09 de novembro de 2014
Leituras
Ezequiel 47,1-2.8-9.12
Salmo 45/46,2-3.5-6.8-9
1Coríntios 3,9c-11.16-17
João 2,13-22
“NÃO FAÇAIS DA CASA DE MEU PAI UMA CASA
DE COMÉRCIO”
1- PONTO DE PARTIDA
Dedicação da Basílica de São
João do Latrão. O aniversário de uma catedral é anualmente celebrado, pois traz
presente e celebra a unidade da Igreja na igreja mãe. A unidade de todo o povo
de Deus encontra na divina liturgia a sua expressão maior, cume e fonte de toda
a ação da Igreja. A Basílica do Latrão ou Lateranense, é a catedral da diocese
de Roma, construída pelo imperador Constantino no tempo do Papa São Silvestre
I, dos anos (314-335) é considerada a mãe de todas as igrejas do mundo. Esta
festa é comemorada em todas as igrejas de Rito Romano. A consagração dessa
Basílica se deu no dia 9 de novembro do ano 324, na fachada consta a inscrição
Cabeça e Mãe de todas as Igrejas, isto é, a solenidade da Igreja-mãe. Ela é
chamada de mãe de todas as igrejas por ser a igreja sede do papa e por ser a
primeira igreja construída durante o Império Romano. Nela se realizaram as
sessões de cinco grandes concílios ecumênicos.
2- REFLEXÃO BÍBLICA,
EXEGÉTICA E LITÚRGICA
Contemplando os
textos
Primeira leitura – Ezequeil 7,1-2.9-14.
O texto de Ezequiel 47,1-12 faz parte da grande visão sobre o futuro Templo e a
restauração de Israel (Ezequiel 40-48), que Ezequiel teve na Babilônia por
voltas do ano 573 antes de Cristo. Ezequiel, no exílio babilônico, longe de
Jerusalém e de seu Templo destruído, sonha com um novo Templo, perfeito na sua
estrutura. E no lugar da antiga e humilde fonte do Templo (o Gion) haverá um
rio caudaloso que saneará até as águas do Mar Morto.
O profeta é
trazido de volta (“me fez voltar”, versículo 1) do lugar para onde antes fora
conduzido. Como a porta oriental ficava fechada (44,1), o profeta sai pela
porta norte, dando uma volta por fora, até chegar à frente da porta leste do
Templo (versículo 2). Ali ele vê água jorrando do lado direito do Templo em tão
grande quantidade, que logo se transforma num rio caudaloso. Recebendo a ordem
de explorar este rio, ele o mede quatro vezes (versículos 3.4a.4b.5), número
que em Ezequiel indica totalidade: quatro seres vivos (Ezequiel 1), quatro
cenas de pecado (Ezequiel 8, quatro castigos divinos (Ezequiel 14,12ss) e
quatro ventos (Ezequiel 37,9).
A região
percorrida por este maravilhoso rio é o deserto de Judá. Seu destino é o mar
Morto, assim chamado exatamente porque nele não há vida nenhuma espécie de
vida, pois suas águas altamente salgadas (26% de sais!) não a permitem. Ao
longo do percurso as margens banhadas pelo rio transformam-se num paraíso cheio
de árvores frutíferas de toda espécie de toda espécie, permanentemente verdes e
dando a cada mês os seus frutos; até suas folhas têm propriedades medicinais
(versículo 12).
A visão de Ezequiel
lembra a descrição do paraíso (Gênesis 2-3) e os seus quatro rios, bem como o
relato sacerdotal de Gênesis 1,20ss, onde se diz que as águas “brotavam” de
vida. O salmista recorria à mesma linguagem simbólica em um dos salmos de Sião:
“Os braços de um rio alegram a cidade de Deus, as moradas santas do Altíssimo”
(Salmo 46,5). Tanto no salmo como em Ezequiel (cf. 20,40; 40,2) temos
referências ao motivo mitológico da montanha divina, do umbigo da terra
(Ezequiel 38,12), entendidos como morada de Deus, e ao tema do paraíso de
abundantes águas que irrigam toda a terra (Gênesis 2,10-14).
Em Ezequiel
47,1-12 o profeta anuncia a salvação para as áreas permanentemente enfermas do
país, enquanto em outros textos anuncia a salvação para as áreas mais sadias do
país (cf. Ezequiel 34,26-30; 36,8-12; 37,25-28), no momento destruídas e
abandonadas. A função de Ezequiel 47,1-12 no contexto dos capítulos 40-48 é
mostrar de maneira muito clara os efeitos salvíficos da presença eterna e
definitiva do Senhor em Seu Templo (43,7-9; 48,35).
O Evangelho de
João que hoje lemos contrapõe Cristo ao Templo (João 2,13-22). Ele é o novo
“lugar” de adoração, de encontro com o Pai. Ao morrer, Seu lado é traspassado e
dele brotam sangue e água (João
19,34), símbolos da nova vida trazida pela morte de Jesus e pelo Batismo. Os
que creem em Cristo já não necessitam nem do monte Garizim nem do Templo de
Jerusalém, mas adorar o Pai em espírito e verdade (João 4,18-21). De agora em
diante a fé e a união com Cristo serão a fonte de vida para o cristão: “Se
alguém tiver sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a escritura:
do seu interior correrão rios de água viva” (João 7,38s).
Salmo responsorial – Salmo 45/46,2-3.5-6.8-9. É um cântico
de Sião. Seu tema principal é a cidade de Jerusalém, também chamada de Sião
(versículos de 5-6).
A situação que
gerou este salmo é muito clara. No ano 701 antes de Cristo, Senaquerib, general
assírio, teve que se retirar do cerco de Jerusalém. Ele havia cercado a cidade,
esperando que, por falta de água, a população se entregasse. Ezequias, rei de
Judá, prevendo o cerco da cidade, empreendeu uma obra gigantesca de engenharia.
Mandou escavar um túnel para conduzir para dentro da cidade as águas da fonte
de Gion, que ficava fora dos muros da cidade. A superfície da fonte foi tapada.
O túnel passava por baixo das muralhas de Jerusalém, conduzindo água para um
grande tanque, chamado de piscina de Ezequias (2 Reis 19,20).
O rosto de
Deus neste salmo. O salmo apresenta um rosto extraordinário de Deus: aliado
fiel, refúgio, força e fortaleza, capaz de manter inabalável a confiança do
povo e da cidade e da cidade amada, apesar do caos internacional e da ameaça
estrangeira. É o Deus-conosco celebrado pelo refrão, o Deus da Aliança que
torna inabalável a cidade e o povo, pois mora no meio deles.
Jesus foi
apresentado por Mateus como o Deus-conosco (Mateus 1,23), aquele que gera
confiança porque venceu o mundo (João 16,33), superou a violência do vento e do
mar, que lhe obedecem (Marcos 4,35-41). Venceu até a morte, tornando-se
primogênito dos que irão ressuscitar dos mortos (Apocalipse 1,5). É o portador
da paz, fruto de sua vitória sobre a morte (João 20,21).
Jerusalém,
todavia, rejeitou Jesus. Lucas (13,34-35; 19,41-44) mostra Jesus chorando sobre
Jerusalém, pois ela não aceitou quem lhe fazia uma proposta de paz.
OS BRAÇOS DE
UM RIO VÊM TRAZER ALEGRIA
À CIDADE DE
DEUS, À MORADA DO ALTÍSSIMO.
Segunda-leitura – 1Coríntios 3,9c-11.16-17.
Paulo compara a comunidade dos fiéis ao santuário, construído por pedras vivas.
E o alicerce colocado por Paulo, é Cristo (cf. 1Pedro 2,5). Paulo usa uma
imagem semelhante, ao falar de seu trabalho de fundação da igreja de Corinto. A
comunidade é construção de Deus, morada do Espírito. O alicerce, posto pelo
próprio Paulo, é Cristo.
A leitura
inicia-se com duas imagens que são frequentemente usadas, isoladas ou em
paralelo, para indicar a ação de Deus no meio das pessoas. Lavoura e Edifício
espelham duas situações vitais, e segundo o auditório ao qual se dirige, o
pregador usa uma ou outra, ou ambas. Dirigindo-se a agricultores fala de
lavoura, vinha de Deus; a pessoas da cidade, de edifício de Deus (cf. Efésios 2,20-22;
1Pedro 2,4-8).
Paulo, sendo
da cidade e escrevendo para pessoas da cidade, desenvolve a segunda imagem: a
comunidade é o edifício de Deus. O contexto quer enfatizar a ação dos
pregadores, como cooperadores de Deus e não afirmar a passividade da
comunidade. A obra é de Deus e das pessoas, pregadores e ouvintes (cf.
versículos 6.7; 1Tessalonicenses 3,2; Marcos 16,20).
Paulo tinha
consciência profunda da graça que Deus lhe conferira. Quem viera após ele não
podia lançar outro fundamento, não deveria recomeçar mas continuar a
construção, assim o que era anunciado deveria dar continuidade e ter
conexão com o que Paulo pregara, Jesus
Cristo. O fundamento não podia ser melhorado, nem ser baseado na sabedoria
humana, em filosofias, religiões ou místicas naturais, teria que ser o Cristo
Jesus, único princípio de salvação (cf. 2Coríntios 11,4; Gálatas 1,7-8; Efésios
1,10).
Assim a
responsabilidade dos colaboradores de Deus é imensa. Ele, Deus, é o agente
principal da obra, nós somos ministros e nos pedirá contas da missão que nos
foi confiada. Somos ministros, servos da comunidade e cooperadores de Deus. Por
conseguinte o pregador tem mais responsabilidades que honras a receber, ele é
apenas “diácono” da comunidade.
Evangelho – João 2,13-22. O tema
central de hoje é a adoração de Deus. É o que o Primeiro Testamento entende por
“temor de Deus”. Este termo não aponta um medo infantil diante de um Deus
policial, mas todo o sentimento de submissão e receptividade diante do
Mistério. Israel não pode “temer” outros deuses (2Reis 17,7.35 etc.). Este
temor de Deus se expressa, antes de tudo na Lei do Sinai, cujo resumo são os Dez
Mandamentos. Inicia com o mandamento do temor de Deus: só a Deus se deve
adorar, pois Ele é um Deus que age: tirou Israel do Egito. Mas o temor de Deus
não diz respeito tão-somente à atitude diante de Deus, mas também no
relacionamento com o próximo (o co-esraelita, em primeira instância). Pois Deus
não estaria bem servido com um povo cujos membros se devorassem mutuamente. Daí
o “culto” (adoração de Deus) implicar imediatamente num “etos” (critérios de
comportamento).
A respeito da
purificação, o Evangelho de hoje revela a imagem que Jesus não quer sacrifícios
de animais ou coisas. Em todas as religiões as pessoas projetaram
freqüentemente sobre a divindade o tipo de relacionamento experimentado com os
poderosos da terra. Habituados a ter que oferecer os seus bens melhores aos
patrões, pensaram obter de maneira parecida a bondade da divindade
oferecendo-lhe o que de melhor tinham na sua vida. Com Jesus, tudo isto acaba.
Expulsando os vendedores do Templo de Jerusalém, o Filho de Deus não pretende
purificar o lugar santo corrompido pelo comércio, mas impedir um culto que na
realidade era só fachada e o pretexto da casta sacerdotal para desfrutar do
povo e impor o seu domínio sobre ele.
Jesus anuncia
o sacrifício que vai restabelecer a Aliança e a ressurreição que é garantia
maior da “nova Aliança”. Na sociedade
judaica do tempo de Jesus o Templo havia se transformado no centro do poder religioso, político e econômico,
onde agia a cúpula governamental (o Sinédrio) e onde se guardavam também
imensas riquezas. De lugar de culto ao verdadeiro Deus, o Templo havia se
transformado em instrumento de opressão e exploração do povo. A lei de Deus não
era mais para defender a vida. Por isso, Jesus é tomado por uma “ira profética”:
pega um chicote e expulsa os negociantes que estavam transformando o templo de
Deus num mercado. Contudo, Jesus não pensa em uma restauração do Templo de
Jerusalém como casa de oração, “mas na sua substituição”. Para João, o sentido
deste texto é anunciar Jesus como o Novo Templo, lugar da revelação e adoração
do Pai, isto é, a pessoa de Jesus Cristo é o lugar onde se encontra Deus.
A Aliança
entre Deus e o seu Povo era descrita pelos profetas com a metáfora esponsal.
Mas nesse matrimônio entre Deus e Israel já não há amor. Eis a razão porque nas
Bodas de Caná na Galiléia mudou a água em vinho, símbolo do amor dos esposos
(cf. Cântico dos Cânticos 2,6), que veio a faltar. A nova relação com Deus
agora já não se baseia nos esforços das pessoas (figurados nas “talhas” que
continham a água para a purificação: cf. João 2,6), mas no acolhimento do seu
amor gratuito.
Portanto, uma
vez entrando no Templo de Jerusalém, Jesus expulsa a todos dali, incluindo os
animais destinados aos sacrifícios. O Pai não requer nenhum tipo de oferenda ou
de sacrifício (cf. Mateus 8,13), mas é Ele que oferece tudo a todos (cf. Atos
17,25). Embora expulsando os vendedores de bois e de ovelhas, Cristo dirige a
sua censura unicamente aos vendedores de pombas (cf. versículo 16), animal
símbolo do Espírito, o amor do Pai que não pode ser vendido, mas apenas
oferecido.
Aqui está
também a importância da antiga Aliança. A síntese das leituras bíblicas deste
domingo pode formular-se deste modo: “o novo templo espiritual” constrói-se
sobre Cristo, morto e ressuscitado, e fundamenta a “nova Aliança” e a “nova
religião em espírito e verdade”, que veio substituir a antiga Aliança,
explanada na Lei de Moisés.
É importante
ver a passagem da purificação do templo como auto-manifestação do mistério
salvador de Cristo. Ele significa a importância da “antiga Aliança” e o fim do
culto que encarnava no templo de Jerusalém. Cristo dá lugar a uma Aliança e
Culto novos em espírito e verdade.
Trata-se da “Aliança
e do culto novo” que Jesus prega na linha dos profetas do Antigo Testamento e
frente á degeneração do culto do templo de Jerusalém que se tinha tornado
ritualista, vazio e hipócrita, além de ser, já, desnecessário. Por isso o véu
do templo rasga-se quando Jesus morre.
Os primeiros
cristãos não tiveram templos, nem catedrais, nem basílicas, durante vários
séculos. Estavam conscientes, tal como deveríamos estar nós, de que assembléia
(= ekklesía, em grego) é a autêntica Igreja de Deus, o santuário espiritual,
prolongamento do corpo de Cristo que é o “templo da nova Aliança”. Até mesmo cada
cristão, cada batizado no Espírito de Jesus, é templo de Deus.
Jesus Cristo é
o nosso modelo. Ele é o grande sacerdote e a vítima da nova Aliança e do culto
que culmina na fórmula Cristológica e Trinitária que encerra a oração
eucarística: Por Cristo, com Cristo e em Cristo, a vós, Deus Pai todo
poderoso...
O que
significa para nós hoje esse gesto de Jesus usando o chicote? As práticas
religiosas que usamos em nossos templos estão de acordo com o Evangelho?
3- DA PALAVRA CELEBRADA AO COTIDIANO DA VIDA
Hoje dia 09 de novembro a
Igreja celebra uma festa muito importante para todos nós, o aniversário da
Dedicação da Basílica de São João do Latrão, primeiro grande templo. Celebramos
também as catedrais de todas as dioceses do mundo. Dedicação significa consagração.
Latrão é um das sete colinas de Roma sobre a qual foi construída essa Basílica.
É uma festa desconhecidas de muitos católicos, mas de suma importância. É a
festa da Catedral de Roma, caput et mater omnium Ecclesiarum, como se lê na
fachada da entrada principal levantada no lugar da residência da esposa de
Constantino imperador de Roma. Constantino foi batizado na pia batismal desta
Basílica.
Muitos pensam que a catedral da
diocese de Roma é a Basílica de São Pedro. A Basílica do Latrão ou Lateranense,
é a catedral da diocese de Roma, construída pelo imperador Constantino no tempo
do Papa São Silvestre I, dos anos (314-335) é considerada a mãe de todas as
igrejas do mundo. Esta festa é comemorada em todas as igrejas de Rito Romano.
Na verdade, não estamos celebrando uma
construção, mas aquilo que ele representa. Trata-se de uma festa que recorda o
local onde celebramos a salvação com Deus e com os irmãos. A igreja construção
não é a casa de Deus. Deus não habita em casas construídas por mãos humanas,
diz a Bíblia (Atos 17,24), “nem em casa feita de pedras e madeira; mas
principalmente na pessoa humana, feita à imagem de Deus e edificada por mãos
deste Artífice. Desse modo pôde dizer o Apóstolo São Paulo: O templo de Deus,
que sois, é santo 1Coríntios 3,17” (São Cesário de Arles, século VI).
Cada um de nós é templo do Espírito de Deus. É bom pensar muito bem
nisso: nós somos templos do Deus vivo. A liturgia da Missa mostra muito bem
isso, está centrada no simbolismo do edifício eclesial (cf. 1Coríntios 3,16-17;
1Pedro 2,5). Entre os textos das orações da celebração sobressai o Prefácio
sobre o mistério da Igreja, esposa de Cristo e templo do Espírito Santo.
Somos a Igreja de Cristo, templos do Deus vivo. Queremos ver limpa a
Basílica? Não manchemos nossa vida com as nódoas da corrupção, da injustiça e
do pecado. Se desejamos que a Basílica seja luminosa, também Deus quer que a
nossa vida não esteja em trevas, mas que em nós brilhe a luz das boas obras,
como disse o Senhor, e seja glorificado Aquele que está nos céus. Do mesmo modo
como nós entramos nesta igreja, assim quer Deus entrar em nossa vida, conforme
prometeu: “E habitarei e andarei no meio deles” (cf. Levítico 26,11-12).
Do ponto de vista prático, a festa da
Consagração da Basílica de São João do Latrão ajuda a olhar para as nossas
igrejas com carinho e respeito. É recordar, que a Igreja onde vamos rezar
juntamente com toda a comunidade não é um local qualquer. É um local de
respeito, de silêncio, de oração por mais simples que elas sejam. Respeito que
deve na roupa que vestimos, no modo de falar, no modo de comportar-se.
Tudo deve contribuir para que nossas igrejas, com suas pastorais e
movimentos, sejam um convite para a oração, para a celebração e para o encontro
com Deus e com os irmãos. Unidos à Igreja de Roma, as igrejas do mundo todo lhe
reconhecem “a presidência da caridade”.
A liturgia da
dedicação da Basílica do Latrão, primeira catedral (igreja episcopal) da
cristandade, sugere a extensão a todos os templos cristãos em todas as dioceses
do mundo, as “Igrejas particulares”, nas quais está presente a Igreja universal
a serviço da qual está posto o Bispo de Roma, o Papa.
Ora, se
observar bem, a liturgia não realça os templos de pedra, os edifícios góticos,
barrocos... Realça o novo templo “espiritual” que é Cristo ressuscitado e a
comunidade, templo de “pedras vivas”, alicerçada nele (pelo trabalho do
Apóstolo). E a própria atuação do cristão é o “sacrifício espiritual” do novo
culto (2ª leitura e Evangelho).
“Espiritual”,
neste contexto, não quer dizer o oposto de material. Quer dizer o que é
suscitado pelo Espírito de Deus (ou talvez: interpretado à luz do Espírito de
Deus). Ora, isso não é coisa no ar. Os frutos do Espírito são coisas bem
concretas: amor fraterno, alegria, paz etc. (Gálatas 5,22) O sacrifício
espiritual (1Pedro 2,5); Romanos 12,1) implica em coisas bem concretas e
materiais: é a própria vida cotidiana do cristão, vivida em amor fraterno e
eficaz.
São esses os
sacrifícios oferecidos no novo templo que somos nós. Em nossa comunidade de
amor eficaz, baseada em Cristo, Deus se torna presente muito mais do que no
Templo de Jerusalém.
4- A PALAVRA SE FAZ CELEBRAÇÃO
A Basílica do
Latrão, dedicada ao Divino Salvador e, mais tarde, aos santos João Batista e
João Evangelista, foi a primeira catedral do mundo onde se celebravam os
batismos na Vigília Pascal e por muito tempo foi considerada a Igreja-mãe de
Roma. Celebrar o aniversário de sua dedicação é reconhecer a sua vocação de
“presidir na caridade” as demais igrejas e orar pela unidade de todas as
Igrejas cristãs.
Pela
Eucaristia que celebramos, comungando do sacramento do Corpo de Cristo, somos
nós também transformados nele. Faz todo sentido, neste dia, substituir o ato
penitencial pelo rito da aspersão da água, em memória do batismo pelo qual
participamos da Páscoa do Cristo e nos tornamos templo de Sua presença.
5- ORIENTAÇÕES GERAIS
1. Realizar a
liturgia da Palavra com especial carinho, proclamando bem as leituras e cantar
o Salmo responsorial de forma que a assembléia participe repetindo o refrão.
Substituir os comentários por breves instantes de silêncio depois da cada
leitura.
2. A homilia
deve ajudar a assembléia a ligar a Palavra de Deus com a realidade em que
vivemos e com o mistério que celebramos.
3. Dar maior
atenção a toda a liturgia eucarística como ação de graças – dom gratuito que
Jesus Cristo faz de sua vida ao Pai pela libertação da Humanidade: cantar o
prefácio (ou a louvação da celebração da Palavra), o santo as aclamações e o
Amém final da Oração Eucarística. Evitem-se cantos e gestos devocionais e
individualistas (“Bendito, louvado seja”, “Deus está aqui”, “Eu te adoro,
hóstia divina” etc.).
4. A narrativa
da instituição da eucaristia não é uma imitação da última ceia; por isso não se parte o pão neste momento como
algumas vezes acontece. A liturgia eucarística, como se disse, é fazer o
que Jesus fez: tomou o pão e o vinho, deus graças, partiu o pão e o deu (comer
e beber). O partir o pão, como Jesus fez, corresponde à fração do pão em vista
da comunhão. Por isso, a Redemptionis Sacramentum, número 55, considera um
abuso partir o pão durante o relato da instituição.
5. Dia 12,
recordamos a memória de São Josafá e 14, é Dia Nacional da Alfabetização.
6- MÚSICA RITUAL
O canto é
parte necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para
animar ou enfeitar a liturgia. Por isso devemos cantar a liturgia e não cantar na liturgia. Os cantos e músicas,
executados com atitude espiritual e,
condizentes com cada domingo, ajudam a comunidade a penetrar no mistério
celebrado. Portanto, não basta só saber que os cantos são da Festa da Dedicação
da Basílica do Latrão, é preciso executá-los com atitude espiritual. A escolha
dos cantos deve ser cuidadosa, para que a comunidade tenha o direito de cantar
o mistério celebrado. A função da equipe de
canto não é simplesmente cantar o que gosta, mas cantar o mistério da liturgia
desta Solenidade. Os cantos devem estar em sintonia com o ano litúrgico, com a
Palavra proclamada e com o sacramento celebrado. Não devemos esquecer que toda
liturgia é uma celebração da Igreja corpo de Cristo e não de um grupo, de uma
pastoral ou de um movimento.
O uso do
repertório litúrgico, proposto nas celebrações, conforme o Hinário Litúrgico da
CNBB, deve ser mantido. Contudo, as variações e opções não devem restringir,
mas se ampliar, segundo o espírito da celebração e a inteligência da liturgia.
O Canto de abertura tem a função ministerial de nos introduzir no mistério
celebrado.
1- Canto de abertura. “A nova Jerusalém descendo do céu” (Apocalipse
21,2). “Eu vi novo céu, nova terra, eu vi. Ó filhas e filhos do povo, eu vi”,
CD: Festas Litúrgicas IV, melodia da faixa 17.
2- Hino de louvor. “Glória a
Deus nas alturas...” Vejam o CD Tríduo
Pascal I e II e também no CD: Festas Litúrgicas e também a versão da CNBB
musicado por Irmã Miria e outros compositores.
O Hino de
Louvor é chamado de “doxologia maior” em contraposição com a “doxologia menor”
que é o “Glória ao Pai...”. Trata-se de um hino antiqüíssimo, iniciando com o
louvor dos anjos na noite do Natal do Senhor (Lucas 2,14), desenvolveu-se
antigamente no Oriente, como homenagem a Jesus Cristo. Não constitui uma
aclamação à Santíssima Trindade, mas um hino Cristológico, isto é, os louvores
se concentram no Filho Jesus. É um hino pelo qual, a Igreja reunida no Espírito
Santo entoa louvores ao Pai e dirige súplicas ao Filho, Cordeiro e Mediador.
3. Salmo responsorial 45/46. O
rio que traz alegria à Cidade de Deus. “Os braços de um rio vêm trazer alegria
à Cidade de Deus”, CD: Festas Litúrgicas IV, melodia da faixa 18.
Para a
Liturgia da Palavra ser mais rica e proveitosa, há séculos um salmo tem sido
cantado como prolongamento meditativo e orante da Palavra proclamada. Ele
reaviva o diálogo da Aliança entre Deus e seu povo, estreita os laços de amor e
fidelidade. A tradicional execução do Salmo responsorial é dialogal: o povo
responde com um refrão aos versos do Salmo, cantados um ou uma salmista. Deve
ser cantado da mesa da Palavra.
4. O canto ritual do Aleluia. “Casa
santificada para o “nome” (= presença) de Deus” (2Coríntios 7,16). “Aleluia... esta
casa eu escolhi e santifiquei”, CD: Festas Litúrgicas IV, melodia da faixa 3.
Por ser
diferente do Salmo Responsorial, o verso é uma citação do Evangelho que se
segue.
Mais do que
qualquer outra aclamação (Amém ou Hosana), o Aleluia é expressão de pura
alegria de êxtase. É o júbilo, a que Santo Agostinho se referia como “a voz de
pura alegria, sem palavra”. Este júbilo nos ensina que não podemos racionalizar
muito o mistério da Palavra. A Palavra deve tocar não nosso intelecto, mas o
coração.
O canto ritual
do Aleluia (ou aclamação do Evangelho é executado de forma “responsorial”.
- Aleluia (por
um solista);
- Aleluia
(retomado por toda a assembléia);
- Versículo
(por um solista)
- Aleluia
(retomado por toda a assembléia).
Esta forma
responsorial só é completa, quando o versículo bíblico é cantado, pois, caso
contrário, a resposta não tem seu verdadeiro efeito. Por ser diferente do Salmo
Responsorial, o verso é uma citação do Evangelho que se segue.
5. Apresentação dos dons. Devemos
ser oferendas com as nossas oferendas. Como templos vivos de Deus, devemos ser
sensíveis para com as necessidades dos irmãos e irmãs necessitados. Este
momento nos deve levar à partilha. CD: Festas Litúrgicas IV, melodia da faixa 4.
6. Canto de comunhão. “Pedras vivas, templo espiritual” (1Pedro 2,5).
A melhor opção de canto de comunhão para este Domingo é o canto bíblico tirado
do Primeira Carta de Pedro 2,5-6, que nos chama de pedras vivas, isto é,
construção de Deus. “Canta meu povo!
Canta o louvor de teu Deus! Que se fez homem e por nós morreu, e ressuscitou em
favor dos seus!”, CD: Festas Litúrgicas II, melodia da faixa 15, ou CD: Cantos
de Abertura e Comunhão, melodia da faixa 17. Sobretudo a primeira estrofe:
“Somos a nação santa e o povo eleito, um sacerdócio real”.
A Igreja
oferece outra opção como canto de comunhão, o Salmo 84: “O Passarinho encontrou
agasalho pra seus pequeninos, o teu altar, ó Senhor, é abrigo pros seus
peregrinos”, CD: Festas Litúrgicas IV, melodia da faixa 19.
O canto de
comunhão deve retomar o sentido do Evangelho do dia. Esta é a sua função
ministerial. Na realidade, aquilo que se proclama no Evangelho nos é dado na
Eucaristia, ou seja: é o Evangelho que nos dá o “tom” com o qual o Cristo se
dirige a nós em cada celebração eucarística reforçando estes conteúdos
bíblico-litúrgicos, garantindo ainda mais a unidade
entre a mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia. Isto significa que comungar
o corpo e sangue de Cristo é compromisso com o Evangelho proclamado. Portanto,
o mesmo Senhor que nos falou no Evangelho, nós o comungamos no pão e no vinho.
É de se lamentar que muitas vezes são escolhidos cantos individualistas de
acordo com a espiritualidade de certos movimentos, descaracterizando a
missionariedade da liturgia. Toda liturgia é uma celebração da Igreja e não
existem ritos para cada movimento e nem para cada pastoral. Cantos de adoração
ao Santíssimo, cantos de cunho individualista ou cantos temáticos não expressam
a densidade desse momento.
7- ESPAÇO CELEBRATIVO
No espaço
sagrado, sugerimos dispor o Círio Pascal, junto à pia batismal para que fique
bem claro que através do santo Batismo nós participamos da Ressurreição de
Jesus Cristo como templos vivos.
8. AÇÃO RITUAL
Acolher bem as
pessoas, que aos poucos vão formando a assembléia, símbolo do Corpo do Senhor.
O ensaio dos cantos e um breve momento de silêncio favorecem o clima de oração,
de participação interior e exterior, de encontro de Deus Pai com seus filhos e
filhas reunidos em assembléia.
3. Valorizar
os momentos de silêncio durante a
celebração (no início da celebração, após cada leitura e o canto do salmo, após
a homilia, após a comunhão...) para que o louvor bote do coração e da vida, não
só dos lábios. Privilegie-se o silêncio
como expressão de intimidade pessoal e comunitária com o mistério celebrado.
Ritos Iniciais
1. A
celebração tem início com a reunião da comunidade cristã (IGMR 27.47). O canto
de abertura começa tendo em conta essa realidade eclesial, e vai introduzir a
assembléia no Mistério celebrado. O uso do repertório litúrgico, proposto nas
celebrações, conforme o Hinário Litúrgico da CNBB, e o Ofício Divino das
Comunidades deve ser mantido. Contudo, as variações e opções não devem restringir,
mas se ampliar, segundo o espírito da celebração e a inteligência da liturgia.
2. Na
procissão de entrada, onde for possível, organizar a procissão com as pessoas
que atuam em equipes e atividades que ajudam a comunidade, construção de Deus.
3. Sugerimos na saudação inicial, a
fórmula “c”, do Missal Romano que são as palavras conforme a 2Ts 3,5:
O Senhor, que encaminha os nossos corações para o amor de
Deus e a constância de Cristo, esteja sempre convosco.
4. Em seguida,
dar o sentido litúrgico da celebração. O Missal deixa claro que o sentido
litúrgico da celebração pode ser feito pelo presidente, pelo diácono um leigo/a
devidamente preparado (Missal Romano página 390). O sentido litúrgico pode ser
proposto, através das seguintes palavras, ou outras semelhantes:
Dedicação da Basílica do Latrão. A
Basílica de São João do Latrão, torna-se a igreja Mãe de toda a Igreja Católica
Romana. Celebrando a festa da Consagração da Basílica de São João do Latrão,
contemplamos não somente a Catedral da diocese de Roma, mas também as dioceses
de todo o mundo com suas paróquias pastorais e movimentos. Voltemos o nosso
olhar para nossa diocese e nossa paróquia como sinal da presença de Jesus
Cristo.
5. Substituindo o Ato penitencial,
sugerimos o rito de aspersão, como recordação do Batismo que nos faz participar
da ressurreição de Jesus Cristo e templos vivos do Senhor. O canto, para
acompanhar o rito, pode ser “Banhados em Cristo”.
6. Cada
Domingo do Tempo Comum é Páscoa semanal. Cantar de maneira festiva o Hino de
louvor (glória).
7. Na Oração
do Dia deste domingo pedimos a Deus que difunda na Igreja o Espírito para que o
povo cresça cada vez mais construindo a Jerusalém celeste, isto é, a
eternidade.
Rito da Palavra
1. É bom
lembrar que caiu em desuso comentários antes das leituras. Antes da Palavra de
deus, nenhuma palavra humana. Antes das leituras, cante-se um refrão meditativo.
Sugerimos, para essa celebração: “Senhor
que a tua Palavra, transforme a nossa vida, queremos caminhar com retidão na
tua luz”.
2. Cantar com
particular solenidade o Salmo responsorial que enaltece o Deus-conosco nosso
refúgio.
3. Destacar o
Evangeliário. Depois da procissão de entrada deve permanecer sobre a Mesa do
Altar até a procissão para a Mesa da Palavra como é costume no Rito Romano.
Rito da Eucaristia
1. A
preparação dos dons tem uma finalidade prática, expressa na procissão com que o
pão e o vinho são trazidos ao altar. Segundo o costume das refeições judaicas,
bendiz-se a Deus pelo alimento básico, o pão, e pela bebida mais significativa,
o vinho. Evitar chamar este momento de “ofertório”, pois ele acontece após a
narrativa da ceia (consagração).
2. Na
preparação das oferendas, com poucas palavras explicar o sentido da coleta de
dons e do dízimo e depois, em procissão com o pão, o vinho e outros símbolos da
comunidade (como alimentos e roupas), levar tudo ao pé do altar.
3. Na Oração
sobre o pão e o vinho suplicamos a Deus que aceite nossas oferendas e que
possamos receber na igreja os frutos dos sacramentos.
4. Se for
escolhida as Orações Eucarísticas I, e III, que não possuem prefácio próprio,
ou a II que admite troca de prefácio, usar o Prefácio Igreja, esposa de Cristo
e templo do Espírito Santo, na página 731 do Missal Romano. Seguindo esta
lógica, o embolismo reza: “Vós quisestes habitat esta casa de oração, para
nos tornarmos, pelo auxílio contínuo da vossa graça, o templo vivo do Espírito
da vossa graça, o templo do Espírito Santo. Dando-lhe vida sem cessar,
santificais a Igreja, Esposa de Cristo e Mãe exultante de muitos filhos,
simbolizada pelos templos visíveis”. O grifo no texto identifica aqueles
elementos em maior consonância com o Mistério celebrado neste Domingo e que
pode ser aproveitado na própria, ao modo de mistagogia.
5. No convite
à comunhão pode assumir a frase de Cristo-Luz, João 8,12: “Eu sou a luz do
mundo; quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”.
6. De acordo
com as orientações em vigor, a comunhão pode ser sob as duas espécies para toda
a assembléia. “A comunhão realiza mais plenamente o seu aspecto de sinal quando
sob as duas espécies. Sob essa forma se manifesta mais perfeitamente o sinal do
banquete eucarístico e se exprime de modo mais claro a vontade divina de
realizar a nova e eterna Aliança no Sangue do Senhor, assim como a relação
entre o banquete eucarístico e o banquete escatológico no Reino do Pai” (IGMR,
nº 240).
Ritos Finais
1. Na oração após
a comunhão, suplicamos a Deus que a comunhão eucarística nos torne templos da
“vossa graça”, e que um dia entremos na glória eterna.
2. As palavras
do rito de envio podem estar em consonância com o mistério celebrado: “Vós sois
templos vivos de Deus”. Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe.
9- CONSIDERAÇÕES FINAIS
O
Cristianismo é uma religião sem templo, mas só na concepção particular deste.
Ele é uma religião sem templo no sentido de o ser um lugar da presença para a
comunidade: ao contrário, esta, enquanto ekklesia, é para si mesma o lugar da
Presença e da Glória de Deus enquanto Igreja.
O objetivo da
Igreja e da nossa equipe diocesana de liturgia é ajudar os padres e as
comunidades de nossa diocese e todas aquelas outras comunidades fora de nossa
diocese que acessar nosso site celebrar melhor o mistério pascal de Cristo.
Um abraço
fraterno a todos
Pe. Benedito
Mazeti
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