20 de novembro de 2016
Leituras
2Samuel 5,1-13
Salmo 121/122,1-2.4-5
Colossenses 1,12-20
Lucas 23,35-43
“AINDA HOJE ESTARÁS COMIGO NO PARAÍSO”
1- PONTO DE PARTIDA
Domingo de
Cristo Rei do Universo. Celebramos a Páscoa de Jesus e de todas as pessoas que
trabalham para apressar no mundo o Reino de Deus. Hoje é o último domingo do
Ano Litúrgico de 2010. A celebração é um significativo momento para recordar as
inúmeras ações de Deus realizadas em favor de seu povo na caminhada do ano. É
ocasião significativa para a comunidade entoar nossa ação de graças pela
manifestação da realeza de Cristo, em tantos gestos de serviço e de
solidariedade dos seus seguidores, em favor do resgate da dignidade da pessoa
humana, da renovação da comunidade e da construção da sociedade justa e
fraterna, à luz da misericórdia do Pai.
Sem nos
apegarmos a triunfalismos, proclamamos Cristo, Senhor e Rei do Universo, que
vence os que se opõem ao projeto do Reino. Fazendo-se servo e entregando sua
vida para que os seus seguidores tenham vida, e vida em abundância.
A festa de
Cristo Rei como celebração litúrgica foi instituída pelo papa Pio XI, com a
Encíclica Quas primas, em 11 de novembro de 1925. O papa fixou o último domingo
de outubro como data da festa de Cristo Rei, principalmente tendo em vista a
festa subseqüente de Todos os Santos, “a fim de que se proclamasse abertamente
a glória daquele que triunfa em todos os santos eleitos”. A reforma litúrgica
do Vaticano II transferiu a data do último domingo de outubro para o último
domingo do Tempo Comum. Desse modo, concedeu à celebração um significado
diferente, destacando a dimensão escatológica do Reino na sua consumação final.
Com essa mudança, Cristo aparece como centro e Senhor da história, Alfa e
Ômega, Princípio e Fim (cf. Apocalipse 22,12-13). É a Festa do Cristo Kyrios.
A Igreja no
Brasil comemora hoje o Dia dos Leigos, os missionários do Reino de Deus nas
diferentes áreas e atividades que tecem a vida humana, religiosa e social.
Neste último domingo do Ano Litúrgico, louvemos e agradecemos ao Senhor por
todas as graças bênçãos recebidas de sua bondade, ao longo da caminhada do ano
que passou.
2- REFLEXÃO BÍBLICA,
EXEGÉTICA E LITÚRGICA
Primeira leitura –2Samuel 5,1-13. É um
lugar comum dizer que a História da Salvação acontece dentro da história
profana e que as realidades superiores que Deus foi revelando e que culminam na
plena revelação de Cristo ressuscitado foram sendo anunciadas e percebidas
através da experiência cotidiana do povo escolhido. Dentro dessas experiências
históricas, anunciadoras longínquas da nova realidade, o rei Davi e o reino de
sua dinastia ocupam um lugar privilegiado.
O povo pediu
um rei. Ele devia ser o primeiro a viver e a respeitar a lei de Deus e a
conduzir o povo no caminho desta lei. Saul foi o escolhido para ser o rei de
Israel, mas ele, usando o exército para guerra de conquista e não para defender
o povo, foi rejeitado por Deus, que, então, mandou Samuel ungir o jovem Davi.
Desde que
Saul, na sua semi-demência, começa a perseguir Davi para matá-lo, ele passa a
viver na clandestinidade. Reúne um grupo de fiéis seguidores, que, somados a
outros revoltados, descontentes e aventureiros, levam uma vida de bandoleiros. Com
a morte de Saul, Davi estabelece-se em Hebron onde é ungido rei pelos homens da
tribo de Judá (2Samuel 2,4). Esta a mais populosa e mais guerreira das tribos
de Israel.
Davi foi um
excelente político. Ungido rei das tribos do Sul em Hebron (2Samuel 2,1-4),
tenta imediatamente fazer-se reconhecer como rei pelas tribos do Norte que
permaneceram fiéis à dinastia de Saul. O fato das tribos do Norte concluírem
com Davi um pacto particular e repetirem a unção já feita em 2Samuel 2, prova
bem que ele não é o chefe de um reino unificado, mas o rei de dois povos
distintos. “Todas as tribos de Israel vieram encontrar-se com Davi em Hebron e
disseram-lhe: Aqui estamos. Somos teus ossos e tua carne...” Quando os
israelitas vieram ao seu encontro, seu senso político leva-o a compreender que
não pode permanecer em Hebron, cidade do reino do Sul, se quiser reinar sobre
os dois países. Ele precisa de uma capital neutra, que não pertença nem ao
Norte nem ao Sul: apenas Jerusalém pode resolver o problema, pois na época ela
ainda é uma cidade cananéia. Além disso, sua conquista será uma façanha que
reforçará a autoridade de Davi sobre todas as tribos e apagará da memória o
desastre de Gelboé.
Davi não
decepcionou os que o aclamaram rei. Apesar de seus pecados, Davi aparece na
história como muito superior a seus contemporâneos, tanto pelas qualidades de
inteligência e coração, como pela sua sincera religiosidade. É o homem segundo
o coração de Deus.
O rei como
autoridade constituída é o líder que governa o povo nas lutas por liberdade e
justiça. Sua autoridade se esvazia e deixa de existir quando não congrega os
interesses do povo, dando-lhe expressão e consistência. Nessa hora o rei cai na
desgraça. Para Israel, a verdadeira autoridade pertence a Deus. Nesse sentido,
em semelhança com o pastor, líder é aquele que conduz o povo para a liberdade e
lhe possibilita viver em segurança. Seu modo de agir caracteriza-se por
respeito, convivência e comunhão com as demais lideranças.
A experiência
do reinado de Davi passará às gerações futuras, especialmente através dos profetas,
como a expressão da grande esperança messiânica. O Messias será idealizado como
um Rei, semelhante a Davi. E seu domínio sobre os homens será exercido à
maneira do reino de Davi. A idéia do Messias-Rei e do reino messiânico tem,
pois, suas raízes na eleição e na unção de Davi como rei de todo Israel. E
mais: o Messias será um descendente da estirpe de Davi (cf. 2Samuel 7,12-17;
Isaias 11,1-5; Jeremias 23,5s).
Salmo responsorial – Salmo 121/122,1-2.4-5 .
O Salmo 121/122 é um cântico de peregrinação. É um cântico de Sião. Ou
seja, este salmo celebra a cidade de Jerusalém, centro de romarias e sede do
poder judiciário. Trata-se de uma das peregrinações anuais, quando Israel
converge para o Templo de Jerusalém. Os dois primeiros versículos reúnem os
dois momentos capitais: quando o peregrino se põe a caminho – “vamos” – e
quando ele pisa os umbrais da cidade santa.
“As tribos do
Senhor” sobem para Jerusalém para “celebrar o nome do Senhor”; tribunal do rei
que administra a justiça em todo o reino. “A sede da justiça lá está e o trono
de Davi” (versículo 5). Centro religioso e político, fundação de Deus.
O Salmo
121/122 exalta Jerusalém como o centro da unidade do povo do Senhor, composto
por todas as tribos. A Cidade Santa do judaísmo é ponto de convergência e de
unidade do povo de Israel: o Templo é sinal visível dessa presença de Deus que
reúne o povo. Ir para Jerusalém é motivo de alegria, pois ela é a casa do
Senhor. O rei Davi e todos os demais reis e chefes devem trabalhar para guiar o
povo na fidelidade e na unidade.
O rosto de
Deus. Deus praticamente não age neste salmo. Fala-se da casa dele (Templo, 1b)
que sobem a Jerusalém para celebrar o nome dele (4b), seguindo um costume de
Israel. Deus, portanto, tem casa, nome e tribos. E tudo isso é celebrado em
Jerusalém, cidade que reúne o povo em torno de dois pólos importantes: a fé e a
prática da justiça.
Apesar disso,
Deus não deixa de ser o aliado do povo. Escolhe uma cidade para morar no meio
dele, para festejar com Ele e para garantir uma sociedade justa, característica
ausente, por exemplo, no Egito, no tempo do êxodo.
No tempo de
Jesus, Jerusalém não era mais cidade da justiça e da paz, nem o culto que aí
celebrava era autêntico. Jesus se torno o ponto de encontro de todas as pessoas
com Deus (João 1,14), e o Templo (ou templos) tem valor relativo, pois o corpo
dele é o novo Templo. Mateus, por sua vez, o apresenta como Mestre da Justiça
(Mateus 3,15), capaz de trazer uma justiça nova, superior à dos doutores da Lei
e fariseus (Mateus 5,20). E essa justiça faz o Reino acontecer (Mateus 6,33).
Cantemos,
neste salmo, a alegria de sermos convidados pelo Senhor para estar em sua
presença. Peçamos paz para o nosso mundo e na Igreja e sabedoria para todos os
que têm o dever de zelar pelo bem comum e que juntos possamos trabalhar pela
vinda do Reino.
FELIZ O POVO
QUE O SENHOR ESCOLHEU POR SUA HERANÇA.
Segunda-leitura – Colossenses 1,12-20. A
carta aos Colossenses foi escrita na prisão. Paulo foi informado de que a
comunidade estava sofrendo influência de doutrinas que colocavam em dúvida o
lugar de Jesus Cristo como único mediador. Foi isso que o levou a escrever.
A leitura
começa com o final da ação de graças introdutória da carta aos Colossenses. Na
antiguidade as cartas começavam com uma ação de graças à divindade e, em nosso
caso, Paulo agradece a Deus, o Pai. O versículo 12 é o fecho da ação de graças
que começou no versículo 3: “demos graças ao Deus e Pai de Nosso Senhor
Cristo”. Se no versículo 3 Deus é o Pai de Jesus, no versículo 12 Ele é apresentado
como Pai dos homens, pois para participar da herança do Pai é necessário que
sejamos filhos, e isto nos mereceu o Filho por natureza, Jesus, que nos
constituiu filhos por adoção (cf. Gálatas 4,7; Romanos 8,14ss).
O Pai por sua
graça nos fez idôneos, pagãos e judeus, de participarmos do que Cristo nos
mereceu, e Ele nos concedeu. Santos então são os cristãos sobre a terra ou que
receberam a recompensa no céu, mas nunca os anjos. Trata-se então da
participação na herança prometida ao povo eleito, que no Primeiro Testamento é
chamado de santo. Assim habitar a luz é estar na casa de Deus (1Timóteo 6,16) e
Atos 26,17ss, tratando da conversão de São Paulo, indica sua missão como a de
“abrires os olhos (dos pagãos) e assim voltarem das trevas à luz... alcançarem
pela fé em mim, a remissão dos pecados e participarem da herança entre os
santos”. 1Tessalonicenses 5,4-8 por outro lado diz “vós não estais nas
trevas... todos vós sois filhos da luz”, desse modo a participação na herança
já começa aqui e agora. Somos já parte do povo santo (1Pedro 2,9) e conosco
também os pagãos fazem parte desse povo (cf. Efésios 2,11ss; Gálatas 3,14).
Os judeus
consideravam o Êxodo como passagem da escravidão para a libertação, mas também
como passagem das trevas para a luz. Não é por outro motivo que á parte
essencial da Liturgia da Vigília Pascal a bênção do fogo novo e o círio pascal,
nova luz. A primeira criação foi uma vitória sobre as trevas, igualmente a
segunda que aconteceu em Cristo, fomos arrancados do poder das trevas, há quase
que violência neste ato libertador, acontecido na “cruz e ressurreição” e
concretizado para nós no batismo. Ser arrancado das trevas e ser transportado
para a luz são dois aspectos de uma mesma obra redentora como o foram
Morte-Ressurreição e Ascensão-Pentecostes.
Ele é o
Primogênito de toda a criação, não no plano cronológico, mas no plano da
causalidade: criando o mundo, Deus se serviu de Cristo como um modelo (cf.
Provérbios 8,22, a propósito da Sabedoria).
Ele também é o
Primogênito no plano sobrenatural (por isso, cronológico e casualmente).
Portanto, trata-se de Cristo preexistente, mas agarrado na pessoa histórica do
Filho de Deus feito homem.
Enfim, o
“primado de Cristo” é expresso por três imagens: primogênito, cabeça do corpo,
plenitude. Estes temas, caros ao apóstolo Paulo, exprimem que a ressurreição de
Cristo colocou sua natureza na cabeça e no fonte da humanidade regenerada e da
própria criação (Romanos 8,19-22; 1Coríntios 3,22; 15,20-28; Efésios 1,10;
4,10, etc.). Para um cristão, o primado de Cristo é tudo em sua religião: o
resto é fantasia! As discussões gnósticas sobre a existência de um Deus criador
são ridículas: Cristo faz tudo. O próprio Adão é despojado de seu título de
primeiro homem em proveito de Jesus Cristo. Os comentários sobre a existência
dos anjos também são completamente inúteis por que Cristo está presente.
Portanto, Paulo ataca a problemática da gnose com seu próprio vocabulário.
Dos versículos
de 15-20 temos o famoso hino cristológico, que canta Jesus como sendo aquele em
quem mora a plenitude de Deus: Deus lhe deu tudo, e mais “quis morar nele com
toda a sua plenitude” (1,19). Paulo desenvolve a sua cristologia num sentido
corporativo: Jesus é a Cabeça, a Igreja o Corpo. Ora, a Cabeça não é separada.
A plenitude que está na Cabeça é participada pelo corpo. Este hino cristológico
está musicado no Ofício Divino das Comunidades página 257.
A conexão
então entre “criação e redenção” se faz explícita. Só quem fora mediador da
criação, poderia sê-lo da redenção. Cristo criou, mantém e dá sentido ao
universo, que marcha para Ele. Ele não esteve ou estará presente em alguns
momentos da história da humanidade, Ele está desde sempre, e assim será até a
Parusia. A criação não é um fato do passado, ela continua a acontecer, e Cristo
será sempre o mediador das relações entre Deus e o mundo, que nos faz
compreensível o mundo como criação.
Em suma, o
hino quer nos mostrar que a redenção é possível e real porque o Redentor e o
Criador são um. A redenção então não é um método para se sair do mundo, ela
acontece dentro do mundo e tem por finalidade levar o mundo a sua origem, levar
a Deus pelo Cristo.
Evangelho – Lucas 23,35-43. Para Lucas
o Reino de Cristo inicia realmente na hora da cruz, e participa dele aquele que
encarna o modelo do comum dos fiéis: o pecador convertido (cf. a pecadora, o
publicano, o filho pródigo, Zaqueu, etc.). Isso significa, entre outras coisas,
que o Reino de Jesus, para Lucas é essencialmente o Reino da reconciliação da
pessoa humana com Deus (cf. Paulo em Colossenses 1,20 na segunda leitura de
hoje). A investidura real de Jesus se desenrola em torno da cruz, trono
improvisado do novo Messias. A verdadeira paz messiânica, para Lucas, não é
tanto o lobo e o cordeiro pastarem juntos (Isaias 11,6-9), mas o ser humano ser
reconciliado com Deus e participar de sua vida, no “paraíso”, restauração da
inocência original. Deste Reino, a pessoa humana participa pela fé, que se
expressa na oração (outro tema caro a Lucas): a prece do bom ladrão não é
apenas um pedido, mas também confessa Jesus com Rei (“no teu Reino”, 23,42). O
bom ladrão recebe o paraíso por causa desta fé. Podemos, portanto, dizer que,
para Lucas o Reino de Cristo é essencialmente seu poder de reconciliar com Deus
os que acreditam Nele.
“Os chefes
zombavam de Jesus, dizendo: a outros ele salvou. Salve-se a si mesmo se, de
fato é o Cristo de Deus, o escolhido!” (versículo 35). Depois da zombaria dos
chefes religiosos, Lucas acrescenta a zombaria dos soldados. “O soldados também
caçoavam dele...” Lucas deixa a entender que os militares sejam estrangeiros,
isto é, romanos. Neste caso, para eles, o “Salva-te a ti mesmo” não indica
nenhum poder sobrenatural, mas significa simplesmente “livra-se do perigo da
morte”.
“Acima dele
havia um letreiro: Este é o rei dos judeus” (versículo 38). Os delinqüentes
ostentavam, durante o percurso para o patíbulo, uma tabuleta branca pendente do
corpo; em outros casos, essa tabuleta era carregada à frente do cortejo. Nela
consta, em letras pretas ou vermelhas, a culpa. A tabuleta é fixada no alto da
cruz. Lucas é o único evangelista a notar que a inscrição está acima de Jesus.
Ironicamente, Pilatos havia mandado colocar o motivo da condenação: “Este é o
Rei dos judeus”. A inscrição acima de Jesus vale como palavra de investidura,
semelhante à do Pai que investe seu Filho no batismo (Lucas 3,22).
A condição de
rei aparece na inscrição, em três idiomas, colocada na parte superior da cruz:
“Este é o rei dos judeus” (versículo 3838). As pessoas que haviam escutado suas
pregações, agora, desconcertadas, observam o crucificado. Aqueles que tinham
sido questionados por Ele, zombavam e desfrutavam sua vitória. Pobre rei dos
judeus, que não tem poder de libertar a si e a seu povo (versículos 35-38)! A
atitude de Jesus, que não lançou mão de seu poder em benefício próprio,
sensibilizou a um dos malfeitores crucificados, que lhe pediu: “Jesus,
lembra-te de mim” (versículo39). A palavra do Nazareno: “Hoje mesmo estarás
comigo no paraíso”, fez a todos entender de que reino Jesus era Rei (versículos
42-43).
Para os
Romanos, o título de rei tinha um sentido político; entretanto, para os Judeus,
tinha uma conotação religiosa. Por isso, os chefes dos sacerdotes dos Judeus
pedirão a Pilatos parta modificar a inscrição que para eles era um sacrilégio
(cf. João 19,21).
Como tudo é
importante na lei judaica, é preciso que a entronização real seja reconhecida
por duas testemunhas. Mas, enquanto que as testemunhas da investidura real da
Transfiguração são as duas principais personagens do Primeira Testamento,
Moisés e Elias (Lucas 9,28-36) e que as testemunhas da ressurreição também são
completamente misteriosas (Lucas 24,4), as duas testemunhas da entronização no
Gólgota (Calvário) são apenas ladrões comuns.
“Um dos
malfeitores crucificados o insultava, dizendo: Tu não és o Cristo? Salva-te a
ti mesmo e a nós!”. Lucas muda os “ladrões” de Mateus em “malfeitores”.
Enquanto só um dos condenados insulta a Cristo, o outro toma a sua defesa. Pela
terceira vez, aparece a fórmula “Salva-te a ti mesmo” (cf. versículo 35 e 37).
O malfeitor acrescenta interessadamente “e a nós”.
A fé do
malfeitor arrependido no Reino de Jesus (versículo 40-43). Ao aceitar o justo
castigo pelas faltas cometidas, o segundo malfeitor representa o pecador
arrependido que se converte e é perdoado por Deus. Jesus responde com
autoridade e solene: “Em verdade eu te digo, ainda hoje estarás comigo no
paraíso”.
Os fariseus
esperavam a ressurreição dos mortos “no fim dos tempos”. Ao futuro contido na
oração de pedido do malfeitor convertido (“Jesus, lembra-te de mim quando
entrares no teu reinado”), Jesus opõe dizendo que a salvação é desde já: “HOJE
estarás comigo no paraíso” (versículo 43). Jesus supera a expectativa do
pedido. O advérbio “hoje” é caro ao estilo de Lucas (12 vezes no seu Evangelho,
9 vezes nos Atos contra 6 vezes em Marcos, 1 vez em Mateus e nunca em João.
Santo Ambrósio
dizia: “A vida é estar com Cristo: onde está o Cristo, está a Vida, está o
Reino”. “Estar com Jesus” é o ideal de todos os cristãos (Filipenses 1,23).
3- DA PALAVRA CELEBRADA AO COTIDIANO DA VIDA
Nas
celebrações litúrgicas estamos habituados a cantar hinos a Cristo Rei. “Rei
divino que à terra desceste. Vindo a nós de um trono de glória. Alcançaste
fulgente vitória sobre a culpa origem da dor! Reina, reina nas almas no mundo.
Rei dos reis, Jesus Cristo, Senhor!” e outros hinos como: “Jesus é meu rei e
Senhor”.
Jesus
apresenta-se na dimensão de sua realeza, do maravilhoso e do grandioso. Ele é
rei do universo. Todavia, essa realeza assume conotações peculiares que temos
de ter presentes para não falsificar seu significado. Alguém poderia seguir
Jesus como rei, segundo os critérios da mentalidade capitalista. Jesus é
Rei-Servo, que veio “para servir e não ser servido”, para “doar sua vida para que
todos tenham vida, e vida em abundancia”.
A festa de
Cristo Rei, antigamente (embora seja bastante nova), era facilmente entendida
num sentido triunfalista. Na época recordava os desfiles da Ação Católica
especializada – e uniformizada... Ora, o triunfalismo é uma indevida
antecipação materializante do Reino transcendente.
Reconheçamos
com sinceridade: não é fácil vencer a tentação ao triunfalismo religioso e á
imposição dos critérios evangélicos e eclesiais por certa coação da lei e do
poder político. As influencias do tempo de cristandade ainda repercutem e
revelam sua força com muitas manifestações eclesiais e litúrgicas. Hoje o
estandarte de Cristo rei tremula em meio a muitas outras bandeiras da
sociedade.
Em uma reunião
de catequistas, uma senhora contou a experiência de seu embaraço diante da
pergunta de uma adolescente: “Jesus é rei. Mas como ele se tornou rei se ele
foi condenado a morrer numa cruz?”. O imaginário quer as pessoas têm de rei,
assimilado da média, não se junta com o cenário do Calvário. A imagem veiculada
normalmente apresenta os membros das famílias reais como indivíduos bem
sucedidos, em contraposição a Jesus como um fracassado. Nem sempre é fácil
compreender que a coroa que Jesus usou foi a de espinhos, seu trono foi a cruz,
sua lei foi o amor fraterno e seu cetro, a justiça e a verdade.
De fato, com o
explicar o paradoxo: aquele que foi anunciado, esperado como Messias e
Salvador, morre sentenciado numa cruz. O rei do universo acaba crucificado.
Muitos como a adolescente imaginam ainda que o Cristo conquistou a coroa de rei
pelos caminhos da política, da violência e da opressão pelas armas. A cruz
revela que a realeza de Jesus segue outras vias, tem outra lógica. Ele é rei
pela via da não-violência, da misericórdia, do perdão, da reconciliação, da
doação, do sacrifício de si mesmo e serviço. “Eu vim para servir e não para ser
servido.” “Vim para que todos tenham vida, e vida em abundância”. Jesus é rei
do reino da verdade e da vida, da santidade e da graça, da justiça, do amor e da
paz (cf. Prefácio da Missa). Cristo quer ser reconhecido como rei unicamente
através da entrega livre, no amor, na verdade, sem imposições. Um Rei vencido
pela força dos poderosos, mas vitorioso pela ternura do amor e que jamais
aceitará ser “protegido pela força das armas dos poderosos”. É paradoxal o
diálogo que se desenvolve junto da cruz entre os chefes e depois entre os
soldados romanos. O diálogo que desafia o Crucificado a colocar-se no plano do
poder: “A outros ele salvou. Que salve a si mesmo, se, é de fato o Messias de
Deus, o Escolhido”. “Se tu és o rei dos judeus, salva a ti mesmo.” E o diálogo
da confiança e da certeza de que o reino de Cristo é de outra ordem: “Jesus
lembra-te de mim quando estiveres em teu reino...”.
Jesus é rei do
Reino que privilegia os desprestigiados, os excluídos e os marginalizados da
sociedade dos poderosos. O ladrão arrependido representa a humanidade com suas
fraquezas. Nele estão simbolizados todos aqueles que reconhecem precisar da
ação de Deus para salvar-se. Em Deus, eles encontram um refúgio seguro e
definitivo.
A oferta do
paraíso ao bom ladrão reflete o ponto culminante da missão de Jesus: “Eu não
vim chamar os justos, e sim os pecadores” (Marcos 2,7). Ao longo de sua missão,
apesar dos protestos das pessoas “de bem” (cf. Mateus 9,11), Jesus
aproximou-se, visitou e sentou-se à mesa com publicanos e pecadores (cf. Mateus
9,10). Agora, no suplício da cruz, o bom ladrão reconhece a realeza de Jesus e
se converte no primeiro cidadão do Reino do céu, passando com ele das trevas da
morte à luz inacessível (1Timóteo 6,16). “... Só vós sois o Deus vivo e
verdadeiro que existis antes de todo o tempo e permaneceis para sempre,
habitando em luz inacessível.” cf. Prefácio da Oração Eucarística IV.
A história do
bom ladrão arrependido pode ser a nossa história. Nós também participamos do
interminável cortejo daqueles que cantam os louvores a Deus Pai “porque nos
arrancou do poder das trevas e nos transferiu para o reino do seu Filho amado,
no qual temos a redenção, a remissão dos pecados” (cf. Colossenses 1,13-14).
No passado,
celebrava-se a Solenidade de Cristo Rei de forma triunfalista e, de certo modo,
se contradizia o estilo do Filho de Deus (cf. João 6,15), que não “se
prevaleceu de sua condição divina; humilhou-se a si mesmo, tornando-se
obediente até a morte e morte de cruz!” (Filipenses 2,6-8). A Solenidade de
Cristo Rei, no último domingo do Ano Litúrgico, deveria centrar-se mais na
celebração da fé e da esperança de todos os que caminham rumo ao Reino
definitivo, certos de que a Boa-Nova de Jesus é que define o destino da
humanidade, e não as artimanhas dos poderosos deste mundo.
Em nossa
celebração, proclamamos Jesus como o rei que venceu a violência pelo amor e
pela não-violência. Pela força amorosa do Espírito que prolonga na Igreja e sua
memória, somos transfigurados de nossas idéias triunfalistas para abraçarmos
com toda a ternura do coração a sua vida em nós e a missão que Ele nos
confia.
É importante
deixar claro que a realeza de Cristo não se confunde com a realeza deste mundo.
Suas conquistas não se medem pela quantidade de indivíduos batizados, pela
eficiência das estruturas e das instituições eclesiais, pela grandiosidade das
igrejas, etc. O Reino de Cristo conquista novas fronteiras pela atitude de serviço,
pelos gestos de doação solidária em favor dos mais fracos. Ele se manifesta no
respeito de uns pelos outros, no encontro, no diálogo que instaura relações de
comunhão.
Neste último
domingo do Ano Litúrgico, concluída a caminhada como discípulos e discípulas,
reconhecemos e proclamamos que Cristo é Senhor e Rei universal. Ele é o Senhor
de toda a criação e de toda a história. Seu Reino é o Reino de Deus introduzido
na vida humana pelo mistério de sua Encarnação; Ele o instaurou para sempre por
sua morte e ressurreição. Ao proclamarmos em espírito e verdade que Cristo é
nosso Rei, manifestemos a decisão de seguir seu caminho de total fidelidade,
colocando toda nossa vida ao serviço da obra redentora de Jesus, nosso Rei e
Senhor. “Gloriando-nos de obedecer na terra aos mandamentos de Cristo, Rei do
universo, possamos viver com ele eternamente no reino dos céus” (Oração depois
da comunhão).
Em nossa
celebração, proclamamos Jesus como o rei que venceu a violência pelo amor e
pela não-violência. Pela força amorosa do Espírito que prolonga na Igreja a Sua
memória, somos transfigurados de nossas idéias triunfalistas para abraçarmos
com toda a ternura do coração a Sua vida em nós e a missão que ele
4- A PALAVRA SE FAZ CELEBRAÇÃO
Senhor Deus, Rei do Céu
O Hino de
Louvor, venerável e antiquíssima poesia litúrgica nos diz que Deus é Rei
todo-poderoso. Outro hino, desta vez proclamado como segunda leitura, diz que
Jesus é a “imagem do Deus invisível”. Aqui se pode entender em que sentido
anunciamos e celebramos o reinado de Jesus: Ele realiza no mundo o reinado de
seu Pai. Ungido (Crismado; tornado Cristo) pelo Espírito representa-o no mundo
e dele cuida em seu nome. Por isso é Rei e Messias. Mas, além disso, é Filho
primogênito, o primeiro de toda a criação. A celebração de hoje, portanto,
recorda Jesus Rei, Cristo (Ungido/Messias e Filho). Todas estas categorias com
as quais compreendemos a pessoa e mistério de Jesus se aplicam aos cristãos,
igualmente, no Batismo, porque mediante este sacramento ligamo-nos a Ele.
Poderíamos dizer com a mesma figura evangélica, que assim entramos na dinâmica
do Paraíso, onde Jesus exerce sua realeza, envolvendo-nos a todos, pois somos o
Corpo e Ele a Cabeça. O que se aplica a Cristo, por derivação se aplica à
Igreja, à comunidade dos fiéis.
De volta ao Jardim
Se tudo que se
aplica ao Cristo se aplica à sua Igreja, entendemos que o “hoje” do paraíso se
torna a missão e meta da Igreja. O ministério da Igreja Corpo de Cristo depois
da Páscoa é de realizar no mundo o paraíso, isto é, de torná-lo um lugar no
qual a parceria (aliança) Deus-Humanidade se torna evidente e eficiente.
Seguindo ainda a lógica do domingo anterior, o que se passa na terra decorre do
que se dá no céu (cf. Oração depois da comunhão). Isto é o paraíso, ou melhor,
uma pequena “mostra” do que Cristo Jesus já tem e é em plenitude, mas que nos
toca agora, enquanto peregrinos no mundo, co-responsáveis por ele.
Trata-se de
uma antecipação, de uma “mostra” porque ainda estamos marcados pela dinâmica
processual da história. Seus revezes parecem distorcer e desfigurar o mundo
como lugar paradisíaco (Paraíso). A Aliança com Deus, por vezes, nos parece
abalada e até mesmo rompida. Colhemos estas impressões nos vários
acontecimentos que nos cercam, lendo-os como sinais de morte (a violência, o
sofrimento, a dor, a miséria, etc.) São fatos que repetem o Calvário,
existencialmente.
Mas a Igreja,
ao cantar “Bendito aquele que vem vindo” (cf. Aclamação ao Evangelho) renova
sua participação no reinado de Cristo, pois ela é Crismada/Ungida para fazer
permanecer no mundo os efeitos de sua Páscoa. A Cruz deixa de ser, então, sinal
de morte e se torna ocasião para anunciar o começo e a urgência do paraíso, já
agora neste mundo e entre nós. Por isso continua a cantar: “Venha teu Reino,
Senhor! A festa da vida recria! A nossa espera e a dor transforma em plena
alegria.”
5- LIGANDO A PALAVRA COM A AÇÃO EUCARÍSTICA
Ao longo dos
dias e semanas do ano Litúrgico, que hoje se conclui, procuramos ser
companheiros (discípulos) de caminhada com Jesus. Pela celebração deste dia,
reafirmemos nossa fé no mistério da realeza de Jesus, Messias Servo e Senhor de
todos e de tudo. Nele e por Ele, o Pai “restaura todas as coisas”. Agora, como
criaturas libertas da escravidão, glorifiquemos a Deus pelas maravilhas que
realizou em favor da humanidade por meio de seu Filho, Crucificado e
Ressuscitado. Como o salmista, cantemos: “Povos todos do universo, batam
palmas, soltem gritos de alegria, aleluia! Ele é o Deus Altíssimo, Soberano,
rei e Senhor” (Salmo 47/46).
Que a nossa
participação no mistério de Cristo, Rei do universo, nos dê o espírito de
sabedoria e de discernimento para percebermos a riqueza de sua realeza presente
na história. Que nos dê a fortaleza da “não-violência”, enquanto aguardamos na
terra a vinda do Reino de amor e de paz, sendo uns com os outros, justos,
fraternos e solidários. Ele foi vítima da violência e não usou de violência,
mas “oferecendo-se na cruz, vítima pura e pacífica, realizou a redenção da
humanidade” (Prefácio Cristo Rei do universo).
Celebrando a
Eucaristia ao redor do altar, proclamemos nossa fé e a certeza de nossa
esperança na vitória do Cristo Rei e Senhor sobre a força do poder das armas,
do dinheiro e da tecnologia. Alimentados com o “pão do céu”, sejamos “testemunhas
vivas da verdade e da liberdade, da justiça e da paz, para que toda a
humanidade se abra à esperança
A ação
litúrgica deste domingo de Cristo Rei é expressão da Aliança de Deus com seu
povo, isto é, expressão maior da comunhão do Reino.
6- ORIENTAÇÕES GERAIS
1.
Neste domingo da Solenidade de Cristo Rei e do Dia Nacional dos Leigos, a
equipe de liturgia, como um serviço importante para a comunidade de fé, ao
preparar a celebração, deve dar particular atenção às várias partes da
celebração.
2. Receber de
maneira fraterna a todas as pessoas que se reúnem para celebrar, pois elas
esperam ser bem acolhidas na comunidade litúrgica.
3. Dar maior
atenção a toda a liturgia eucarística como ação de graças – dom gratuito que
Jesus Cristo faz de sua vida ao Pai pela libertação da Humanidade: cantar o
prefácio (ou a louvação da celebração da Palavra), o santo as aclamações e o
Amém final da Oração Eucarística. Evitem-se cantos e gestos devocionais e
individualistas (“Bendito, louvado seja”, “Deus está aqui”, “Eu te adoro,
hóstia divina” etc.).
4. A narrativa
da instituição da eucaristia não é uma imitação da última ceia; por isso “não
se parte o pão neste momento como algumas vezes acontece.” A liturgia
eucarística, como se disse, é fazer o que Jesus fez: tomou o pão e o vinho,
deus graças, partiu o pão e o deu (comer e beber). O partir o pão, como Jesus
fez, corresponde à fração do pão em vista da comunhão. Por isso, a Redemptionis
Sacramentum, número 55, considera um abuso partir o pão durante o relato da instituição.
5. Dia 25 é o
Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher. Dia 26, recordamos Tiago
Alberione, fundador da Família Paulina. Dia 26, com as Vésperas (Ofício Divino)
inicia-se o Tempo do Advento.
7- MÚSICA RITUAL
O canto é
parte necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para
animar ou enfeitar a liturgia. Por isso devemos “cantar a liturgia” e não
cantar na liturgia. Os cantos e músicas, executados com “atitude espiritual” e,
condizentes com cada domingo, ajudam a comunidade a penetrar no mistério
celebrado. Portanto, não basta só saber que os cantos são da Solenidade de
Cristo Rei do Universo, “é preciso executá-los com atitude espiritual. A escolha dos cantos deve ser
cuidadosa, para que a comunidade tenha o direito de cantar o mistério
celebrado.” Jamais os cantos devem ser escolhidos para satisfazer o
ego de um grupo ou de um movimento ou de uma pastoral. Não devemos esquecer que
toda liturgia é uma celebração da Igreja corpo de Cristo e não de um grupo, de
uma pastoral ou de um movimento.
A escolha dos
cantos para as celebrações seja feita com critérios válidos. Não se devem
escolher os cantos para uma celebração porque “são bonitos animados e
agradáveis”, ou porque “são fáceis”, mas porque são litúrgicos. Que o texto
seja de inspiração bíblica, que cumpram a sua função ministerial e que se
relacionam com a festa ou o tempo. Que a música seja a expressão da oração e da
fé desta comunidade; que combinem com a letra e com a função litúrgica de cada
canto.
1. Canto de abertura. O Cordeiro imolado, digno de receber a glória
a força e a honra, Divindade, sabedoria... (Apocalipse 5,12; 1,6). “Tu és o Rei
dos reis” CD: Liturgia XII, melodia da faixa 17.
Ao
Crucificado, toda Glória e Poder. Este canto fala que o Senhor reina através da
pobreza cruz. A partir da perspectiva bíblica da Aliança Jesus resgata em seu
ministério e na Cruz. Reino da Cruz, Reino da fé.
2. Hino de louvor. “Glória a
Deus nas alturas...” Vejam o CD: Tríduo
Pascal I e II e também no CD Festas Litúrgicas, Partes fixas do Ordinário da
Missa do Hinário Litúrgico III da CNBB e também a versão da CNBB musicado por
Irmã Miria e outros compositores.
O Hino de
Louvor, na versão original e mais antiga, é um hino cristológico, isto é,
voltado para Cristo, que exprime o significado do amor do Pai agindo no Filho.
O louvor, o bendito, a glória e a adoração ao Pai (primeira parte do Hino de
Louvor) se desdobram no trabalho do Filho Único: tirar o pecado do mundo,
exprimindo e imprimindo na história humana a compaixão do Pai. Lembremo-nos: o
Hino de Louvor não se confunde com a “doxologia menor” (Glória ao Pai, ao Filho
e ao Espírito Santo). O Hino de Louvor encontra-se no Missal Romano em prosa ou
nas publicações da CNBB versificado numa versão que facilita o canto da
assembléia.
3. Salmo responsorial 121/122. Alegria
por subir a Jerusalém, morada do Rei. “Feliz
o povo que o Senhor escolheu por sua herança”, CD: Liturgia XII, faixa 18, ou o
refrão do Lecionário Dominical: “Quanta alegria e felicidade: vamos à casa do
Senhor!”
Para a
Liturgia da Palavra ser mais rica e proveitosa, há séculos um salmo tem sido
cantado como prolongamento meditativo e orante da Palavra proclamada. Ele
reaviva o diálogo da Aliança entre Deus e seu povo, estreita os laços de amor e
fidelidade. A tradicional execução do Salmo responsorial é dialogal: o povo
responde com um refrão aos versos do Salmo, cantados por um ou uma salmista.
Deve ser cantado da mesa da Palavra.
4. Aclamação ao Evangelho. Hosana
ao Ungido do Senhor e ao Reino que vem (Marcos 11,10-11). “É bendito aquele que
vem vindo...”, CD: Liturgia XII, melodia da faixa 19. O canto de aclamação ao
evangelho acompanha os versos que estão no Lecionário Dominical.
Aleluia é uma
palavra hebraica “Hallelu-Jah” (“Louvai ao Senhor!”), que tem sua origem na
liturgia judaica, ocupa lugar de destaque na tradição cristã. Mais do que
ornamentar a procissão do Evangeliário, sempre foi a expressão de acolhimento
solene de Cristo, que vem a nós por sua Palavra viva, sendo assim manifestação da
fé presença atuante do Senhor.
5. Canto após a homilia. “Salve, ó Cruz libertadora”, CD: Festas
Litúrgicas IV, melodia da faixa 6 e somente a estrofe 1, Por ser um momento
meditativo, é bom que as estrofes sejam cantadas por um (a) solista.
6. Apresentação dos dons. A
escuta da Palavra e colocá-la em prática, deve gerar na assembléia a partilha
para que ela possa ser sinal vivo do Senhor. Devemos ser oferenda com nossas
oferendas. A pobreza da cruz nos leva a partilhar. Nossa glória é a cruz, onde nos salvou Jesus”, CD: Festas
Litúrgicas IV, melodia da faixa 8; “Bendito sejais, Senhor,” CD: Liturgia XII, melodia
da faixa 15;
7. Canto de comunhão. Reino
eterno de Deus, paz para o povo. (Lucas 23,42-43 e estrofes do Salmo 50/49). O
Salmista canta que Deus reuni na sua frente os seus eleitos. “Ó Jesus, não te
esqueças de mim”; CD: Liturgia XII, melodia da faixa 20.
O fato de a
Antífona da Comunhão, em geral, retomar um texto do Evangelho do dia revela a
profunda unidade entre a Liturgia da Palavra e a Liturgia, Eucarística e
evidencia que a participação na Ceia do Senhor, mediante a Comunhão, implica um
compromisso de realizar, no dia-a-dia da vida, aquela mesma entrega do Corpo e
do Sangue de Cristo, oferecidos uma vez por todas (Hebreus 7,27).
8- ESPAÇO CELEBRATIVO
1. No espaço
celebrativo destacar o Círio Pascal, sinal eloqüente de Cristo resplandecente
que dissipa as trevas do nosso coração e da nossa mente. Destacar também as
mesas da Palavra e da Eucaristia. Colocar no espaço celebrativo uma pequena
árvore seca com três fitas verdes um pouco largas simbolizando que sem a Cruz
não há ressurreição. A fita do meio deve estar mais elevada simbolizando o
Cristo. As outras duas lembram os malfeitores.
2. A cruz é
uma peça importante nas celebrações do Mistério Pascal do Senhor. Ela é
entendida pela Instrução Geral do Missal Romano como um elemento que deve
recordar aos fiéis o acontecimento da fé ali celebrado.
3. Ela pode
ser processional, e por isso é chamada de “cruz litúrgica.” Ela ocupa o lugar
próximo do altar quando usada na procissão e por isso é comumente ladeada por
velas. “Neste domingo” ela pode ser colocada próxima à cadeira de quem preside
a celebração, recordando a todos que não existe desfrute da glória sem a cruz,
sem saborear o cálice de Cristo. Neste caso, deve-se observar com atenção as
possibilidades de acordo com a disposição do espaço sagrado, para que as peças
não fiquem “espremidas”. Se não for conveniente colocá-la junto à cadeira
presidencial, que seja colocada no lugar de costume.
4. O
simbolismo da cruz traz presente o anúncio da paixão e ressurreição do Senhor.
A cruz processional, a mesma que será usada na procissão de abertura, esteja na
entrada da Igreja, por onde todos passam. É uma forma de trazer presente o
mistério que será celerado. Ela pode ficar aí até o início da celebração,
ladeada de velas e flores, de forma que chame a atenção de todos os que vão
chegando para a celebração.
9. AÇÃO RITUAL
A celebração
deste Domingo de Cristo Rei do universo nos recorda a participação no reinado
de Cristo que é sacramento do Reinado de Deus Pai. A Igreja, mediante a ação
conjunta de todos os batizados, faz permanecer viva no mundo a memória do
Crucificado-Ressuscitado. Aquele paraíso, símbolo da parceria e amizade divina
com os seres humanos, deixa de ser figura e se torna realidade. A cruz revela a
ressurreição, a morte dá lugar à vida.
Ritos Iniciais
1. Para
manifestar este sentido “vitorioso” da cruz de Cristo, de onde Ele exerce o seu
reinado, sugerimos na procissão de entrada, valorizar a cruz, colocando sobre
ela uma palma verde simbolizando a vitória de Cristo sobre a morte. A palma
seria colocada antes da procissão por um leigo ou uma leiga de maneira que
todos vejam este gesto solene acompanhado com um refrão: “Vitória, tu
reinarás!/ Ó cruz, tu nos salvarás! ou “Jesus Cristo, ontem e hoje,/ E por toda
a eternidade, e por toda a eternidade!; Hinário Litúrgico I Advento Natal,
página 17.
2. Alguns
leigos e algumas leigas participam da procissão de entrada, levando a cruz e o
Evangeliário.
3. A saudação inicial seja feita
com a fórmula “f” do Missal Romano, 1Pedro 1,1-2:
“Irmãs eleitos segundo a
presciência de Deus Pai, pela santificação do Espírito para obedecer a Jesus
Cristo e participar da bênção da aspersão do seu sangue, graça e paz vos sejam
concedidas abundantemente” (1Pedro 1,1-2)
4. Em seguida,
dar o sentido litúrgico da celebração. O Missal deixa claro que o sentido
litúrgico da celebração pode ser feito pelo presidente, pelo diácono um leigo/a
devidamente preparado (Missal Romano página 390). O sentido litúrgico pode ser
proposto, através das seguintes palavras, ou outras semelhantes:
Domingo de Cristo Rei do Universo.
Celebramos a soberania e o senhorio de Jesus. Contemplamos a realeza de Cristo
na doação de sua própria vida. Celebramos a Páscoa de Jesus que se manifesta em
todas as pessoas e grupos que se solidarizam com os pobres e sofredores.
5. Em seguida
fazer a recordação da vida. Quem preside fazer uma recordação da caminhada do Ano Litúrgico ou se for possível motivar
a própria comunidade a recordar os acontecimentos significativos do Ano
Litúrgico que está por terminar, destacando-se sua vinculação com Cristo Rei,
como sinais do Reino de Deus presente no meio da comunidade cristã. Ou também
pode ser feito essa recordação dos acontecimentos na homilia. Seria como um
balanço da caminhada da comunidade.
6. É um dia
oportuno para fazer a recordação do batismo, no qual todos os fiéis fazem
memória de sua participação do Reinado de Cristo por sua ligação com Ele. Fazer
a bênção e a aspersão com água no lugar do ato penitencial, recordando a
caminhada batismal, a participação na missão “real serviço” de Cristo e
renovando o batismo, que nos inseriu na vida de Jesus Cristo. Pode-se também
fazer a bênção da água e aspersão após a homilia.
7. Cada
Domingo do Tempo Comum é Páscoa semanal. Cantar de maneira festiva o Hino de
louvor (glória).
Rito da Palavra
1. Após a
homilia, deixar um tempo de silêncio conforme prevê a Introdução ao Elenco das
Leituras da Missa (OLM 28). Este silêncio pode transformar-se em oração
contemplativa fruto das inspirações surgidas na Liturgia da Palavra,
favorecendo a comunidade a assumi-la em sua vida, interiorizando o sentido
pascal dos textos. Vez por outra, uma ação ritual que inclua um canto é
oportuna. Privilegie-se o silêncio como
expressão de intimidade pessoal e comunitária com o mistério celebrado.
2. Na
profissão de fé, convidar a assembléia a professar sua adesão de fé a Cristo
Senhor e Rei, tomando-se o modelo da Vigília Pascal, recitando o Creio com
perguntas e respostas, ou o Creio Niceno-Constantinopolitano.
3. Na oração
dos fiéis, preparar as preces com a resposta: “VENHA A NÓS O VOSSO REINO!”. Sugerimos estas preces.
a). Senhor
Jesus, como contemplastes a face de Dimas ao lado de vossa cruz, olhai com
bondade para vosso povo sofredor. Dai-lhe, igualmente, o conforto do paraíso
que se realiza nos feitos de vossa Igreja;
b). Senhor
Jesus, em vossa vida se cumpriu a vontade do Pai. Ajudai a vossa Igreja, para
que se mantenha fiel ao Evangelho que anuncia, alegrando os tristes,
confortando os angustiados, curando os enfermos e defendendo os perseguidos;
c). Senhor
Jesus, para quem a cruz não foi derrota, mas se tornou bênção e vitória,
permiti ao vosso povo sacerdotal enxergar os sinais de morte e transformá-los
em ocasião para fazer brilhar a vida, no cuidado com os pobres e na vivência da
justiça;
d). Senhor
Jesus, cujo reinado é marcado pelo serviço e pela entrega, sendo exemplo para
nossos líderes religiosos e civis, fazei-o cheios de vosso Espírito, para que
cumpram no mundo que governam as promessas de vida e felicidade;
Rito da Eucaristia
1. O Prefácio
é próprio da Solenidade e evidencia que o Reino é da justiça, do amor e da paz
pelo sacrifício de Cristo.
2. No memento
dos defuntos, a comunidade pode lembrar leigos e leigas que foram fiéis
servidores de Cristo e que deram a vida pela comunidade.
3. Antes de
iniciar o Pai nosso, oração dos seguidores de Jesus, quem preside deve lembrar
que supliquemos com convicção “Venha a
nós o vosso Reino”.
4. Ressaltar a
fração do pão eucarístico. Enquanto o ministro parte o pão com calma e
dignidade, um solista canta o “Cordeiro de Deus” e a assembléia intervém com a
resposta.
5. A comunhão
seja dada nas duas espécies, pão e vinho, a fim de que os fiéis vislumbrem
melhor sua adesão ao Cristo, Rei do universo e da paz.
Ritos Finais
1. As palavras
do rito de envio podem estar em consonância com o mistério celebrado: Que
Cristo reine em vossas vidas. Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe.
10- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reafirmar
Cristo como o nosso Rei é empenhar-se na busca incessante desta realidade nova.
É modificar as condições históricas em que vivemos e fazer o povo caminhar rumo
a uma sociedade mais justa. Caso contrário, estaremos negando a realeza de
Cristo e aceitando, como reis e senhores absolutos da verdade, os poderosos
deste mundo que separam, em diferentes classes sociais, os mesmos filhos de
Deus, de tal modo que “as riquezas de uns poucos sejam às custas da pobreza de
muitos” (João Paulo II, no México).
O objetivo da
Igreja e da nossa equipe diocesana de liturgia é ajudar os padres e as
comunidades de nossa diocese e todas aquelas outras comunidades fora de nossa
diocese que acessar nosso site celebrar melhor o mistério pascal de Cristo.
Um abraço
fraterno a todos
Pe.
Benedito Mazeti
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