sexta-feira, 8 de agosto de 2014

19º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO A

10 de agosto de 2014

Leituras

         1Reis 19,9a.11-13a
         Salmo 84/85,9ab-10-14
         Romanos 9,1-5
         Mateus 14,22-31


“CORAGEM! SOU EU. NÃO TENHAIS MEDO!”


1- PONTO DE PARTIDA

Celebramos hoje a Domingo da tempestade acalmada. Em meio às tempestades de nosso tempo, o Senhor garante que está em nosso meio. O Senhor vem ao encontro e protege os pobres e indefesos. Provadas pelas tribulações próprias da caminhada (ondas e ventos), as comunidades eclesiais tomam consciência de sua fragilidade e duvidam da presença de Jesus. Recebemos do Senhor a certeza de sua presença no meio da fúria das ondas e do vento e confessamos: “Tu és, verdadeiramente, o Filho de Deus!”

Com alegria nos reunimos para esta celebração. Jesus, assim como fez com Pedro, espera de nós uma resposta corajosa ao seu convite. Venham e alimentem-se da Palavra e do Pão Eucarístico. O Senhor é nossa segurança nas tempestades que enfrentamos na vida.

2- REFLEXÃO BÍBLICA, EXEGÉTICA E LITÚRGICA

Contemplando os textos

Primeira leitura – 1Reis 19,9a.11-13a. A primeira leitura mostra o profeta Elias por sua opção fiel a Deus, é perseguido pela rainha Jesabel e foge para o deserto. Vendo como Deus se manifestou a Elias, recebemos esta Palavra no meio das dificuldades que enfrentamos.

Para comprovar o erro do rei Acab, Elias organizou o sacrifício do monte Carmelo (1Reis 18). Acab, rei idólatra dos Baals e falsas divindades, tinha abandonado a Lei de Moisés e se casado com uma mulher pagã. Apesar de muitos esforços, os profetas desses deuses pagãos não conseguiram nem voz, nem ninguém que respondesse aos seus apelos, nem reação nenhuma (1Reis 18,29), demonstrando assim que as divindades evocadas não existiam. Ao contrário, pela oração de Elias, o Senhor manifestou que Ele é Deus, de modo que o povo e o rei se convencessem dos seus erros. Deus é o Todo-Outro, o Inconhecível para o pensamento do ser humano.

Mas Jesabel, a esposa pagã do rei Acab, não aceitou as conclusões do “concurso” e prometeu matar Elias (1Reis 19,2). Não houve outra alternativa para o profeta Elias: fugir para o deserto. Desanimado, isolado, ele se sentou debaixo de uma árvore pedindo a Deus a morte (1Reis 19,4). Mas fortalecido pelo Senhor, Elias se dirigiu ao monte Horeb, o monte da revelação da Lei a Moisés e da Aliança, numa peregrinação de quarenta dias e quarenta noites (1Reis 19,5-8) para um encontro particular com Deus que lhe deu uma nova missão.

Na pessoa de Elias se repete a história da vocação de Moisés o libertador do povo hebreu (Êxodo 2,11—3,22). Por ter defendido os direitos do povo de Israel (Êxodo 2,11-12), por medo da reação do faraó, Moisés fugiu para Madiã, para o deserto onde redescobriu o modo de viver e as tradições patriarcais (cf. Gênesis 25,2: Madiã faz parte dos filhos de Abraão). Perto de uma sarça, Moisés entrou em contato com Deus de quem recebeu a missão de libertar o povo da escravidão conduzindo-o na terra dos seus pais.

Como Moisés, Elias foi investido da missão de conduzir o seu povo para a felicidade. Esta felicidade consiste em reconhecer que o Senhor é o Deus único e que Ele, após ter firmado uma Aliança eterna com o seu povo, é a fonte única de vida.

Salmo responsorial – Salmo 84/85,9ab-10-14. O Salmo 84/85 tem três momentos: 2-4; 5-8; 9-14. O terceiro momento são os versículos usados na liturgia de hoje (9-14). Do meio do povo surge uma voz, falando em nome de Deus. Esse profeta anônimo afirma que Deus anuncia a paz para quem Lhe é fiel (versículo 9). Paz, para o povo da Bíblia, é plenitude de bens e de vida. A salvação está próxima e a glória de Deus vai habitar outra vez na terra (versículo 10). O universo inteiro vai participar de uma grande coreografia. É a dança da vida que está para começar. Já se formam os pares: Amor e Fidelidade, Justiça e Paz, Fidelidade e Justiça (versículos 11-12). É uma coreografia universal, pois da terra brota a Fidelidade, e do céu brota a Justiça. A coreografia do universo inicia uma grande procissão que percorre a terra. À frente vai a Justiça, atrás segue o Senhor e, depois Dele, a Salvação (versículo 14). Como isso vai se concretizar? Na troca de dons. O Senhor dá chuva à terra, e a terra dá fruto (versículo 13), para o povo viver e celebrar sua fé, alegrando-se com Deus.

Tudo leva a crer que o Salmo surgiu em tempo de seca (versículo 13a) e fome. Sem a terra produzindo seus frutos, o povo está sem vida e não tem motivo para festejar. É, portanto, um clamor pela vida que brota da terra. Pede-se que Deus responda com a salvação, dê chuva à terra, para que a terra dê frutos e vida para o povo celebrar. Surgirá, então, uma grande celebração, a festa da vida, abraçando todo o universo: uma dança que envolve Deus e o povo, o céu e a terra, dando início à procissão da vida. Deus caminha com seu povo, precedido pela Justiça e seguido pela Salvação.

O Salmo revela o rosto de Deus. Amor e Fidelidade, Justiça, Paz e Salvação são as características do rosto desse Deus que caminha com seu povo. Ele habita o céu, mas da terra faz brotar a Fidelidade (versículo 12). Fidelidade e Justiça enlaçam céu e terra em perfeita harmonia.

Além disso, o Salmo mostra que o Deus de Israel está ligado à terra, símbolo da vida. Entre Deus e a terra há um diálogo aberto e uma troca de bens. Deus dá a chuva, e a terra dá alimento ao povo; o povo, por sua vez, festeja com Deus, oferecendo os primeiros frutos.

É fundamental estabelecer algumas relações deste Salmo com Jesus. Ele é o Amor e a Fidelidade de Deus para a humanidade (João 1,17) , o verdadeiro Caminho para a Vida (João 14,6). O velho Simeão, ao tomar o Menino Jesus no colo, afirma estar vendo a glória divina habitando no meio do povo (Lucas 2,32). Jesus perdoou pecados e, em lugar de ira, mostrou-se misericordioso, manso e humilde de coração para com os pequenos e pobres, restaurando a vida dos que eram oprimidos.

Como rezar este Salmo? É bom rezá-lo junto com bases nos clamores do povo por liberdade, vida, terra (chuva), saúde, justiça; quando temos a impressão de que Deus não nos ouve; quando sentimos que Ele caminha conosco. A liturgia manda rezá-lo no Advento, abrindo-nos para qualquer tipo e preparação para que Deus venha.

MOSTRAI-NOS, Ó SENHOR, VOSSA BONDADE
E A VOSSA SALVAÇAO NOS CONCEDEI!

Segunda leitura – Romanos 9,1-5. Depois de enfatizar que a salvação é para todos, o Apóstolo Paulo, nesta segunda parte da carta aos Romanos, diz o que sente em relação ao povo judeu.

Neste contexto introdutório (9,1-5), após o hino triunfal de 8,31-39, Paulo demonstra sua imensa tristeza perante o drama da incredulidade judaica, visando captar-lhe a benevolência e desfazer a já tão difundida opinião de que ele seria inimigo do povo hebreu (cf. Atos 21,28).

A leitura mostra a preocupação de Paulo com o destino de Israel. O Evangelho salva todo aquele que crê: primeiro o judeu, depois o grego (Romanos 1,16). Os judeus têm sido privilegiados (Romanos 3,1; cf. 9,4). Eles têm até o Messias. E, contudo, parece que não se verifica sua salvação, pois não têm a fé no Evangelho de Cristo.

Na segunda leitura de hoje, inicia a segunda grande parte da Carta aos Romanos: nos capítulos 9—11 desta carta, Paulo confessa sua paixão em relação ao povo de Israel, do qual ele é membro – embora tenha que combater o legalismo farisaico do mesmo povo. Ele mesmo gostaria de ser condenado se, com isso, os seus irmãos judaicos tivessem a salvação (Romanos 9,3). Palavra forte, mas que não era mero exagero: Paulo sabia que seria impossível que eles estivessem pura e simplesmente perdidos. O plano de salvação vale para os judeus também, mesmo se aparentemente tenha sido passado adiante aos pagãos. Isso nós veremos nos próximos domingos. Mas, de toda maneira, Paulo tem muita confiança no plano de Deus, que ele pode dizer: se Israel for totalmente rejeitado, então, eu também.

Como povo eleito, os israelitas têm relações íntimas com Deus, sendo objeto de especial tutela, a ponto de serem chamados filhos (Êxodo 4,22; Deuteronômio 14,1; Jeremias 31,9; Oséias 11,1). Aos israelitas pertencem também a “Glória”, vale dizer, a manifestação sensível da presença de Deus na Tenda e no Templo (a shekinãh – Êxodo 40,34; Salmo 25,8; 1Reis 8,10-11).

Ao falar de Jesus Cristo, Paulo O chama expressamente “Deus”, que está sobre todas as coisas, bendito para sempre, – sendo uma das tentações bíblicas mais claras e categóricas de sua divindade. Pode-se notar que esta doxologia é referida a Cristo e a Deus Pai.
Evangelho – Mateus 14,22-31. Depois que todos se saciaram, Jesus ordenara que os discípulos entrem na barca e sigam para o outro lado do mar, enquanto ele despede a multidão. Jesus tem carinho para com o povo, é um verdadeiro anfitrião. Educadamente se despede da multidão. Este episódio segue imediatamente e relato da multiplicação dos pães, nos evangelhos de Marcos e Mateus.

Este milagre encontra-se em Mateus, Marcos 6,45-52 e João 6,15-21, mas não em Lucas. Pertence à categoria dos milagres da natureza. A vitória de Deus sobre as águas é um tema muito importante da cosmologia judaica.

Conforme nas antigas tradições semitas, a Bíblia apresenta a criação do mundo como a vitória de Deus sobre o mar e os monstros do mal que ele contém (Salmo 103/104,5-9; 105/106,9; Salmo 73/74,13-14; 88/89,9-11; Habacuc 3,8-15; Isaias 51,9-10). Por outro lado, a vitória sobre o mar Vermelho (Salmo 105/106,9) e a vitória escatológica sobre o Lago (Apocalipse 20,9-13) aparecem como as etapas decisivas da história as Salvação.

Portanto, os primeiros cristãos viram, no relato da tempestade acalmada (Mateus 8,23-27) e na caminhada sobre as águas, a manifestação daquele que leva a obra da criação à sua realização e o sinal da aparição do dia do Senhor (Habacuc 3,8-15; Isaias 51,9-10; cf. versículo 33). A caminhada sobre as águas é uma espécie de epifania do poder divino que habita Cristo.

No alto da montanha e na solidão, Jesus se entrega à oração da solidão. Os discípulos, no mar, navegam em direção à região dos pagãos a fim de dar continuidade à missão de anunciar que a sociedade se constrói pela partilha. Mateus realça o contraste: montanha e mar, oração e agitação, solidão e insegurança.

O mar está agitado, isto é, os discípulos ressentem-se em deixar o lugar. Eles poderiam ter sido aclamados pelo povo saciado com tanto pão. Não é fácil partir para uma nova missão, em meio a novas dificuldades e tentativas de implantação do Reino de Deus. As ondas e o vento contrário trazem presente as resistências ao projeto de Deus. A fragilidade da barca, a escuridão da noite, as ondas e o vento refletem a fragilidade e os desafios enfrentados pela comunidade dos discípulos, ao longo dos séculos, na missão universal de propagar a Boa-Nova do Reino.

Na obscuridade da madrugada, Jesus, caminhando sobre as águas, vai ao encontro dos discípulos em dificuldades e com medo. Eles O confundem: “É um fantasma!”. É preciso que Jesus se identifique: “Sou eu! Não tenham medo”. A madrugada aqui tem referência à madrugada da Ressurreição. Nas horas difíceis, “Jesus é o Deus-conosco”. “Eis que estarei com vocês todos os dias até a consumação dos séculos!” (Mateus 28,20). O Mestre se dá a conhecer: “Sou eu, não tenham medo!”. A escuta da Palavra de Deus suscita confiança e afasta o medo.

Pedro desafia Jesus: “Se és tu, manda-me caminhar sobre as águas!”. Caminhar sobre as águas é uma prerrogativa divina. A cena de Jesus andando sobre as águas era para os discípulos um sinal de sua origem divina e de seu domínio sobre as forças do mal. A comunidade dos discípulos anseia participar da condição divina do Messias. Mas Pedro e a comunidade ainda não tinham compreendido o Mistério da presença e da atuação do Messias. Diante das dificuldades e dos obstáculos, mais do que assegurar-se no convite: “Venha!”, experimentam o medo, a insegurança, e gritam por socorro: “Salva-me, Senhor!”. Estendendo a mão, Jesus o segurou e repreendeu-o: “Homem fraco na fé, por que você duvidou?”. A dúvida é o oposto da audácia e desafios. No arriscar-se, o que afunda é a dúvida. Apesar da fé, Pedro receou abandonar-se por inteiro nas mãos de seu Mestre e acreditar Nele sem reservas. A cena de Pedro é a confissão na divindade de Jesus.

Na leitura de hoje Pedro representa todos os fiéis. A sua fé é exemplar pela confiança na pessoa de Jesus. Esta fé está exposta a perigos, de que só Jesus pode salvar. Mas Ele sempre está aí para agarrar na mão que de quem Lhe estende.

Jesus subiu à barca e a impetuosidade do vento cessou, ou seja, quando a comunidade cristã reconhece que Jesus caminha com ela, nenhum obstáculo é maior que a capacidade de superá-lo. A memória da presença do Deus-conosco é determinante para atravessar qualquer tempestade. Essa memória leva ao reconhecimento e à confissão de fé: “De fato, tu és o Filho de Deus”.

O cristão vence realmente o mundo, cujos elementos ele domina, assim como Cristo e Pedro dominaram o mar. Portanto, sua missão consiste em abalar as raízes do mal. A Eucaristia fortifica o cristão em vista de seu combate, pois entrega-lhe em partilha a vitória de Cristo sobre o mal e sobre a morte.

3- DA PALAVRA CELEBRADA AO COTIDIANO DA VIDA

A primeira leitura e o Evangelho unem-se pela temática da revelação de Deus. O profeta Elias, tem dificuldades, foge e encontra-se com o Senhor no alto do monte Horeb. Os discípulos, em dificuldades no mar, confessam que Jesus é o Filho de Deus.

Na multiplicação dos pães, Jesus foi reconhecido pelo povo como “o Messias esperado”. Caminhando sobre as águas ao encontro dos discípulos e acalmando os ventos, revela-se como Filho de Deus. O encontro de Elias com Deus fortalece o profeta para retornar à missão que o Senhor lhe confiara. Aos discípulos em dificuldades, Jesus garante que nunca está alheio à comunidade de seus seguidores, mesmo quando as situações são contrárias. Jesus está presente em sua Igreja de muitas formas: na Eucaristia, na Palavra, na oração comunitária, na prática da caridade, etc.

No decorrer dos séculos, a Igreja atravessou muitas tempestades internas e externas, sem naufragar, porque nela se cumpre a promessa do Mestre: “Eis que estou com vocês todos os dias, até o fim do mundo” (Mateus 28,20). Contemplando a realidade dos nossos dias, em face dos escândalos, denúncias e sensacionalismo dos meios de comunicação social, chega-se à conclusão de que as “ondas e os ventos estão intensificando sua impetuosidade”.

A presença de Cristo no meio de seu povo é real e eficaz por sua Palavra e pelos sacramentos, de modo especial, da Eucaristia. Por isso, a cena do Evangelho de hoje fala alto, tanto para as comunidades como, em particular, para a pessoa de cada cristão. É uma lição de fé de confiança diante das crises, das dúvidas e dos fantasmas do medo.

Contemplando a figura de Pedro e do profeta Elias, no horizonte da fé, percebe-se que em nossas comunidades há muitas resistências ao novo. É bem mais cômodo buscar e chegar perto de Jesus quando as coisas andam bem e quando se é aplaudido pelo sucesso desta ou daquela iniciativa pastoral. O mar agita-se quando se tem que partir e ir ao encontro do diferente, do desconhecido e ali anunciar o Evangelho da partilha, da solidariedade pelo serviço e pelo diálogo. Como “pessoas de fé”, temos medo, resistimos à entrega total aos desígnios e cuidados de Deus. Deixar a terra firme para caminhar sobre as ondas em meio à tempestade não é nada fácil. Felizmente a graça de Deus é mais poderosa que nossas fragilidades. Ele sempre está por perto, presente em sua aparente ausência, amando-nos e assistindo-nos.

Muitos cristãos aprendem a lição de crer e confiar no Senhor como Mestre, a exemplo de Pedro, a partir das crises, das tempestades que redimensionam a experiência de fé. Apesar de termos medo, nos sentimos inseguros diante das provações, elas podem se converter em momentos sérios da graça de Deus que transforma nosso modo de agir e de pensar.

Quando Jesus entrou na barca, o vento parou. As comunidades e as pessoas, para superarem suas resistências e fragilidades, necessitam deixar que o Filho de Deus suba à barca de sua vida e acatar seus apelos. Na multiplicação dos pães, Ele convidou os discípulos a participarem de sua ação (“Dai-lhes vós mesmos de comer”). Quem é convidado a distribuir o “pão da vida” em meio à impetuosidade dos ventos deve ter a mesma “leveza do ser” do Mestre que andou sobre as águas furiosas do mar.

Na liturgia, embora não vejamos o Senhor de maneira visível, recebemos os sinais de sua presença, especialmente sua Palavra que conforta. Ali recebemos força para vencer as tempestades da vida e enfrentar as noites escuras da caminhada. No meio dos conflitos cotidianos, recebemos o sacramento de sua presença: “Sou eu, não tenhas medo”.

4- A PALAVRA SE FAZ CELEBRAÇÃO

A confissão da fé

A presença do Senhor nas celebrações, sobretudo na Eucaristia, pode parecer óbvia para os cristãos. Sem dúvidas, é o ambiente mais propício para uma difusão da fé. O lugar e a circunstância em que Jesus abençoa, parte e reparte o pão, faz nascer nos fiéis a certeza da salvação que lhes alcança. Mas, não nos enganemos. Será no âmbito da nossa experiência do mundo, que se dará a confissão de nossa fé, e porque não dizer “provação da nossa fé que incluiu nossa confiança no Senhor. Dizer que Jesus está presente enquanto celebramos é fácil, mas o que dizer da sua presença quando a vida está mergulhada em dificuldades de todo tipo?

A celebração fortalece a nossa fé

De fato, a celebração cria e fortalece em nós o “coração de filhos”. Tal consciência, que Paulo reconhece ser uma dádiva divina para os israelitas, nós a temos pela fé. Professar não significa “declarar”, mas também “seguir”, “exercer” a filiação divina da qual participamos e a qual se expressa na maneira como dirigimos a nossa vida. Exatamente isso que nos propomos colher como fruto desta celebração: “o vosso sacramento que acabamos de receber nos traga a salvação e nos confirme na vossa verdade”.
5- LIGANDO A PALAVRA COM A AÇÃO EUCARÍSTICA

A celebração eucarística é o lugar privilegiado da presença do Senhor que nos dirige uma palavra de ânimo: “Coragem! Venha! Sou eu. Não tenham medo!”. O discípulo-missionário de Cristo pode ser sacudido pela impetuosidade dos ventos, seguir sereno em sua caminhada, firme na fé alimentada na Eucaristia, na escuta da Palavra e na oração.

Na obscuridade das provações e do medo, a Eucaristia, como presença de Jesus, é luz que ilumina e espanta as trevas do medo que gera resistências ao novo e suscita o desejo de abandonar a missão. Na celebração eucarística, a frágil comunidade dos discípulos, alimentada pelo pão da Palavra e do Corpo do Senhor, encontra forças para resistir às tempestades e confiança perante o novo.

A Eucaristia que celebramos e recebemos de mãos abertas é germe de vida, de esperança, de força que dispomos na insegurança diante das tempestades. Alimentado por esse dom, o discípulo missionário olha confiante para a realidade cotidiana que experimenta e que manifesta a seu redor.

O Senhor entra hoje na barca de nossa comunidade e acalma os ventos de nossas incompreensões, as tormentas de nossos relacionamentos familiares, e alimenta a esperança de chegarmos, por nossos gestos de partilha solidária, ao porto seguro. A Palavra do Mestre anima-nos e inspira-nos na prática da caridade e da partilha.

Alimentados na mesa da Palavra de Deus e na mesa da Ceia Eucarística, livres do medo e da acomodação, somos seguidores do Cristo, retomamos a caminhada da missão pelo testemunho e pela palavra, confessando: “De fato, tu és o Filho de Deus!”.

6. ORIENTAÇÕES GERAIS

1. No mês vocacional, é importante recordar a ministerialidade da Igreja, seus diversos serviços e, sobretudo os ministérios litúrgicos: “Por ser a comunidade reunida no Espírito Santo, sujeito da celebração, todos os seus membros têm o direito e o dever de participar da ação litúrgica, externa e internamente, de maneira ativa, consciente, plena e frutuosa” (Sacrosanctum Concilium, n. 14), para assim levar a obra salvífica do seu Senhor a efeito em si, na Igreja e no mundo. “Os ministros ordenados e leigos têm uma função especial de serviço na assembléia litúrgica, e toda ela, como comunidade eclesial de discípulos, está como missionária a serviço do mundo” (Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2008-2010, n. 68).

2. O mês de agosto, conforme costume da Igreja no Brasil, é dedicado à oração, reflexão e ação nas comunidades sobre o tema das vocações. Para isso, lembra-se:

1ª semana: vocação para o ministério ordenado: diáconos, padres e bispos;
2ª semana: vocação para a vida em família (atenção especial aos pais);
3ª semana: vocação para a vida consagrada: religiosos(as) e consagrados(as)
    Seculares;
4ª semana: vocação para ministérios e serviços na comunidade.

3. Dia 11, é memória de Santa Clara de Assis; dia 13, memória de São Ponciano, papa, e Santo Hipólito, presbítero, mártires; dia 14 memória de São Maximiliano Maria Kolbe, mártir franciscano, e grande devoto de Nossa Senhora; dia 16, memória de Santo Estêvão, rei apostólico da Hungria. Com esses nossos irmãos na fé, louvemos o Senhor.

7- MÚSICA RITUAL

O canto é parte necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para animar ou enfeitar a liturgia. Por isso devemos cantar a liturgia e não cantar na liturgia. Os cantos e músicas, executados com atitude espiritual e, condizentes com cada domingo, ajudam a comunidade a penetrar no mistério celebrado. Portanto, não basta só saber que os cantos são do 18º Domingo do Tempo Comum, é preciso executá-los com atitude espiritual. A escolha dos cantos deve ser cuidadosa, para que a comunidade tenha o direito de cantar o mistério celebrado. A função da equipe de canto não é simplesmente cantar o que gosta, mas cantar o mistério da liturgia deste 18º Domingo do Tempo Comum. Os cantos devem estar em sintonia com o ano litúrgico, com a Palavra proclamada e com o sacramento celebrado.

Ensina a Instrução Geral do Missal Romano que o canto de abertura tem por objetivo, além de unir a assembléia, inseri-la no mistério celebrado (IGMR nº 47). Nesse sentido o Hinário Litúrgico III da CNBB nos oferece uma ótima opção, que estão gravados no CD: Liturgia VI e CD: Cantos de Abertura e Comunhão e Ofício Divino das Comunidades.

1Canto de abertura. “Não desprezes o clamor de quem Te busca” (Salmo 74/73,20.19.22.23) “Senhor, tua aliança leva em conta e não largues o teu povo!”, melodia da faixa 24, exceto o refrão – CD: Liturgia VI. E ainda: “Olhai, Senhor, a vossa Aliança!”, Hinário Litúrgico da CNBB, página 385,392.

Somos chamados a ser uma Igreja peregrina, ser sinal de salvação, anunciar o Evangelho, servir na unidade... Nesse sentido a Igreja oferece outra ótima opção é o canto: “Ó Pai, somos nós o povo eleito que Cristo veio reunir”, CD: Cantos de abertura e comunhão, melodia da faixa 1.

2. Ato penitencial. “Senhor, que sois o caminho que leva ao Pai, tende piedade de nós”, Missal Romano, pág. 393.

3. Hino de louvor. “Glória a Deus nas alturas.” Vejam o CD Tríduo Pascal I e II e também no CD Festas Litúrgicas I; Partes fixas do Ordinário da Missa do Hinário Litúrgico III da CNBB e também a versão da CNBB musicado por Irmã Miria Reginaldo Veloso e outros compositores.

O Hino de Louvor, na versão original e mais antiga, é um hino cristológico, isto é, voltado para Cristo, que exprime o significado do amor do Pai agindo no Filho. O louvor, o bendito, a glória e a adoração ao Pai (primeira parte do Hino de Louvor) se desdobram no trabalho do Filho Único: tirar o pecado do mundo, exprimindo e imprimindo na história humana a compaixão do Pai. Lembremo-nos: o Hino de Louvor não se confunde com a “doxologia menor” (Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo). O Hino de Louvor encontra-se no Missal Romano em prosa ou nas publicações da CNBB versificado numa versão que facilita o canto da assembléia. 
4. Refrão para motivar a escuta da Palavra: “Senhor, que a tua Palavra, transforme a nossa vida, queremos caminhar com retidão na tua luz”.

5. Salmo responsorial 84/85. Mostra teu amor e vem salvar-nos. “Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade e a vossa salvação nos concedei”, CD: Liturgia VI, melodia da faixa 26.

O Salmo responsorial é uma resposta que damos àquilo que ouvimos na primeira leitura. Isto mostra que o salmo é compromisso de vida e ele também atualiza e leitura para a comunidade celebrante. Primeira leitura, Palavra proposta e salmo Palavra resposta. Por isso deve ser cantado da Mesa da Palavra (Ambão) por ser Palavra de Deus. Valorizar bem o ministério do salmista.

6. Aclamação ao Evangelho. Confiança em Deus (Salmo 129/130,5). “Aleluia... Eu confio em nosso Senhor, com fé esperança e amor”, CD: Liturgia VI, melodia da faixa 23. O canto de aclamação ao evangelho acompanha os versos que estão no Lecionário Dominical.

7. Canto após a homilia. “Se as águas do mar da vida, quiserem te afogar, segura na mão de Deus e vai...”.

8. Apresentação dos dons. A escuta da Palavra deve gerar na assembléia confiança total no Senhor, para que ela possa partilhar. Devemos ser oferenda com nossas oferendas. “A mesa santa que preparamos”, CD Liturgia VI, melodia da faixa 23.

9. Canto de comunhão. Deus sacia seu povo, / Salmo 147,12.14; O pão do Corpo de Jesus (João 6,52); “Na barca estão os discípulos”, Hinário Litúrgico III, pág. 254-255; “Povo de Deus, louva o Senhor”, Hinário Litúrgico III, pág. 385, 393. Outra ótima opção é canto “É bom estarmos juntos”, CD: Liturgia VI, melodia da faixa 27.

Quando confiamos em Deus nada abala a nossa fé, nem os perigos, nem as tempestades da vida, nem mesmo a morte. Nesse sentido a Igreja oferece outro canto muito importante que nos ajuda a retomar o Evangelho: “Quem nos separará? Quem vai nos separar do amor de Cristo”?, CD: Cantos de Abertura e Comunhão, melodia da faixa 21.

8- O ESPAÇO CELEBRATIVO

1. O simbolismo da cruz traz presente o anúncio da paixão e ressurreição do Senhor. A cruz processional, a mesma que será usada na procissão de abertura, esteja na entrada da Igreja, por onde todos passam. É uma forma de trazer presente o mistério que será celerado. Ela pode ficar aí até o início da celebração, ladeada de velas e flores, de forma que chame a atenção de todos os que vão chegando para a celebração.

2. A cruz dos cristãos (referência à vida gasta em favor do próximo) deve ser assumida, carregada pelo caminho da vida, à maneira de Jesus. Cláudio Pastro diz que ela é sinal da nossa vitória. Por isso “Uma procissão atrás da Cruz, traz presente a Igreja peregrina que segue a Cristo e caminha sob sua bandeira”. Principalmente neste Domingo da tempestade acalmada ela representa Cristo que vai à frente conduzindo a Igreja que navega nos caminhos da história. Sua presença marcante na procissão de entrada deve trazer confiança a todos os fiéis.

9. AÇÃO RITUAL

Em meio às tempestades, às trevas e ao mar agitado do mundo de hoje, recebemos do Senhor, neste domingo, a certeza de que Ele está conosco e sempre nos socorre. Ele é o Deus da brisa mansa, capaz de acalmar a mais violenta tempestade e nos livra de qualquer perigo.

Ritos Iniciais

1. A assembléia dominical dos cristãos é a reunião dos que foram ressuscitados por Cristo. É lugar onde a vida nova se exprime e nos encanta para que continuemos tal culto em espírito e verdade na vida cotidiana com suas tempestades.

2. A saudação presidencial, já predispondo a comunidade, pode ser a fórmula “d” do Missal Romano (Romanos 15,13). Depois disso é que se propõe o sentido litúrgico e não antes do canto de entrada.

O Deus da esperança, que nos cumula de toda alegria e paz em nossa fé, pela ação do Espírito Santo, esteja convosco.

3. Em seguida, dar o sentido litúrgico da celebração. O Missal deixa claro que o sentido litúrgico da celebração pode ser feito pelo presidente, pelo diácono ou outro ministro devidamente preparado (Missal Romano página 390). Pode ser com estas palavras o sentido litúrgico da celebração ou outras semelhantes:

4. Texto para servir de inspiração ao sentido litúrgico, a ser proferido depois da saudação presidencial:

Domingo da tempestade acalmada. Celebramos neste domingo a soberania de Jesus sobre todas as forças do mal e da morte. Como membros de seu Corpo, também nós somos chamados a superar as dificuldades do tempo presente, com a soberania de Cristo, sabendo que Ele nos inclui na sua vitória sobre a morte.

5. A recordação da vida pode ser o espaço ideal para manifestar os fatos marcantes como aniversários, bodas, momentos de dor e de luto, missa de 7º e 30º dia, etc. A lembrança pelos falecidos pode ser feita na Oração Eucarística (memento dos mortos) e as demais necessidades manifestadas nas preces. Hoje seria interessante lembrar a nossa solidariedade para com os necessitados.

6. Evocar, no ato penitencial, à luz da misericórdia de Deus, os medos, as resistências e as fraquezas de fé na missão evangelizadora em face das provações da realidade econômica e social. Neste Domingo é muito oportuno cantar a fórmula n. 1 do Tempo Comum pág. 393 do Missal Romano.

- Senhor que sois o caminho que leva ao Pai, tende piedade de nós.
- Cristo, que sois a verdade que ilumina os povos, tende piedade de nós.
- Senhor, que sois a vida que renova o mundo, tende piedade de nós.
7. Cada Domingo é Páscoa Semanal, canta com exultação o Hino de louvor (glória).

8. Na oração do dia suplicamos a Deus “a quem ousamos chamar de Pai” que nos dê um coração de filhos e filhas para que possamos amar como Ele nos ama.

Rito da Palavra

1. Cada vez mais, cai em desuso os chamados “comentários” antes das leituras. É preferível um refrão meditativo que provoque na assembléia aquela atitude vigilante para a escuta e conseqüentemente acolhida da Palavra de Deus. Sugerimos, neste caso, antes de iniciar a Liturgia da Palavra, um refrão contemplativo. Como refrão para abrir a Liturgia da Palavra de maneira orante, sugerimos o refrão: “Senhor, que a tua Palavra, transforme a nossa vida, queremos caminhar com retidão na tua luz” para confirmar na assembléia confiança no Senhor que nos toma pela mão.

2. Proclamar o Evangelho de forma dialogada, com narrador, Jesus, Pedro e os discípulos.

3. Na celebração de hoje é muito oportuno momentos de silêncio que lembra a oração da solidão de Jesus no monte. Em todo o rito, a Palavra se conjuga com o silêncio. Momentos de silêncio após as leituras, o salmo e a homilia, fortalecem a atitude de acolhida da Palavra. O silêncio é o momento em que o Espírito Santo torna fecunda a Palavra no coração da comunidade. Nem tudo cabe em palavras.

4. Após a proclamação do Evangelho, repetir com a assembléia as frases: “Coragem! O Senhor está conosco! Não tenham medo!”

5. Na homilia, quem preside ajude a assembléia a identificar “o vento, as ondas, as tempestades” que ameaçam hoje a barca de nossas famílias e comunidades e qual a boa notícia que o Evangelho de hoje traz para esta realidade.

6. Após a homilia e o silencio, é muito oportuno que a assembléia expresse sua confiança em Deus com o canto: “Se as águas do mar da vida quiserem te afogar, segura na mão de Deus e vai...”, primeira estrofe e o refrão.

7. Na resposta às preces dos fiéis pode-se retomar a súplica de Pedro: “Senhor, salvai-nos!” No lugar das preces pode-se também fazer a seguinte ladainha, dirigida a Jesus:

- Senhor Jesus, ressuscitado dentre os mortos:
  Todos: Tende piedade de nós!
- Vós que alimentastes a multidão faminta:
- Vós que caminhastes sobre as águas:
- Vós que viestes ao nosso encontro nos momentos de aflição:
- Vós que encorajastes os discípulos na fé e na esperança:
- Vós que salvais aos que clamam por ajuda:
- Vós que sois o guia da nossa Igreja:
- Vós que sois verdadeiramente o filho de Deus:

Rito da Eucaristia

1. Na oração sobre as oferendas, suplicamos a Deus que transforme os dons do pão e do vinho em sacramento de salvação.

2. Propomos a Oração Eucarística para Diversas Circunstâncias – VI-B “Deus conduz sua Igreja pelo caminho da salvação”. Nele se evidencia a guia de Deus que sempre acompanha seu povo, sobretudo por Jesus e pelo Espírito Santo.

3. Se a Oração Eucarística for outra, sugerimos proclamar o prefácio dos Domingos Comum V, que evidencia o domínio da criação.

4. A Cruz e a Ressurreição são, a última e definitiva, sentença de Deus sobre o destino da humanidade. Seria bom ajudar a assembléia a fazer o memorial da Páscoa do Senhor, envolvendo-a na Oração Eucarística através do canto das aclamações e intervenções, da proclamação pausada e orante do presidente, da orientação de todos, pelos gestos e palavras, ao Pai que, em Cristo e no Espírito, recebe a nossa adoração.

5. Para que nisso aconteça, fazer a proclamação da Oração Eucarística de forma expressiva, não simplesmente recitada; por ela a Igreja dá graças pela ação amorosa de Deus em favor dos pequenos e fracos de seu povo a caminho do Reino definitivo.

Ritos Finais

1. Na oração depois da comunhão, suplicamos a Deus que o sacramento que recebemos nos traga Salvação e confirmação na verdade.

2. Na bênção em nome da Santíssima Trindade levem-se em conta as possibilidades que o Missal Romano oferece (bênçãos solenes, na oração sobre o povo). Ela expressa que a ação ritual se prolonga na vida cotidiana do povo em todas as suas dimensões, também políticas e sociais. Ver a bênção final do Tempo Comum IV do Missal Romano em que suplicamos a Deus que nos “liberte de todos os perigos”. 

3. As palavras do rito de envio podem estar em consonância com o mistério celebrado: Coragem! Não tenhais medo, estou convosco todos os dias. Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe.

10- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pedro, vendo Jesus, gritou: “Mande-me ir até onde o Senhor está!” Jesus respondeu: “Venha!” Isto Ele também diz a todos nós: “Venham!” Vamos, então, com a graça de Deus.

O objetivo da Igreja e da nossa equipe diocesana de liturgia é ajudar os padres e as comunidades de nossa diocese e todas aquelas outras comunidades fora de nossa diocese que acessar nosso site celebrar melhor o mistério pascal de Cristo.

Um abraço fraterno a todos,
           

Pe. Benedito Mazeti

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