Leituras
Isaias 43,16-21
Salmo 125/126,1-6
Filipenses 3,8-14
João 8,1-11
“QUEM DENTRE VÓS NÃO TIVER PECADO SEJA O
PRIMEIRO A ATIRAR-LHE UMA PEDRA”
1- PONTO DE PARTIDA
Domingo da
pecadora perdoada. Já estamos bem próximos das celebrações pascais. Neste
Quinto Domingo da Quaresma, o Pai misericordioso, que sempre nos aguarda em sua
casa e alegra-se com nossa chegada, quer nos convencer ainda mais de que nossa
situação de pecado não o imobiliza.
Ele não leva
em conta o nosso passado, porque seu amor enxerga nossa possibilidade futura de
mudança e transformação. Que o Senhor defenda a nossa causa contra a impiedade
e venha em socorro de nossa oração.
Já fizemos uma
boa caminhada quaresmal. Durante essa caminhada, lendo o Evangelho de Lucas,
vimos e celebramos: o Jesus que vence o tentador; o Jesus que lá na montanha
(Monte Tabor) nos revela seu brilho divino; o Jesus que nos alerta para a
importância da conversão; o Jesus que nos mostra de que jeito Deus é: um Pai
misericordioso que acolhe o filho arrependido de retorno à casa. Neste Quinto
Domingo mais uma vez contemplamos a misericórdia de Deus que acolhe e perdoa.
2- REFLEXÃO BÍBLICA, EXEGÉTICA E LITÚRGICA
Primeira leitura – Isaias 43,16-21. O
povo de Israel estava cativo na Babilônia. O trecho da primeira leitura é parte
do poema de um profeta, discípulo de Isaías, cujo tema é a relação histórica de
Deus com Israel.. Este Isaías, cujo tema é a relação histórica de Deus com
Israel. Este Isaías "júnior" teve a missão de animar a esperança
frágil dos exilados. Trazendo à memória o Êxodo, ele garante que Deus vai
realizar um novo Êxodo, por meio da força e organização do próprio povo. Nesta
primeira parte (vv. 14-21), o oráculo anuncia a libertação do exílio da
Babilônia.
Deus
manifestando seu amor e bondade para com Israel enviando Ciro contra a
Babilônia para abrir as portas dos cárceres (versículo 14) e assim podem os
exilados voltar em paz.
Podemos ver que no original não aparece o nome de Ciro, mas é
submetido, do contrário a frase ficaria ininteligível.
O
povo é convidado a preparar-se, transformando a própria consciência para esse
novo êxodo pelo deserto, não mais pelo mar como na saída do Egito. Ele lembra
as maravilhas que Deus realizou em favor da libertação de seu povo e garante
que fará ainda mais, através da organização, da força e da boa vontade do
próprio povo oprimido. Em sua visão acontecerão novo paraíso e novo Êxodo ao
mesmo tempo, até no deserto vão se abrir caminhos e os animais cantarão o
louvor de Deus.
A
memória, a lembrança do que Deus, no passado, realizou por nós ajuda-nos a
acolher a novidade que ele nos oferece, no dia-a-dia, para avançar na
construção de nova vida.
Para
o cristão a intervenção de Jesus Cristo na história é um acontecimento
primordial. É sempre em referência a este acontecimento primordial que o Povo
de Deus não cessa de ler sua própria história. Jesus é o Homem. Sua morte e sua
vida dominam nossa morte e nossa vida ao ponto de dar-lhes sentido. Nossos
sofrimentos realizam o que já estão contidos nos seus (Filipenses 3,8-14).
O
Salmo responsorial – 125(126),1-2ab.2cd-3.4-5.6. No Salmo a lembrança da
libertação é intensa: aquela alegria inesperada se torna presente. Na
libertação o Senhor revelou a sua grandeza, de modo que até os pagãos a puderam
reconhecer. O Salmo mistura ação de graças coletiva (1b-3) e a súplica,
expressa em forma de desejo: “Que o Senhor mude a nossa sorte, como as
torrentes no deserto...” (4-6). Nós o consideramos súplica coletiva (“a nossa
sorte”), celebrando as vitórias do povo, e súplica coletiva, em forma de desejo
de transformar o sofrimento em esperança, as lágrimas em canções. O Salmo
expressa, na oração, o sentimento que perpassa os textos deste Domingo:
"Muda, Senhor, nossa sorte".
O
rosto de Deus no salmo. Uma ação passada e uma ação esperado (futuro) marcam o
rosto de Deus neste salmo. A ação passada é o fim do exílio na Babilônia (mudança
de sorte para Sião), e a ação esperada é repetição da anterior (mudança de
sorte para o povo, transformando a situação de “deserto” em vida). Na ação
passada, nações e Israel reconhecem que Deus foi grande para com seu povo. Para
a ação futura, espera-se que continue sendo grande, transformando as lágrimas
de semear em canções de colher. Por que? Porque Deus é essencialmente o aliado
que liberta seu povo sempre e em qualquer situação, realizando para ele o que o
ser humano mais deseja, a liberdade e a vida. Fica muito claro que o rosto de
Deus é de um Deus libertador.
Vários
aspectos deste salmo ecoam na vida de Jesus. A vida de Jesus foi a mudança de
sorte para os pobres, e a ressurreição dele é a grande mudança de sorte para o
povo, a ponto de os discípulos se sentirem fora de si por causa da alegria e do
espanto (Lucas 24,41; João 20,19-20). E quando subiu ao céu, voltaram cheios de
alegria. Jesus comparou os sofrimentos de seus discípulos às dores de parto que
geram o novo, fazendo esquecer as lágrimas passadas (João 16,20-24). Maria
assume como próprio este salmo, celebrando o Senhor que fez grandes coisas em
seu favor (Lucas 1,49).
Retomando este
salmo como qual o povo proclamava a volta do cativeiro, cantemos a alegria
profunda de podermos, nós também, sair de nossos cativeiros e proclamarmos as
vitórias que acontecem na caminhada do povo, pela vitória de Jesus Cristo.
MARAVILHAS
FEZ CONOSCO O SENHOR,
EXULTEMOS DE ALEGRIA!
Segunda leitura – Filipenses 3,8-14. A segunda leitura, da Carta aos Filipenses, mostra
Paulo lembrando-se de seu passado e o considerando como esterco, pelo
afastamento da verdadeira proposta de Deus. Ele nos convida, como fez Jesus à
mulher, a deixar o passado para trás e nos lançarmos em busca do seguimento de
Cristo, que é nossa vida. Para isso precisamos ser verdadeiros atletas. Seguir
Jesus é conquista diária, conversão constante.
A
Lei que fora considerada pelos judeus como sinal de predileção por parte de
Deus, desde que Cristo “alcançou” Paulo, passou a ser considerada por ele como
perda. Sua conversão modificou sua vida e seus valores. Tudo o que há no mundo
não resiste a uma comparação com a riqueza do conhecimento de Cristo. Não se
trata de um ressentimento de Paulo contra o Judaísmo, mas de uma realidade nova
que envolve o Apóstolo, aprofundou-se com o tempo.
O
único ganho agora é Cristo, e ser possuído por Ele. Assim o termo “meu Senhor”,
usado por Paulo, é uma verdadeira profissão de fé em Jesus, Senhor como Javé.
Chegar à plena comunhão com Cristo é agora sua única aspiração.
É
claro que a ressurreição que Paulo espera alcançar não é a ressurreição em
geral que se imporá a bons e maus, mas trata-se da ressurreição para a vida.
Certos fiéis em Filipos aceitavam a assemelhar-se a Cristo só quanto à
ressurreição e consideravam a doutrina da participação nos sofrimentos como
escândalo. Nesta carta, o Apóstolo mostra a dupla dimensão da vida: morte e
ressurreição.
O
Apóstolo Paulo escreve aos irmãos da comunidade de Filipos lembrando-lhes a
responsabilidade de participar com totalidade no mistério da morte e
ressurreição do Senhor. Ele mesmo, estando na prisão, dá provas de extrema
fidelidade a Jesus Cristo, e, assim, por meio da força e organização do próprio
povo.
O Apóstolo
compara a vida do cristão é como uma corrida no estádio, mas ele não deve
apenas competir, ele é convidado a vencer, a alcançar a meta proposta.
Evangelho – João 8,1-11. O Evangelho de
hoje é reconhecido como texto de João; no entanto, o vocabulário, o estilo e o
tema levam a pensar que não pertence ao quarto evangelho. O trecho de João
7,53-8,11 não se encontrava nos manuscritos mais antigos. Chamando de
"perícope lucana", trata-se de uma tradição independente, inserida
posteriormente. Alguns manuscritos colocam-na após Lucas 21,38.
O
monte das Oliveiras é o lugar de oração pessoal de Jesus, onde às vezes passava
a noite orando. A madrugada é considerada o momento da graça, propício para
ouvir a Palavra de Deus. Jesus encontra-se no Templo de Jerusalém e enfrenta
uma cilada armada pelos escribas e fariseus contra ele, usando a fraqueza de
uma mulher. Se Jesus aceitar a acusação que recai sobre a mulher, estará
aprovando o homicídio e contrariando suas atitudes de bondade e acolhimento dos
pecadores; se libertá-la, desobedecerá à lei de Moisés. A lei decretava pena de
morte por apedrejamento à mulher, prometida ou desposada, infiel ao homem a quem
pertencia, mesmo que ainda não convivesse com ele (cf. Levítico 20,10; Deuteronômio
22,21).
Como
caso legal prático, os fariseus apresentam-no a Jesus como armadilha para
condená-lo. Como caso particular, querem um conselho sobre a aplicação da lei
mosaica, uma vez que viram Jesus se "distanciar da lei" ao perdoar
pecadores e com eles conviver.
Jesus
apresenta uma solução inesperada pelos inimigos: manda que a lei seja cumprida,
mas por aqueles que são impecáveis, "justos". Desmascarados, vão
saindo "de fininho". De acusadores, passam a acusados. Se o adúltero
fosse um homem, o castigo não era a morte. A autoridade de Jesus faz com que os
acusadores (homens) tomem consciência da incoerência, da injustiça de dois
pesos e duas medidas, do tratamento desigual entre homem e mulher.
Jesus,
porém, não responde e começa a escrever no chão (versículo 6). Estamos diante
de um gesto obscuro. João não diz o que Jesus escreve. Em Jeremias 17,13, o
nome dos que se afastam do Senhor é escrito na terra: "[...] os que se
afastam serão escritos no pó, porque abandonaram o Senhor, manancial de água
viva". Ao rabiscar no chão, Jesus poderia estar se referindo ao texto do
profeta. A atitude dele desmascara os acusadores. Há um adultério mais grave: a
infidelidade dos dirigentes a seu Deus, denunciada pelos profetas, como em Ezequiel
16.
Jesus,
então dirige à mulher um olhar de profunda compaixão e ternura. Ele desaprova
os que se julgam melhores que os demais e compadece-se de quem aceita sua
misericórdia.
O
evangelho diz que a mulher estava no "centro" e "ficou de
pé". É a ação e atitude de Jesus que devolvem à mulher seu lugar, ajuda-a
perceber que é importante e possui dignidade, que é maior que o pecado e pode
superá-lo. É preciso olhar para frente. Deus sempre realiza "uma coisa
nova" em nós. O
comportamento de Jesus com a mulher revela seu amor e delicadeza, sua
capacidade de acreditar nas pessoas e sua rejeição a todo tipo de farisaísmo.
3- DA PALAVRA CELEBRADA AO COTIDIANO DA VIDA
A Palavra de
Deus neste domingo é um anúncio de alegria, perdão e confiança na transformação
da humanidade. O Senhor diante de nossa fraqueza, não faz cobranças, mas, com
amor e delicadeza, ergue-nos, coloca-nos no centro, muda nossa sorte,
impulsiona-nos, abre novos caminhos no deserto da vida. Nada fizemos para
merecer tanto carinho! No Primeiro Testamento, várias vezes, Deus é chamado de
esposo de Israel. O cristianismo adorou esse simbolismo e chama Cristo de
esposo da Igreja, em uma nova e perfeita Aliança.
Com
sua atitude, Jesus nos ensina um jeito novo de ser e de agir diante de pessoas
que consideramos erradas, pecadoras e perdidas. A lei foi feita para homens e
mulheres, e Jesus não veio para julgar e condenar, mas para salvar e redimir.
Só o amor verdadeiro leva alguém a mudar de vida e encontrar a salvação.
Na quaresma
somos confrontados não simplesmente com a Lei de Deus, para saber se a estamos
praticando ou não, mas sim com a misericórdia de Deus, para saber se a estamos
buscando ou não. O episódio na mulher no Evangelho de hoje nos lembra, em
primeiro lugar, que Deus não quer a morte do pecador, mas que se converta e
viva. É, pois, um convite de Deus para que o procuremos com confiança,
voltando-nos para Ele que de nós, pecadores, tem misericórdia. Lembra-nos
também de que não podemos atirar pedras em ninguém que erra, mas devemos sempre
olhar para nós mesmos e reconhecer que todos falhamos e por isso todos nós
podemos ter a chance de recomeçar e acertar os passos. Não podemos ser juízes
da vida dos outros, mas refletirmos a misericórdia de do Pai manifestada em Cristo Jesus.
Aprendemos
também que o perdão é essencial na vida. Do ponto de vista da economia,
conforme a Campanha da Fraternidade Ecumênica desta ano, é necessário pensar
também numa forma de perdão das dívidas de muitos que, tantas vezes sem
condições de pagá-las, vêem se exaurindo seus recursos de vida, entrando no
círculo vicioso da dependência econômica. É necessário lutar por um mundo mais
justo, onde as relações comerciais também sejam pautadas nos princípios da
solidariedade, mais do que na busca do lucro e no estrito acerto de contas.
Que
direito temos de continuar "jogando pedras" naqueles a quem o sistema
injusto insiste em excluir da vida?
Jesus
nos pede um coração misericordioso, compassivo. Como esta Palavra nos ilumina
hoje e nos ajuda a rever nossas atitudes?
4- A PALAVRA DE FAZ CELEBRAÇÃO
Eu sou bom,
compassivo e clemente
O versículo da aclamação
ao evangelho retoma um hino do profeta Joel e, pondo-lhe na boca de Deus,
revela sua benevolência. A liturgia entende que tal bondade ao ser reconhecida
e bendita tem por beneficiário o próprio povo que a publica e por ela dá
graças. Este é o sentido exato do convite à ação de graças nas anáforas:
"Demos graças ao Senhor nosso Deus! É nosso dever e salvação". Por
isso se entende que, mesmo tendendo, às vezes, ao pecado e à morte a criação
por natureza, é boa e bela porque decorre do querer criativo de Deus, sendo
ressonância de sua voz. A reconciliação que celebramos, portanto, consiste em
"embelezar-nos" mediante a escuta de sua Palavra, recuperando, por
graça, a condição de partícipes da bondade e beleza divinas.
Ter o coração nos
Céus
Um antigo documento,
datado do século V denominado Testamento do Senhor, traz uma proclamação
diaconal imediatamente antes da Oração Eucarística. Seu conteúdo se refere
diretamente ao que acontecerá em seguida e versa sobre a disposição dos que vão
dela participar: "Tende os vossos corações nos Céus. Se alguém tem ódio de
seu próximo reconcilie-se (...)". Percebemos que, para ser admitidos à
Ação de Graças, os fiéis deveriam ter clareza de ter o coração no alto, o que
verificavam contemplando suas ações aqui em baixo, quer dizer, no mundo, nas
relações interpessoais, na história.
Conforme esta compreensão,
nosso agir é decorrência do agir de Deus. Assim, o Divino alcança o mundo,
envolve-o em seu amoroso e terno abraço mediante a misericórdia e a compaixão
de suas criaturas que n’Ele têm seu discernimento, sua inteligência, seu
coração.
É nesse sentido,
inclusive, que se pode entender a intercessão sobre a Igreja na Oração
Eucarística III: "Que esse sacrifício de nossa reconciliação estenda a paz
e a salvação ao mundo inteiro."Isto é, uma vez que a Eucaristia nos faz
"ter coração em Deus", nossa vida como decorrência desse
acontecimento testemunha, mediante as relações justas e fraternas, vividas na
Paz de Cristo, a reconciliação que Jesus, pela sua morte e ressurreição,
realizou (= termos, como no princípio da Criação, o coração em Deus!).
5- LIGANDO A PALAVRA COM A AÇÃO EUCARÍSTICA
Como
esposa adúltera e infiel nos apresentamos diante do Senhor, confiando no seu
amor misericordioso, sempre aberto ao perdão. Por sua morte e ressurreição, ele
nos traz de novo para o centro de suas atenções de esposo, lançando nossas
fraquezas para longe de seus filhos. Assim, educa-nos para a misericórdia,
faz-nos lançar para longe as pedras que carregamos contra a vida e a dignidade
de nossos irmãos e irmãs.
Em nossas
celebrações litúrgicas podemos ver e encontrar Jesus. Ele está presente, tanto
na pessoa do ministro, quanto nas espécies eucarísticas. Jesus está presente
nos sacramentos, de tal forma que, quando alguém batiza, é Cristo mesmo que
batiza. Ele está presente pela sua Palavra, pois é Ele mesmo quem fala, quando
se lêem as leituras na Igreja (cf. SC,7). Eles está presente na comunidade, que
é o seu corpo reunido renovando a sua misericórdia de ser sempre fiel à sua
Palavra.
Cantamos
louvores, dando graças ao Pai que em Jesus nos perdoa, santifica-nos e nos
alimenta para realizarmos, no dia-a-dia, nosso êxodo, nossa Páscoa.
6. ORIENTAÇÕES GERAIS
1. Um mundo que
corresponda ao misericordioso amor de Deus é o horizonte de cada Eucaristia
celebrada. Neste tempo de Quaresma, o coração dos fiéis deseja estar em
sintonia com o latejar do coração divino, a fim de que as nossas ações
misericordiosas sejam a oportunidade para o Senhor abraçar, carinhosamente, a
criação que, em Cristo, foi redimida e salva.
2. O monte é o lugar onde Jesus assume o
projeto de Deus, "Não vou beber o cálice que o Pai me ofereceu? (João
18,11), e o Templo de Jerusalém é o lugar da rejeição de Jesus por parte das
lideranças judaicas que merecem duas palavras: "ai de vós letrados e fariseus,
hipócritas, que fecha ao homem o Reino de Deus” (Mateus 23,13).
3. A mesa da
Palavra e a mesa da Eucaristia formam um só ato de culto; portanto, é preciso
manter um equilíbrio de tempo entre as duas. Demasiada atenção dada à procissão
com o Lecionário ou com a Bíblia, homilias prolongadas, introduções antes das
leituras parecendo comentários ou pequenas homilias, tudo isso prejudica o rito
eucarístico, que em conseqüência acaba sendo feito às presas.
4. Um erro
grave nas celebrações da eucaristia é a distribuição da comunhão do sacrário
como prática normal. Assim pecamos contra toda a dinâmica da ceia eucarística,
que consta da preparação das oferendas, da ação de graças, sobre os dons
trazidos, da fração Fo pão consagrado e da distribuição àqueles que, com a
oblação deste pão, se oferecem a si mesmos com Jesus ao Pai (cf. IGMR 56 h).
7. MÚSICA RITUAL
O canto é
parte necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para
animar ou enfeitar a liturgia. Por isso devemos cantar a liturgia e não cantar na liturgia. Os cantos e músicas,
executados com atitude espiritual e, condizentes com cada domingo da Quaresma, ajudam a comunidade a penetrar no
mistério celebrado. Portanto, não basta só saber que os cantos são do 5º
Domingo da Quaresma, é preciso
executá-los com atitude espiritual. A escolha dos cantos deve ser cuidadosa,
para que a comunidade tenha o direito de cantar o mistério celebrado. Jamais
os cantos devem ser escolhidos para
satisfazer o ego de um grupo ou de um movimento ou de uma pastoral. Não devemos
esquecer que toda liturgia é uma celebração da Igreja corpo de Cristo e não de
um grupo, de uma pastoral ou de um movimento.
Ensina a
Instrução Geral do Missal Romano que o canto de abertura tem por objetivo, além
de unir a assembléia, inseri-la no mistério celebrado (IGMR nº 47). Nesse
sentido o Hinário Litúrgico II da CNBB e o Ofício Divino das Comunidades nos
oferecem uma ótima opção, que estão gravados nos CDs Liturgia XIII, XIV e CD:
CF 2016.
1- Canto de abertura: “Deus
livra-me do ímpio”, Salmo 43/42,1-2. Sem dúvida, um canto de abertura
condizente com o mistério celebrado e poderá cooperar para que a assembléia
seja nele inserido é na procissão de entrada, entoar um canto que expresse a
misericórdia de Deus é: “Senhor eis aqui o teu povo”, CD: Liturgia XIII,
melodia da faixa 1, Quaresma Ano A. Outro canto interessante é “Ah! Se o povo
de Deus no Senhor cresce” CD: Liturgia XIV, faixa 14. O canto de abertura deve
nos introduzir no mistério celebrado deste 5º Domingo da Quaresma.
2- Ato penitencial. Senhor, que
nos mandastes perdoar-nos mutuamente. CD: CF 2013, melodia da faixa 4.
3- Salmo responsorial 26/27.
“Quando o Senhor fez voltar os cativos, parecia ser um sonho”. “Maravilhas fez
conosco o Senhor, exultemos de alegria!”. CD: Liturgia XIV, melodia da faixa
15.
4- Aclamação ao Evangelho.
“Convertei-vos a mim... sou benigno e misericordioso” “Honra, glória, poder e
louvor. “Ninguém se atreveu à mulher condenar...” CD: Liturgia XIV, melodia da
faixa 12.
5- Canto para acompanhar a procissão com
as pedras. “O vosso coração de pedra se converterá”, CD: Liturgia XIII,
faixa 5.
6. Apresentação dos dons. O
canto de apresentação das oferendas, conforme orientamos em outras ocasiões,
não necessita versar sobre pão e vinho. Seu tema é o mistério que se celebra
acontecendo na fraternidade da Igreja reunida em oração neste Quinto da Quaresma.
Como canto de apresentação dos dons, uma boa opção é: “O vosso coração de pedra
se converterá”, CD: Liturgia XIII, melodia da faixa 5. Outra opção o canto “Eis
o tempo de conversão”, CD Liturgia XIII, faixa 6. Se não houver a ação ritual
da procissão com as pedras, a melhor opção seria: “O vosso coração de pedra se
converterá”.
7. Canto de comunhão: “Nem eu te
condeno; vai e não peques mais”, João 8,10-11. Contemplando a misericórdia de
Deus cantemos: “Tanto que esperou pudesse um dia”, CD: Liturgia XIV, melodia da
faixa 17 ou Hinário Litúrgico II da CNBB, página 130. Para este Domingo da
Quaresma, conforme a tradição do Missal Romano para esse tempo, sugerimos outra
possibilidade ótima que é o Salmo 32/31 com esse refrão tirado do próprio
Evangelho, com a melodia do canto “Então da nuvem luminosa”, do segundo domingo
da Quaresma, CD: Liturgia XIII, melodia da faixa 8. Também se encontra no Hinário
Litúrgico II da CNBB, página 41. Com certeza estes cantos nos ajudarão a fazer
a ligação da Ceia do Senhor com o Evangelho.
A mesma
orientação dada para o canto de abertura vale para o canto de comunhão. Mas na
mesma liberdade e bom senso, sugerimos um canto bem conhecido da série Povo de
Deus:
R: NINGUÉM TE CONDENOU?
NEM EU CONDENAREI.
NÃO PEQUES MAIS,
DISSE O SENHOR.
Salmo 32/31
1. Feliz o homem cuja culpa é perdoada,
Que foi no sangue
do Senhor purificada!
2. Feliz o homem que caminha na verdade,
Em cuja alma não
há mais duplicidade!
3. Feliz o povo que confessa seu pecado,
Porque será pelo
Senhor purificado!
4. Feliz quem deixa se instruir pelo Senhor
E seus caminhos
vai trilhando com amor!
4. Feliz aquele que confia em seu nome:
Seu coração não
sentirá, jamais, a fome!
5. Feliz aquele que confia em seu nome:
Seu coração não
sentirá, jamais, a fome!
6. Quem se confia no Senhor, sinceramente,
É envolvido pela
graça, inteiramente!
7. Felizes todos os de reto coração!
Louvai a Deus,
porque ele é graça e compaixão!
8. Misericórdia e bondade é o Senhor!
Povo remido,
cantai hoje seu louvor!
O canto de
comunhão deve retomar o sentido do Evangelho deste 5º Domingo da Quaresma. Esta
é a sua função ministerial. Na realidade, aquilo que se proclama no Evangelho
nos é dado na Eucaristia, ou seja: é o Evangelho que nos dá o “tom” com o qual
o Cristo se dirige a nós em cada celebração eucarística reforçando estes conteúdos
bíblico-litúrgicos, garantindo ainda mais a unidade
entre a mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia. Isto significa que comungar o corpo e
sangue de Cristo é compromisso com o Evangelho proclamado. Portanto, o mesmo
Senhor que nos falou no Evangelho, nós o comungamos no pão e no vinho.
8- O ESPAÇO DA CELEBRAÇÃO
1. Todos nós
sabemos que o Tempo da Quaresma exige sobriedade quanto à ornamentação do
espaço da celebração. Ele deve manifestar nossa fragilidade diante do mistério,
nossa nudez diante da graça de Deus que nos acompanha e nos solicita total
perseverança evangélica. A ausência de flores, com exceção do quarto domingo
(Domingo Laetare), quer causar a sensação de sobriedade, sem aparência festiva.
2.
Arrumar o espaço celebrativo: colocar junto à mesa da Palavra ou junto à cruz
um cacto com pedras, sinalizando, a partir do Evangelho deste domingo, que a
verdadeira conversão exige melhor conhecimento das próprias fraquezas e atitude
permanente de compaixão pelas fraquezas dos irmãos(as).
3. Preparar o
espaço celebrativo levando em conta o tempo quaresmal. O ambiente deve estar despojado a austero. Isso vale também
para outros tempos litúrgicos. Devemos “fazer uma limpeza” de tudo o que é
supérfluo no espaço celebrativo, como cartazes, folhagens, fitas, adornos,
faixas, muitas imagens, etc. Os exageros de enfeites causam uma verdadeira poluição visual, e é preciso achar um
lugar para pousar o olhar e contemplar.
Por outro lado, devemos valorizar e destacar o que é realmente essencial para a
celebração do Mistério de Cristo, isto é, o altar, a mesa da Palavra, a cadeira
presidencial e a pia batismal. Durante a Quaresma outros símbolos fortes são
importantes, como a cruz, a cor roxa e outros próprios para cada celebração.
9. AÇÃO RITUAL
Um
refrão meditativo seguido de oração silenciosa permite à comunidade entrar com
inteireza no mistério a ser celebrado. Isto ajuda a criar um ambiente próprio
para celebrar que convida à oração.
Ritos iniciais
1. Sugerimos
iniciar a celebração cantando “Senhor, eis aqui o teu povo” (Hinário Litúrgico
II da CNBB, página 296).
Seria muito
oportuno a saudação inicial de 2Tessalonicensses 3,5:
“O Senhor, que encaminha os nossos corações
para o amor de Deus e a constância de Cristo, esteja convosco”.
2. Em seguida
quem preside, ou o diácono ou um leigo ou leiga preparado, dar o sentido da
celebração com estas palavras ou outras semelhantes:
Domingo da pecadora perdoada. Às vésperas da
Páscoa somos convidados a seguir em frente, abandonando qualquer sinal de condenação.
Jesus nos convida a ter as mãos abertas sem pedras. Que o Senhor defenda a
nossa causa contra toda a impiedade e venha em socorro de nossa oração.
4. O Ato
penitencial pode ser feito por toda a assembléia, de joelhos, defronte a cruz
do Senhor. Quem preside convida a assembléia a uma revisão de vida diante da
Palavra de Deus.
5. O
presbítero motiva os fiéis à penitencia com a Fórmula 3 do Missal Romano página
392:
O Senhor disse: “quem dentre vós estiver sem
pecado, atire a primeira pedra”. Reconheçamo-nos todos pecadores e perdoemo-nos
mutuamente do fundo do coração.
6. Reunida em
torno da cruz, a assembléia pode fazer, de joelhos ou inclinada, o Ato Penitencial e ser motivada a
expressar o desejo de viver a Quaresma, indicando aspectos nos quais é chamada
à conversão. Sugerimos a Fórmula 1, própria para este 5º Domingo da Quaresma,
da página 396 do Missal Romano.
7. Outra opção
é substituir o Ato penitencial com a aspersão com a água.
8. Na oração
do dia contemplamos a alegria da caridade que levou Cristo ao dom de sua vida.
Morrer e ressuscitar, pois a glória é alcançada através da doação, por amor,
até a morte.
Rito da Palavra
1. As leituras
e o Salmo responsorial deste domingo contêm densidade e vitalidade ímpares. Por
isso, caprichar em sua proclamação: com calma, pausadamente, com unção, com voz
suave, mas firme e orante. Para tanto, faz-se necessário prepará-la, através de
uma boa leitura, da meditação, da oração. A pessoa que vai proclamar a Palavra
deve de fato incorporá-la como um ator ou atriz que incorpora o personagem.
Deste modo, a assembléia poderá sentir que é Deus mesmo que fala com seu povo.
2. Ao final da
leitura, nunca dizer “Palavras do Senhor” ou “Palavras da salvação” (no
plural), pois não são “palavras” que são proclamadas e sim “a Palavra (Deus
mesmo, Cristo que fala ao povo reunido em assembléia!)
3. O Evangelho
pode ser cantado ou dialogado, com vários personagens: um(a) narrador(a), o
presidente da celebração representando Jesus, a mulher pecadora, os fariseus e
mestres da lei. Isso deve ser combinado, ensaiado, treinado, vivenciado antes,
com a equipe de liturgia. Não pode ser improvisado, em razão da imensa
dignidade da Palavra de Deus e da necessidade da vivência orante da Palavra.
Onde for possível pode ser encenado. Não é preciso que as pessoas se vistam com
figurino da época, mas assumam a “psicologia” dos personagens. No caso da
dramatização, é importante que a narrativa seja feita da Mesa da Palavra e do
Evangeliário, para resguardar o sinal e a linguagem ritual.
4. Cada
pessoa, à entrada da igreja, pode receber uma pedra para o rito sugerido a
seguir:
"Quem não tiver
pecado, atire a primeira pedra". Com esta frase lapidar de Jesus, a
celebração deste domingo foca a misericordiosa ação de Deus em cuidar de suas
criaturas. Ele, que despreza o pecado e acolhe o pecador oferece um itinerário
de conversão cujo horizonte é a Páscoa de seu Filho, que nos liberta
definitivamente da morte.
Esta ação
ritual para este domingo pode ser feito, com a sequência: homilia - bênção da
água - credo - ablução - conclusão do rito - preces.
Como proceder:
a) Depois da
homilia, convida-se a assembléia para a oração de bênção a seguir. Importante
que a homilia termine com uma exortação a todos para deixarem de lado "as
pedras" que trazem consigo e, com as mãos livres, mergulharem nas águas
que recordam o batismo que nos fez semelhantes a Jesus.
Senhor Deus de Bondade
Vós que amais o pecador
Mas desprezais o pecado,
Manifestai vossa bondade
Diante de vosso povo reunido em
prece,
No dia que Vos é consagrado.
Abençoai esta água, para que seja
Recordação do nosso batismo,
Renovando em nós a fonte viva da
vossa graça
Para que, abandonando as pedras
de
Nossas Acusações,
sejamos semelhantes a vós
Misericordiosos e cheios de
ternura.
Por cristo, nosso Senhor.
Amém.
b) Todos rezam o Credo
c) Em seguida,
faz-se a procissão, cada pessoa levando suas pedras e deixando-as junto à pia
ou recipiente com água. Para acompanhar essa ação ritual é muito oportuno
cantar: “O vosso coração de pedra se converterá”
5. Outra opção é após a homilia, o grupo de
cantos entoa um refrão orante que ajudará a assembleia a meditar a Palavra que
ouviu. Sugerimos o refrão da comunidade de Taizé, que pode ser encontrado na
internet: “Deus só pode nos dar seu amor. Nosso Deus é ternura! Ó... Deus é
ternura. Ó... Deus que perdoa”.
6. Onde houver
Batismo na Vigília Pascal, depois da homilia, e da ação ritual acima, os
catecúmenos, junto com os padrinhos e madrinhas, colocam-se diante do
presidente da celebração para o terceiro escrutínio. É dia de oração especial
sobre os eleitos para receberem os sacramentos na noite de Páscoa (Ritual da
Iniciação Cristã dos Adultos, pág. 77). O livro Dia do Senhor. Guia para as
celebrações das comunidades – Ciclo pascal, página 98-99, traz um exemplo deste
rito. A entrega da Oração do Senhor pode ser feita também na semana depois do
terceiro escrutínio.
7. Se for
Celebração Dominical da Palavra, entoa-se, após a oração dos fiéis, um louvor
ou ação de graças a Deus (ver orientação dada pelo Guia Litúrgico-Pastoral, da
CNBB, página 62-64). Por exemplo, a “Louvação Quaresmal II (Conversão)”
(Hinário Litúrgico II da CNBB, página 154) ou outro canto de louvor apropriado.
Rito da Eucaristia
1. A procissão
dos dons ao Altar simboliza toda a comunidade que apresenta sua própria vida
nos sinais do pão e do vinho. Neste Domingo, o rito da Eucaristia poderia ser
precedido com uma breve monição:
“Somos Igreja peregrina e levamos ao Altar
as nossas vidas”. O pão e vinho que apresentamos será nosso alimento e nossa
força, para nos libertar dos males que nos paralisam.
2. Na oração
sobre as oferendas, peçamos a Deus que o sacrifício eucarístico nos purifique.
3. A oração
eucarística é a oração do povo sacerdotal chamado a celebrar a Aliança que
Deus, seu parceiro, estabeleceu por meio da Páscoa de seu Filho. Fazem-se
necessários o conhecimento e o aprofundamento de seu sentido e estrutura
literário-teológica como a confissão da fidelidade de Deus e da fragilidade
humana. A oração eucarística é um todo, cuja unidade de estrutura e gênero
literário deve ser respeitada. Vale lembrar que apenas a oração eucarística I e
a III não têm prefácio próprio e a oração eucarística II admite troca de
prefácio. As demais orações eucarísticas são uma unidade inseparável.
4. Quanto à
narrativa da “última ceia”, assim orienta o Guia Litúrgico-Pastoral da CNBB,
página 27-28: “Nem pelo tom de voz nem de qualquer outra maneira, se isole a
narrativa da última ceia do resto da Oração Eucarística, como se fosse uma peça
à parte”. Muitos presidentes das celebrações mudam o tom de voz como se a
narrativa da ceia fosse uma peça à parte. Não convém de deter na apresentação
do pão e do vinho (impropriamente chamado de elevação), já que a Oração
Eucarística é a ação de graças dirigida em adoração ao Pai. A verdadeira
elevação do Corpo e Sangue de Cristo é na Doxologia final (Por Cristo, com
Cristo em Cristo...). A narração da instituição da Eucaristia não é uma
imitação da última ceia, por isso, não se reparte o pão neste momento. O partir
o pão, como Jesus fez, corresponde à fração do pão em vista da comunhão.
3. A comunhão nas duas espécies
reafirma e anima, ainda mais, a nossa participação no Mistério Pascal de
Cristo, para a qual fomos chamados, por meio de sua entrega de amor na cruz. É
oportuno que a comunhão seja feita sob as duas espécies para toda a assembleia,
conforme IGMR, n. 240.
Ritos Finais
1. Na oração
depois da comunhão, suplicamos a Deus que sejamos sempre contados entre os
membros daquele cujo corpo e sangue comungamos.
2.
Concluir com a benção solene, de acordo com o Missal Romano, pp. 521-522.
3. As palavras
do envio podem estar em consonância com o mistério celebrado: “Nem eu te
condeno, vai e não peques mais”. Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe.
10- CONSIDERAÇÕES FINAIS
O
tema central da liturgia de hoje é a “renovação” (cf. primeira leitura). É
neste sentido que o Evangelho quer ser entendido. Estamos na Quaresma, tempo de
penitencia. Deus não nos condena, mas quer que de nosso pecado brote “o não
mais pecar”.
O objetivo da
Igreja e da nossa equipe diocesana de liturgia é ajudar os padres e as
comunidades de nossa diocese e todas aquelas outras comunidades fora de nossa
diocese que acessar nosso site celebrar melhor o mistério pascal de Cristo.
Um abraço
fraterno a todos
Pe. Benedito
Mazeti
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