quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A PRIMEIRA PARTE DA LITURGIA DO TEMPO COMUM - ANO B

A primeira parte do Tempo Comum ainda respira os “ares” da Natividade e Epifania do Senhor. As notas festivas do Salmo 95 “Cantai ao Senhor Deus um canto novo” (cf. Antífona de Abertura) nos recordam a Noite de Natal onde o mesmo texto é entoado como Salmo Responsorial.

No Tempo Comum, fazemos a leitura contínua da Sagrada Escritura, por meio da qual revivemos, ao longo dos diversos domingos, os inesgotáveis aspectos do Mistério Pascal de Cristo. Neste Ano B, o Segundo Domingo do Tempo Comum é denominado o Domingo do Cordeiro de Deus, pois é uma continuidade do batismo do Senhor e João Batista dá seu testemunho sobre Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!”. No Ano A este domingo é denominado testemunho de João Batista; No Ano C é o domingo das bodas de Caná. Mesmo já situado no Tempo Comum, dá continuidade à festa da Epifania, pois faz memória do dia em que Jesus começou a revelar sua identidade de Messias-esposo da nova humanidade. Por isso todo o universo é convidado a adorar o Senhor.

Terminado o Tempo do Natal, com a festa do Batismo do Senhor, até Quarta-Feira de Cinzas, no dia 18 de fevereiro de 2015, temos a intercalação de seis domingos do Tempo Comum para acompanharmos e vivermos o mistério da revelação do Senhor ao seu povo. O batismo de Jesus foi celebrado no dia 11 de janeiro. Por isso o 2º Domingo do Tempo Comum, celebrado hoje, está ainda no contexto da festa do Batismo do Senhor, isto é, o Mistério que hoje celebramos é prolongamento da manifestação de Jesus como Salvador da humanidade.

Concluído o Tempo do Natal, iniciamos uma seqüência de “domingos comuns”, nos quais os evangelhos descrevem a vida pública de Jesus, depois de seu batismo no rio Jordão. No Brasil, o Primeiro Domingo Comum é substituído pela festa do Batismo do Senhor. No Segundo Domingo, João Batista apresenta Jesus a seus discípulos, chamando-o de Cordeiro de Deus. Esses domingos recebem sua força ou sua espiritualidade de duas fontes: dos tempos fortes e dos próprios domingos. Assim, o Tempo Comum é vivido como prolongamento do respectivo tempo forte. Nesta primeira parte do Tempo Comum, partimos da vida que nasceu do Natal, manifestou-se na Epifania e, para produzir frutos, necessita da ação do Espírito Santo, o qual age no Batismo de Jesus. Batizados com o Espírito Santo, como Igreja, produzimos bons frutos.

Neste sentido, por exemplo, no período do Tempo Comum que segue o Ciclo do Natal, “o Cristo que nasceu, o Cristo que se manifestou, deseja prolongar a ação de nascer e de manifestar-se após as solenidades. O mistério do nascer, do aparecer e do manifestar-se às pessoas deve prolongar-se no dia-a-dia de todos nós. Cristo quer encarnar-se cada dia através dos tempos”. Estes primeiros domingos do Tempo Comum, são marcados por um clima de epifania, de manifestação do Senhor, do início de sua missão no mundo e da continuidade dessa missão na vida dos seus seguidores.

Esta primeira parte do Tempo Comum começa com a festa do Batismo do Senhor e vai até a terça-feira de carnaval, inclusive. Esta primeira parte faz memória do discipulado de Jesus, antes do Ciclo da Páscoa.
O terno “Tempo Comum” leva facilmente a pensar que “comum” signifique algo como “sem importância” ou “banal”. Evidentemente não é assim. O comum se distingue, sim, do extraordinário. Em nosso caso, o Tempo Comum é visto como distinto dos tempos fortes. Mas isso não implica que o Tempo Comum seja menos importante. Pelo contrário. Não podemos viver continuamente em situações e atividades extraordinárias. Nenhuma orquestra toca sempre fortíssimo. Do mesmo modo, é profundamente humano que na liturgia se alternam tempos fortes e períodos ou comuns. A liturgia segue nisso o ritmo da vida cuja celebração ela é.

Em geral o Tempo Comum do Ano Litúrgico é o período de crescimento e maturação. Nos períodos fortes do ano celebramos a Encarnação e a Páscoa do Senhor, sua encarnação e Páscoa também dentro do seu povo hoje. As semanas depois do Tempo do Natal e depois de Pentecostes oferecem-se, de modo especial, para celebrar a realização do Reino de Deus entre nós. Não se trata aqui de exclusividades, mas de acentuações. Já a Encarnação e a Páscoa são realizações do Reino, e também no tempo comum celebramos cada domingo e cada dia a Morte e Ressurreição de Cristo. Nos tempos fortes não contemplamos apenas o Cristo, esquecendo-nos do seu povo, e no Tempo Comum não focalizamos exclusivamente as comunidades e o mundo, sem nos lembrar do Senhor que caminha com seu povo e transforma o mundo. Mas os acentos são diferentes.

No Tempo Comum nos é oferecido em que somos especialmente convidados a celebrar a presença ativa de Cristo entre nós e naquilo que fazemos. Evidentemente, a liturgia deve ser celebração do Mistério de Cristo, vivido pelas pessoas.

O que caracteriza quase unicamente os diversos domingos do Tempo Comum são as leituras bíblicas, de modo particular o Evangelho. Cada no, num ciclo trienal, lemos um dos evangelhos sinóticos, nos domingos comuns a parte do ensinamento e da atividade pública de Jesus, sendo reservados os relatos da infância, da paixão e das aparições do Ressuscitado para os respectivos tempos fortes. No Tempo comum, estes evangelhos são lidos capítulo por capítulo, numa leitura quase contínua. A primeira leitura para cada domingo é escolhida em harmonia com o Evangelho, isto é, está ligada diretamente com o Evangelho, de maneira que apareça a ligação entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento. As segundas leituras nos proporciona, por sua vez, uma leitura semi-contínua das cartas de São Paulo e de São Tiago. Sendo que os outros escritos do Novo Testamento, assim como também o Evangelho de São João, são lidos nos tempos fortes.

Pe. Benedito Mazeti

Assessor Diocesano de Liturgia
Bispado de São José do Rio Preto

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...