07 de setembro de 2014
Leituras
Ezequiel 33,7-9
Salmo 94/95,1-2.6-9
Romanos 13,8-10
Mateus 18,15-20
“SE ELE TE OUVIR, TU GANHASTE O TEU
IRMÃO”
1- PONTO DE PARTIDA
Domingo da
correção fraterna. Neste domingo renovamos a certeza da presença do Senhor na
assembléia de irmãos, reunidos para celebrar a Páscoa. Hoje sua Palavra nos
educa para o diálogo de ajuda e correção fraterna, em fidelidade ao mandamento
do amor mútuo, “única dívida que devemos ter uns com os outros. A Páscoa de
Jesus acontece nas pessoas e grupos que se perdoam e se reconciliam mutuamente.
O exemplo disso, nós o buscamos no próprio Jesus.
“És um Deus
justo ó Senhor e justo a tua sentença. Trata o teu servo segundo a tua
misericórdia” (Salmo 118/119,137.124).
2- REFLEXÃO BÍBLICA,
EXEGÉTICA E LITÚRGICA
Contemplando os
textos
Primeira leitura – Ezequiel 33,7-9. Responsabilidade
pela conversão do pecador: “sentinela de Israel”. Os profetas eram sentinelas
em Israel; deviam dar alerta, e o fizeram. Mas o povo não prestou atenção. Veio
a catástrofe, o exílio. No tempo do exílio da Babilônia e da confusão reinante
no meio do povo, o profeta Ezequiel descobre sua missão em relação à
comunidade.
O texto que
hoje lemos introduz a segunda parte da missão de Ezequiel (Ezequiel 33-48),
como sentinela que deve anunciar os perigos ao povo, estando sempre atento às
menores necessidades. A parábola do profeta-vigia (Ezequiel 33,1-9) abre a
segunda parte da coleção dos oráculos de Ezequiel.
Como a
sentinela, o profeta tem uma função limitada: deve ser fiel à Palavra divina
que recebe e anunciá-la, advertindo o povo para o perigo. Torna-se responsável
se for infiel na transmissão da Palavra, ou se deixar de anunciá-la. Ao fiel
cabe o dever de atender aos apelos do profeta e converter-se. Ao semeador cabe
lançar a semente, e à terra produzir o fruto (Mateus 13,3-9). Assim a
responsabilidade do profeta é a de ousar afrontar o mal e os pecadores, e fazer
tudo para convertê-los.
A função de
vigiar, de ser sentinela, denunciando o erro, a injustiça, e os perigos que ameaçam
a dignidade humana, o bem-estar espiritual e corporal do irmão, ou da
comunidade, é um dever que toca a todo cristão, mas em especial ao
presbítero-pregador. Como Ezequiel, o presbítero deverá procurar, à luz do
Evangelho deste Domingo (Mateus 18,15-20), não só denunciar e desencorajar o
erro, corrigindo o pecador, mas encorajar o cristão na prática do bem, seja
pela palavra seja pelo próprio exemplo de vida.
Perguntando
por um pregador angustiado diante de sua responsabilidade de denunciar ao ímpio
sua impiedade (Ezequiel 33,8), São Francisco de Assis respondeu assim, com
sabedoria: “Entendo que o servidor de Deus deve arder tanto na vida e na
santidade, que repreenda todos os maus com a luz de seu exemplo e com as
palavras de sua conversação. Direi que, assim, o esplendor de sua vida e o bom
perfume de sua fama hão de anunciar a todos sua iniqüidade” (Tomás de Celano,
Segunda Vida de São Francisco, Vozes, Petrópolis, segunda edição, 1976, pág.
148).
Salmo responsorial – Salmo 94/95,1-2.6-9.
Este
Salmo é um ato litúrgico. Os versículos 1 a 2, é um convite ao hino, com referência ao
rito litúrgico de entrada: a estes versículos o Salmo deve o seu uso como
invitatório, no início do Ofício Divino. No convite, com novo rito litúrgico:
prostração diante de Deus. Em seguida o Salmo fala da eleição histórica do povo
e a Aliança. “Ele é o nosso Deus, e nós somos o seu povo” é a fórmula densa da
Aliança.
O povo já vive
na terra prometida, tem um Templo, parece ter chegado ao lugar do repouso. E,
apesar disso, cada dia deve ouvir o chamado de Deus e cumpri-lo, para conservar
o dom da terra, onde participa no repouso de Deus. Do contrário, sua
infidelidade na terra prometida será como a infidelidade dos pais no deserto.
O rosto de
Deus neste Salmo. Entrar na terra prometida ou conservá-la são questões ligadas
à Aliança entre Deus e seu povo. Entrar na terra era conseqüência da fidelidade
à Aliança (algo que a geração do deserto não soube manter); conservar a terra
era resultado de uma Aliança mantida ao longo das gerações. Em ambos os casos,
o tema da Aliança está presente. Além disso, como vimos, entre Deus e o povo há
um compromisso de mútua pertença: Ele é o Deus dos hebreus, e o povo é o povo
de Deus (versículo 7a). A imagem do Pastor (versículo 7a) também é importante
para descobrir o rosto de Deus neste Salmo. A grande ação de Deus-Pastor foi
ter conduzido seu povo para fora do cativeiro egípcio, levando-o, pelo deserto,
rumo à liberdade e à vida na terra da promessa. A grande resposta do povo será
deixar-se conduzir por Deus-Pastor, obedecendo à voz Dele (versículo 7b).
Jesus se
apresentou como Pastor (João 10), conhecedor do íntimo de cada pessoa (João 2,25).
Por isso sua voz profética denunciou as injustiças e seus causadores (Mateus
23). Denunciou a religião formalista, de aparências (Mateus 7,21), e, num gesto
profético, declarou o fim do Templo de Jerusalém e de sua corrupção, apesar da
aparente fachada de lugar sagrado (João 2,13-22). Jesus denunciou as mesas
coisas do salmista-profeta.
A Carta aos Hebreus
nos oferece um comentário cristão deste Salmo (Hebreus 3,7-4,11). Todo o tempo
do Primeiro Testamento é uma repetição chamada e espera do “hoje” em que o povo
poderá entrar no descanso de Deus. Com Cristo chega este “hoje”, com sua
ressurreição inaugura-se no mundo o repouso de Deus, que descansou quando
terminou seu trabalho criador. Este “hoje” de Cristo se oferece a todos:
deve-se ouvi-lo e entrar depressa em seu descanso. Mas a vida cristã é de novo
um “começo”, que temos de manter até o fim, para entrar no repouso definitivo
de Cristo em Deus.
Por isso,
aquele que tem fé não deve fechar seu coração nem seus ouvidos a Deus. Ele, tal
qual pastor, encontra, nos momentos difíceis, um caminho para renovar sua
Aliança. “Não fecheis o coração; ouvi vosso Deus”. Na compreensão hebraica, o
coração, isto é, a consciência é o centro das decisões da pessoa humana.
Cantando este Salmo
na celebração deste domingo, adoremos o Senhor nosso Deus, vamos a Ele com toda
a confiança, na certeza de que Ele nos converte e nos prepara para a sua
comunhão:
NÃO FECHEIS O
CORAÇÃO, OUVI, HOJE, A VOZ DE DEUS!
Segunda leitura – Romanos 13,8-10. Nesta
leitura, Paulo na suas exortações finais aos Romanos, resume a prática da vida
cristã: não ficar devendo nada aos outros senão a caridade, que é sempre
insuficiente (o que não significa que não precisamos fazer o possível...). Pois
a caridade é o resumo de tudo. Se nos esforçarmos por ela saldamos
automaticamente todas as outras obrigações. “O amor é o pleno cumprimento da
Lei” (Romanos 13,8-10).
Quando nós não
devemos nada a ninguém, poderíamos pensar que tudo estivesse em ordem e nada
devesse ainda ser feito; estaríamos quites. Porém, para o cristão, segundo
Paulo agora é que começa tudo, pois ainda falta o principal, “o amor mútuo”.
Depois que demos tudo a que o outro tinha direito, então falta doar a nossa
vida, pois continuaremos sempre a dever amor aos outros, embora tenhamos
saldado todas as dívidas.
Na sua
justiça, Deus dá a todos o que precisam: fundamentalmente, seu amor de Pai.
Nós, para sermos justos, devemos também dar-nos mutuamente este dom, embora
sempre ficaremos devendo. Toda a justiça está incluída nisso: (Romanos 13,8 cf.
João 13,34; Gálatas 5,14 – 13,9-10 cf. Êxodo 13-14; Deuteronômio 5,17; Levítico
19,18; 1Coríntios 13,4-7).
Evangelho – Mateus 18,15-20. O capítulo
18 de Mateus, chamado de Sermão da Comunidade, mostra como os seguidores de
Jesus devem viver a justiça do Reino dentro da comunidade, na fidelidade a seu
projeto: superar a competição, tornando-se como uma criança; evitar o contra
testemunho e ir atrás da ovelha perdida, acolher e fazer festa pelo encontro.
No texto litúrgico
de hoje, o tema importante desta passagem é o perdão. Cristo lembra seu dever
(versículos 21-23) e, ao mesmo tempo, transmite seu poder (versículos 15-18). A
era nova é aquela em que o Senhor oferece ao ser humano a possibilidade de sair
do pecado, não somente triunfando sobre o seu na vida pessoal, mas ainda
triunfando sobre o pecado dos outros pelo perdão.
A sociedade
primitiva se insurgia violentamente contra a falta do indivíduo, pois não tinha
meios de perdoá-lo e apenas podia vingar-se a ofensa por uma punição exemplar,
setenta e sete vezes mais forte que a própria falta (Gênesis 4,24). Portanto,
será realizado um importante progresso quando a lei estabelecer o “talião”
(Êxodo 21,24).
O Levítico vai
mais adiante (Levítico 19,13-17). Não instaura, propriamente falando, a
obrigação do perdão (o único caso de perdão no Primeiro Testamento: 1Samuel 24
e 1Samuel 26), mas insiste na solidariedade que une os irmãos entre si e
proíbe-os de recorrerem aos procedimentos jurídicos para resolver suas
contendas.
A doutrina de
Cristo sobre o perdão marca um progresso decisivo. O Novo Testamento multiplica
seus exemplos: Cristo perdoa seus carrascos (Lucas 23,34); Estevão (Atos
7,59-60), Paulo (1Coríntios 4,12-13) e muitos outros fazem o mesmo.
Geralmente, a
existência do perdão está ligada à iminência do último julgamento: para que
Deus nos perdoe nesse momento decisivo, é preciso que desde agora perdoemos
nossos irmãos. O perdão pertence a uma vida dominada pela misericórdia de Deus
e pela justificação do pecador.
Mateus está
consciente de que a Igreja é uma comunidade de salvos que não pode ter outras
intenções senão a de “salvar o pecador”. A comunidade cristã se distingue da
comunidade judaica: só “julga o pecador perdoando-o”. Por isso, a condenação só
pode cair sobre ele, caso se recuse a viver no seio dessa comunidade
acolhedora.
O caráter
pessoal da primeira advertência chama a atenção para o respeito que cada pessoa
merece, mesmo se encontrando numa situação de pecado. As tentativas seguintes
mostram que o amor verdadeiro vai até o fim, na busca da ovelha que se perdeu.
Ninguém pode ser excluído precipitadamente. “Se ele não vos der ouvido, dize-o
à Igreja” (versículo 17a), isto é, a toda a comunidade cristã, seus líderes e
membros. “Se nem mesmo à Igreja ele ouvir, seja tratado como se fosse um pagão
ou um pecador público”. Podemos observar que o texto não afirma: “Se nem mesmo
à Igreja ele ouvir, seja para a Igreja como se fosse um pagão ou um pecador
público”, mas tão simplesmente: “Se nem mesmo à Igreja ele ouvir, seja tratado
como se fosse um pagão ou um pecador público”. Trata-se, aparentemente, não de
uma expulsão da Igreja, mas de uma espécie de “quarentena” dentro da própria
Igreja, isto é, dar um tempo.
Os versículos
19-20 parecem, à primeiras vista, uma declaração geral sobre a oração, sem nexo
algum com o que precede. Estes versículos fazem referência à oração (versículo
19) é à presença de Cristo na Igreja (versículo 20) totalmente imprescindíveis
ao uso correto da correção fraterna. Em outras palavras, toda a disciplina da
Igreja deve ser efetuada em num ambiente de oração, num clima litúrgico, no
qual estará presente o Senhor. O Cristo Senhor é sempre a autoridade máxima na
Igreja.
A Igreja,
embora de instituição divina, conhece a dura realidade do pecado. Composta de
homens e mulheres, nela sempre estará juntos o bem e o mal, a justiça e o
pecado. Ela é na história um corpo misto, e não uma comunidade de puros, perfeitos
e santos. A exemplo do Cristo que veio chamar, não os justos, mas os pecadores
(Mateus 9,13), ela deve mostrar uma prontidão especial para com aqueles que
fracassam em sua vida cristã. Assim, a Igreja primitiva prefere manter o
diálogo do que proclamar uma condenação.
O pecador só
descobre o perdão de Deus quando toma consciência da sua misericórdia operando
na Igreja e na assembléia eucarística.
3-DA PALAVRA CELEBRADA AO COTIDIANO DA VIDA
A Igreja é um
povo profético. A partir de nossa unção batismal e crismal, todos nós
participamos da vocação profética do Cristo, que ficou em legado para a Igreja.
Somos sentinelas, que devemos dar alerta a cada suspeita. Quando enxergamos que
nosso irmão ou irmã não está no caminho certo, devemos alertá-lo. E não nos
podemos contentar com uma só vez como está no Evangelho. Devemos esgotar todos
os meios. Avisá-lo uma segunda vez, diante de testemunhas (que podem ver se não
estamos enganados), ou enfim, recorrendo ao testemunho da comunidade, a
assembléia da Igreja.
Nesta altura,
o poder de ligar e desligar, confiado representativamente a Pedro é confiado à
Igreja toda. Pois toda ela é responsável pelo caminho de salvação de todos. A recorrência a Pedro ou seus sucessores
ocorre em casos extremos. Normalmente, todos nós devemos fazer o que for
preciso encaminhar nossos irmãos no caminho certo.
A Igreja se
apresenta, então, na liturgia de hoje, como “comunidade de salvação”, no
sentido sacramental: ela re-presenta, torna presente o Salvador, que nos une
com o Pai. A verdadeira comunidade eclesial é sacramento de Cristo e do Pai.
Portanto, o texto do Evangelho de hoje não se deve entender num sentido
jurídico, mas num sentido eclesial e comunitário. Por exemplo, com relação à
correção fraterna, Jesus não quer dizer, formalmente, que basta chamar alguém
diante de duas testemunhas e depois diante de uma comissão de Igreja (toda
esclerosada...), para enfim excomungá-lo (pois é muito provável que não se
converteria à vista de tal assembléia. Jesus nos ensina a colocar,
profeticamente, os que erram diante da comunidade que brotou do amor de Cristo.
Então, se mesmo diante deste testemunho a palavra profética não “pega”, também
não podemos fazer mais nada.
O Evangelho
exige diálogo na comunidade, a correção fraterna, o perdão, a oração
comunitária que nos anime a trabalhar pelo Reino de Deus. Jesus ensina os
passos da vivência da misericórdia e do amor fraterno em nossas relações
cotidianas. Se alguém da comunidade cometeu alguma falta grave contra seu
irmão, o “diálogo” é fundamental. Quem foi ofendido não vai fazer-se de vítima,
nem fazer comentários, fofocas para que toda a comunidade fique sabendo, nem
denunciar indiscriminadamente. A primeira e a mais difícil atitude é perdoar:
ir procurar o irmão em particular, conversar, mostrar onde está o erro e
convidá-lo a reintegrar-se ao seguimento de Jesus.
Quem ofendeu
um membro da comunidade rompeu com a comunidade toda, porque ela é o Corpo de
Cristo e todo esse Corpo foi afetado. O Evangelho nos convida a fazer de tudo,
apelar a toda a criatividade para que reine entre nós o jeito de ser de Jesus.
Mas, “se não lhe der ouvidos”, convide uma ou duas pessoas para ajudar no
diálogo. Se mesmo assim não houver reconciliação, só depois de muitas
tentativas é que se recorre à comunidade, que age em nome de Jesus, ajudando
nos conflitos e nas necessidades dos irmãos. Parece até que estamos
pressionando o irmão, mas como se trata da justiça do Reino, precisamos fazer
de tudo para que o irmão não se perca, não saia da caminhada da comunidade, do
seguimento fiel a Jesus e volte-se para as exigências evangélicas. E se nada
der resultado satisfatório? Só ai a comunidade tomará conhecimento do erro e
será chamada a tomar uma decisão: “Caso não der ouvidos, comunique à Igreja”.
Com a certeza
da presença do Ressuscitado no meio da comunidade, somos convidados a agir como
Deus age. Neste mundo de competição, ganância, mentira e acumulação, a
comunidade deve ser um espaço alternativo de solidariedade, fraternidade,
prática da justiça, da verdade e do perdão. Temos dado a importância necessária
à lei cristã do amor, ao perdão, à correção fraterna, ao diálogo na vida
familiar e na comunidade? A prática da caridade, nos diz Paulo, é “o pleno cumprimento
da Lei”.
Pelo Batismo
somos nomeados sentinelas por Deus. Temos denunciado o erro ou corremos o risco
de Deus nos pedir contas por não termos alertado os perversos e injustos, nem
os ajudado a mudarem de conduta?
Oxalá ouçamos
a voz do Senhor!
4- A PALAVRA SE FAZ CELEBRAÇÃO
Deus nos trata com
misericórdia
“Ganhamos o
irmão” quando somos sinceros com ele. Não adianta “passar a mão na cabeça” de
alguém que está comprovadamente encaminhando mal a sua vida. Na verdade, não
“ganhamos” o irmão para cantar vitória. É ele que se ganha para si mesmo, à
medida que se encontra e vê novos caminhos a trilhar.
Na antífona de
entrada de hoje cantamos: “Vós sois justo, Senhor, e justa é a vossa sentença;
tratai o vosso servo segundo a vossa misericórdia”. Quem dá a sentença é o
juiz. A sentença de Deus sobre o pecador é um gesto de misericórdia. O servo,
reconhece seu erro e acolhe a misericórdia, pois dela precisa para viver em
paz.
A Eucaristia nos convoca à reconciliação
Não será
difícil viver a correção fraterna quando entendermos o sentido profundo do ser
Igreja, quando descobrirmos que a correção fraterna só favorece quem a recebe.
Quando percebermos que o humilde pão que partimos sobre o altar e que comemos
juntos, convoca-nos a um novo olhar frente aos outros.
5- LIGANDO A PALAVRA COM A AÇÃO EUCARÍSTICA
Quando nos
reunimos para celebrar, nós nos constituímos Corpo de Cristo. O espaço
celebrativo, ao abrigar esse Corpo vivo do Senhor, que é a comunidade de irmãos
reunida em seu nome, torna-se sacrário vivo. Cada membro, com sua realidade
pessoal e única, acolhido como parte viva desse corpo, manifesta a presença do
Ressuscitado e deve ser considerado seu verdadeiro símbolo. E mais: “Somos
incessantemente chamados a contemplar, nos rostos sofredores de nossos irmãos,
o rosto de Cristo, que nos convoca a servi-lo neles” (Documento de Aparecida,
n. 393).
Participando
da mesa eucarística, somos mais estreitamente irmanados e fortificados no amor
solidário, sempre aberto à reconciliação, como rezamos hoje na oração sobre as
oferendas: “Fazei que nossa participação na Eucaristia reforce entre nós os
laços da amizade”.
O abraço
fraterno nos ritos de comunhão, mais do que simples saudação ou um gesto
expressando cordialidade entre amigos e conhecidos, sinaliza e nos prepara para
receber, na comunhão, o que realmente somos: o corpo eclesial de Cristo, como
já no IV século dizia Santo Agostinho.
A Palavra hoje
evidencia a comunhão e o amor fraterno na comunidade eclesial e também na
oração, na correção amorosa, na mútua amizade. Nisso realizamos a união com
Cristo para sempre, como rezamos na oração final deste dia, e nos tornamos
comunidade cristã, sacramento de salvação para o mundo.
A Eucaristia
nos faz discípulos missionários: exige que permaneçamos firmes e constantes no
bem, na dedicação aos irmãos e na permanente busca de reconciliação, vencendo o
egoísmo, a alienação e o pecado, que rompem a comunhão com o Pai.
6. ORIENTAÇÕES GERAIS
1. Preparar
bem a celebração. A preparação feita por uma equipe que tenha formação
litúrgica adequada pode assegurar uma celebração mais autêntica do mistério
pascal do Senhor, assim como a ligação como os acontecimentos da vida,
inseridos neste mesmo mistério de Cristo (cf. Doc. da CNBB 43, n. 211).
Garantir que o povo de Deus exerça o direito e o dever de participar segundo a
diversidade de ministérios, funções e ofícios de cada pessoa (Doc. da CNBB 43,
n. 212; Sacrosanctum Concilium, n.14). Preparar a celebração e utilizar de uma
metodologia – um caminho.
2. Lembrar
que, no dia 07 de setembro, é o dia da Pátria. Nas preces e em outros momentos
da celebração, rezar pelo povo brasileiro e pelos governantes, pela paz e
prosperidade de todas as pessoas e grupos humanos que constituem o Brasil.
7- MÚSICA RITUAL
O canto é
parte necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para
animar ou enfeitar a liturgia. Por isso devemos cantar a liturgia e não cantar na liturgia. Os cantos e músicas,
executados com atitude espiritual e,
condizentes com cada domingo, ajudam a comunidade a penetrar no mistério
celebrado. Portanto, não basta só saber que os cantos são do 23º Domingo do
Tempo Comum, é preciso executá-los com atitude espiritual. A escolha dos cantos
deve ser cuidadosa, para que a comunidade tenha o direito de cantar o mistério
celebrado. A função da equipe de canto não é simplesmente cantar o que gosta,
mas cantar o mistério da liturgia deste 23º Domingo do Tempo Comum. Os cantos
devem estar em sintonia com o ano litúrgico, com a Palavra proclamada e com o
sacramento celebrado. Não devemos esquecer que a “equipe de canto” faz parte da
equipe de liturgia.
A equipe de
canto faz parte da assembléia. Não deve ser um grupo que se coloca à frente da
assembléia, como se estivesse apresentando um show. A ação litúrgica se dirige
ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo. Portanto, a equipe de canto deve se
colocar entre o presbitério e a assembléia e estar voltada para o altar, para a
presidência e para a Mesa da Palavra.
Ensina a
Instrução Geral do Missal Romano que o canto de abertura tem por objetivo, além
de unir a assembléia, inseri-la no mistério celebrado (IGMR nº 47). Nesse
sentido o Hinário Litúrgico III da CNBB nos oferece uma ótima opção, que estão
gravados no CD: Liturgia VI e CD: Cantos de Abertura e Comunhão e Ofício Divino
das Comunidades.
1- Canto de abertura. Justiça e
misericórdia de Deus (Salmo 118/119,137.124) “És um Deus justo, ó Senhor”, CD:
Liturgia VII, melodia da faixa I. Outra ótima opção é o canto: “Jesus, Pastor
amado”, Ofício Divino das Comunidades, pág. 280.
2- Ato penitencial. “Senhor, que
viestes, não para condenar, mas para perdoar...”
3- Hino de louvor. “Glória a
Deus nas alturas.” Vejam o CD Tríduo Pascal I e II e também no CD
Festas Litúrgicas I; Partes fixas do Ordinário da Missa do Hinário Litúrgico
III da CNBB e também a versão da CNBB musicado por Irmã Miria Reginaldo Veloso
e outros compositores.
O Hino de
Louvor, na versão original e mais antiga, é um hino cristológico, isto é,
voltado para Cristo, que exprime o significado do amor do Pai agindo no Filho.
O louvor, o bendito, a glória e a adoração ao Pai (primeira parte do Hino de
Louvor) se desdobram no trabalho do Filho Único: tirar o pecado do mundo,
exprimindo e imprimindo na história humana a compaixão do Pai. Lembremo-nos: o
Hino de Louvor não se confunde com a “doxologia menor” (Glória ao Pai, ao Filho
e ao Espírito Santo). O Hino de Louvor encontra-se no Missal Romano em prosa ou
nas publicações da CNBB versificado numa versão que facilita o canto da
assembléia.
4- Refrão para motivar a escuta da
Palavra: “A vossa Palavra Senhor, é sinal de interesse por nós”.
5- Salmo responsorial 94/95. Conversão
diante de Deus. “Não fecheis o coração, ouvi, hoje, a voz de Deus! CD: Liturgia
VII, melodia da faixa 5.
O Salmo
reaviva o diálogo da Aliança entre Deus e seu povo, estreita os laços de amor e
fidelidade. A tradicional execução do Salmo responsorial é dialogal: o povo
responde com um refrão aos versos do Salmo, cantados um ou uma salmista. Deve
ser cantado da mesa da Palavra por ser Palavra de Deus. De cunho lírico, deve
normalmente ser cantado, pelo menos o refrão, que neste caso é intercalado com
a leitura calma do salmo.
6- Aclamação ao Evangelho. Reconciliação
em Cristo (2Coríntios 5,19). “Aleluia... O Senhor reconciliou o mundo em Cristo”
CD: Liturgia VII, melodia da faixa 7. O canto de aclamação ao evangelho
acompanha os versos que estão no Lecionário Dominical.
7- Canto após a homilia – Canto
de São Francisco de Assis: “Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz!”,
Hinário Litúrgico III da CNBB, pág. 443. Se não for cantado nesse momento, pode
ser também no rito da comunhão.
8- Apresentação dos dons. A
escuta da Palavra e colocá-la em prática, deve gerar na assembléia a
reconciliação e a partilha para que ela possa ser sinal vivo do Senhor. Devemos
ser oferenda com nossas oferendas. “As mesmas mãos que plantaram a semente aqui
estão”, CD: Liturgia VII, melodia da faixa 4.
9- Santo, a aclamação do universo.
Sua função é para concluir o Prefácio da Oração Eucarística. É a grande aclamação
da Missa e pode dizer-se que é o primeiro canto em ordem de importância
(juntamente com o Salmo Responsorial). Deve ser solene e cantado, pois assim
ganhará mais autenticamente sua dimensão de aclamação. O presidente convida
toda a assembleia a cantar, com todos os anjos
e santos, a uma só voz. É o louvor universal que brota da ressurreição de
Jesus Cristo. Ele encabeça toda a realidade, todo o universo, até que Deus seja
tudo em todos.
10. Canto de comunhão. A melhor
opção é Mateus 18,15: “Vá e mostre o erro do seu irmão, quando ele, um dia
pecar!”, CD: Liturgia VII, melodia da faixa 8. Se a comunidade não conhecer, outra
opção para retomar o Evangelho na comunhão é o canto de São Francisco de Assis:
“Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz!”, Hinário Litúrgico III da CNBB,
pág. 443. Também pode ser cantado após o silêncio da homilia. Nesse caso não há
necessidade de cantar durante a comunhão.
O canto de
comunhão deve retomar o sentido do Evangelho de cada Domingo. Esta é a sua
função ministerial. Na realidade, aquilo que se proclama no Evangelho nos é
dado na Eucaristia, ou seja: é o Evangelho que nos dá o “tom” com o qual o
Cristo se dirige a nós em cada celebração eucarística reforçando estes
conteúdos bíblico-litúrgicos, garantindo ainda mais a unidade entre a mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia. Isto
significa que comungar o corpo e sangue de Cristo é compromisso com o Evangelho
proclamado. Portanto, o mesmo Senhor que nos falou no Evangelho, nós o
comungamos no pão e no vinho. É de se lamentar que muitas vezes são escolhidos
cantos individualistas de acordo com a espiritualidade de certos movimentos,
descaracterizando a missionariedade da liturgia. Toda liturgia é uma celebração
da Igreja e não existem ritos para cada movimento.
8- O ESPAÇO CELEBRATIVO
Preparar o
espaço celebrativo, como sacrário vivo do Senhor, destacando, com igual
dignidade, a mesa da Palavra e a mesa da Ceia. A mesa da Palavra receba também
destaque semelhante à mesa eucarística: toalhas, cor litúrgica (verde). Os enfeites
não podem ofuscar as duas mesas principais: mesa da Palavra e o Altar.
9. AÇÃO RITUAL
Hoje,
participando em comunidade da celebração eucarística, o Senhor nos revela e
insere no seu mistério redentor, que tem como caminho a correção fraterna.
Criar um
agradável clima de oração no início da celebração, por meio do canto de um
refrão meditativo: ONDE REINA O AMOR FRATERNO AMOR/ ONDE REINA O AMOR, DEUS AÍ
ESTÁ!
Ritos Iniciais
1. Dar atenção
aos ritos iniciais, cujo sentido é congregar os irmãos, constituindo com Cristo
seu corpo vivo e ressuscitado. A acolhida bem fraterna a quem chega e o rito de
incensação da assembléia, neste domingo, podem evidenciar a reunião de irmãos
como presença do Ressuscitado.
2. Como canto
inicial, optar pelo canto do antifonário do Hinário Litúrgico da CNBB. Outra
opção seria cantar “Jesus, Pastor amado” (Ofício Divino das Comunidades, página
280), já apontando para o mistério celebrado.
3. O Sentido
Litúrgico, sempre após a saudação presidencial, pode ser feito com palavras
semelhantes às que se seguem:
Domingo da correção fraterna. Recebemos do
Senhor o mandamento da correção fraterna e do diálogo de ajuda entre os irmãos
e a certeza de sua na presença na comunidade reunida.
4. Logo após a
saudação de quem preside, dar o sentido da celebração, tornando presente a
realidade de nossa Pátria, com suas conquistas e desafios, alegrias e
tragédias. Lembrar especialmente dos excluídos, porque somos parte deles ou
porque com eles nos unimos no “grito” por dignidade e melhores condições de
vida.
5. Neste Domingo
é muito oportuno motivar o Ato penitencial com o Terceiro Formulário contido no
Missal Romano pág. 392: O Senhor disse: “Quem dentre vós estiver sem pecado,
atire a primeira pedra”. Reconheçamo-nos todos pecadores e perdoemo-nos
mutuamente do fundo do coração. Após um profundo silêncio cantar a fórmula 3
das Invocações para o Tempo Comum, pág. 394 do Missal Romano:
Senhor, que viestes, não
para condenar, mas para perdoar, tende piedade de nós
Cristo, que vos alegrais
pelo pecador arrependido, tende piedade de nós.
Senhor, que muito perdoais a
quem muito ama, tende piedade de nós.
6. Na oração
do dia suplicamos a Deus que é Pai de bondade que nos conceda em Cristo a
verdadeira liberdade e a herança eterna.
Rito da Palavra
1. Entoar um
refrão meditativo antes da Liturgia da Palavra para criar um clima de escuta
serena e de acolhida à Palavra de Deus em vez de comentário. Ver em Música
Ritual.
2. Em todo o
rito, a Palavra se conjuga com o silêncio.
Momentos de silêncio após as leituras, o salmo e a homilia, fortalecem a
atitude de acolhida da Palavra. O silêncio é o momento em que o Espírito Santo
torna fecunda a Palavra no coração da comunidade. Nem tudo cabe em palavras.
3. Após a homilia e um tempo
breve de silêncio, quem preside ainda assentado, reza:
Senhor,
Teu Filho Jesus nos ensinou o
verdadeiro amor.
Infelizmente somos fracos e
incapazes de amar na Sua medida.
No entanto, queremos seguir o seu
mandamento, realizar seu
ensinamento.
Ajuda-nos a sermos humildes para
corrigir,
Acolhedores para ouvir as
correções,
Sábios para saber o que dizer, em
vista do bem comum,
E, acima de tudo, sinceros no
amor que devotamos ao outro.
Tira do nosso meio qualquer
espírito de soberba e de vaidade,
Guiados pelo teu Espírito de
sabedoria,
Fortifiquemos nossa comunhão com
ações concretas de fraternidade.
Pedimos-te por Jesus, teu Filho e
nosso irmão. Amém.
4. Nas preces,
ter presente a realidade dos excluídos e de nossa Pátria que merecem toda a
nossa caridade.
Rito da Eucaristia
1. À luz do
Evangelho de hoje, motivar, antes da procissão das oferendas, quem preside
propõe o abraço da paz e reconciliação, sugerindo que o amor fraterno supera
nossos limites e é condição de participação mais profunda no Corpo e Sangue do
Senhor. É sinal sensível de unidade que nos prepara para a participação na Ceia
e que oferecemos ao mundo para a reconciliação da humanidade.
2. Na oração
sobre as oferendas, suplicamos a Deus que é a fonte da paz e da verdadeira
piedade, que estimule em nós a “comunhão e a caridade fraterna” na comunidade
eclesial, não só na mútua amizade.
3. Os
prefácios deveriam ser escolhidos sempre em consonância com o Mistério
celebrado em cada ocasião, evitando a escolha dos textos genéricos. Para tanto,
deve-se observar o conteúdo do embolismo, parte central do Prefácio. Além de
ter o núcleo desta parte da Oração Eucarística, será aí que encontraremos maior
ou menor sintonia com as outras partes da celebração, no que se refere aos
focos do Mistério celebrado: leituras bíblico-litúrgicas, eucologia e demais
elementos como hinos, antífonas, etc.
4. Seguindo
esta lógica, sugerimos que se escolha o Prefácio dos Domingos do Tempo Comum V,
cujo embolismo reza: “Vós criastes o universo e dispusestes os dias e as
estações. Formastes o homem e a mulher à vossa imagem, e a eles submetestes a
criação. Libertastes os fiéis do pecado e lhes destes o poder de vos louvar,
por Cristo, Senhor nosso”. O grifo no texto identifica aqueles elementos em
maior consonância com o Mistério celebrado neste Domingo e que pode ser
aproveitado na própria, ao modo de mistagogia.
Ritos Finais
1. A oração
depois da comunhão, suplicamos a Deus que alimentados com a Palavra e a
Eucaristia, estejamos em união de vida com Cristo para sempre. Nisto a Igreja
realiza a união com Cristo para sempre e se torna comunidade e sacramento de
Salvação.
2. Neste mês
dedicado à Bíblia, fazer a bênção final com o Evangeliário ou o Lecionário
Dominical e as palavras da bênção bíblica (cf. Nm 6,24-26), indicada pelo
Missal Romano para o Tempo Comum, página 525.
3. As palavras
do rito de envio podem estar em consonância com o mistério celebrado: Alertai,
perdoai e acolhei os vossos irmãos. Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe.
4. É comum
além, de entrar em procissão no início da celebração guiados pela cruz, também
retirar-se do espaço sagrado em procissão, igualmente guiados pela cruz.
10- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todos os
domingos celebramos a Eucaristia na comunidade. Viemos de longe e nos colocamos
um ao lado do outro. A Eucaristia é o sacramento da unidade de um grupo que
quer ser de Cristo. Fazemos a experiência de nossa fragilidade e confessemos
publicamente nossos pecados. Desde o ato penitencial até o momento da comunhão
os cristãos reconhecem-se pecadores. São santos porque o Senhor os santifica e
são pecadores anelando o entrelaçando o perdão dos irmãos e do Senhor.
O objetivo da
Igreja e da nossa equipe diocesana de liturgia é ajudar os padres e as
comunidades de nossa diocese e todas aquelas outras comunidades fora de nossa
diocese que acessar nosso site celebrar melhor o mistério pascal de Cristo.
Um abraço
fraterno a todos
Pe. Benedito
Mazeti
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