quinta-feira, 4 de setembro de 2014

23º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO A

07 de setembro de 2014

Leituras

         Ezequiel 33,7-9
         Salmo 94/95,1-2.6-9
         Romanos 13,8-10
         Mateus 18,15-20


“SE ELE TE OUVIR, TU GANHASTE O TEU IRMÃO”


1- PONTO DE PARTIDA

Domingo da correção fraterna. Neste domingo renovamos a certeza da presença do Senhor na assembléia de irmãos, reunidos para celebrar a Páscoa. Hoje sua Palavra nos educa para o diálogo de ajuda e correção fraterna, em fidelidade ao mandamento do amor mútuo, “única dívida que devemos ter uns com os outros. A Páscoa de Jesus acontece nas pessoas e grupos que se perdoam e se reconciliam mutuamente. O exemplo disso, nós o buscamos no próprio Jesus.

“És um Deus justo ó Senhor e justo a tua sentença. Trata o teu servo segundo a tua misericórdia” (Salmo 118/119,137.124).

2- REFLEXÃO BÍBLICA, EXEGÉTICA E LITÚRGICA

Contemplando os textos

Primeira leitura – Ezequiel 33,7-9. Responsabilidade pela conversão do pecador: “sentinela de Israel”. Os profetas eram sentinelas em Israel; deviam dar alerta, e o fizeram. Mas o povo não prestou atenção. Veio a catástrofe, o exílio. No tempo do exílio da Babilônia e da confusão reinante no meio do povo, o profeta Ezequiel descobre sua missão em relação à comunidade.

O texto que hoje lemos introduz a segunda parte da missão de Ezequiel (Ezequiel 33-48), como sentinela que deve anunciar os perigos ao povo, estando sempre atento às menores necessidades. A parábola do profeta-vigia (Ezequiel 33,1-9) abre a segunda parte da coleção dos oráculos de Ezequiel.

Como a sentinela, o profeta tem uma função limitada: deve ser fiel à Palavra divina que recebe e anunciá-la, advertindo o povo para o perigo. Torna-se responsável se for infiel na transmissão da Palavra, ou se deixar de anunciá-la. Ao fiel cabe o dever de atender aos apelos do profeta e converter-se. Ao semeador cabe lançar a semente, e à terra produzir o fruto (Mateus 13,3-9). Assim a responsabilidade do profeta é a de ousar afrontar o mal e os pecadores, e fazer tudo para convertê-los.

A função de vigiar, de ser sentinela, denunciando o erro, a injustiça, e os perigos que ameaçam a dignidade humana, o bem-estar espiritual e corporal do irmão, ou da comunidade, é um dever que toca a todo cristão, mas em especial ao presbítero-pregador. Como Ezequiel, o presbítero deverá procurar, à luz do Evangelho deste Domingo (Mateus 18,15-20), não só denunciar e desencorajar o erro, corrigindo o pecador, mas encorajar o cristão na prática do bem, seja pela palavra seja pelo próprio exemplo de vida.

Perguntando por um pregador angustiado diante de sua responsabilidade de denunciar ao ímpio sua impiedade (Ezequiel 33,8), São Francisco de Assis respondeu assim, com sabedoria: “Entendo que o servidor de Deus deve arder tanto na vida e na santidade, que repreenda todos os maus com a luz de seu exemplo e com as palavras de sua conversação. Direi que, assim, o esplendor de sua vida e o bom perfume de sua fama hão de anunciar a todos sua iniqüidade” (Tomás de Celano, Segunda Vida de São Francisco, Vozes, Petrópolis, segunda edição, 1976, pág. 148).

Salmo responsorial – Salmo 94/95,1-2.6-9.  Este Salmo é um ato litúrgico. Os versículos 1 a 2, é um convite ao hino, com referência ao rito litúrgico de entrada: a estes versículos o Salmo deve o seu uso como invitatório, no início do Ofício Divino. No convite, com novo rito litúrgico: prostração diante de Deus. Em seguida o Salmo fala da eleição histórica do povo e a Aliança. “Ele é o nosso Deus, e nós somos o seu povo” é a fórmula densa da Aliança.

O povo já vive na terra prometida, tem um Templo, parece ter chegado ao lugar do repouso. E, apesar disso, cada dia deve ouvir o chamado de Deus e cumpri-lo, para conservar o dom da terra, onde participa no repouso de Deus. Do contrário, sua infidelidade na terra prometida será como a infidelidade dos pais no deserto.

O rosto de Deus neste Salmo. Entrar na terra prometida ou conservá-la são questões ligadas à Aliança entre Deus e seu povo. Entrar na terra era conseqüência da fidelidade à Aliança (algo que a geração do deserto não soube manter); conservar a terra era resultado de uma Aliança mantida ao longo das gerações. Em ambos os casos, o tema da Aliança está presente. Além disso, como vimos, entre Deus e o povo há um compromisso de mútua pertença: Ele é o Deus dos hebreus, e o povo é o povo de Deus (versículo 7a). A imagem do Pastor (versículo 7a) também é importante para descobrir o rosto de Deus neste Salmo. A grande ação de Deus-Pastor foi ter conduzido seu povo para fora do cativeiro egípcio, levando-o, pelo deserto, rumo à liberdade e à vida na terra da promessa. A grande resposta do povo será deixar-se conduzir por Deus-Pastor, obedecendo à voz Dele (versículo 7b).

Jesus se apresentou como Pastor (João 10), conhecedor do íntimo de cada pessoa (João 2,25). Por isso sua voz profética denunciou as injustiças e seus causadores (Mateus 23). Denunciou a religião formalista, de aparências (Mateus 7,21), e, num gesto profético, declarou o fim do Templo de Jerusalém e de sua corrupção, apesar da aparente fachada de lugar sagrado (João 2,13-22). Jesus denunciou as mesas coisas do salmista-profeta.

A Carta aos Hebreus nos oferece um comentário cristão deste Salmo (Hebreus 3,7-4,11). Todo o tempo do Primeiro Testamento é uma repetição chamada e espera do “hoje” em que o povo poderá entrar no descanso de Deus. Com Cristo chega este “hoje”, com sua ressurreição inaugura-se no mundo o repouso de Deus, que descansou quando terminou seu trabalho criador. Este “hoje” de Cristo se oferece a todos: deve-se ouvi-lo e entrar depressa em seu descanso. Mas a vida cristã é de novo um “começo”, que temos de manter até o fim, para entrar no repouso definitivo de Cristo em Deus.

Por isso, aquele que tem fé não deve fechar seu coração nem seus ouvidos a Deus. Ele, tal qual pastor, encontra, nos momentos difíceis, um caminho para renovar sua Aliança. “Não fecheis o coração; ouvi vosso Deus”. Na compreensão hebraica, o coração, isto é, a consciência é o centro das decisões da pessoa humana.

Cantando este Salmo na celebração deste domingo, adoremos o Senhor nosso Deus, vamos a Ele com toda a confiança, na certeza de que Ele nos converte e nos prepara para a sua comunhão:

NÃO FECHEIS O CORAÇÃO, OUVI, HOJE, A VOZ DE DEUS!

Segunda leitura – Romanos 13,8-10. Nesta leitura, Paulo na suas exortações finais aos Romanos, resume a prática da vida cristã: não ficar devendo nada aos outros senão a caridade, que é sempre insuficiente (o que não significa que não precisamos fazer o possível...). Pois a caridade é o resumo de tudo. Se nos esforçarmos por ela saldamos automaticamente todas as outras obrigações. “O amor é o pleno cumprimento da Lei” (Romanos 13,8-10).

Quando nós não devemos nada a ninguém, poderíamos pensar que tudo estivesse em ordem e nada devesse ainda ser feito; estaríamos quites. Porém, para o cristão, segundo Paulo agora é que começa tudo, pois ainda falta o principal, “o amor mútuo”. Depois que demos tudo a que o outro tinha direito, então falta doar a nossa vida, pois continuaremos sempre a dever amor aos outros, embora tenhamos saldado todas as dívidas.

Na sua justiça, Deus dá a todos o que precisam: fundamentalmente, seu amor de Pai. Nós, para sermos justos, devemos também dar-nos mutuamente este dom, embora sempre ficaremos devendo. Toda a justiça está incluída nisso: (Romanos 13,8 cf. João 13,34; Gálatas 5,14 – 13,9-10 cf. Êxodo 13-14; Deuteronômio 5,17; Levítico 19,18; 1Coríntios 13,4-7).

Evangelho – Mateus 18,15-20. O capítulo 18 de Mateus, chamado de Sermão da Comunidade, mostra como os seguidores de Jesus devem viver a justiça do Reino dentro da comunidade, na fidelidade a seu projeto: superar a competição, tornando-se como uma criança; evitar o contra testemunho e ir atrás da ovelha perdida, acolher e fazer festa pelo encontro.

No texto litúrgico de hoje, o tema importante desta passagem é o perdão. Cristo lembra seu dever (versículos 21-23) e, ao mesmo tempo, transmite seu poder (versículos 15-18). A era nova é aquela em que o Senhor oferece ao ser humano a possibilidade de sair do pecado, não somente triunfando sobre o seu na vida pessoal, mas ainda triunfando sobre o pecado dos outros pelo perdão.

A sociedade primitiva se insurgia violentamente contra a falta do indivíduo, pois não tinha meios de perdoá-lo e apenas podia vingar-se a ofensa por uma punição exemplar, setenta e sete vezes mais forte que a própria falta (Gênesis 4,24). Portanto, será realizado um importante progresso quando a lei estabelecer o “talião” (Êxodo 21,24).

O Levítico vai mais adiante (Levítico 19,13-17). Não instaura, propriamente falando, a obrigação do perdão (o único caso de perdão no Primeiro Testamento: 1Samuel 24 e 1Samuel 26), mas insiste na solidariedade que une os irmãos entre si e proíbe-os de recorrerem aos procedimentos jurídicos para resolver suas contendas.

A doutrina de Cristo sobre o perdão marca um progresso decisivo. O Novo Testamento multiplica seus exemplos: Cristo perdoa seus carrascos (Lucas 23,34); Estevão (Atos 7,59-60), Paulo (1Coríntios 4,12-13) e muitos outros fazem o mesmo.

Geralmente, a existência do perdão está ligada à iminência do último julgamento: para que Deus nos perdoe nesse momento decisivo, é preciso que desde agora perdoemos nossos irmãos. O perdão pertence a uma vida dominada pela misericórdia de Deus e pela justificação do pecador.

Mateus está consciente de que a Igreja é uma comunidade de salvos que não pode ter outras intenções senão a de “salvar o pecador”. A comunidade cristã se distingue da comunidade judaica: só “julga o pecador perdoando-o”. Por isso, a condenação só pode cair sobre ele, caso se recuse a viver no seio dessa comunidade acolhedora.

O caráter pessoal da primeira advertência chama a atenção para o respeito que cada pessoa merece, mesmo se encontrando numa situação de pecado. As tentativas seguintes mostram que o amor verdadeiro vai até o fim, na busca da ovelha que se perdeu. Ninguém pode ser excluído precipitadamente. “Se ele não vos der ouvido, dize-o à Igreja” (versículo 17a), isto é, a toda a comunidade cristã, seus líderes e membros. “Se nem mesmo à Igreja ele ouvir, seja tratado como se fosse um pagão ou um pecador público”. Podemos observar que o texto não afirma: “Se nem mesmo à Igreja ele ouvir, seja para a Igreja como se fosse um pagão ou um pecador público”, mas tão simplesmente: “Se nem mesmo à Igreja ele ouvir, seja tratado como se fosse um pagão ou um pecador público”. Trata-se, aparentemente, não de uma expulsão da Igreja, mas de uma espécie de “quarentena” dentro da própria Igreja, isto é, dar um tempo.

Os versículos 19-20 parecem, à primeiras vista, uma declaração geral sobre a oração, sem nexo algum com o que precede. Estes versículos fazem referência à oração (versículo 19) é à presença de Cristo na Igreja (versículo 20) totalmente imprescindíveis ao uso correto da correção fraterna. Em outras palavras, toda a disciplina da Igreja deve ser efetuada em num ambiente de oração, num clima litúrgico, no qual estará presente o Senhor. O Cristo Senhor é sempre a autoridade máxima na Igreja.

A Igreja, embora de instituição divina, conhece a dura realidade do pecado. Composta de homens e mulheres, nela sempre estará juntos o bem e o mal, a justiça e o pecado. Ela é na história um corpo misto, e não uma comunidade de puros, perfeitos e santos. A exemplo do Cristo que veio chamar, não os justos, mas os pecadores (Mateus 9,13), ela deve mostrar uma prontidão especial para com aqueles que fracassam em sua vida cristã. Assim, a Igreja primitiva prefere manter o diálogo do que proclamar uma condenação.
O pecador só descobre o perdão de Deus quando toma consciência da sua misericórdia operando na Igreja e na assembléia eucarística.

3-DA PALAVRA CELEBRADA AO COTIDIANO DA VIDA

A Igreja é um povo profético. A partir de nossa unção batismal e crismal, todos nós participamos da vocação profética do Cristo, que ficou em legado para a Igreja. Somos sentinelas, que devemos dar alerta a cada suspeita. Quando enxergamos que nosso irmão ou irmã não está no caminho certo, devemos alertá-lo. E não nos podemos contentar com uma só vez como está no Evangelho. Devemos esgotar todos os meios. Avisá-lo uma segunda vez, diante de testemunhas (que podem ver se não estamos enganados), ou enfim, recorrendo ao testemunho da comunidade, a assembléia da Igreja.

Nesta altura, o poder de ligar e desligar, confiado representativamente a Pedro é confiado à Igreja toda. Pois toda ela é responsável pelo caminho de salvação de todos.  A recorrência a Pedro ou seus sucessores ocorre em casos extremos. Normalmente, todos nós devemos fazer o que for preciso encaminhar nossos irmãos no caminho certo.

A Igreja se apresenta, então, na liturgia de hoje, como “comunidade de salvação”, no sentido sacramental: ela re-presenta, torna presente o Salvador, que nos une com o Pai. A verdadeira comunidade eclesial é sacramento de Cristo e do Pai. Portanto, o texto do Evangelho de hoje não se deve entender num sentido jurídico, mas num sentido eclesial e comunitário. Por exemplo, com relação à correção fraterna, Jesus não quer dizer, formalmente, que basta chamar alguém diante de duas testemunhas e depois diante de uma comissão de Igreja (toda esclerosada...), para enfim excomungá-lo (pois é muito provável que não se converteria à vista de tal assembléia. Jesus nos ensina a colocar, profeticamente, os que erram diante da comunidade que brotou do amor de Cristo. Então, se mesmo diante deste testemunho a palavra profética não “pega”, também não podemos fazer mais nada.

O Evangelho exige diálogo na comunidade, a correção fraterna, o perdão, a oração comunitária que nos anime a trabalhar pelo Reino de Deus. Jesus ensina os passos da vivência da misericórdia e do amor fraterno em nossas relações cotidianas. Se alguém da comunidade cometeu alguma falta grave contra seu irmão, o “diálogo” é fundamental. Quem foi ofendido não vai fazer-se de vítima, nem fazer comentários, fofocas para que toda a comunidade fique sabendo, nem denunciar indiscriminadamente. A primeira e a mais difícil atitude é perdoar: ir procurar o irmão em particular, conversar, mostrar onde está o erro e convidá-lo a reintegrar-se ao seguimento de Jesus.

Quem ofendeu um membro da comunidade rompeu com a comunidade toda, porque ela é o Corpo de Cristo e todo esse Corpo foi afetado. O Evangelho nos convida a fazer de tudo, apelar a toda a criatividade para que reine entre nós o jeito de ser de Jesus. Mas, “se não lhe der ouvidos”, convide uma ou duas pessoas para ajudar no diálogo. Se mesmo assim não houver reconciliação, só depois de muitas tentativas é que se recorre à comunidade, que age em nome de Jesus, ajudando nos conflitos e nas necessidades dos irmãos. Parece até que estamos pressionando o irmão, mas como se trata da justiça do Reino, precisamos fazer de tudo para que o irmão não se perca, não saia da caminhada da comunidade, do seguimento fiel a Jesus e volte-se para as exigências evangélicas. E se nada der resultado satisfatório? Só ai a comunidade tomará conhecimento do erro e será chamada a tomar uma decisão: “Caso não der ouvidos, comunique à Igreja”.

Com a certeza da presença do Ressuscitado no meio da comunidade, somos convidados a agir como Deus age. Neste mundo de competição, ganância, mentira e acumulação, a comunidade deve ser um espaço alternativo de solidariedade, fraternidade, prática da justiça, da verdade e do perdão. Temos dado a importância necessária à lei cristã do amor, ao perdão, à correção fraterna, ao diálogo na vida familiar e na comunidade? A prática da caridade, nos diz Paulo, é “o pleno cumprimento da Lei”.

Pelo Batismo somos nomeados sentinelas por Deus. Temos denunciado o erro ou corremos o risco de Deus nos pedir contas por não termos alertado os perversos e injustos, nem os ajudado a mudarem de conduta?

Oxalá ouçamos a voz do Senhor!

4- A PALAVRA SE FAZ CELEBRAÇÃO

Deus nos trata com misericórdia

“Ganhamos o irmão” quando somos sinceros com ele. Não adianta “passar a mão na cabeça” de alguém que está comprovadamente encaminhando mal a sua vida. Na verdade, não “ganhamos” o irmão para cantar vitória. É ele que se ganha para si mesmo, à medida que se encontra e vê novos caminhos a trilhar.

Na antífona de entrada de hoje cantamos: “Vós sois justo, Senhor, e justa é a vossa sentença; tratai o vosso servo segundo a vossa misericórdia”. Quem dá a sentença é o juiz. A sentença de Deus sobre o pecador é um gesto de misericórdia. O servo, reconhece seu erro e acolhe a misericórdia, pois dela precisa para viver em paz.

A Eucaristia nos convoca à reconciliação

Não será difícil viver a correção fraterna quando entendermos o sentido profundo do ser Igreja, quando descobrirmos que a correção fraterna só favorece quem a recebe. Quando percebermos que o humilde pão que partimos sobre o altar e que comemos juntos, convoca-nos a um novo olhar frente aos outros.

5- LIGANDO A PALAVRA COM A AÇÃO EUCARÍSTICA

Quando nos reunimos para celebrar, nós nos constituímos Corpo de Cristo. O espaço celebrativo, ao abrigar esse Corpo vivo do Senhor, que é a comunidade de irmãos reunida em seu nome, torna-se sacrário vivo. Cada membro, com sua realidade pessoal e única, acolhido como parte viva desse corpo, manifesta a presença do Ressuscitado e deve ser considerado seu verdadeiro símbolo. E mais: “Somos incessantemente chamados a contemplar, nos rostos sofredores de nossos irmãos, o rosto de Cristo, que nos convoca a servi-lo neles” (Documento de Aparecida, n. 393).

Participando da mesa eucarística, somos mais estreitamente irmanados e fortificados no amor solidário, sempre aberto à reconciliação, como rezamos hoje na oração sobre as oferendas: “Fazei que nossa participação na Eucaristia reforce entre nós os laços da amizade”.

O abraço fraterno nos ritos de comunhão, mais do que simples saudação ou um gesto expressando cordialidade entre amigos e conhecidos, sinaliza e nos prepara para receber, na comunhão, o que realmente somos: o corpo eclesial de Cristo, como já no IV século dizia Santo Agostinho.

A Palavra hoje evidencia a comunhão e o amor fraterno na comunidade eclesial e também na oração, na correção amorosa, na mútua amizade. Nisso realizamos a união com Cristo para sempre, como rezamos na oração final deste dia, e nos tornamos comunidade cristã, sacramento de salvação para o mundo.

A Eucaristia nos faz discípulos missionários: exige que permaneçamos firmes e constantes no bem, na dedicação aos irmãos e na permanente busca de reconciliação, vencendo o egoísmo, a alienação e o pecado, que rompem a comunhão com o Pai.

6. ORIENTAÇÕES GERAIS

1. Preparar bem a celebração. A preparação feita por uma equipe que tenha formação litúrgica adequada pode assegurar uma celebração mais autêntica do mistério pascal do Senhor, assim como a ligação como os acontecimentos da vida, inseridos neste mesmo mistério de Cristo (cf. Doc. da CNBB 43, n. 211). Garantir que o povo de Deus exerça o direito e o dever de participar segundo a diversidade de ministérios, funções e ofícios de cada pessoa (Doc. da CNBB 43, n. 212; Sacrosanctum Concilium, n.14). Preparar a celebração e utilizar de uma metodologia – um caminho.

2. Lembrar que, no dia 07 de setembro, é o dia da Pátria. Nas preces e em outros momentos da celebração, rezar pelo povo brasileiro e pelos governantes, pela paz e prosperidade de todas as pessoas e grupos humanos que constituem o Brasil.

7- MÚSICA RITUAL

O canto é parte necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para animar ou enfeitar a liturgia. Por isso devemos cantar a liturgia e não cantar na liturgia. Os cantos e músicas, executados com atitude espiritual e, condizentes com cada domingo, ajudam a comunidade a penetrar no mistério celebrado. Portanto, não basta só saber que os cantos são do 23º Domingo do Tempo Comum, é preciso executá-los com atitude espiritual. A escolha dos cantos deve ser cuidadosa, para que a comunidade tenha o direito de cantar o mistério celebrado. A função da equipe de canto não é simplesmente cantar o que gosta, mas cantar o mistério da liturgia deste 23º Domingo do Tempo Comum. Os cantos devem estar em sintonia com o ano litúrgico, com a Palavra proclamada e com o sacramento celebrado. Não devemos esquecer que a “equipe de canto” faz parte da equipe de liturgia.

A equipe de canto faz parte da assembléia. Não deve ser um grupo que se coloca à frente da assembléia, como se estivesse apresentando um show. A ação litúrgica se dirige ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo. Portanto, a equipe de canto deve se colocar entre o presbitério e a assembléia e estar voltada para o altar, para a presidência e para a Mesa da Palavra.

Ensina a Instrução Geral do Missal Romano que o canto de abertura tem por objetivo, além de unir a assembléia, inseri-la no mistério celebrado (IGMR nº 47). Nesse sentido o Hinário Litúrgico III da CNBB nos oferece uma ótima opção, que estão gravados no CD: Liturgia VI e CD: Cantos de Abertura e Comunhão e Ofício Divino das Comunidades.

1- Canto de abertura. Justiça e misericórdia de Deus (Salmo 118/119,137.124) “És um Deus justo, ó Senhor”, CD: Liturgia VII, melodia da faixa I. Outra ótima opção é o canto: “Jesus, Pastor amado”, Ofício Divino das Comunidades, pág. 280.

2- Ato penitencial. “Senhor, que viestes, não para condenar, mas para perdoar...”

3- Hino de louvor. “Glória a Deus nas alturas.” Vejam o CD Tríduo Pascal I e II e também no CD Festas Litúrgicas I; Partes fixas do Ordinário da Missa do Hinário Litúrgico III da CNBB e também a versão da CNBB musicado por Irmã Miria Reginaldo Veloso e outros compositores.

O Hino de Louvor, na versão original e mais antiga, é um hino cristológico, isto é, voltado para Cristo, que exprime o significado do amor do Pai agindo no Filho. O louvor, o bendito, a glória e a adoração ao Pai (primeira parte do Hino de Louvor) se desdobram no trabalho do Filho Único: tirar o pecado do mundo, exprimindo e imprimindo na história humana a compaixão do Pai. Lembremo-nos: o Hino de Louvor não se confunde com a “doxologia menor” (Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo). O Hino de Louvor encontra-se no Missal Romano em prosa ou nas publicações da CNBB versificado numa versão que facilita o canto da assembléia.

4- Refrão para motivar a escuta da Palavra: “A vossa Palavra Senhor, é sinal de interesse por nós”.

5- Salmo responsorial 94/95. Conversão diante de Deus. “Não fecheis o coração, ouvi, hoje, a voz de Deus! CD: Liturgia VII, melodia da faixa 5.

O Salmo reaviva o diálogo da Aliança entre Deus e seu povo, estreita os laços de amor e fidelidade. A tradicional execução do Salmo responsorial é dialogal: o povo responde com um refrão aos versos do Salmo, cantados um ou uma salmista. Deve ser cantado da mesa da Palavra por ser Palavra de Deus. De cunho lírico, deve normalmente ser cantado, pelo menos o refrão, que neste caso é intercalado com a leitura calma do salmo.

6- Aclamação ao Evangelho. Reconciliação em Cristo (2Coríntios 5,19). “Aleluia... O Senhor reconciliou o mundo em Cristo” CD: Liturgia VII, melodia da faixa 7. O canto de aclamação ao evangelho acompanha os versos que estão no Lecionário Dominical.

7- Canto após a homilia – Canto de São Francisco de Assis: “Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz!”, Hinário Litúrgico III da CNBB, pág. 443. Se não for cantado nesse momento, pode ser também no rito da comunhão.

8- Apresentação dos dons. A escuta da Palavra e colocá-la em prática, deve gerar na assembléia a reconciliação e a partilha para que ela possa ser sinal vivo do Senhor. Devemos ser oferenda com nossas oferendas. “As mesmas mãos que plantaram a semente aqui estão”, CD: Liturgia VII, melodia da faixa 4.

9- Santo, a aclamação do universo. Sua função é para concluir o Prefácio da Oração Eucarística. É a grande aclamação da Missa e pode dizer-se que é o primeiro canto em ordem de importância (juntamente com o Salmo Responsorial). Deve ser solene e cantado, pois assim ganhará mais autenticamente sua dimensão de aclamação. O presidente convida toda a assembleia a cantar, com todos os anjos e santos, a uma só voz. É o louvor universal que brota da ressurreição de Jesus Cristo. Ele encabeça toda a realidade, todo o universo, até que Deus seja tudo em todos.

10. Canto de comunhão. A melhor opção é Mateus 18,15: “Vá e mostre o erro do seu irmão, quando ele, um dia pecar!”, CD: Liturgia VII, melodia da faixa 8. Se a comunidade não conhecer, outra opção para retomar o Evangelho na comunhão é o canto de São Francisco de Assis: “Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz!”, Hinário Litúrgico III da CNBB, pág. 443. Também pode ser cantado após o silêncio da homilia. Nesse caso não há necessidade de cantar durante a comunhão.

O canto de comunhão deve retomar o sentido do Evangelho de cada Domingo. Esta é a sua função ministerial. Na realidade, aquilo que se proclama no Evangelho nos é dado na Eucaristia, ou seja: é o Evangelho que nos dá o “tom” com o qual o Cristo se dirige a nós em cada celebração eucarística reforçando estes conteúdos bíblico-litúrgicos, garantindo ainda mais a unidade entre a mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia. Isto significa que comungar o corpo e sangue de Cristo é compromisso com o Evangelho proclamado. Portanto, o mesmo Senhor que nos falou no Evangelho, nós o comungamos no pão e no vinho. É de se lamentar que muitas vezes são escolhidos cantos individualistas de acordo com a espiritualidade de certos movimentos, descaracterizando a missionariedade da liturgia. Toda liturgia é uma celebração da Igreja e não existem ritos para cada movimento.

8- O ESPAÇO CELEBRATIVO

Preparar o espaço celebrativo, como sacrário vivo do Senhor, destacando, com igual dignidade, a mesa da Palavra e a mesa da Ceia. A mesa da Palavra receba também destaque semelhante à mesa eucarística: toalhas, cor litúrgica (verde). Os enfeites não podem ofuscar as duas mesas principais: mesa da Palavra e o Altar.

9. AÇÃO RITUAL

Hoje, participando em comunidade da celebração eucarística, o Senhor nos revela e insere no seu mistério redentor, que tem como caminho a correção fraterna.

Criar um agradável clima de oração no início da celebração, por meio do canto de um refrão meditativo: ONDE REINA O AMOR FRATERNO AMOR/ ONDE REINA O AMOR, DEUS AÍ ESTÁ!

Ritos Iniciais

1. Dar atenção aos ritos iniciais, cujo sentido é congregar os irmãos, constituindo com Cristo seu corpo vivo e ressuscitado. A acolhida bem fraterna a quem chega e o rito de incensação da assembléia, neste domingo, podem evidenciar a reunião de irmãos como presença do Ressuscitado.

2. Como canto inicial, optar pelo canto do antifonário do Hinário Litúrgico da CNBB. Outra opção seria cantar “Jesus, Pastor amado” (Ofício Divino das Comunidades, página 280), já apontando para o mistério celebrado.

3. O Sentido Litúrgico, sempre após a saudação presidencial, pode ser feito com palavras semelhantes às que se seguem:

Domingo da correção fraterna. Recebemos do Senhor o mandamento da correção fraterna e do diálogo de ajuda entre os irmãos e a certeza de sua na presença na comunidade reunida.

4. Logo após a saudação de quem preside, dar o sentido da celebração, tornando presente a realidade de nossa Pátria, com suas conquistas e desafios, alegrias e tragédias. Lembrar especialmente dos excluídos, porque somos parte deles ou porque com eles nos unimos no “grito” por dignidade e melhores condições de vida.

5. Neste Domingo é muito oportuno motivar o Ato penitencial com o Terceiro Formulário contido no Missal Romano pág. 392: O Senhor disse: “Quem dentre vós estiver sem pecado, atire a primeira pedra”. Reconheçamo-nos todos pecadores e perdoemo-nos mutuamente do fundo do coração. Após um profundo silêncio cantar a fórmula 3 das Invocações para o Tempo Comum, pág. 394 do Missal Romano:

     Senhor, que viestes, não para condenar, mas para perdoar, tende piedade de nós
     Cristo, que vos alegrais pelo pecador arrependido, tende piedade de nós.
     Senhor, que muito perdoais a quem muito ama, tende piedade de nós.

6. Na oração do dia suplicamos a Deus que é Pai de bondade que nos conceda em Cristo a verdadeira liberdade e a herança eterna.

Rito da Palavra

1. Entoar um refrão meditativo antes da Liturgia da Palavra para criar um clima de escuta serena e de acolhida à Palavra de Deus em vez de comentário. Ver em Música Ritual.

2. Em todo o rito, a Palavra se conjuga com o silêncio. Momentos de silêncio após as leituras, o salmo e a homilia, fortalecem a atitude de acolhida da Palavra. O silêncio é o momento em que o Espírito Santo torna fecunda a Palavra no coração da comunidade. Nem tudo cabe em palavras.

3. Após a homilia e um tempo breve de silêncio, quem preside ainda assentado, reza:

Senhor,
Teu Filho Jesus nos ensinou o verdadeiro amor.
Infelizmente somos fracos e incapazes de amar na Sua medida.
No entanto, queremos seguir o seu mandamento, realizar seu
ensinamento.
Ajuda-nos a sermos humildes para corrigir,
Acolhedores para ouvir as correções,
Sábios para saber o que dizer, em vista do bem comum,
E, acima de tudo, sinceros no amor que devotamos ao outro.
Tira do nosso meio qualquer espírito de soberba e de vaidade,
Guiados pelo teu Espírito de sabedoria,
Fortifiquemos nossa comunhão com ações concretas de fraternidade.
Pedimos-te por Jesus, teu Filho e nosso irmão. Amém.

4. Nas preces, ter presente a realidade dos excluídos e de nossa Pátria que merecem toda a nossa caridade.

Rito da Eucaristia

1. À luz do Evangelho de hoje, motivar, antes da procissão das oferendas, quem preside propõe o abraço da paz e reconciliação, sugerindo que o amor fraterno supera nossos limites e é condição de participação mais profunda no Corpo e Sangue do Senhor. É sinal sensível de unidade que nos prepara para a participação na Ceia e que oferecemos ao mundo para a reconciliação da humanidade.

2. Na oração sobre as oferendas, suplicamos a Deus que é a fonte da paz e da verdadeira piedade, que estimule em nós a “comunhão e a caridade fraterna” na comunidade eclesial, não só na mútua amizade.

3. Os prefácios deveriam ser escolhidos sempre em consonância com o Mistério celebrado em cada ocasião, evitando a escolha dos textos genéricos. Para tanto, deve-se observar o conteúdo do embolismo, parte central do Prefácio. Além de ter o núcleo desta parte da Oração Eucarística, será aí que encontraremos maior ou menor sintonia com as outras partes da celebração, no que se refere aos focos do Mistério celebrado: leituras bíblico-litúrgicas, eucologia e demais elementos como hinos, antífonas, etc.

4. Seguindo esta lógica, sugerimos que se escolha o Prefácio dos Domingos do Tempo Comum V, cujo embolismo reza: “Vós criastes o universo e dispusestes os dias e as estações. Formastes o homem e a mulher à vossa imagem, e a eles submetestes a criação. Libertastes os fiéis do pecado e lhes destes o poder de vos louvar, por Cristo, Senhor nosso”. O grifo no texto identifica aqueles elementos em maior consonância com o Mistério celebrado neste Domingo e que pode ser aproveitado na própria, ao modo de mistagogia.

Ritos Finais

1. A oração depois da comunhão, suplicamos a Deus que alimentados com a Palavra e a Eucaristia, estejamos em união de vida com Cristo para sempre. Nisto a Igreja realiza a união com Cristo para sempre e se torna comunidade e sacramento de Salvação.

2. Neste mês dedicado à Bíblia, fazer a bênção final com o Evangeliário ou o Lecionário Dominical e as palavras da bênção bíblica (cf. Nm 6,24-26), indicada pelo Missal Romano para o Tempo Comum, página 525.

3. As palavras do rito de envio podem estar em consonância com o mistério celebrado: Alertai, perdoai e acolhei os vossos irmãos. Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe.

4. É comum além, de entrar em procissão no início da celebração guiados pela cruz, também retirar-se do espaço sagrado em procissão, igualmente guiados pela cruz.

10- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todos os domingos celebramos a Eucaristia na comunidade. Viemos de longe e nos colocamos um ao lado do outro. A Eucaristia é o sacramento da unidade de um grupo que quer ser de Cristo. Fazemos a experiência de nossa fragilidade e confessemos publicamente nossos pecados. Desde o ato penitencial até o momento da comunhão os cristãos reconhecem-se pecadores. São santos porque o Senhor os santifica e são pecadores anelando o entrelaçando o perdão dos irmãos e do Senhor.

O objetivo da Igreja e da nossa equipe diocesana de liturgia é ajudar os padres e as comunidades de nossa diocese e todas aquelas outras comunidades fora de nossa diocese que acessar nosso site celebrar melhor o mistério pascal de Cristo.

Um abraço fraterno a todos
           
Pe. Benedito Mazeti


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