sábado, 22 de agosto de 2015

21º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B

23 de agosto de 2015

Josué 24,1-2a.15-17.18b.

Salmo 33/34,2-3.16-23.

Efésios 5,21-32.

João 6,60-69.

“AGORA NÓS CREMOS E SABEMOS QUE TU ÉS O SANTO DE DEUS”
1- PONTO DE PARTIDA
Domingo da profissão de fé de Pedro. Neste domingo celebramos o mistério pascal pelo qual Deus revelou em Jesus Cristo, até as últimas conseqüências, sua opção pela humanidade, vencendo, pela cruz, todos os limites que impedem a vida humana de ser também divina.
Damos graças por essa opção definitiva de Deus por nós e nos abrimos à interpelação que Cristo nos faz, pela Palavra e pela Eucaristia, a uma adesão decisiva a Ele, o único que tem para nós “palavras de vida eterna” e por deu sua vida. Ele nos encoraja a abandonar os ídolos de hoje, pelos quais facilmente nos entregamos e que, em resposta, nos levam à destruição e à morte.
Essa escolha é dom de Deus, mas ainda livre resposta da pessoa a quem o Pai quer livre e feliz.
“Inclina, Senhor, o teu ouvido e escuta-me. Salva meu Deus, o servo que confia em ti. Tem compaixão de mim, clamo por ti o dia inteiro” (Salmo 6,1-3).
2- REFLEXÃO BÍBLICA, EXEGÉTICA E LITÚRGICA
Primeira leitura – Josué 24,1-2a.15-17.18b. A leitura deste domingo, se compõe de alguns elementos narrativos e de uma parte do diálogo entre Josué e o povo.
A leitura narra a reunião das tribos de Israel em Siquém. É a chamada assembléia de Siquem. O pano de fundo de Josué 24 parece ser um século com uma situação politicamente muito instável e com uma constante repressão da fé em Deus. Isto nos leva a cogitar no tempo entre 701-609 antes de Cristo. Este período foi inicialmente marcado pelo rei de Judá Manasses (696-641 antes de Cristo). Este rei manifestou de tal maneira a sua submissão e lealdade ao rei pagão dos assírios, para se conservar no trono de Judá, que transformou o Templo de Deus em Jerusalém, em um santuário dos deuses assírios. Por causa desta sua atitude errada no campo político-religioso, a qualquer preço, ele foi chamado pela fonte deuteronomista de o apóstata por excelência, isto é, traidor da fé.
Este oposto que Josué fala entre o Deus verdadeiro e os deuses pagãos tem suas razões bem obvias porque o povo israelita, convocado para Siquém e colocado diante de Deus, já há muito tempo não tem mais só experiências com Deus, mas também com outros deuses pagãos.
O discurso de Josué enumera as maldições e os castigos que sancionarão toda infração à Aliança (versículos 19-24; cf. Deuteronômio 27), enfim, a citação do rito da Aliança e a da redação do contrato sobre um monumento (versículos 25-28). Este fundo primitivo sem dúvida inspirou a redação do relato da Aliança do Sinai no Êxodo; e o código cuja promulgação no Sinai este livro fixa, teria sido, na realidade, promulgado na assembléia de Siquém. Com efeito, Siquém foi, durante algum tempo, o, lugar privilegiado da lembrança da Aliança com Deus.
Mas o sinal pelo qual as tribos aceitam realmente as condições da Aliança será o abandono dos falsos ídolos: portanto, toda a Aliança supõe uma conversão, e esta se refere ao abandono dos antigos deuses da Mesopotêmia, adorados pelos antepassados de Abraão, e dos deuses cananeus conhecidos pelas tribos que ficaram na Palestina.
A finalidade da Aliança entre as tribos não é, antes de tudo, política, mas religiosa: o serviço de Deus (versículos 14-15). Trata-se, sem dúvida, da organização do culto do Senhor sob a forma de clãs: doze tribos se organizavam por turnos, cada um durante um mês, o “serviço” de um templo comum (talvez o lugar alto de Siquém).
O relato da assembléia de Siquém esclarece de modo interessante o conteúdo da Aliança. O conteúdo dessa Aliança não é de inicio o fato de um Deus que reconhece um povo ou o fato de um povo já constituído que reconhece seu Deus; ela é, antes de tudo, a constituição de um povo em torno de uma fé comum e de um culto comum. Em outros termos, Israel nasceu política e culturalmente no momento em que, política e cultura, unidos, reconhecia seu Deus. Nacionalidade e religião, são inseparáveis: é enquanto povo que os hebreus são “eleitos” e é um comportamento coletivo que conduz a Aliança religiosa.
A Aliança não é apenas um tipo de relação entre Deus e pessoas individuais: ela é, mais exatamente, a solidariedade que pessoas constatam entre si, porque servem o mesmo Deus. O serviço de Deus pode ampliar-se de novas dimensões, desde Jesus Cristo; mas a Aliança é sempre uma maneira de viver juntos, porque Deus vive conosco. Essa concepção questiona muito a cultura e o individualismo de hoje e essa maneira intimista de se dirigir a Deus esquecendo o comunitário e o social.
Esta leitura põe o povo diante de uma escolha fundamental. Josué organiza a assembléia de Siquém, como a reunião constitutiva do povo. É o ponto de partida de um movimento novo que tem raiz no êxodo. O povo deve aceitar sua nova identidade teológica, social, cultural e antropológica.
As palavras “nos tirou, a nós e a nossos pais…” tantas vezes repetidas, se referem ao povo reunido em Siquém que não saiu do Egito e, em sua maioria, não passou pelo deserto. Mas todos nós estávamos lá, na casa da escravidão, e todos fomos libertos. É a fé em Deus aliado dos pobres, e não o sangue que os une nessa Aliança tribal.
Josué interpela o povo sobre a qual Deus quer servir, e o povo renova liturgicamente o compromisso de fé. O tema central da assembléia de Siquém é fazer opção consciente a quem desejam servir. É preciso identificar o Deus do êxodo com aquele que vê a opressão do povo, que ouve o grito de dor e conhece seus sofrimentos; que está decidido a descer para libertá-lo do poder dos opressores (Êxodo 3,7-8). É o Deus de seus pais, o Deus da história. Precisa-se também reconhecer os deuses “estranhos”, imagens corrompidas de Deus, que geram escravidão e morte.
As tribos de Israel fazem um pacto de amor com este Deus dos pobres. Tal Aliança exige decisão/adesão, como Jesus exigiu e exige de seus(suas) seguidores(as).
Salmo responsorial – 33/34,2-3.16-23. É um Salmo sapiencial, mas a ordem das estrofes está no sentido de ação de graças individual (versículos de 2-11) e instrução no estilo de Provérbios, sobre o destino dos justos e dos ímpios (versículos 12-23). O Salmo de hoje constitui uma ação de graças pela presença e ação libertadora de Deus em nossa vida.
O rosto de Deus neste Salmo é muito interessante. O Salmo faz uma longa profissão de fé no Deus da Aliança, aquele que ouve o clamor, toma partido do pobre injustiçado e o liberta. Deixemos que o próprio Salmo mostre o rosto de Deus. É uma imagem forte, que mostra o Deus aliado como guerreiro que luta em defesa de seu parceiro na Aliança. Cuida dos justos (versículo 16), ouve atentamente seus clamores (versículo 16), enfrenta os malfeitores e apaga da terra a lembrança deles (versículo 17), escuta os gritos dos justos e os liberta dos apertos (versículo 18), está perto dos corações feridos e salva os que estão desanimados (versículo 19), liberta o justo de todas as desgraças (versículo 20), protegendo-lhe os ossos (versículo 21); põe-se contra os injustos e os condena (versículo 22), resgatando a vida dos seus servos, ou seja, os justos que o temem (versículo 23).
Este Salmo encontra em Jesus um sentido novo e insuperável. O próprio nome Dele resume tudo o que fez em favor dos pobres que clamam (Jesus significa “Javé salva”). A missão de Jesus é levar é levar a boa notícia aos pobres (Lucas 4,18). Maria de Nazaré ocupa o lugar social dos empobrecidos e, no seu hino, retoma o versículo 11 do Salmo: “Os ricos empobrecem e passam fome” (comparem com Lucas 1,53). Os pobres agradecem a salvação que Jesus lhes trouxe. É, por exemplo, o caso de Maria, que unge os pés de Jesus com perfume (João 12,3), como sinal de agradecimento por ter devolvido a vida ao irmão Lázaro.
Resume, assim, tudo o que Jesus fez em favor dos pobres, perseguidos e injustiçados que clamam. Ele acampou ao redor dos que o temem. Com o salmista, Pedro pode testemunhar: “Provai e vede, quão suave é o Senhor! Feliz o homem que tem nele o seu refúgio.”
Que, pela oração deste salmo, o Senhor nos renove na alegria de participar do seu projeto e nos dê inspiração e força para colaborarmos efetivamente nas lutas de libertação do povo de Deus.
R: PROVAI E VEDE QUÃO SUAVE É O SENHOR!
Segunda leitura – Efésios 5,21-32. Na leitura de hoje antes de ser um privilégio trata-se de uma responsabilidade dada ao homem, imitar o Cristo, e não uma justificativa para qualquer espécie de despotismo.
A carta manifesta claramente a altíssima concepção do matrimonio cristão já esboçado em 1Coríntios 7,1-9, tomando por modelo a relação Cristo-Igreja.
Na comparação entre a realidade de Cristo e a dos homens, porém, percebe-se imediatamente uma diferença marcante: Cristo, cabeça, é a salvação da Igreja, seu Corpo. O marido que ama sua esposa a ponto de dar a sua vida por ela, de algum modo “a salva”.
Cristo é cabeça da Igreja enquanto é seu chefe e a salva, isto é, a ama como o seu próprio corpo, entregando-se por ela; por isso a Igreja necessariamente lhe é submissa. Pode-se então concluir que se o marido preenche esses requisitos, necessariamente a mulher encontrará sentido em lhe ser submissa em tudo, quer dizer, sem caprichos ou abusos. Precisamos entender que o apóstolo Paulo viveu numa época em que todas as mediações no lar passavam pelo homem. E até na nossa cultura ocidental até uns quarenta anos atrás também era assim. Hoje não é mais assim, o homem não é mais o provedor do lar.
Por um momento Paulo volta à situação anterior à fundação da Igreja-comunidade. O anúncio da Palavra e o batismo constituem a comunidade, transformam um grupo de pessoas em Igreja, fazem com que desapareçam “manchas, rugas e coisas semelhantes”, características do homem velho, e nasce uma comunidade “santa e irrepreensível”. Cristo amou as pessoas e deu a elas a condição de constituírem na Igreja o seu Corpo e de serem a Igreja, sua esposa. O batismo e a Palavra purificam as pessoas (cf. João 15,3; 13,3; 13,6.11) e são uma explicitação do que seja o amor de Cristo pela Igreja. Essa mesma imagem encontra-se no profeta Ezequiel (16,9), referindo-se a Israel que pelo banho se prepara para a Aliança, como também entre os orientais se preparava a noiva, através de banhos rituais, para o casamento.
Se o apóstolo Paulo passa da imagem das núpcias de Deus e de Israel à das núpcias de Cristo e da Igreja, é para ressaltar que é em Cristo que o amor unificante de Deus pela humanidade atingiu sua plenitude, plenitude decisiva para a história da humanidade.
Podemos ver então no matrimonio cristão o reflexo da misteriosa união de Deus com a humanidade, e o casal cristão verá na relação Cristo-Igreja o modelo de sua vida.
Podemos ver na carta aos Efésios, a forte influência cultural que estabelece a desigualdade entre homem e mulher. Iluminados pela Aliança que Deus faz com a humanidade, a qual encontra a sua plenitude em Jesus Cristo, reconheçamos ai uma interpretação sexista para o nosso tempo. “O texto parece bem distante daquela igualdade entre marido e mulher já apresentada em 1Coríntios 7,3-5.10-17 e Marcos 10,11-12”.
O versículo 21, que fala: “Vocês que temem a Cristo, sejam solícitos (submetam-se) uns para com os outros”, deve orientar os versículos 22-24. Não se pode tirá-los do contexto. Seria uma afronta às mulheres e uma distorção do propósito do autor que, nesta carta, desenvolve uma teologia da Igreja: Deus revelou todo o mistério de sua vontade de unir em Cristo todas as coisas.
Evangelho – João 6,60-69. No Evangelho de hoje, Jesus pergunta aos discípulos, num momento de crise, se eles também querem abandoná-lo. É a hora da decisão, em que cada um tem de fazer sua opção, dar sua resposta que terá conseqüências.
“Dura é esta palavra” (versículo 60). Considerando-se o contexto imediato, parece que a dificuldade da palavra de Jesus se refere ao dar seu corpo e sangue em comida e bebida (versículo 52-58). Para a multidão de coração duro era difícil aceitar que Jesus vem do céu. Mais difícil ainda, responde o próprio Jesus, será admitir que Ele volta para o céu (versículo 62). É principalmente o volta de Jesus para o céu, isto é, a fé na ressurreição de Jesus Cristo, que afasta os candidatos, ou, como ilustra o texto, instaura uma divisão entre os que crêem e os que não crêem.
A resposta que Jesus dá a eles não é uma objeção ao que eles pensam porque não resolve o “escândalo” que eles enfrentam (versículo 61). Antes, determina melhor o momento que é a “exaltação de Jesus” (cf. João 3,14-16; 12,32s; 17,1ss) que representa o contrário da fé. Ma é também a partir dessa exaltação, que a fé se torna possível (pelo dom do Espírito Santo, cf. 7,39 e 6,63!). Mais ainda ela é o conteúdo fundamental da fé.
Humanamente falando, não é possível reconhecer em Jesus de Nazaré um enviado de Deus. Só é possível à luz da sua ressurreição e exaltação por Deus que reconhecemos Jesus como enviado de Deus e suas palavras se tornam realidade divina para nós, “espírito e vida” (versículo 63). Isto é muito sério: Jesus não é mensageiro de Deus por causa daquilo que humanamente podemos apreciar nele (por exemplo, sua inteligência, sua visão da sociedade), mas por aquilo que é revelado em sua exaltação. Ora, a “exaltação” de Jesus, segundo João, realiza-se, antes de tudo, na cruz (João 12,32s). É no mistério da Cruz que Jesus se torna compreensível… Quem não O compreender naquele momento, nunca O compreenderá! Nesse sentido, o versículo 63 provoca uma decisão a favor ou contra, e é nos mesmos termos que Pedro dará a resposta favorável no versículo 67. Portanto, depois do ensinamento de Cristo, a “exaltação” não forma tanto um novo “escândalo”, mas mostra a sua verdadeira doação de vida que prova esse escândalo. O escândalo de Jesus é que o Revelador do Pai é aquele que é elevado na cruz e assim, e só assim, também na glória. Sem a elevação na cruz não acontece a entrada na glória.
“Tu tens palavras de vida eterna” ( versículo 67). Na decisão, Pedro confirma o que foi provocado por Jesus no versículo 63. Pedro reconhece que só o Espírito vivifica, e que esse mesmo Espírito se encontra na Palavra de Jesus. Na situação de desafio é que a pessoa toma a sua decisão de fé, e é nesta decisão que Cristo e sua Palavra se tornam revelação para todos nós. Pedro chama Jesus o Santo de Deus (versículo 69). Diferentemente de Mateus, Marcos e Lucas, João evita dar a Jesus um título tecnicamente messiânico. Na Profissão de Fé de Pedro, nos outros três evangelhos, Jesus é confessado como Cristo, ou seja, Messias. João evita esse título aqui, para excluir qualquer categoria “carnal”. Pois os judeus pensavam o Messias em termos bastante “carnais” que seria um messianismo terrestre, nacional etc. Para eles o Messias viria para resgatar a dinastia de Davi e libertar Israel do domínio do Império Romano.
É decisão/adesão que caracteriza o verdadeiro discípulo. Os judeus esperavam um Messias triunfal. Não poderiam aceitar um Messias humilde, crucificado, alheio aos sonhos teocráticos deles. Mais difícil ainda era aceitar que a manifestação da glória de Deus se daria na fragilidade da Encarnação e no escândalo da cruz.
Jesus diz aos discípulos que, se eles estavam se escandalizando antes da sua paixão e morte, o que diriam quando o vissem subir ao Gólgota, isto é, no Calvário? Antes de elevar-se para a glória de Deus, ele assumiria uma cruz, numa oferta total de sua vida. Sua “subida” é o gesto supremo de serviço à humanidade que precisa de cura, de redenção, de alegria. Muitos entenderam, outros não, e por isso deixaram de segui-lo, porque sua resposta foi tornando-se muito exigente, humanamente inaceitável.
3- FUNÇÃO NA LITURGIA DO DIA
A liturgia desse domingo composta de partes de diferente natureza. A segunda leitura durante o Tempo Comum não participa da temática comum do Evangelho e nem da primeira, isto é, não tem ligação com as outras leituras. Na primeira leitura é exigida a decisão dos israelitas a favor ou contra o Senhor numa resposta. Esta decisão tem razões humanamente digna de aplauso: o Senhor é quem libertou Israel do Egito. A escolha a favor ou contra Jesus, sugerida por João no Evangelho, não tem tais razões humanamente interessantes. Trata-se de entregar-se a um modo de existir que não é nosso. Jesus não fornece argumentos: a fé é a fé. Trata-se de aceitar essa vida de Jesus como sendo sua volta à existência na glória “antes da fundação do mundo” (João 17,1ss), e de tirar ai a lição: este é o rumo da “vida eterna”.
4- DA PALAVRA CELEBRADA AO COTIDIANO DA VIDA
A fé cristã exige decisão e adesão sem reservas a Jesus Cristo cujas palavras prometem e comunicam a vida eterna. Jesus é de maneira definitiva o enviado que o Pai consagrou, isto é, Ele é a revelação definitiva. Portanto, não devemos esperar uma nova revelação, como anunciam certos grupos por ai. A escolha para segui-lo não suprime a liberdade e não impede a possibilidade de traição. Seguir Jesus impõe condições que nem todos aceitam.
Servir o Senhor da vida é penoso e exigente, e podemos resistir à tentação de “ir embora” e largar o seguimento como fizeram e fazem muitos discípulos até hoje.
Hoje existem formas discretas de nos retirar da caminhada sem dar muito na vista: ficar na comunidade sem assumir ou sem se importar com o projeto de Jesus, vivendo uma religião como rotina, e individualista, para ter a consciência em paz; escolher trechos mais convenientes do Evangelho, escolher orações e cantos de linha individualista sem compromisso coma comunidade e com o social e fingir não ver as exigências cristãs da caridade, da justiça e da ação transformadora da sociedade; inventar um “meu Jesus” ao gosto de cada um, que nos incomode pouco, ou nada, e faça sempre a “nossa vontade”. Esquecemos que na oração do Pai Nosso rezamos: “seja feita a vossa vontade assim na terra como céu”. E, no entanto, muitas vezes, prevalece a “nossa vontade”.
Lendo e meditando com atenção esse Evangelho, descobrimos que o discipulado se baseia numa exigência fundamental de Jesus: a adesão à sua pessoa. Cristo não se impõe. Toda pessoa é livre para aderir ou rejeitar o seu projeto. De fato, muitos se afastaram diante da exigência da fé. Mas os que perceberam o sentido e a profundidade da Palavra de Jesus fizeram uma entrega total: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna.”
Chegando a este ponto do relato de João sobre o pão da vida, entendemos que Jesus não abre mão de sua opção de vida, e isto gera uma profunda crise entre os seus discípulos. Muitos de afastaram diante da exigência da fé. Jesus prefere perder os discípulos que renunciar à missão que o Pai lhe confiou. Ele não aceita ser um Messias segundo a carne, isto é, alguém que impõe o seu governo. Também não aceita ser um Messias que satisfaça os caprichos de um povo que não aceita exigência nenhuma.
Servir ao Senhor da vida torna-se duro e exigente. São muitas as tentações e hostilidades. Nos deparamos, muitas vezes, com as nossas próprias impossibilidades: queremos o caminho do Espírito, mas somos atraídos pela vontade da acomodação, a vontade de ir embora.
Não é fácil permanecer fiel. É o grupo de trabalho, é a comunidade cristã, é a família, são os amigos. São tantas as dificuldades. Principalmente dificuldade nos relacionamentos. Às vezes temos dificuldade de conviver até com as pessoas mais íntimas com quem vivemos uma relação de amizade. É difícil aceitar as contradições dos outros e, pior ainda, assumir as nossas próprias contradições.
Nesta celebração, peçamos que o Senhor nos ensine a não fugir do conflito e que jamais percamos o encanto pela vida, apesar de todas as dificuldades que possamos encontrar em nosso caminho. Que a nossa resposta a Jesus seja como a de Pedro: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna”.
Será que é possível se dizer cristão, freqüentar a igreja, sem de fato ter tomado uma decisão verdadeira de seguimento de Jesus e de seu projeto?
5- A PALAVRA SE FAZ CELEBRAÇÃO
Os discípulos, ao aderirem, conscientemente, ao Cristo, abrem para todos os seguidores uma nova possibilidade: passar da condição de “meros seguidores” à de membros do corpo de Cristo Vivo.
É em vista disso que Paulo relê o relato do Gênesis sobre o casal humano, em um contexto eucarístico-eclesial. Em Gênesis temos a união do casal que forma “uma só carne”. Em Efésios, a união de todos os membros num só corpo: o corpo de Cristo.
A constituição pastoral sobre a Igreja no mundo de hoje, recorda-nos que a Igreja permanece no mundo como sinal do Reino definitivo, contribuindo para o seu aperfeiçoamento, a fim de preparar “novos céus e nova terra”, conforme o projeto divino.
É como Igreja corpo de Cristo vivo, que devemos optar sempre por Cristo e seu Reino. Essa opção é exigente e muitas vezes incompreensível, mas deve ser uma decisão firme. Em Cristo temos, apenas, as palavras; mas nessas palavras e em sua configuração, a garantia da vida eterna. Viver da vida do Cristo é o galardão de uma adesão firme e fiel ao Cristo que veio para nos salvar, para nos reconciliar com nosso Criador e Pai.
6- LIGANDO A PALAVRA COM A AÇÃO EUCARÍSTICA
Na celebração nos abrimos ao convite que o Senhor nos faz pela Palavra a uma opção decisiva por ele, superando os estímulos da “carne” para viver no Espírito. Professamos nossa fé inspirada na afirmação de Pedro: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos e firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus.
Na liturgia da Palavra, ouvimos o Senhor, dialogamos com Ele, refletimos sobre as suas propostas, constatamos, claramente, como os discípulos, muitas exigências, duros desafios que precisamos enfrentar com convicção.
Suplicamos que Ele nos ensine a não fugir dos conflitos e a não perdermos a alegria de viver, apesar das dificuldades encontradas em nosso caminho.
Na liturgia eucarística, agradecemos ao Pai, que, em Jesus, fez uma opção amorosa e comprometedora pela humanidade. Ao celebrar o “mistério da fé” somos provocados a superar as aparências e olhar como os olhos da fé o mistério de nossa vida e da vida dos irmãos e irmãs.
7. ORIENTAÇÕES GERAIS
1. Acolher de maneira fraterna as pessoas que vão chegando para a celebração.
2. Dia 27 de agosto, celebramos a memória de santa Mônica, exemplo de mãe, que, com muita fé, orou durante trinta anos pela conversão do filho, Santo Agostinho.
3. Dia 28 de agosto, celebramos a memória de Santo Agostinho, Bispo e Doutor da Igreja. Agostinho converte-se ao Cristianismo graças às pregações de Santo Ambrósio de Milão, após uma juventude conturbada deixando numerosos e significativos escritos para a fé católica.
4. Dia 29 de agosto, a Igreja faz memória do martírio de São João Batista. Precursor de Jesus, anunciou sua vinda e foi martirizado por denúncias que desagradaram o rei Herodes, sua amante Herodiades, sua filha e outros poderosos.
8- MÚSICA RITUAL
O canto é parte necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para animar ou enfeitar a liturgia. Por isso devemos cantar a liturgia e não cantar na liturgia. Os cantos e músicas, executados com atitude espiritual e, condizentes com cada domingo, ajudam a comunidade a penetrar no mistério celebrado. Portanto, não basta só saber que os cantos são do Tempo Comum, é preciso executá-los com atitude espiritual. A escolha dos cantos deve ser cuidadosa, para que a comunidade tenha o direito de cantar o mistério celebrado. A função da equipe de canto não é simplesmente cantar o que gosta, mas cantar o mistério da liturgia deste 21º Domingo do Tempo Comum. Os cantos devem estar em sintonia com o Ano Litúrgico, com a Palavra proclamada e com o sacramento celebrado. Não devemos esquecer que toda liturgia é uma celebração da Igreja corpo de Cristo e não de um grupo, de uma pastoral ou de um movimento.
Dar uma passada nos cantos (refrão e uma estrofe), seguido de um momento de silêncio e oração pessoal, ajuda a criar um clima alegre e orante para a celebração. É fundamental uns momentos de silêncio antes da celebração. O repertório bem ensaiado previamente e com o povo, minutos antes da celebração, irá colaborar para a participação de todos.
2. Canto de abertura. “Clamo por vós o dia inteiro”; oração confiante. “Vem escutar-me, ó Senhor…”, CD: Liturgia VII, mesma melodia da faixa1.
Como canto de abertura da celebração, sugere-se o canto proposto pelas Antífonas do Missal Romano e ricamente musicadas pelo Hinário Litúrgico III da CNBB. Isso não significa rigidez. Mas a equipe de liturgia, a equipe de celebração, a equipe de canto juntamente com o padre têm a liberdade de variar sua escolha, desde que isso manifeste o Mistério celebrado e seja fiel aos princípios que regem a escolha de uma música adequada para a celebração. Uma sugestão, para entender bem o que significa isto, seria esses dois cantos: “Nós somos muitos, mas formamos um só corpo”, CD: Cantos de Abertura e Comunhão, melodia da faixa 6. “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna”, assim nós somos transportados da morte à vida. Nesse sentido podemos cantar o canto: “Canta meu povo, canta o louvor de teu Deus”, CD: Festas Litúrgicas II, melodia da faixa 15.
3. Hino de louvor. “Glória a Deus nas alturas…” Vejam o CD Tríduo Pascal I e II e também no CD Festas Litúrgicas I.
O Hino de Louvor é chamado de “doxologia maior” em contraposição com a “doxologia menor” que é o “Glória ao Pai…”. Trata-se de um hino antiqüíssimo, iniciando com o louvor dos anjos na noite do Natal do Senhor (Lucas 2,14), desenvolveu-se antigamente no Oriente, como homenagem a Jesus Cristo. Não constitui uma aclamação à Santíssima Trindade, mas um hino Cristológico, isto é, os louvores se concentram no Filho Jesus. É um hino pelo qual, a Igreja reunida no Espírito Santo entoa louvores ao Pai e dirige súplicas ao Filho, Cordeiro e Mediador.
4. Salmo responsorial 33/34. Confiança: Deus escolhe o lado do justo. “Provai e vede quão suave é o Senhor!”, CD: Liturgia IX, melodia da faixa 8.
Para que cumpra sua função litúrgica, não pode ser reduzido a simples leitura. É parte constitutiva da liturgia da Palavra e tem exigências musicais, litúrgicas e pastorais.
5. Aclamação ao Evangelho. Cristo tem as palavras da vida. “Aleluia… Ó Senhor, tuas palavras são espírito e vida,”, CD: Liturgia VI, melodia da faixa 10. O canto de aclamação ao evangelho acompanha os versos que estão no Lecionário Dominical, página 636.
Esta aclamação é quase sempre “AELUIA” (menos nas missas da Quaresma por seu um tempo penitencial). É uma aclamação pascal a Cristo que é o Verbo de Deus. É um vibrante viva Deus. Os versos que acompanham o refrão devem ser tirados do Lecionário.
6. Apresentação dos dons. Momento de partilha para com as necessidades do culto e da Igreja. Devemos ser oferendas com as nossas oferendas para socorrer os necessitados. “A mesa santa que preparamos”, CD: Liturgia VI, melodia da faixa 23.
7. Canto de comunhão. “Quem come da minha carne,”, CD: Liturgia IX, melodia da faixa 9 exceto o refrão.
O Evangelho nos mostra que Jesus é a única verdade que devemos buscar, Ele nos tira das trevas para a luz. É o caminho que nos conduz ao Pai: “Vós sois o Caminho a Verdade e a Vida, o Pão da alegria descido do céu”, Hinário Litúrgico III da CNBB, página 353. Este é antigo e bem conhecido.
O canto de comunhão deve retomar o sentido do Evangelho do dia. Esta é a sua função ministerial. Na realidade, aquilo que se proclama no Evangelho nos é dado na Eucaristia, ou seja: é o Evangelho que nos dá o “tom” com o qual o Cristo se dirige a nós em cada celebração eucarística reforçando estes conteúdos bíblico-litúrgicos, garantindo ainda mais a unidade entre a mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia.
9- ESPAÇO CELEBRATIVO
1. A mesa da Palavra receba também destaque semelhante à mesa eucarística: toalhas, cor litúrgica (verde). Os enfeites não podem ofuscar as duas mesas principais: mesa da Palavra e o altar.
O Altar, portanto, não é em absoluto um móvel, mas sim, um símbolo. E por ser símbolo, deve ocupar um espaço que lhe seja próprio, ou seja, que nenhum outro objeto esteja muito próximo do Altar, diminuindo sua importância. Assim, evitem-se pedestais com flores e grandes arranjos muito próximos do Altar, que podem ser obstáculos à visibilidade e distrair a atenção dos símbolos do pão e do vinho que estão sobre ele. Convém lembrar que as flores devem destacar o Altar e não encobri-lo. Mesmo as velas, preferentemente o Círio Pascal, símbolo da luz do Cristo ressuscitado, devem estar em pedestais separados do Altar.
Desde modo, durante todo o tempo da Liturgia da Palavra, o Altar permanece sem nada em cima: nem livros, microfones ou galhetas. O Altar recebe o livro (missal) e os vasos sagrados, o pão e o vinho, que são trazidos na procissão das oferendas, para serem apresentados pelo presidente da celebração (cf. IGMR, n. 100).
10. AÇÃO RITUAL
A equipe de acolhida, incluindo quem preside, recebe as pessoas que vão chegando de maneira afetuosa, saudando-as cordialmente.
Valorizar a presença e a participação dos(as) catequistas nos vários momentos da celebração, sobretudo na liturgia da Palavra.
Ritos Iniciais
1. A celebração tem início com a reunião da comunidade cristã (IGMR 27.47). O canto de abertura começa tendo em conta essa realidade eclesial, e vai introduzir a assembléia no Mistério celebrado.
2. O sentido litúrgico, após a saudação do presidente, pode ser feito por quem preside, pelo diácono ou um ministro devidamente preparado com palavras semelhantes às que seguem:
Domingo a profissão de fé de Pedro. Escutando a confissão de Pedro na pessoa de Jesus, renovamos a nossa fé e retomamos como novo fervor a nossa missão. Celebramos a Páscoa de Jesus Cristo que se manifesta em todas as pessoas e grupos que confessam sua fé profunda em Jesus e se tornam testemunhas do Reino de Deus.
3. Em seguida fazer a “recordação da vida” trazendo os fatos que são as manifestações da Páscoa do Senhor na vida da comunidade, do país e do mundo, mas de forma orante e não como noticiário. Deve ter presente a realidade dos(das) catequistas.
4. Se a opção é rezar o ato penitencial, sugerimos que a motivação para o Ato Penitencial seja a fórmula I da página 390 do Missal Romano levando em conta que somente Cristo tem palavras de vida eterna.
O Senhor Jesus, que nos convida à mesa da Palavra e da Eucaristia, nos chama à conversão.
Após uns momentos de silêncio rezar ou cantar o Ato Penitencial da formula 5, para os domingos do Tempo Comum na página 394 do Missal Romano, que destaca Cristo como plenitude da verdade e da graça.
5. Cada Domingo do Tempo Comum é Páscoa semanal. Cantar de maneira festiva o Hino de louvor (glória).
6. A Oração do Dia deste Domingo apresenta bem a questão principal da liturgia, quando nos conclama a reconhecer onde encontrar a “verdadeira alegria”, ou seja, onde encontrar nosso terreno sólido, nossa segurança e salvação.
Rito da Palavra
1. A homilia deve ajudar a assembléia fazer a renovação de sua opção por Cristo. Ele não se impõe, mas se propõe. No final da homilia, quem preside pode convidar a assembléia a repetir o versículo 18 do texto de Josué: “Nós também serviremos ao Senhor, porque ele é o nosso Deus, em seguida fazendo suas também as palavras de Pedro: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. “Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus” (versículos 68-69).
Rito da Eucaristia
1. Valorizar nesse dia a procissão das oferendas levadas pelos próprios fiéis, pois “embora os fiéis já não tragam de casa, como outrora, o pão e o vinho destinados à liturgia, o rito de levá-los ao altar conserva a mesma força e significado espiritual” (IGMR, nº 73).
2. Na Oração sobre o pão e o vinho destaca que o sacrifício de Cristo através da Cruz, trouxe paz e unidade para o povo.
3. Se for escolhida as Orações Eucarísticas I, II e III, quer admitem troca de Prefácio, sugerimos o Prefácio para os Domingos do Tempo Comum IX, página 436 do Missal Romano o qual destaca o Domingo, dia da assembléia reunir para escutar a Palavra de Deus. Cristo tem palavras de Vida Eterna. “Hoje, vossa família, para escutar vossa Palavra e repartir o Pão consagrado, recorda a Ressurreição do Senhor…”. Se for escolhida uma das orações eucarísticas com prefácio próprio, seria oportuno a Oração Eucarística V, do Congresso Eucarístico de Manaus que destaca a nossa esperança de entrar na vida eterna.
Ritos Finais
1. A Oração depois da comunhão destaca que a Eucaristia como sacramento do amor, nos transforma para agradar a Deus
2. As palavras do rito de envio devem estar em consonância com o mistério celebrado: “Somente Cristo tem palavras de vida eterna”. Ide em paz e o Senhor vos acompanhe!
3. É comum além, de entrar em procissão no início da celebração guiados pela cruz, também retirar-se do espaço sagrado em procissão, igualmente guiados pela cruz.
11- CONSIDERAÇÕES FINAIS
“A quem iremos, Senhor? “ Esta pergunta é absolutamente fundamental na vida de todo ser humano, de toda família, de toda comunidade. A quem procurar, se desejamos a salvação? A quem procurar se desejamos a verdade, a honestidade, a fidelidade, a certeza, a segurança? Talvez esta pergunta nunca tenha sido tão oportuna quanto o e é em nossos dias. Vivemos num mundo de muitas incertezas, e há pessoas que, freqüentemente e facilmente, deixam a Igreja de Cristo e vão para tantas seitas que prometem mundos e fundos, de uma doutrina para outra, de um líder a outro, em busca de algo que não conseguem encontrar.
Celebremos a Páscoa semanal do Senhor valorizando os que assumem a sua missão em nossa diocese e no mundo inteiro, levando Jesus Cristo o “Santo de Deus” para a salvação de todos.
O objetivo da Igreja e da nossa equipe diocesana de liturgia é ajudar os padres e as comunidades de nossa diocese e todas aquelas outras comunidades fora de nossa diocese que acessar nosso site celebrar melhor o mistério pascal de Cristo.
Um abraço fraterno a todos
Pe. Benedito Mazeti

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