23 de junho de 2016
Leituras
Jeremias 1,4-10
Salmo
70/71,1-6.15.17
1Pedro
1,8-12
Lucas
1,5-17
“NÃO TENHAS MEDO, ZACARIAS, PORQUE DEUS
OUVIU TUA SÚPLICA”
1- PONTO DE PARTIDA
Celebramos
hoje, solenemente, o nascimento de João Batista. João é muito lembrado pela
tradição popular brasileira. O “São João” remete à festa, dança, comida,
música, fogueira... enfim alegria contagiante.
No século VI,
a Igreja Católica reservou o dia 24 de junho para comemorar o nascimento de João
Batista. As comemorações foram ampliadas no século XIII, incluindo-se o dia da
morte de Santo Antônio de Pádua, 13 de junho, e o da morte de São Pedro, 29 de
junho.
Como diz Santo
Agostinho: A Igreja celebra o nascimento de João como um acontecimento sagrado.
Dentre os nossos antepassados, não há nenhum cujo nascimento seja celebrado
solenemente. [...] João apareceu, pois, como ponto de encontro entre os dois
Testamentos, o Antigo e o Novo.
João Batista
foi o maior de todos os profetas, como testemunha o próprio Jesus (cf. Lucas
7,26-28), e apontou o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (cf. João
1,29-36). Foi também um asceta que atraiu o povo por sua austeridade de vida. O
nome João significa “o Senhor se compadece”. Celebrar o seu nascimento nos
junta à alegria de Isabel, de Zacarias, dos vizinhos, pois afinal Deus se
lembra de nós.
2- REFLEXÃO BÍBLICA,
EXEGÉTICA E LITÚRGICA
Primeira leitura – Jeremias 1-4-10. O
profeta Jeremias narra sua vocação num poema de três estrofes.
a) A primeira
estrofe (versículos 4-5) insiste na predestinação do profeta. Estas se
manifesta em três níveis: a preexistência no pensamento divino, a consagração
no seio materno, a investidura oficial como profeta sobre as nações. A
predestinação é uma maneira de afirmar a comunhão total entre Deus e seu
profeta.
b)
a palavra humana é incapaz de trazer em si a Palavra de Deus. Jeremias constata
melhor esse fato, tanto mais que experimenta algumas dificuldades em se
exprimir (versículos 6-7). É um tema corrente quando se trata de trazer
presente a vocação dos profetas: Moisés gagueja (Êxodo 4,10-12), Isaias teve
que purificar seus lábios (Isaias 6,1-6) e os melhores anunciadores da salvação
freqüentemente foram vítimas de mudez ou de gagueira (Marcos 7,31-37). O tema destaca
a comunhão entre Deus e seu profeta, assim como a iniciativa de Deus no
ministério do profeta.
c) A última
estrofe insiste na coragem que será necessária ao profeta (versículos 8-10). No
momento em que redige esse poema, Jeremias já percebeu a hostilidade do povo
para consigo. Por isso, ele se compara ao soldado diante do inimigo e ao juiz
leal que pronuncia sua sentença sem se deixar impressionar.
O relato da
vocação de Jeremias introduz à compreensão da personalidade religiosa de João
Batista. Também se responde a um apelo de Deus, que o tocou desde o seio de sua
mãe. Também ele proclamará uma palavra
que não é sua: a inauguração próxima do Reino que, nos termos em que Jesus o
proclamará, vai surpreender o próprio João Batista. Também ele conhecerá a
oposição do povo; será jogado na prisão e aí morrerá.
Sem anular, ou
limitar a liberdade humana, Deus conhece cada pessoa desde sempre e faz para
ela os Seus projetos. Foi o que aconteceu com Jeremias e com João Batista: com
o profeta que viveu no ocaso da monarquia judaica e com o profeta que anunciou
o Cristo, “o sol que nasce do alto” (Lucas 1,78). Ambos tiverem que enfrentar
dificuldades humanamente insuperáveis. Jeremias desabafou cinco vezes narrando
a sua amargura, fadigas e alegrias (cf. as “confissões”); e João, pela inveja e
a leviandade do rei Herodes Antipas, acabou na prisão e morreu decapitado.
Ambos, porém, foram buscar a sua força e confiança em Deus que sentiram sua
presença ao seu lado, mesmo nas dificuldades.
A situação
religiosa atual é parecida à deles. Já antes do nosso nascimento, o Senhor
concebeu o Seu projeto a nosso respeito chamando-nos à fé cristã (cf.
1Coríntios 1,2; Romanos 1,7); e como Jeremias e João Batista, nós temos que
ultrapassar várias dificuldades. Pedro exorta-nos: “Irmãos, procurai firmar a
vossa vocação e eleição (2Pedro 1,10).
Salmo responsorial – 70/71,1-6.15.17. O
Salmo começa com uma lamentação, com
invocação, pedidos e títulos divinos, com referência ao santuário: para mover a
Deus e estimular a própria confiança. Dá uma olhada para o passado: desde a
juventude, desde o ventre materno experimentou o apoio de Deus: esta proteção
divina foi revelada para muitos outros, e foi tema de contínuo louvor.
A confiança é
intensa e segura e contempla de maneira convicta a salvação. No versículo 17
reaparece o tema, abreviado o tema da juventude e da velhice: se os benefícios
de Deus no passado foram sendo convertidos em louvor e proclamação pelo
salmista, o mesmo acontecerá com a nova salvação que ele espera.
O salmo mostra
Deus como o único que salva e liberta. Em um conflito mortal, é a Deus que se
deve recorrer, na esperança de não ser envergonhado. Como Jeremias e Jesus que
confiaram em Deus desde a juventude, o Salmo suplica que o Senhor seja rocha e
muralha sempre acessível. O Senhor é apoio desde o seio, desde o ventre materno
é a parte radical do profeta.
O rosto de
Deus no Salmo 70/71 é muito interessante. Muitos detalhes compõem um rosto
extraordinário de Deus neste Salmo. Ao longo da vida, esse ancião sempre
confiou em Deus e, se suplica, é porque continua confiando no Senhor que não
falha. É também interessante a Aliança entre eles desde o ventre materno
(versículo 6). Os versículos iniciais (2-3) apresenta Deus com as tradicionais
imagens da rocha de refúgio (rochedo) e da fortaleza ou cidade fortificada.
Sinais da confiança inabalável no parceiro aliado e fiel.
Como podemos
ver em outros salmos de súplica, Jesus escutou todos os clamores e não
decepcionou aqueles que depositaram Nele sua confiança. Salvou todas as vidas
que corriam perigo, vencendo até o inimigo maior, a morte.
Coloquemos no
Senhor a nossa confiança, pois é Nele que está a nossa força:
DESDE O SEIO
MATERNAL, SOIS MEU AMPARO.
Segunda leitura – 1Pedro 1,8-12. Esta
leitura é extraída da grande doxologia (glorificação) (1Pedro 1,3-12) que
inaugura a primeira Carta de Pedro. O autor da primeira carta de Pedro parece
inspirar-se num antigo hino cristão que poderia ter sido concebido em três
estrofes dedicadas sucessivamente ao louvor do Pai, autor da nova criação
(parafraseado nos versículos 3-5), do Filho, motivo de nosso amor até na
provação (parafraseado nos versículos 6-9) e do Espírito manifestado nos
profetas e nos pregadores (parafraseado nos versículos 10-12). Existe uma outra paráfrase desse hino em Tito
3,4-8.
Em seu corte
litúrgico, a passagem de hoje desenvolve alguns pontos essenciais da história
da salvação. Lembra-nos que Cristo é o seu centro
e que é em função desse centro que devemos compreender o papel dos profetas e dos evangelistas.
Tal como
apresentada pelo Novo Testamento, a mensagem de João Batista coloca
singularmente em relevo o vínculo do profetismo com a pessoa de Cristo. João
Batista é o Precursor do Messias: só intervém para preparar os caminhos do
Senhor e não tomar o seu lugar. Toda a sua vida se polariza pela intervenção
iminente da salvação na pessoa de Cristo. Sem essa relação com Cristo, o
profetismo perde sua verdadeira significação.
A liturgia
escolheu este breve trecho da Primeira Carta de Pedro porque nele se afirma que
os profetas “procuraram descobrir a respeito desta salvação” (cf. versículo
10). Adapta-se bem, por isso, à missão de João Batista, que “antes de nascer,
exultou de alegria no ventre de Isabel, sentindo a presença do Salvador”
(Prefácio).
Mas o texto
diz mais: ajuda-nos a descobrir cada vez melhor a dignidade do nosso chamamento
e a meta para a qual ela nos leva. “Sem ter visto o Senhor, vós o amais”. Isso
nos faz lembrar outra bem-aventurança: “Bem-Aventurados os que creram sem ter
visto” (João 20,29). Esta fé no amor faz-nos exultar “de alegria inefável e
gloriosa” (versículo 8), porque está penetrada na glória futura quando todo o
nosso ser tiver alcançado a salvação. “O Espírito de Cristo” (versículo 11),
que iluminava os cristãos a respeito da glória e do sofrimento do Messias,
ilumina a todos nós com o Evangelho da salvação.
Evangelho – Lucas 1,5-17. Depois do
prólogo inicial, Lucas narra o anúncio do nascimento de João Batista. O trecho
está situado na Palestina no tempo do rei “Herodes”, o Grande (versículo 5),
falecido no ano 4 antes de Cristo. Zacarias e sua esposa Isabel, descendentes
de Aarão, vivem intensamente a sua piedade hebraica, são já idosos e não tem
filhos (versículos 5b-7). Enquanto Zacarias oferece no Templo o sacrifício do
incenso a Deus, o anjo do Senhor anuncia-lhe que terá um filho, o qual será
profeta do Altíssimo, asceta, precursor do Messias (versículo 8-17).
A idade
avançada de Zacarias e Isabel e a esterilidade dela (versículo 7) sugerem a
Lucas uma aproximação com Abraão e Sara (comparar os versículos 7 e 18 com
Gênesis 18,11; o versículo 13 com Gênesis 17,19 e o versículo 18 com Gênesis
15,8). Contudo, o paralelo se interrompe na identidade das condições físicas
nos dois casais: não podemos deduzir que Zacarias fosse um novo Abraão e João
Batista um novo Isaac.
João Batista é
apresentado como filho do clã de Abias (versículo 5), clã bastante desprezado
se o julgarmos conforme as observações menosprezadoras do Talmud. Isso talvez
explique a ruptura posterior de João Batista como sacerdócio politizado e
aristocrático de Jerusalém.
O nascimento
de João Batista é anunciado como de um profeta. Todos os seus traços
característicos são destacados: vida de penitência (versículo 15; cf. Números
6,1-8; Mateus 11,18), a vocação manifestada desde o nascimento (versículo 15b;
cf. Jeremias em Jeremias 1,5, o servo em Isaias 49,1-5 e Samuel em 1Samuel
1,11) e a posse do Espírito (Joel 3,1-3) que o aproxima singularmente de dos apóstolos do Pentecostes (Atos 4,8; 8,29;
6,3-5; 7,55) Mas é principalmente a figura de Samuel que Lucas retém para
caracterizar o profetismo de João Batista. Como Samuel (1Samuel 2,21), João é
“grande” em presença do Senhor (versículo 15); como ele nasce de um seio
estéril (versículo 15; cf. 1Samuel 1,11).
Último traço:
João Batista será precursor à maneira de Elias (versículo 17) para afirmá-lo,
Lucas retoma Malaquias 3,23-24, corrigido por Eclesiástico 48, 10-11.
O anjo
mensageiro – trata-se do anjo Gabriel, cujo papel, segundo Lucas, é messiânico
(cf. Daniel 8,16; 9,21) – aparece no meio de uma liturgia (versículo 11).
Enquanto que Mateus apresenta Jesus sob os traços de um rabino itinerante
(Mateus 4,12-17, Lucas é mais liturgista (começa e conclui seu Evangelho no
templo: Lucas 1,5-23; 24,50-53), faz o ministério de Jesus Cristo iniciar-se na
liturgia da sinagoga do sábado. Sendo o sacrifício o lugar ideal de encontro
entre Deus e seu povo, é normal que os anjos encarregados de transmitir aos
homens a vontade de Deus apareçam na fumaça do sacrifício (Gênesis 22,11-18;
Josué 6,2-22; 13,16-20; 1Crônicas 21,18-30; Gênesis 28,12).
Além disso, o
evangelista Lucas vê nas aparições dos anjos (Lucas 1,2, passim; Atos 1,10;
5,19; 8,26; 10,3) o sinal de que as barreiras entre o céu e a terra foram
rompidas e que uma epifania do mundo celeste vai irradiar-se pela terra dos
homens.
A falta de um
filho, tão desejado e pedido a Deus, não impede Zacarias e Isabel de manterem
um compromisso religioso irrepreensível “aos olhos de Deus (versículo 6), que
os ilumina e acalma. O culto litúrgico
desempenhado no Templo em turnos definidos “na presença do Senhor” (versículo
8), fortalece espiritualmente Zacarias. Surge uma reflexão : a vida religiosa,
se a vivermos com vigor interior, ajuda-nos a enfrentar as provações da vida
ou, se for o caso, a vivê-las sem perder a esperança.
Assim a oração
de Zacarias foi atendida para além do pedido. A própria fidelidade a Deus
manifesta-se nas nossas orações, quando o Pai acolhe as nossas súplicas
concedendo-nos o Espírito Santo (cf. Lucas 11,13).
3- DA PALAVRA CELEBRADA AO COTIDIANO DA VIDA
Refletindo
entre o Evangelho e o Livro dos Atos dos Apóstolos, limitamo-nos aos seguintes
pontos de contato, que podem servir de sugestões para a nossa vida: o clima de
fé e de serenidade; a presença atuante do Espírito Santo; a alegria espiritual;
o empenho vigoroso no cumprimento das boas obras. A serenidade do casal
Zacarias e Isabel, “ambos justos aos olhos de Deus” (Lucas 1,6, permanece
inabalável apesar da frustração de não terem filhos. Zacarias continua a
exercer o seu ofício de sacerdote no serviço do Templo de Jerusalém. Do mesmo
modo, a Igreja nascente vive em serenidade, “louvavam a Deus e eram estimados
por todo o povo” (Atos 2,47). Também nós somos encorajados a viver com a mesma
atitude de alegria interior, através do encontro com Deus, especialmente
mediante o mistério eucarístico ( no “partir do pão”” Atos 2,42).
João “será
cheio do Espírito Santo desde o seio materno” (Lucas 1,15; cf. 1,41.44). O que
é esboçado em Lucas 1,2, onde o Espírito Santo tem um papel importante,
torna-se realização plena na Igreja que nasce do Pentecostes e que, sob a ação
do Espírito Santo, com a pregação se lança a conquistar o mundo para Cristo
(cf. Atos 1,8). É mediante “o Espírito de Cristo” (segunda leitura: 1Pedro
1,11) que o Evangelho chegou à nossa vida e que devemos realizá-lo no
dia-a-dia.
Celebrar o
nascimento de João Batista nos faz experimentar o Deus que é favorável ao seu
povo, como fizeram Isabel, Zacarias, os vizinhos. A pessoa de João Batista,
simples, humilde, austera nos ajuda a rever nossas opções e atitudes.
Como dizia
Santo Agostinho, João representa a passagem do Primeiro para o Segundo
Testamento. João recebeu a missão de profeta, assumiu a vida de penitência e
foi chamado de “o batista”. Foi fiel a todas as missões. Ele é um profeta que,
além anunciar, vai às pessoas, apontando o caminho do Senhor. Recebeu do
próprio Jesus um grande elogio: “Digo-vos que dentre os nascidos de mulher não
há maior do que João; mas o menor no Reino de Deus é maior do que ele” (Lucas
7,28). Pelo batismo cristão, nós também recebemos a missão de profetizar,
denunciando como João a injustiça, a mentira, a opressão.
João é o santo
do povo. Juntamente com a alegria, a dança, a comida e a bebida utilizadas nas
festas populares em torno desse santo, que brotem com força, em nossa vida
pessoal e nas comunidades, o exemplo, a coragem e a capacidade de se abaixar
desse homem que soube ocupar o seu lugar na história da salvação.
4- A PALAVRA SE FAZ CELEBRAÇAO
João Batista entre os
dois Testamentos
Poucos santos
foram e são tão populares em todo o mundo cristão como este santo. Cantos,
danças folclóricas, fogueiras e quadrilhas, foguetes além das procissões e
mastros, são os aspectos típicos da festa de João Batista.Você pode perguntar
porque tanta devoção e tanta festa.
Ele é o único
santo, além de Nossa Senhora, em que se festeja o nascimento. Não podemos
esquecer que seu nascimento é uma espécie de Natal antecipado porque foi
anunciado pelo anjo do Senhor.
Santo
Agostinho, em um de seus sermões, chama a atenção para o fato de que João se
encontra no limite entre dois tempos, ou estes dois testamentos. Mas, antes,
recorda o fato de que só o nascimento de João, entre os antigos, é celebrado
solenemente, como celebramos também o de Cristo. Santo Agostinho coloca em
paralelo e compara João e Cristo. O primeiro nasce de “uma mãe anciã e estéril”
e o segundo de uma “jovem e virgem”. Dois nascimentos singulares. João é
considerado o último dos profetas na linha do profetismo antigo. No seio
materno e em seu reconhecimento da voz de Maria, a Mãe do Salvador, encontra-se
a chave de compreensão do lugar de João Batista. O nascer de pais idosos
indica, segundo Santo Agostinho, que ele representa o Antigo Testamento,
enquanto anuncia o Novo e, por isso, é declarado profeta ainda no seio materno.
O fato de reconhecer a voz da “Mãe de seu Senhor” e sua exaltação aponta para
sua relação com Cristo que estava para nascer. É o último que contempla a
realização das promessas, já no seio de sua mãe.
Ouvir a voz de Deus
O nascimento
de João inaugura um novo tempo: o do movimento de abertura e preparação do povo
para a acolhida de Jesus. Na fronteira de um período de surdez à voz de Deus e
o momento em que esta será ouvida plenamente em Cristo está João com seu
convite constante a cada cristão: ter ouvidos atentos para ouvir a Palavra de
Deus que vem ao nosso encontro na pessoa do Filho amado. Não sejamos surdos à
voz e, principalmente à vida do Batista, que nos apontou o caminho da fé cristã
que rompe as distancias entre Deus e a pessoa humana.
5- LIGANDO A PALAVRA COM A AÇÃO EUCARÍSTICA
Em cada
celebração, “o anúncio da Palavra de Deus repete o tema que João fazia ressoar
às margens do Jordão: ‘Convertei-vos’. A narrativa da Ceia do Senhor, no centro
da Oração Eucarística, é um trecho daquele Evangelho que nos deve levar também
a perguntar com fé à Igreja que no o propõe: ‘que devemos fazer?’ (Atos 2,37).
A resposta de Cristo, corpo-dado e sangue-derramado, é ‘Fazei isto em memória
de mim!’. A vida, o martírio, do Batista é uma das inúmeras respostas-memorial
que sempre sobem ao Pai por Cristo, com Cristo e em Cristo”.
João recebe o
nome de grande por ser o menor. Parece parodoxo, mas é realidade. Ele não é o
Messias, mas aponta para Ele; assim ele aparece na Palavra da Escritura e nos
textos das orações inspirados nessa mesma palavra. Vejamos os textos
eucológicos (orações): “Houve um homem enviado por Deus; o seu nome era João.
Veio dar testemunho da luz e preparar para o Senhor um povo bem-disposto a
recebê-lo” (antífona de entrada). “Ó Deus, que suscitastes São João Batista a
fim de preparar par ao Senhor um povo perfeito, concedei a vossa Igreja as
alegrias espirituais e dirigi nossos passos no caminho da salvação e da paz
[...]” (oração do dia).
Lucas falando
do nascimento de João Batista e a Igreja celebrando esse acontecimento na
liturgia, diz-nos que somos membros vivos na Igreja que sempre está colocando
em prática a dimensão profética.
Fortalecidos
por essa esperança, possamos ser anunciadores da Boa Nova da Salvação e
precursores de um mundo novo, fraterno, digno e harmonioso. Que a presença do
Salvador em nossa caminhada nos dê a alegria da salvação que João teve desde o
ventre de Isabel para vencermos os medos, as perseguições, as tristezas e as
incertezas.
6. ORIENTAÇÕES GERAIS
1. É uma das
celebrações que exige uma preparação especial por parte da equipe de liturgia
do presidente da celebração e possibilita a valorização de elementos da piedade
popular, mas com muito cuidado para não cair no folclore, no sentimentalismo e
no individualismo religioso.
2. A cor
litúrgica a ser usada é o branco ou o dourado.
3. Não chegue
na última hora para a celebração da Missa. Chegue com certa antecedência,
porque é bom que você domine o tempo, em vista do que é prioritário no seu
ministério. Assim poderá ter alguns minutos de silêncio para encontrar calma,
para interromper seu trabalho às vezes frenético, para tornar-se bem consciente
do que está se preparando para celebrar: o mistério da fé, da esperança e do
amor.
4. É bom
lembrar que no dia 25 é o Dia do Migrante. Dia 26 é o Dia Internacional de
Combate às Drogas e da Criação da ONU. Dia 28, é memória de Santo Irineu, bispo
de Lyon e mártir.
7- MÚSICA RITUAL
O canto é parte
necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para animar ou
enfeitar a liturgia. Por isso devemos cantar
a liturgia e não cantar na liturgia. Os cantos e músicas, executados com atitude espiritual e, condizentes com
cada domingo, ajudam a comunidade a penetrar no mistério celebrado. Portanto,
não basta só saber que os cantos são da Solenidade do Nascimento de São João
Batista, é preciso executá-los com atitude espiritual. A escolha dos cantos
deve ser cuidadosa, para que a comunidade tenha o direito de cantar o mistério
celebrado.
A equipe de
canto faz parte da assembléia. Não deve ser um grupo que se coloca à frente da
assembléia, como se estivesse apresentando um show. A ação litúrgica se dirige
ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo. Portanto, a equipe de canto deve se
colocar entre o presbitério e a assembléia e estar voltada para o altar, para a
presidência e para a Mesa da Palavra.
1. Canto de abertura. Ele será
grande diante do Senhor; estará cheio do Espírito Santo desde o seio materno, e
muitos se alegrarão com seu nascimento (Lucas 1,15.14. “Antes que formasse
dentro do seio de tua mãe”, CD:
Festas Litúrgicas II, melodia da faixa 10. Seu texto explica a missão dos
profetas de ontem e de hoje.
Ensina a
Instrução Geral do Missal Romano que o canto de abertura tem por objetivo, além
de unir a assembléia, inseri-la no mistério celebrado (IGMR nº 47).
2. Hino de louvor. “Glória a
Deus nas alturas.” Vejam o CD Tríduo Pascal I e II e também no CD
Festas Litúrgicas I; Partes fixas do Ordinário da Missa do Hinário Litúrgico
III da CNBB e também a versão da CNBB musicado por Irmã Miria Reginaldo Veloso
e outros compositores.
O Hino de
Louvor, na versão original e mais antiga, é um hino cristológico, isto é,
voltado para Cristo, que exprime o significado do amor do Pai agindo no Filho.
O louvor, o bendito, a glória e a adoração ao Pai (primeira parte do Hino de
Louvor) se desdobram no trabalho do Filho Único: tirar o pecado do mundo,
exprimindo e imprimindo na história humana a compaixão do Pai. Lembremo-nos: o
Hino de Louvor não se confunde com a “doxologia menor” (Glória ao Pai, ao Filho
e ao Espírito Santo). O Hino de Louvor encontra-se no Missal Romano em prosa ou
nas publicações da CNBB versificado numa versão que facilita o canto da
assembléia.
3. Salmo responsorial 70/71. Sois
meu apoio desde antes que eu nascesse. “Desde o seio maternal, sois meu amparo”,
CD: Festas Litúrgicas II, melodia da
faixa 11.
O Salmo
responsorial é uma resposta que damos àquilo que ouvimos na primeira leitura.
Isto mostra que o salmo é compromisso de vida e ele também atualiza e leitura
para a comunidade celebrante. Primeira leitura, Palavra proposta e salmo
Palavra resposta. Por isso deve ser cantado da Mesa da Palavra (Ambão) por ser
Palavra de Deus. Valorizar bem o ministério do salmista.
4. Aclamação ao Evangelho. João
veio dar testemunho da Luz. (João 1,7; Lucas 1,17). “Aleluia... “João veio dar
testemunho da Luz; a fim de preparar um povo bem disposto, para a vinda do
Senhor”, CD: Festas Litúrgicas II, mesma melodia da faixa 12. O canto de
aclamação ao evangelho acompanha os versos que estão no Lecionário Dominical,
missa da vigília, página 1016.
5. Apresentação dos dons. A nossa
dimensão profética se concretiza na partilha dos bens em favor do culto e da
missão da Igreja. Devemos ser oferenda com nossas oferendas. “Bendito seja Deus
Pai, do universo criador”, CD: Liturgia VII, melodia faixa 12.
6. Canto de comunhão. Bendito
seja o Senhor, Deus de Israel, que visitou e libertou o seu povo! (Lucas 1,68).
“Houve um homem enviado por Deus para ser testemunha da luz”, CD: Festas
Litúrgicas II, melodia da faixa 13; “Jesus passa e o Batista o aponta: “Eis aí
o Cordeiro de Deus!”, CD: Liturgia VI, melodia igual à faixa.
O canto de
comunhão deve retomar o sentido do Evangelho do dia. As músicas do CD: Festas
Litúrgicas II da Coleção: Cantos do Hinário Litúrgico da CNBB nos ajudam a
viver melhor o mistério celebrado. Para comunhão, sugerimos o canto que está no
CD melodia da faixa 13, que une a mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia. Esta
é a sua função ministerial. Na realidade, aquilo que se proclama no Evangelho
nos é dado na Eucaristia, ou seja: é o Evangelho que nos dá o “tom” com o qual
o Cristo se dirige a nós em cada celebração eucarística reforçando estes
conteúdos bíblico-litúrgicos, garantindo ainda mais a “unidade entre a mesa da
Palavra e a mesa da Eucaristia. Outro canto muito oportuno para esta Solenidade
é: Jesus passa e o Batista o aponta: “Eis o Cordeiro de Deus!”. As estrofes são
do canto de Zacarias, “Bendito o Deus de Israel, que a seu povo visitou”, Lucas
1,67-79. Este canto nos ajuda a entender as missão de João Batista e a nossa de
apontar Jesus o Cordeiro de Deus.
8- ESPAÇO CELEBRATIVO
1. A Igreja
deve ser ornamentada com simplicidade, recordando o estilo profético e austero
de João. Preparar o espaço celebrativo de forma festiva para lembrar a alegria
do nascimento de João Batista usando o branco ou o dourado.
2. Para ajudar
na reflexão e na oração da assembléia, colocar, junto da Mesa da Palavra uma
imagem de João Batista. Pode também ser um quadro ou ícone.
9. AÇÃO RITUAL
Se a
celebração for a noite, onde for possível, pode ser iniciada ao redor de uma
fogueira. Enquanto as pessoas vão chegando canta-se: “Louvarei a Deus, seu nome
bendizendo! Louvarei a Deus, à vida nos conduz”. (Orações e cantos de Taizé, n.
71).
Ritos Iniciais
1. Quando o
momento de iniciar a celebração, você que preside faz o ingresso. Entre na paz,
na alegria interior, na serenidade, disposto, sem pressa, sabendo que você, com
esse ingresso, deve mostrar o Cristo que está chegando. Você há de ser um
“sinal” da vinda do Kyrios (Senhor) em nosso meio. Sim, Cristo continua
invisível, mas é Ele quem realmente é o celebrante. E a liturgia acontece na
comunhão entre a Igreja na terra e a assembléia das criaturas celestes e dos
santos ao redor Dele, o Cordeiro que está diante do trono (cf. Apocalipse
5,6-14; 7,9-17).
2. Na
celebração da vigília não pode faltar o incenso.
3. A saudação
inicial do presidente deve começar trazendo esperança. Seria oportuno a
saudação da página 390, d) do Missal Romano:
O Deus da esperança, que nos cumula de toda
a alegria e paz em nossa fé, pela ação do Espírito Santo, esteja sempre
convosco.
4. O sentido
litúrgico pode ser proposto, através das seguintes palavras, ou outras
semelhantes:
Celebramos hoje, solenemente, o nascimento
de João Batista. O nascimento de João é um sinal da vontade salvífica de Deus
que vai se cumprindo na vida do povo, em meio aos acontecimentos simples e
quotidiano.
5. Antes da
Recordação do Batismo, será bem-vinda a Recordação da Vida de São João Batista.
Importante neste momento não antecipar o Evangelho a ser proclamado que narra
seu nascimento, mas, brevemente falar de seu significado para a tradição
cristã.
6. Proceda-se
a bênção da água e aspersão da assembléia em recordação do Batismo no lugar do
Ato Penitencial.
7. O Hino de
louvor “Glória a Deus nas alturas” é antiqüíssimo e venerável, com ele a
Igreja, congrega no Espírito Santo, glorifica e suplica a Deus e ao Cordeiro.
Não é permitido substituir o texto desse hino por outro (cf. IGMR n. 53). O CD:
Festas Litúrgicas I propõe, na faixa 2, uma melodia para esse hino que pode ser
cantado de forma bem festivo, solista e assembléia. Cantar com alegria e
convicção nesta Solenidade.
8. Na Oração
do Dia, suplicamos a Deus todo poderoso como família reunida em assembléia que
atenta às exortações de João Batista, cheguemos ao Cristo redentor que ele
anunciou.
Rito da Palavra
1. As leituras
sugeridas pelo Lecionário, para esse dia, foram escolhidas levando-se em
consideração a característica da Missa da Vigília desta Solenidade, portanto
devem ser bem preparadas e lidas compassadamente pelos leitores.
2. Dar
destaque maior à proclamação do Evangelho, que hoje pode ser cantado e o livro,
incensado como favorece o próprio Evangelho que narra Zacarias na sua função
sacerdotal oferecendo o incenso na presença do Senhor.
3. Ao final da
Liturgia da Palavra, quem preside pode fazer uma oração sobre o povo, impondo
as mãos sobre a assembléia, conforme o Missal Romano propõe e orienta.
Sugerimos a fórmula 25, página 534
4. As preces,
como sugere o Missal Romano, são feitas do Ambão e recordem a vocação do povo
de Deus para o anúncio do Reino e para o testemunho da presença do Cordeiro de
Deus no mundo. Atenção à estrutura das preces sobre a qual falamos no roteiro
do domingo anterior, evitando-se formas indiretas: “para que...”, “pela
nossa...”, “a fim de que...”. recordem o aspecto memorial e a suplica seja feita
com base no que foi recordado. São formas de se valorizar a Palavra na
celebração.
Rito da Eucarística
1. Na Oração
sobre as Oferendas suplicamos a Deus que olhe as oferendas do povo e que
tenhamos uma vida devotada ao serviço de Deus.
2. O Prefácio
é o da Natividade de São João Batista e a Oração Eucarística III que ressalta
quatro vezes a palavra sacrifício, isto é, fazer algo sagrado. Ela evidencia
que a nossa vida deve ser um sacrifício do nascer ao por do sol. O prefácio
evidencia que João é o maior entre os
nascidos de mulher.
3. O rito da
Fração do Pão, durante o Cordeiro de Deus, deve ser evidente para a assembléia.
Assim como o profeta João apontou o Cordeiro de Deus, também nós devemos
segui-Lo em seu gesto de doação e entrega pela vida do mundo.
Ritos Finais
1. Na Oração após
a comunhão, suplicamos a Deus que como João Batista, também apontamos o Cristo
que tira o pecado do mundo.
2. Preparar um
testemunho sobre a profecia em nosso tempo. Quem hoje, na vida da comunidade ou
da sociedade exerce o papel de profeta, denunciando as maldades e injustiças do
mundo e anunciando a chegada do Reino e a presença de Deus no meio da vida e
das situações? Preparar algo que seja interessante e curto e que a comunidade
não se canse com esse testemunho. Seria bom que esse testemunho fosse feito nos
ritos finais, como estímulo para a missão.
3. Antes da
bênção, um grupo de crianças leva flores para serem depositadas aos pés da
imagem de João Batista, amigo de Jesus.
4. As palavras
do rito de envio estejam em consonância com o mistério celebrado: Proclamem a
todos as maravilhas realizadas pelo Senhor. Sejam profetas e testemunhas de
Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Ide em paz e que
o Senhor vos acompanhe.
10- CONSIDERAÇÕES FINAIS
É importante
celebrar a Natividade de São João Batista. Ao celebrar a Igreja estende as suas
raízes no seu solo, historicamente remoto, mas presente no espírito e no
coração de cada pessoa humana. João Batista precede e proclama, para ser depois
o corpo vivo do Cordeiro, precedido e proclamado.
O objetivo da
Igreja e da nossa equipe diocesana de liturgia é ajudar os padres e as
comunidades de nossa diocese e todas aquelas outras comunidades fora de nossa
diocese que acessar nosso site celebrar melhor o mistério pascal de Cristo.
Um abraço
fraterno a todos
Pe. Benedito
Mazeti
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