visitou oficialmente o Brasil. Depois o mesmo papa a canonizou em 2002. Assim, Madre Paulina tornou-se a primeira Santa do Brasil. No dia 11 é dia do abade São Bento, patriarca do monaquismo ocidental.

7- MÚSICA RITUAL

O canto é parte necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para animar ou enfeitar a liturgia. Por isso devemos cantar a liturgia e não cantar na liturgia. Os cantos e músicas, executados com atitude espiritual e, condizentes com cada domingo do Tempo Comum, ajudam a comunidade a penetrar no mistério celebrado. Portanto, não basta só saber que os cantos são do 1.41º Domingo do Tempo Comum, é preciso executá-los com atitude espiritual. A escolha dos cantos deve ser cuidadosa, para que a comunidade tenha o direito de cantar o mistério celebrado. Jamais os cantos devem ser escolhidos para satisfazer o ego de um grupo ou de um movimento ou de uma pastoral. Não devemos esquecer que toda liturgia é uma celebração da Igreja corpo de Cristo e não de um grupo, de uma pastoral ou de um movimento.

Antes da celebração, evitar a correria e agitação da equipe litúrgica e a equipe de canto, com afinação de instrumentos e testes de microfone. Tudo isso deve ser feito antes. A equipe de canto não deve ficar fazendo apresentação de cantos para entretenimento da assembléia É importante criar um clima de silêncio orante.

1. Canto de abertura.  Louvor à misericórdia de Deus (Salmo 47/48/10-11). Para o canto de abertura, sugerimos este Salmo. “No meio da tua casa recebemos, ó Deus, a tua graça!”, CD: Liturgia VI, melodia da faixa 19. As estrofes são do Salmo 32/33, nos convida a alegrar-nos no Senhor que é bom, que cumpre o que promete. Outra opção seria outra versão desse mesmo salmo: “Nós recebemos, Deus, vossa misericórdia no interior de vosso templo”, Hinário Litúrgico III da CNBB, página 384. Uma terceira opção seria: “Aqui chegando, Senhor, que poderemos te dar?”, CD: Cantos de Abertura e Comunhão, melodia da faixa 3.

Ensina a Instrução Geral do Missal Romano que o canto de abertura tem por objetivo, além de unir a assembléia, inseri-la no mistério celebrado (IGMR nº 47). Nesse sentido o Hinário Litúrgico III da CNBB nos oferece uma ótima opção, que estão gravados no CD: Liturgia VI e Cantos de Abertura e Comunhão.

2. Ato penitencial. “Senhor, servo de Deus, que libertastes a nossa fraqueza”, CD: Partes Fixas Ordinário da Missa, melodia da faixa 2. A letra é muito oportuna para este 14º Domingo do Tempo Comum.

3. Hino de louvor. “Glória a Deus nas alturas...” Vejam o CD Tríduo Pascal I e II e também no CD Festas Litúrgicas, Partes fixas do Ordinário da Missa do Hinário Litúrgico III da CNBB e também a versão da CNBB musicado por Irmã Miria e outros compositores. Ver também o CD: Partes Fixas Ordinário da Missa.

O Hino de louvor “Glória a Deus nas alturas” é antiqüíssimo e venerável, com ele a Igreja, congrega no Espírito Santo, glorifica e suplica a Deus e ao Cordeiro. Não é permitido substituir o texto desse hino por outro (cf. IGMR n. 53). O CD: Festas Litúrgicas I propõe, na faixa 2, uma melodia para esse hino que pode ser cantado de forma bem festivo, solista e assembléia. Ver também nos outros CDs que citamos acima.

4. Salmo responsorial 144/145. As boas qualidades de Deus. “Bendirei eternamente, vosso nome, ó Senhor!”, mesma melodia da faixa 18 do CD: Liturgia VI.

A função do salmista é de suma importância. Sua função ministerial corresponde à função dos leitores e leitoras, pois o salmo é também Palavra de Deus posta em nossa boca para respondermos à sua revelação. Por isso, o salmo dever ser proclamado do Ambão e, se possível, cantado.

5. Aclamação ao Evangelho. Revelação do Mistério aos pequenos (Mateus 11,25) “Aleluia... Eu te louvo, ó Pai santo”, CD: Liturgia VI, melodia da faixa 20.

A liturgia oferece também outra opção que é bem conhecida nas nossas comunidades:

João 15,9-10
ALELUIA, ALELUIA!/ COMO O PAI ME AMOU,
ASSIM TAMBÉM EU VOS AMEI!
ALELUIA, ALELUIA!/ COMO ESTOU NO PAI,
PERMANECEI EM MIM!

Mateus 11,25-30
Vós todos que sofreis, aflitos vinde a mim!
Repouso encontrarão os vossos corações!
Dou graças a meu Pai que revelou ao pobre,
ao pequenino seu grande amor!

O canto de aclamação ao evangelho acompanha os versos que estão no Lecionário Dominical.

Preserve-se a aclamação ao Evangelho cantando o texto proposto pelo Lecionário Dominical. Ele ajudará a manifestar o sentido litúrgico da celebração, conforme orientações da Igreja na sua caminhada litúrgica.

6. Apresentação dos dons.  A Palavra semeada em nosso coração, nos chama à ser humildes de coração a exemplo do Mestre Jesus. A prova da conversão é a partilha. Devemos ser oferenda com as nossas oferendas. “Bendito e louvado seja o Pai nosso criador”, CD: Liturgia VI, melodia da faixa 14.

7. Canto de comunhão. “Vinde a mim, vós todos que sofreis” (Mateus 11,28) ou “Provai e vede como é bom o Senhor Salmo 33/34,9. “Venham todos a mim, venham todos”, CD: Liturgia VI, mesma melodia da faixa 16. Outra ótima opção é Mateus 11,28 articulado com o Salmo70/71 “Eu procuro refúgio em vós, Senhor”, Hinário Litúrgico III da CNBB, página 379. Sem dúvida, estes dois cantos são os mais adequados pra esse Domingo. Uma terceira opção é o canto: “Bom é louvar o Senhor nosso Deus”, CD: Cantos de Abertura e Comunhão, melodia da faixa 23.
O Canto de Comunhão articulado com a Liturgia da Palavra, o que permite estabelecer e experimentar a unidade das duas mesas, considerando a Liturgia um único ato de culto. O canto de comunhão deve retomar o sentido do Evangelho do dia. Esta é a sua função ministerial. Na realidade, aquilo que se proclama no Evangelho nos é dado na Eucaristia, ou seja: é o Evangelho que nos dá o “tom” com o qual o Cristo se dirige a nós em cada celebração eucarística reforçando estes conteúdos bíblico-litúrgicos, garantindo ainda mais a unidade entre a mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia.

8- ESPAÇO CELEBRATIVO

            1. Prepara o espaço da celebração bem festivo, porque cada Domingo é Páscoa semanal. Os enfeites não podem ofuscar as duas mesas principais: mesa da Palavra e o altar.

2. “O altar dentro da Igreja goza da mais alta dignidade, merece toda honra e distinção, pois nele se realiza o mistério Pascal de Cristo, do qual é o símbolo por excelência. Pela sua dignidade e valor simbólico, o altar não pode ser um móvel qualquer ou uma peça sem expressão, mas precisa ser nobre, belo, digno, plasticamente elegante. Nada se sobrepõe ao altar. Ele pode ser realçado com a toalha, as velas, a cruz processional, as flores. Todos estes elementos devem enfatizar a sua nobreza e sobriedade, sem escondê-lo ou dificultar as ações litúrgicas.

3. Os detalhes merecem cuidado especial, pois nunca devem se sobrepor ao essencial. As flores por exemplo, não são mais importantes que o altar, o ambão e outros lugares simbólicos. Nem a toalha é mais importante que o altar. Os excessos desvalorizam os sinais principais. A sobriedade da decoração favorece a concentração no mistério celebrado” (Guia Litúrgico Pastoral, página 110).

9. AÇÃO RITUAL

Valorizar os ritos iniciais da celebração, como momento de reunião de irmãos, constituindo uma assembléia de iguais. Fazer uma alegre acolhida das pessoas. Valorizar também a participação de pessoas deficientes. Muitas ainda sofrem rejeição na família, na sociedade e mesmo na comunidade.

Ritos Iniciais

1. É importante que não se diga nenhuma palavra antes da saudação: nem “Bom dia ou “Boa noite”, nem comentários ou introduções! Bom dia e boa noite não é saudação. Primeiro devemos saudar a Trindade.

2. O sinal-da-cruz é a primeira ação litúrgica do povo de Deus reunido para celebrar a Eucaristia. Fazer de maneira orante para que a assembléia se sinta abraçada pela Santíssima Trindade.
3. A saudação presidencial, já predispondo a comunidade, pode ser a fórmula “c” do Missal Romano (2Ts 3,5). Depois disso é que se propõe o sentido litúrgico e não antes do canto de entrada.

O Senhor, que encaminha os nossos corações para o amor de Deus e a constância de Cristo, esteja convosco.
4. Em seguida, dar o sentido litúrgico da celebração. O Missal deixa claro que o sentido litúrgico da celebração pode ser feito pelo presidente, pelo diácono ou outro ministro devidamente preparado (Missal Romano página 390).
5. A pós a saudação o presidente ou o diácono ou outra pessoa pode dar o sentido litúrgico da celebração com estas palavras ou outras semelhantes:

Domingo do Reino revelado aos pequenos. Junto com Jesus louvamos o Pai porque dá sabedoria aos pequenos; respondemos ao chamado de Jesus de repousar Nele e aprender com Ele a sermos mansos e humildes de coração. Celebramos a Páscoa de Jesus Cristo que se manifesta em todas as pessoas e grupos que vivem a sabedoria dos pequenos e praticam a mansidão e a humildade.

6. Em seguida fazer a recordação da vida trazendo os fatos que são as manifestações da Páscoa do Senhor na vida da comunidade, do país e do mundo, mas de forma orante e não como noticiário.

7. O Ato Penitencial na Missa pode ser concebido como uma atitude de confiança e esperança na misericórdia do Senhor que socorre os seus na sua fraqueza e limitação. O amor visceral do Senhor (misericórdia, segundo Lucas 1,78) nos alcança. Essa é a experiência da piedade divina. Lembrando-nos que piedade é a tradução de “pietas” que em latim traduz o grego “eleos”, palavra conservada ainda no Kyrie “eleison”, significando o carinho de Deus para com suas criaturas e a confiança dessas em sossegar-se em seu aconchego. Não confundir o Ato penitencial com pedidos de perdão como muitas vezes acontece. Nunca dizer: Vamos fazer o Ato penitencial pedindo perdão dos nossos pecados.

8. Sugerimos que a motivação para o Ato Penitencial seja a fórmula I da página 391 do Missal Romano:

No início desta celebração eucarística, peçamos a conversão do coração, fonte de reconciliação e comunhão com Deus e com os irmãos e irmãs.

Após uns momentos de silêncio cantar:

Senhor, servo de Deus, que libertastes a nossa vida, tende piedade de nós!
(CD: Partes Fixas, Ordinário da Missa, melodia da faixa 2)

9. Cada Domingo é Páscoa semanal. cantar de maneira festiva o Hino de louvor (glória).

10. A Oração do Dia nos leva a reconhecer que a humilhação de Cristo é instrumento de salvação. Peçamos a Deus que nos enche de santa alegria. O Pai realizou seu plano, na suprema fraqueza do Cristo: sua morte na cruz.

Rito da Palavra

1. O Evangelho merece destaque especial. Fazer a proclamação com entusiasmo, seguida da apresentação do evangeliário para toda a assembléia.

2. Pode-se cantar como responso, após a homilia e o silêncio, o seguinte canto: “Dá-nos um coração grande para amar” (Ofício Divino das Comunidades, nº 338).

3. As preces, como ressonância da Palavra proclamada, sejam elevadas do Ambão, evitando-se formas indiretas: “para que...”, “pela nossa...”, “a fim de que...”. recordem o aspecto memorial e a suplica seja feita com base no que foi recordado. São formas de se valorizar a Palavra na celebração.

Rito da Eucaristia

1. Destacar toda a liturgia eucarística, momento em que o Pai nos entrega seu Filho como alimento e bebida. Toda sua grandeza se manifesta neste ato de entrega e doação a nós.

2. Na Oração sobre as o pão e o vinho suplicamos que nossa oferenda santificada por Deus, nos leve a vivenciar cada dia mais o Reino.

3. Sugerimos o Prefácio dos Domingos do Tempo Comum I, página 427 do Missal Romano sobre o despojamento de Cristo. Recorde-se que em caso de prefácio móvel, somente as orações eucarísticas I, II e III devem ser escolhidas. A segunda admite troca de Prefácio.

Ritos Finais

1. Na Oração depois da comunhão suplicamos que enriquecidos pela comunhão eucarística, possamos sempre acolher os dons de Deus e nunca cessar seu louvor.

2. As palavras do rito de envio devem estar em consonância com o mistério celebrado: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e fatigados”. Ide em paz e o Senhor vos acompanhe!

10- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todos podem ter acesso a Jesus: os simples pelo fato de serem simples; Deus os escolheu e se alegrou deles; não devemos tirar nada desta verdade comunicada por Jesus; Jesus não diz que eles são melhores, mais santos ou religiosos; são simplesmente simples; por este único título Deus os escolheu.

Celebremos a Páscoa semanal do Senhor valorizando os ministérios que existem dentro da casa de nossa comunidade.

O objetivo da Igreja e da nossa equipe diocesana de liturgia é ajudar os padres e as comunidades de nossa diocese e todas aquelas outras comunidades fora de nossa diocese que acessar nosso site celebrar melhor o mistério pascal de Cristo.

Um abraço fraterno a todos,
           
Pe. Benedito Mazeti



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