sexta-feira, 18 de novembro de 2016

SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO REI DO UNIVERSO

20 de novembro de 2016

Leituras 
         2Samuel 5,1-13
         Salmo 121/122,1-2.4-5
         Colossenses 1,12-20
         Lucas 23,35-43


“AINDA HOJE ESTARÁS COMIGO NO PARAÍSO”


1- PONTO DE PARTIDA

Domingo de Cristo Rei do Universo. Celebramos a Páscoa de Jesus e de todas as pessoas que trabalham para apressar no mundo o Reino de Deus. Hoje é o último domingo do Ano Litúrgico de 2010. A celebração é um significativo momento para recordar as inúmeras ações de Deus realizadas em favor de seu povo na caminhada do ano. É ocasião significativa para a comunidade entoar nossa ação de graças pela manifestação da realeza de Cristo, em tantos gestos de serviço e de solidariedade dos seus seguidores, em favor do resgate da dignidade da pessoa humana, da renovação da comunidade e da construção da sociedade justa e fraterna, à luz da misericórdia do Pai.

Sem nos apegarmos a triunfalismos, proclamamos Cristo, Senhor e Rei do Universo, que vence os que se opõem ao projeto do Reino. Fazendo-se servo e entregando sua vida para que os seus seguidores tenham vida, e vida em abundância.

A festa de Cristo Rei como celebração litúrgica foi instituída pelo papa Pio XI, com a Encíclica Quas primas, em 11 de novembro de 1925. O papa fixou o último domingo de outubro como data da festa de Cristo Rei, principalmente tendo em vista a festa subseqüente de Todos os Santos, “a fim de que se proclamasse abertamente a glória daquele que triunfa em todos os santos eleitos”. A reforma litúrgica do Vaticano II transferiu a data do último domingo de outubro para o último domingo do Tempo Comum. Desse modo, concedeu à celebração um significado diferente, destacando a dimensão escatológica do Reino na sua consumação final. Com essa mudança, Cristo aparece como centro e Senhor da história, Alfa e Ômega, Princípio e Fim (cf. Apocalipse 22,12-13). É a Festa do Cristo Kyrios.

A Igreja no Brasil comemora hoje o Dia dos Leigos, os missionários do Reino de Deus nas diferentes áreas e atividades que tecem a vida humana, religiosa e social. Neste último domingo do Ano Litúrgico, louvemos e agradecemos ao Senhor por todas as graças bênçãos recebidas de sua bondade, ao longo da caminhada do ano que passou.

2- REFLEXÃO BÍBLICA, EXEGÉTICA E LITÚRGICA

Primeira leitura –2Samuel 5,1-13. É um lugar comum dizer que a História da Salvação acontece dentro da história profana e que as realidades superiores que Deus foi revelando e que culminam na plena revelação de Cristo ressuscitado foram sendo anunciadas e percebidas através da experiência cotidiana do povo escolhido. Dentro dessas experiências históricas, anunciadoras longínquas da nova realidade, o rei Davi e o reino de sua dinastia ocupam um lugar privilegiado.

O povo pediu um rei. Ele devia ser o primeiro a viver e a respeitar a lei de Deus e a conduzir o povo no caminho desta lei. Saul foi o escolhido para ser o rei de Israel, mas ele, usando o exército para guerra de conquista e não para defender o povo, foi rejeitado por Deus, que, então, mandou Samuel ungir o jovem Davi.

Desde que Saul, na sua semi-demência, começa a perseguir Davi para matá-lo, ele passa a viver na clandestinidade. Reúne um grupo de fiéis seguidores, que, somados a outros revoltados, descontentes e aventureiros, levam uma vida de bandoleiros. Com a morte de Saul, Davi estabelece-se em Hebron onde é ungido rei pelos homens da tribo de Judá (2Samuel 2,4). Esta a mais populosa e mais guerreira das tribos de Israel.

Davi foi um excelente político. Ungido rei das tribos do Sul em Hebron (2Samuel 2,1-4), tenta imediatamente fazer-se reconhecer como rei pelas tribos do Norte que permaneceram fiéis à dinastia de Saul. O fato das tribos do Norte concluírem com Davi um pacto particular e repetirem a unção já feita em 2Samuel 2, prova bem que ele não é o chefe de um reino unificado, mas o rei de dois povos distintos. “Todas as tribos de Israel vieram encontrar-se com Davi em Hebron e disseram-lhe: Aqui estamos. Somos teus ossos e tua carne...” Quando os israelitas vieram ao seu encontro, seu senso político leva-o a compreender que não pode permanecer em Hebron, cidade do reino do Sul, se quiser reinar sobre os dois países. Ele precisa de uma capital neutra, que não pertença nem ao Norte nem ao Sul: apenas Jerusalém pode resolver o problema, pois na época ela ainda é uma cidade cananéia. Além disso, sua conquista será uma façanha que reforçará a autoridade de Davi sobre todas as tribos e apagará da memória o desastre de Gelboé.

Davi não decepcionou os que o aclamaram rei. Apesar de seus pecados, Davi aparece na história como muito superior a seus contemporâneos, tanto pelas qualidades de inteligência e coração, como pela sua sincera religiosidade. É o homem segundo o coração de Deus.

O rei como autoridade constituída é o líder que governa o povo nas lutas por liberdade e justiça. Sua autoridade se esvazia e deixa de existir quando não congrega os interesses do povo, dando-lhe expressão e consistência. Nessa hora o rei cai na desgraça. Para Israel, a verdadeira autoridade pertence a Deus. Nesse sentido, em semelhança com o pastor, líder é aquele que conduz o povo para a liberdade e lhe possibilita viver em segurança. Seu modo de agir caracteriza-se por respeito, convivência e comunhão com as demais lideranças.

A experiência do reinado de Davi passará às gerações futuras, especialmente através dos profetas, como a expressão da grande esperança messiânica. O Messias será idealizado como um Rei, semelhante a Davi. E seu domínio sobre os homens será exercido à maneira do reino de Davi. A idéia do Messias-Rei e do reino messiânico tem, pois, suas raízes na eleição e na unção de Davi como rei de todo Israel. E mais: o Messias será um descendente da estirpe de Davi (cf. 2Samuel 7,12-17; Isaias 11,1-5; Jeremias 23,5s).

Salmo responsorial – Salmo 121/122,1-2.4-5 . O Salmo 121/122 é um cântico de peregrinação. É um cântico de Sião. Ou seja, este salmo celebra a cidade de Jerusalém, centro de romarias e sede do poder judiciário. Trata-se de uma das peregrinações anuais, quando Israel converge para o Templo de Jerusalém. Os dois primeiros versículos reúnem os dois momentos capitais: quando o peregrino se põe a caminho – “vamos” – e quando ele pisa os umbrais da cidade santa.

“As tribos do Senhor” sobem para Jerusalém para “celebrar o nome do Senhor”; tribunal do rei que administra a justiça em todo o reino. “A sede da justiça lá está e o trono de Davi” (versículo 5). Centro religioso e político, fundação de Deus.

O Salmo 121/122 exalta Jerusalém como o centro da unidade do povo do Senhor, composto por todas as tribos. A Cidade Santa do judaísmo é ponto de convergência e de unidade do povo de Israel: o Templo é sinal visível dessa presença de Deus que reúne o povo. Ir para Jerusalém é motivo de alegria, pois ela é a casa do Senhor. O rei Davi e todos os demais reis e chefes devem trabalhar para guiar o povo na fidelidade e na unidade.

O rosto de Deus. Deus praticamente não age neste salmo. Fala-se da casa dele (Templo, 1b) que sobem a Jerusalém para celebrar o nome dele (4b), seguindo um costume de Israel. Deus, portanto, tem casa, nome e tribos. E tudo isso é celebrado em Jerusalém, cidade que reúne o povo em torno de dois pólos importantes: a fé e a prática da justiça.

Apesar disso, Deus não deixa de ser o aliado do povo. Escolhe uma cidade para morar no meio dele, para festejar com Ele e para garantir uma sociedade justa, característica ausente, por exemplo, no Egito, no tempo do êxodo.

No tempo de Jesus, Jerusalém não era mais cidade da justiça e da paz, nem o culto que aí celebrava era autêntico. Jesus se torno o ponto de encontro de todas as pessoas com Deus (João 1,14), e o Templo (ou templos) tem valor relativo, pois o corpo dele é o novo Templo. Mateus, por sua vez, o apresenta como Mestre da Justiça (Mateus 3,15), capaz de trazer uma justiça nova, superior à dos doutores da Lei e fariseus (Mateus 5,20). E essa justiça faz o Reino acontecer (Mateus 6,33).

Cantemos, neste salmo, a alegria de sermos convidados pelo Senhor para estar em sua presença. Peçamos paz para o nosso mundo e na Igreja e sabedoria para todos os que têm o dever de zelar pelo bem comum e que juntos possamos trabalhar pela vinda do Reino.

FELIZ O POVO QUE O SENHOR ESCOLHEU POR SUA HERANÇA.

Segunda-leitura – Colossenses 1,12-20. A carta aos Colossenses foi escrita na prisão. Paulo foi informado de que a comunidade estava sofrendo influência de doutrinas que colocavam em dúvida o lugar de Jesus Cristo como único mediador. Foi isso que o levou a escrever.

A leitura começa com o final da ação de graças introdutória da carta aos Colossenses. Na antiguidade as cartas começavam com uma ação de graças à divindade e, em nosso caso, Paulo agradece a Deus, o Pai. O versículo 12 é o fecho da ação de graças que começou no versículo 3: “demos graças ao Deus e Pai de Nosso Senhor Cristo”. Se no versículo 3 Deus é o Pai de Jesus, no versículo 12 Ele é apresentado como Pai dos homens, pois para participar da herança do Pai é necessário que sejamos filhos, e isto nos mereceu o Filho por natureza, Jesus, que nos constituiu filhos por adoção (cf. Gálatas 4,7; Romanos 8,14ss).

O Pai por sua graça nos fez idôneos, pagãos e judeus, de participarmos do que Cristo nos mereceu, e Ele nos concedeu. Santos então são os cristãos sobre a terra ou que receberam a recompensa no céu, mas nunca os anjos. Trata-se então da participação na herança prometida ao povo eleito, que no Primeiro Testamento é chamado de santo. Assim habitar a luz é estar na casa de Deus (1Timóteo 6,16) e Atos 26,17ss, tratando da conversão de São Paulo, indica sua missão como a de “abrires os olhos (dos pagãos) e assim voltarem das trevas à luz... alcançarem pela fé em mim, a remissão dos pecados e participarem da herança entre os santos”. 1Tessalonicenses 5,4-8 por outro lado diz “vós não estais nas trevas... todos vós sois filhos da luz”, desse modo a participação na herança já começa aqui e agora. Somos já parte do povo santo (1Pedro 2,9) e conosco também os pagãos fazem parte desse povo (cf. Efésios 2,11ss; Gálatas 3,14).

Os judeus consideravam o Êxodo como passagem da escravidão para a libertação, mas também como passagem das trevas para a luz. Não é por outro motivo que á parte essencial da Liturgia da Vigília Pascal a bênção do fogo novo e o círio pascal, nova luz. A primeira criação foi uma vitória sobre as trevas, igualmente a segunda que aconteceu em Cristo, fomos arrancados do poder das trevas, há quase que violência neste ato libertador, acontecido na “cruz e ressurreição” e concretizado para nós no batismo. Ser arrancado das trevas e ser transportado para a luz são dois aspectos de uma mesma obra redentora como o foram Morte-Ressurreição e Ascensão-Pentecostes.

Ele é o Primogênito de toda a criação, não no plano cronológico, mas no plano da causalidade: criando o mundo, Deus se serviu de Cristo como um modelo (cf. Provérbios 8,22, a propósito da Sabedoria).

Ele também é o Primogênito no plano sobrenatural (por isso, cronológico e casualmente). Portanto, trata-se de Cristo preexistente, mas agarrado na pessoa histórica do Filho de Deus feito homem.

Enfim, o “primado de Cristo” é expresso por três imagens: primogênito, cabeça do corpo, plenitude. Estes temas, caros ao apóstolo Paulo, exprimem que a ressurreição de Cristo colocou sua natureza na cabeça e no fonte da humanidade regenerada e da própria criação (Romanos 8,19-22; 1Coríntios 3,22; 15,20-28; Efésios 1,10; 4,10, etc.). Para um cristão, o primado de Cristo é tudo em sua religião: o resto é fantasia! As discussões gnósticas sobre a existência de um Deus criador são ridículas: Cristo faz tudo. O próprio Adão é despojado de seu título de primeiro homem em proveito de Jesus Cristo. Os comentários sobre a existência dos anjos também são completamente inúteis por que Cristo está presente. Portanto, Paulo ataca a problemática da gnose com seu próprio vocabulário.

Dos versículos de 15-20 temos o famoso hino cristológico, que canta Jesus como sendo aquele em quem mora a plenitude de Deus: Deus lhe deu tudo, e mais “quis morar nele com toda a sua plenitude” (1,19). Paulo desenvolve a sua cristologia num sentido corporativo: Jesus é a Cabeça, a Igreja o Corpo. Ora, a Cabeça não é separada. A plenitude que está na Cabeça é participada pelo corpo. Este hino cristológico está musicado no Ofício Divino das Comunidades página 257.

A conexão então entre “criação e redenção” se faz explícita. Só quem fora mediador da criação, poderia sê-lo da redenção. Cristo criou, mantém e dá sentido ao universo, que marcha para Ele. Ele não esteve ou estará presente em alguns momentos da história da humanidade, Ele está desde sempre, e assim será até a Parusia. A criação não é um fato do passado, ela continua a acontecer, e Cristo será sempre o mediador das relações entre Deus e o mundo, que nos faz compreensível o mundo como criação.

Em suma, o hino quer nos mostrar que a redenção é possível e real porque o Redentor e o Criador são um. A redenção então não é um método para se sair do mundo, ela acontece dentro do mundo e tem por finalidade levar o mundo a sua origem, levar a Deus pelo Cristo.

Evangelho – Lucas 23,35-43. Para Lucas o Reino de Cristo inicia realmente na hora da cruz, e participa dele aquele que encarna o modelo do comum dos fiéis: o pecador convertido (cf. a pecadora, o publicano, o filho pródigo, Zaqueu, etc.). Isso significa, entre outras coisas, que o Reino de Jesus, para Lucas é essencialmente o Reino da reconciliação da pessoa humana com Deus (cf. Paulo em Colossenses 1,20 na segunda leitura de hoje). A investidura real de Jesus se desenrola em torno da cruz, trono improvisado do novo Messias. A verdadeira paz messiânica, para Lucas, não é tanto o lobo e o cordeiro pastarem juntos (Isaias 11,6-9), mas o ser humano ser reconciliado com Deus e participar de sua vida, no “paraíso”, restauração da inocência original. Deste Reino, a pessoa humana participa pela fé, que se expressa na oração (outro tema caro a Lucas): a prece do bom ladrão não é apenas um pedido, mas também confessa Jesus com Rei (“no teu Reino”, 23,42). O bom ladrão recebe o paraíso por causa desta fé. Podemos, portanto, dizer que, para Lucas o Reino de Cristo é essencialmente seu poder de reconciliar com Deus os que acreditam Nele.

“Os chefes zombavam de Jesus, dizendo: a outros ele salvou. Salve-se a si mesmo se, de fato é o Cristo de Deus, o escolhido!” (versículo 35). Depois da zombaria dos chefes religiosos, Lucas acrescenta a zombaria dos soldados. “O soldados também caçoavam dele...” Lucas deixa a entender que os militares sejam estrangeiros, isto é, romanos. Neste caso, para eles, o “Salva-te a ti mesmo” não indica nenhum poder sobrenatural, mas significa simplesmente “livra-se do perigo da morte”.

“Acima dele havia um letreiro: Este é o rei dos judeus” (versículo 38). Os delinqüentes ostentavam, durante o percurso para o patíbulo, uma tabuleta branca pendente do corpo; em outros casos, essa tabuleta era carregada à frente do cortejo. Nela consta, em letras pretas ou vermelhas, a culpa. A tabuleta é fixada no alto da cruz. Lucas é o único evangelista a notar que a inscrição está acima de Jesus. Ironicamente, Pilatos havia mandado colocar o motivo da condenação: “Este é o Rei dos judeus”. A inscrição acima de Jesus vale como palavra de investidura, semelhante à do Pai que investe seu Filho no batismo (Lucas 3,22).

A condição de rei aparece na inscrição, em três idiomas, colocada na parte superior da cruz: “Este é o rei dos judeus” (versículo 3838). As pessoas que haviam escutado suas pregações, agora, desconcertadas, observam o crucificado. Aqueles que tinham sido questionados por Ele, zombavam e desfrutavam sua vitória. Pobre rei dos judeus, que não tem poder de libertar a si e a seu povo (versículos 35-38)! A atitude de Jesus, que não lançou mão de seu poder em benefício próprio, sensibilizou a um dos malfeitores crucificados, que lhe pediu: “Jesus, lembra-te de mim” (versículo39). A palavra do Nazareno: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”, fez a todos entender de que reino Jesus era Rei (versículos 42-43).

Para os Romanos, o título de rei tinha um sentido político; entretanto, para os Judeus, tinha uma conotação religiosa. Por isso, os chefes dos sacerdotes dos Judeus pedirão a Pilatos parta modificar a inscrição que para eles era um sacrilégio (cf. João 19,21).

Como tudo é importante na lei judaica, é preciso que a entronização real seja reconhecida por duas testemunhas. Mas, enquanto que as testemunhas da investidura real da Transfiguração são as duas principais personagens do Primeira Testamento, Moisés e Elias (Lucas 9,28-36) e que as testemunhas da ressurreição também são completamente misteriosas (Lucas 24,4), as duas testemunhas da entronização no Gólgota (Calvário) são apenas ladrões comuns.

“Um dos malfeitores crucificados o insultava, dizendo: Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!”. Lucas muda os “ladrões” de Mateus em “malfeitores”. Enquanto só um dos condenados insulta a Cristo, o outro toma a sua defesa. Pela terceira vez, aparece a fórmula “Salva-te a ti mesmo” (cf. versículo 35 e 37). O malfeitor acrescenta interessadamente “e a nós”.

A fé do malfeitor arrependido no Reino de Jesus (versículo 40-43). Ao aceitar o justo castigo pelas faltas cometidas, o segundo malfeitor representa o pecador arrependido que se converte e é perdoado por Deus. Jesus responde com autoridade e solene: “Em verdade eu te digo, ainda hoje estarás comigo no paraíso”.

Os fariseus esperavam a ressurreição dos mortos “no fim dos tempos”. Ao futuro contido na oração de pedido do malfeitor convertido (“Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reinado”), Jesus opõe dizendo que a salvação é desde já: “HOJE estarás comigo no paraíso” (versículo 43). Jesus supera a expectativa do pedido. O advérbio “hoje” é caro ao estilo de Lucas (12 vezes no seu Evangelho, 9 vezes nos Atos contra 6 vezes em Marcos, 1 vez em Mateus e nunca em João.

Santo Ambrósio dizia: “A vida é estar com Cristo: onde está o Cristo, está a Vida, está o Reino”. “Estar com Jesus” é o ideal de todos os cristãos (Filipenses 1,23).

3- DA PALAVRA CELEBRADA AO COTIDIANO DA VIDA

Nas celebrações litúrgicas estamos habituados a cantar hinos a Cristo Rei. “Rei divino que à terra desceste. Vindo a nós de um trono de glória. Alcançaste fulgente vitória sobre a culpa origem da dor! Reina, reina nas almas no mundo. Rei dos reis, Jesus Cristo, Senhor!” e outros hinos como: “Jesus é meu rei e Senhor”.

Jesus apresenta-se na dimensão de sua realeza, do maravilhoso e do grandioso. Ele é rei do universo. Todavia, essa realeza assume conotações peculiares que temos de ter presentes para não falsificar seu significado. Alguém poderia seguir Jesus como rei, segundo os critérios da mentalidade capitalista. Jesus é Rei-Servo, que veio “para servir e não ser servido”, para “doar sua vida para que todos tenham vida, e vida em abundancia”.

A festa de Cristo Rei, antigamente (embora seja bastante nova), era facilmente entendida num sentido triunfalista. Na época recordava os desfiles da Ação Católica especializada – e uniformizada... Ora, o triunfalismo é uma indevida antecipação materializante do Reino transcendente.

Reconheçamos com sinceridade: não é fácil vencer a tentação ao triunfalismo religioso e á imposição dos critérios evangélicos e eclesiais por certa coação da lei e do poder político. As influencias do tempo de cristandade ainda repercutem e revelam sua força com muitas manifestações eclesiais e litúrgicas. Hoje o estandarte de Cristo rei tremula em meio a muitas outras bandeiras da sociedade.

Em uma reunião de catequistas, uma senhora contou a experiência de seu embaraço diante da pergunta de uma adolescente: “Jesus é rei. Mas como ele se tornou rei se ele foi condenado a morrer numa cruz?”. O imaginário quer as pessoas têm de rei, assimilado da média, não se junta com o cenário do Calvário. A imagem veiculada normalmente apresenta os membros das famílias reais como indivíduos bem sucedidos, em contraposição a Jesus como um fracassado. Nem sempre é fácil compreender que a coroa que Jesus usou foi a de espinhos, seu trono foi a cruz, sua lei foi o amor fraterno e seu cetro, a justiça e a verdade.

De fato, com o explicar o paradoxo: aquele que foi anunciado, esperado como Messias e Salvador, morre sentenciado numa cruz. O rei do universo acaba crucificado. Muitos como a adolescente imaginam ainda que o Cristo conquistou a coroa de rei pelos caminhos da política, da violência e da opressão pelas armas. A cruz revela que a realeza de Jesus segue outras vias, tem outra lógica. Ele é rei pela via da não-violência, da misericórdia, do perdão, da reconciliação, da doação, do sacrifício de si mesmo e serviço. “Eu vim para servir e não para ser servido.” “Vim para que todos tenham vida, e vida em abundância”. Jesus é rei do reino da verdade e da vida, da santidade e da graça, da justiça, do amor e da paz (cf. Prefácio da Missa). Cristo quer ser reconhecido como rei unicamente através da entrega livre, no amor, na verdade, sem imposições. Um Rei vencido pela força dos poderosos, mas vitorioso pela ternura do amor e que jamais aceitará ser “protegido pela força das armas dos poderosos”. É paradoxal o diálogo que se desenvolve junto da cruz entre os chefes e depois entre os soldados romanos. O diálogo que desafia o Crucificado a colocar-se no plano do poder: “A outros ele salvou. Que salve a si mesmo, se, é de fato o Messias de Deus, o Escolhido”. “Se tu és o rei dos judeus, salva a ti mesmo.” E o diálogo da confiança e da certeza de que o reino de Cristo é de outra ordem: “Jesus lembra-te de mim quando estiveres em teu reino...”.

Jesus é rei do Reino que privilegia os desprestigiados, os excluídos e os marginalizados da sociedade dos poderosos. O ladrão arrependido representa a humanidade com suas fraquezas. Nele estão simbolizados todos aqueles que reconhecem precisar da ação de Deus para salvar-se. Em Deus, eles encontram um refúgio seguro e definitivo.

A oferta do paraíso ao bom ladrão reflete o ponto culminante da missão de Jesus: “Eu não vim chamar os justos, e sim os pecadores” (Marcos 2,7). Ao longo de sua missão, apesar dos protestos das pessoas “de bem” (cf. Mateus 9,11), Jesus aproximou-se, visitou e sentou-se à mesa com publicanos e pecadores (cf. Mateus 9,10). Agora, no suplício da cruz, o bom ladrão reconhece a realeza de Jesus e se converte no primeiro cidadão do Reino do céu, passando com ele das trevas da morte à luz inacessível (1Timóteo 6,16). “... Só vós sois o Deus vivo e verdadeiro que existis antes de todo o tempo e permaneceis para sempre, habitando em luz inacessível.” cf. Prefácio da Oração Eucarística IV.

A história do bom ladrão arrependido pode ser a nossa história. Nós também participamos do interminável cortejo daqueles que cantam os louvores a Deus Pai “porque nos arrancou do poder das trevas e nos transferiu para o reino do seu Filho amado, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados” (cf. Colossenses 1,13-14).

No passado, celebrava-se a Solenidade de Cristo Rei de forma triunfalista e, de certo modo, se contradizia o estilo do Filho de Deus (cf. João 6,15), que não “se prevaleceu de sua condição divina; humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz!” (Filipenses 2,6-8). A Solenidade de Cristo Rei, no último domingo do Ano Litúrgico, deveria centrar-se mais na celebração da fé e da esperança de todos os que caminham rumo ao Reino definitivo, certos de que a Boa-Nova de Jesus é que define o destino da humanidade, e não as artimanhas dos poderosos deste mundo.

Em nossa celebração, proclamamos Jesus como o rei que venceu a violência pelo amor e pela não-violência. Pela força amorosa do Espírito que prolonga na Igreja e sua memória, somos transfigurados de nossas idéias triunfalistas para abraçarmos com toda a ternura do coração a sua vida em nós e a missão que Ele nos confia. 

É importante deixar claro que a realeza de Cristo não se confunde com a realeza deste mundo. Suas conquistas não se medem pela quantidade de indivíduos batizados, pela eficiência das estruturas e das instituições eclesiais, pela grandiosidade das igrejas, etc. O Reino de Cristo conquista novas fronteiras pela atitude de serviço, pelos gestos de doação solidária em favor dos mais fracos. Ele se manifesta no respeito de uns pelos outros, no encontro, no diálogo que instaura relações de comunhão.

Neste último domingo do Ano Litúrgico, concluída a caminhada como discípulos e discípulas, reconhecemos e proclamamos que Cristo é Senhor e Rei universal. Ele é o Senhor de toda a criação e de toda a história. Seu Reino é o Reino de Deus introduzido na vida humana pelo mistério de sua Encarnação; Ele o instaurou para sempre por sua morte e ressurreição. Ao proclamarmos em espírito e verdade que Cristo é nosso Rei, manifestemos a decisão de seguir seu caminho de total fidelidade, colocando toda nossa vida ao serviço da obra redentora de Jesus, nosso Rei e Senhor. “Gloriando-nos de obedecer na terra aos mandamentos de Cristo, Rei do universo, possamos viver com ele eternamente no reino dos céus” (Oração depois da comunhão).

Em nossa celebração, proclamamos Jesus como o rei que venceu a violência pelo amor e pela não-violência. Pela força amorosa do Espírito que prolonga na Igreja a Sua memória, somos transfigurados de nossas idéias triunfalistas para abraçarmos com toda a ternura do coração a Sua vida em nós e a missão que ele 

4- A PALAVRA SE FAZ CELEBRAÇÃO

Senhor Deus, Rei do Céu

O Hino de Louvor, venerável e antiquíssima poesia litúrgica nos diz que Deus é Rei todo-poderoso. Outro hino, desta vez proclamado como segunda leitura, diz que Jesus é a “imagem do Deus invisível”. Aqui se pode entender em que sentido anunciamos e celebramos o reinado de Jesus: Ele realiza no mundo o reinado de seu Pai. Ungido (Crismado; tornado Cristo) pelo Espírito representa-o no mundo e dele cuida em seu nome. Por isso é Rei e Messias. Mas, além disso, é Filho primogênito, o primeiro de toda a criação. A celebração de hoje, portanto, recorda Jesus Rei, Cristo (Ungido/Messias e Filho). Todas estas categorias com as quais compreendemos a pessoa e mistério de Jesus se aplicam aos cristãos, igualmente, no Batismo, porque mediante este sacramento ligamo-nos a Ele. Poderíamos dizer com a mesma figura evangélica, que assim entramos na dinâmica do Paraíso, onde Jesus exerce sua realeza, envolvendo-nos a todos, pois somos o Corpo e Ele a Cabeça. O que se aplica a Cristo, por derivação se aplica à Igreja, à comunidade dos fiéis.

De volta ao Jardim

Se tudo que se aplica ao Cristo se aplica à sua Igreja, entendemos que o “hoje” do paraíso se torna a missão e meta da Igreja. O ministério da Igreja Corpo de Cristo depois da Páscoa é de realizar no mundo o paraíso, isto é, de torná-lo um lugar no qual a parceria (aliança) Deus-Humanidade se torna evidente e eficiente. Seguindo ainda a lógica do domingo anterior, o que se passa na terra decorre do que se dá no céu (cf. Oração depois da comunhão). Isto é o paraíso, ou melhor, uma pequena “mostra” do que Cristo Jesus já tem e é em plenitude, mas que nos toca agora, enquanto peregrinos no mundo, co-responsáveis por ele.

Trata-se de uma antecipação, de uma “mostra” porque ainda estamos marcados pela dinâmica processual da história. Seus revezes parecem distorcer e desfigurar o mundo como lugar paradisíaco (Paraíso). A Aliança com Deus, por vezes, nos parece abalada e até mesmo rompida. Colhemos estas impressões nos vários acontecimentos que nos cercam, lendo-os como sinais de morte (a violência, o sofrimento, a dor, a miséria, etc.) São fatos que repetem o Calvário, existencialmente.

Mas a Igreja, ao cantar “Bendito aquele que vem vindo” (cf. Aclamação ao Evangelho) renova sua participação no reinado de Cristo, pois ela é Crismada/Ungida para fazer permanecer no mundo os efeitos de sua Páscoa. A Cruz deixa de ser, então, sinal de morte e se torna ocasião para anunciar o começo e a urgência do paraíso, já agora neste mundo e entre nós. Por isso continua a cantar: “Venha teu Reino, Senhor! A festa da vida recria! A nossa espera e a dor transforma em plena alegria.”

5- LIGANDO A PALAVRA COM A AÇÃO EUCARÍSTICA

Ao longo dos dias e semanas do ano Litúrgico, que hoje se conclui, procuramos ser companheiros (discípulos) de caminhada com Jesus. Pela celebração deste dia, reafirmemos nossa fé no mistério da realeza de Jesus, Messias Servo e Senhor de todos e de tudo. Nele e por Ele, o Pai “restaura todas as coisas”. Agora, como criaturas libertas da escravidão, glorifiquemos a Deus pelas maravilhas que realizou em favor da humanidade por meio de seu Filho, Crucificado e Ressuscitado. Como o salmista, cantemos: “Povos todos do universo, batam palmas, soltem gritos de alegria, aleluia! Ele é o Deus Altíssimo, Soberano, rei e Senhor” (Salmo 47/46).

Que a nossa participação no mistério de Cristo, Rei do universo, nos dê o espírito de sabedoria e de discernimento para percebermos a riqueza de sua realeza presente na história. Que nos dê a fortaleza da “não-violência”, enquanto aguardamos na terra a vinda do Reino de amor e de paz, sendo uns com os outros, justos, fraternos e solidários. Ele foi vítima da violência e não usou de violência, mas “oferecendo-se na cruz, vítima pura e pacífica, realizou a redenção da humanidade” (Prefácio Cristo Rei do universo).

Celebrando a Eucaristia ao redor do altar, proclamemos nossa fé e a certeza de nossa esperança na vitória do Cristo Rei e Senhor sobre a força do poder das armas, do dinheiro e da tecnologia. Alimentados com o “pão do céu”, sejamos “testemunhas vivas da verdade e da liberdade, da justiça e da paz, para que toda a humanidade se abra à esperança

A ação litúrgica deste domingo de Cristo Rei é expressão da Aliança de Deus com seu povo, isto é, expressão maior da comunhão do Reino.

6- ORIENTAÇÕES GERAIS

            1. Neste domingo da Solenidade de Cristo Rei e do Dia Nacional dos Leigos, a equipe de liturgia, como um serviço importante para a comunidade de fé, ao preparar a celebração, deve dar particular atenção às várias partes da celebração.

2. Receber de maneira fraterna a todas as pessoas que se reúnem para celebrar, pois elas esperam ser bem acolhidas na comunidade litúrgica.

3. Dar maior atenção a toda a liturgia eucarística como ação de graças – dom gratuito que Jesus Cristo faz de sua vida ao Pai pela libertação da Humanidade: cantar o prefácio (ou a louvação da celebração da Palavra), o santo as aclamações e o Amém final da Oração Eucarística. Evitem-se cantos e gestos devocionais e individualistas (“Bendito, louvado seja”, “Deus está aqui”, “Eu te adoro, hóstia divina” etc.).

4. A narrativa da instituição da eucaristia não é uma imitação da última ceia; por isso “não se parte o pão neste momento como algumas vezes acontece.” A liturgia eucarística, como se disse, é fazer o que Jesus fez: tomou o pão e o vinho, deus graças, partiu o pão e o deu (comer e beber). O partir o pão, como Jesus fez, corresponde à fração do pão em vista da comunhão. Por isso, a Redemptionis Sacramentum, número 55, considera um abuso partir o pão durante o relato da instituição.

5. Dia 25 é o Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher. Dia 26, recordamos Tiago Alberione, fundador da Família Paulina. Dia 26, com as Vésperas (Ofício Divino) inicia-se o Tempo do Advento.

7- MÚSICA RITUAL

O canto é parte necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para animar ou enfeitar a liturgia. Por isso devemos “cantar a liturgia” e não cantar na liturgia. Os cantos e músicas, executados com “atitude espiritual” e, condizentes com cada domingo, ajudam a comunidade a penetrar no mistério celebrado. Portanto, não basta só saber que os cantos são da Solenidade de Cristo Rei do Universo, “é preciso executá-los com atitude espiritual. A escolha dos cantos deve ser cuidadosa, para que a comunidade tenha o direito de cantar o mistério celebrado.” Jamais os cantos devem ser escolhidos para satisfazer o ego de um grupo ou de um movimento ou de uma pastoral. Não devemos esquecer que toda liturgia é uma celebração da Igreja corpo de Cristo e não de um grupo, de uma pastoral ou de um movimento.

A escolha dos cantos para as celebrações seja feita com critérios válidos. Não se devem escolher os cantos para uma celebração porque “são bonitos animados e agradáveis”, ou porque “são fáceis”, mas porque são litúrgicos. Que o texto seja de inspiração bíblica, que cumpram a sua função ministerial e que se relacionam com a festa ou o tempo. Que a música seja a expressão da oração e da fé desta comunidade; que combinem com a letra e com a função litúrgica de cada canto.

1. Canto de abertura.  O Cordeiro imolado, digno de receber a glória a força e a honra, Divindade, sabedoria... (Apocalipse 5,12; 1,6). “Tu és o Rei dos reis” CD: Liturgia XII, melodia da faixa 17.

Ao Crucificado, toda Glória e Poder. Este canto fala que o Senhor reina através da pobreza cruz. A partir da perspectiva bíblica da Aliança Jesus resgata em seu ministério e na Cruz. Reino da Cruz, Reino da fé.

2. Hino de louvor. “Glória a Deus nas alturas...” Vejam o CD: Tríduo Pascal I e II e também no CD Festas Litúrgicas, Partes fixas do Ordinário da Missa do Hinário Litúrgico III da CNBB e também a versão da CNBB musicado por Irmã Miria e outros compositores.

O Hino de Louvor, na versão original e mais antiga, é um hino cristológico, isto é, voltado para Cristo, que exprime o significado do amor do Pai agindo no Filho. O louvor, o bendito, a glória e a adoração ao Pai (primeira parte do Hino de Louvor) se desdobram no trabalho do Filho Único: tirar o pecado do mundo, exprimindo e imprimindo na história humana a compaixão do Pai. Lembremo-nos: o Hino de Louvor não se confunde com a “doxologia menor” (Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo). O Hino de Louvor encontra-se no Missal Romano em prosa ou nas publicações da CNBB versificado numa versão que facilita o canto da assembléia. 

3. Salmo responsorial 121/122. Alegria por subir a Jerusalém, morada do Rei. “Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança”, CD: Liturgia XII, faixa 18, ou o refrão do Lecionário Dominical: “Quanta alegria e felicidade: vamos à casa do Senhor!”

Para a Liturgia da Palavra ser mais rica e proveitosa, há séculos um salmo tem sido cantado como prolongamento meditativo e orante da Palavra proclamada. Ele reaviva o diálogo da Aliança entre Deus e seu povo, estreita os laços de amor e fidelidade. A tradicional execução do Salmo responsorial é dialogal: o povo responde com um refrão aos versos do Salmo, cantados por um ou uma salmista. Deve ser cantado da mesa da Palavra.

4. Aclamação ao Evangelho. Hosana ao Ungido do Senhor e ao Reino que vem (Marcos 11,10-11). “É bendito aquele que vem vindo...”, CD: Liturgia XII, melodia da faixa 19. O canto de aclamação ao evangelho acompanha os versos que estão no Lecionário Dominical.

Aleluia é uma palavra hebraica “Hallelu-Jah” (“Louvai ao Senhor!”), que tem sua origem na liturgia judaica, ocupa lugar de destaque na tradição cristã. Mais do que ornamentar a procissão do Evangeliário, sempre foi a expressão de acolhimento solene de Cristo, que vem a nós por sua Palavra viva, sendo assim manifestação da fé presença atuante do Senhor.

5. Canto após a homilia“Salve, ó Cruz libertadora”, CD: Festas Litúrgicas IV, melodia da faixa 6 e somente a estrofe 1, Por ser um momento meditativo, é bom que as estrofes sejam cantadas por um (a) solista.

6. Apresentação dos dons. A escuta da Palavra e colocá-la em prática, deve gerar na assembléia a partilha para que ela possa ser sinal vivo do Senhor. Devemos ser oferenda com nossas oferendas. A pobreza da cruz nos leva a partilhar. Nossa glória é a  cruz, onde nos salvou Jesus”, CD: Festas Litúrgicas IV, melodia da faixa 8; “Bendito sejais, Senhor,” CD: Liturgia XII, melodia da faixa 15;

7. Canto de comunhão. Reino eterno de Deus, paz para o povo. (Lucas 23,42-43 e estrofes do Salmo 50/49). O Salmista canta que Deus reuni na sua frente os seus eleitos. “Ó Jesus, não te esqueças de mim”; CD: Liturgia XII, melodia da faixa 20.

O fato de a Antífona da Comunhão, em geral, retomar um texto do Evangelho do dia revela a profunda unidade entre a Liturgia da Palavra e a Liturgia, Eucarística e evidencia que a participação na Ceia do Senhor, mediante a Comunhão, implica um compromisso de realizar, no dia-a-dia da vida, aquela mesma entrega do Corpo e do Sangue de Cristo, oferecidos uma vez por todas (Hebreus 7,27).

8- ESPAÇO CELEBRATIVO

1. No espaço celebrativo destacar o Círio Pascal, sinal eloqüente de Cristo resplandecente que dissipa as trevas do nosso coração e da nossa mente. Destacar também as mesas da Palavra e da Eucaristia. Colocar no espaço celebrativo uma pequena árvore seca com três fitas verdes um pouco largas simbolizando que sem a Cruz não há ressurreição. A fita do meio deve estar mais elevada simbolizando o Cristo. As outras duas lembram os malfeitores.

2. A cruz é uma peça importante nas celebrações do Mistério Pascal do Senhor. Ela é entendida pela Instrução Geral do Missal Romano como um elemento que deve recordar aos fiéis o acontecimento da fé ali celebrado.

3. Ela pode ser processional, e por isso é chamada de “cruz litúrgica.” Ela ocupa o lugar próximo do altar quando usada na procissão e por isso é comumente ladeada por velas. “Neste domingo” ela pode ser colocada próxima à cadeira de quem preside a celebração, recordando a todos que não existe desfrute da glória sem a cruz, sem saborear o cálice de Cristo. Neste caso, deve-se observar com atenção as possibilidades de acordo com a disposição do espaço sagrado, para que as peças não fiquem “espremidas”. Se não for conveniente colocá-la junto à cadeira presidencial, que seja colocada no lugar de costume.
           
4. O simbolismo da cruz traz presente o anúncio da paixão e ressurreição do Senhor. A cruz processional, a mesma que será usada na procissão de abertura, esteja na entrada da Igreja, por onde todos passam. É uma forma de trazer presente o mistério que será celerado. Ela pode ficar aí até o início da celebração, ladeada de velas e flores, de forma que chame a atenção de todos os que vão chegando para a celebração.

9. AÇÃO RITUAL

A celebração deste Domingo de Cristo Rei do universo nos recorda a participação no reinado de Cristo que é sacramento do Reinado de Deus Pai. A Igreja, mediante a ação conjunta de todos os batizados, faz permanecer viva no mundo a memória do Crucificado-Ressuscitado. Aquele paraíso, símbolo da parceria e amizade divina com os seres humanos, deixa de ser figura e se torna realidade. A cruz revela a ressurreição, a morte dá lugar à vida.

Ritos Iniciais

1. Para manifestar este sentido “vitorioso” da cruz de Cristo, de onde Ele exerce o seu reinado, sugerimos na procissão de entrada, valorizar a cruz, colocando sobre ela uma palma verde simbolizando a vitória de Cristo sobre a morte. A palma seria colocada antes da procissão por um leigo ou uma leiga de maneira que todos vejam este gesto solene acompanhado com um refrão: “Vitória, tu reinarás!/ Ó cruz, tu nos salvarás! ou “Jesus Cristo, ontem e hoje,/ E por toda a eternidade, e por toda a eternidade!; Hinário Litúrgico I Advento Natal, página 17.

2. Alguns leigos e algumas leigas participam da procissão de entrada, levando a cruz e o Evangeliário.

3. A saudação inicial seja feita com a fórmula “f” do Missal Romano, 1Pedro 1,1-2:

“Irmãs eleitos segundo a presciência de Deus Pai, pela santificação do Espírito para obedecer a Jesus Cristo e participar da bênção da aspersão do seu sangue, graça e paz vos sejam concedidas abundantemente” (1Pedro 1,1-2)

4. Em seguida, dar o sentido litúrgico da celebração. O Missal deixa claro que o sentido litúrgico da celebração pode ser feito pelo presidente, pelo diácono um leigo/a devidamente preparado (Missal Romano página 390). O sentido litúrgico pode ser proposto, através das seguintes palavras, ou outras semelhantes:

Domingo de Cristo Rei do Universo. Celebramos a soberania e o senhorio de Jesus. Contemplamos a realeza de Cristo na doação de sua própria vida. Celebramos a Páscoa de Jesus que se manifesta em todas as pessoas e grupos que se solidarizam com os pobres e sofredores.
5. Em seguida fazer a recordação da vida. Quem preside fazer uma recordação da caminhada do Ano Litúrgico ou se for possível motivar a própria comunidade a recordar os acontecimentos significativos do Ano Litúrgico que está por terminar, destacando-se sua vinculação com Cristo Rei, como sinais do Reino de Deus presente no meio da comunidade cristã. Ou também pode ser feito essa recordação dos acontecimentos na homilia. Seria como um balanço da caminhada da comunidade.

6. É um dia oportuno para fazer a recordação do batismo, no qual todos os fiéis fazem memória de sua participação do Reinado de Cristo por sua ligação com Ele. Fazer a bênção e a aspersão com água no lugar do ato penitencial, recordando a caminhada batismal, a participação na missão “real serviço” de Cristo e renovando o batismo, que nos inseriu na vida de Jesus Cristo. Pode-se também fazer a bênção da água e aspersão após a homilia.

7. Cada Domingo do Tempo Comum é Páscoa semanal. Cantar de maneira festiva o Hino de louvor (glória).

Rito da Palavra

1. Após a homilia, deixar um tempo de silêncio conforme prevê a Introdução ao Elenco das Leituras da Missa (OLM 28). Este silêncio pode transformar-se em oração contemplativa fruto das inspirações surgidas na Liturgia da Palavra, favorecendo a comunidade a assumi-la em sua vida, interiorizando o sentido pascal dos textos. Vez por outra, uma ação ritual que inclua um canto é oportuna. Privilegie-se o silêncio como expressão de intimidade pessoal e comunitária com o mistério celebrado.

2. Na profissão de fé, convidar a assembléia a professar sua adesão de fé a Cristo Senhor e Rei, tomando-se o modelo da Vigília Pascal, recitando o Creio com perguntas e respostas, ou o Creio Niceno-Constantinopolitano.

3. Na oração dos fiéis, preparar as preces com a resposta: “VENHA A NÓS O VOSSO REINO!”. Sugerimos estas preces.

a). Senhor Jesus, como contemplastes a face de Dimas ao lado de vossa cruz, olhai com bondade para vosso povo sofredor. Dai-lhe, igualmente, o conforto do paraíso que se realiza nos feitos de vossa Igreja;

b). Senhor Jesus, em vossa vida se cumpriu a vontade do Pai. Ajudai a vossa Igreja, para que se mantenha fiel ao Evangelho que anuncia, alegrando os tristes, confortando os angustiados, curando os enfermos e defendendo os perseguidos;
c). Senhor Jesus, para quem a cruz não foi derrota, mas se tornou bênção e vitória, permiti ao vosso povo sacerdotal enxergar os sinais de morte e transformá-los em ocasião para fazer brilhar a vida, no cuidado com os pobres e na vivência da justiça;

d). Senhor Jesus, cujo reinado é marcado pelo serviço e pela entrega, sendo exemplo para nossos líderes religiosos e civis, fazei-o cheios de vosso Espírito, para que cumpram no mundo que governam as promessas de vida e felicidade;

Rito da Eucaristia

1. O Prefácio é próprio da Solenidade e evidencia que o Reino é da justiça, do amor e da paz pelo sacrifício de Cristo.

2. No memento dos defuntos, a comunidade pode lembrar leigos e leigas que foram fiéis servidores de Cristo e que deram a vida pela comunidade.

3. Antes de iniciar o Pai nosso, oração dos seguidores de Jesus, quem preside deve lembrar que supliquemos com convicção “Venha a nós o vosso Reino”.

4. Ressaltar a fração do pão eucarístico. Enquanto o ministro parte o pão com calma e dignidade, um solista canta o “Cordeiro de Deus” e a assembléia intervém com a resposta.

5. A comunhão seja dada nas duas espécies, pão e vinho, a fim de que os fiéis vislumbrem melhor sua adesão ao Cristo, Rei do universo e da paz.

Ritos Finais

1. As palavras do rito de envio podem estar em consonância com o mistério celebrado: Que Cristo reine em vossas vidas. Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe.

10- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Reafirmar Cristo como o nosso Rei é empenhar-se na busca incessante desta realidade nova. É modificar as condições históricas em que vivemos e fazer o povo caminhar rumo a uma sociedade mais justa. Caso contrário, estaremos negando a realeza de Cristo e aceitando, como reis e senhores absolutos da verdade, os poderosos deste mundo que separam, em diferentes classes sociais, os mesmos filhos de Deus, de tal modo que “as riquezas de uns poucos sejam às custas da pobreza de muitos” (João Paulo II, no México).

O objetivo da Igreja e da nossa equipe diocesana de liturgia é ajudar os padres e as comunidades de nossa diocese e todas aquelas outras comunidades fora de nossa diocese que acessar nosso site celebrar melhor o mistério pascal de Cristo.

Um abraço fraterno a todos

            Pe. Benedito Mazeti

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