Durante esta
semana somos levados a rever e rememorar os acontecimentos finais da vida de
Jesus Cristo. O auge da Semana Santa é o Tríduo Pascal: Quinta-Feira Santa,
Sexta-Feira Santa (ou da Paixão e morte de Jesus) e Sábado Santo (ou Vigília
Pascal).
1- ORÍGEM DO DOMINGO DE RAMOS DA PAIXÃO DO SENHOR
No domingo
anterior ao Domingo da Ressurreição, antigamente as comunidades cristãs do
Ocidente celebravam um Domingo da Paixão. Em Jerusalém, ao contrário os cristãos
celebravam de maneira festiva a entrada de Jesus na cidade santa, aclamado pelo
povo com ramos nas mãos e recebido pelos pobres como Rei e Messias. Portanto, a
procissão com os ramos tem sua origem na liturgia de Jerusalém; depois passou
para a liturgia da Espanha e da Gália (atual França). Mais tarde, por volta dos
séculos VII e VIII, a Liturgia Romana a assumiu e juntou em uma só celebração
as duas tradições: a comemoração festiva da entrada de Jesus em Jerusalém e a
missa do Domingo da Paixão. Este aspecto duplo da mesma celebração dá ao dia de
hoje caráter de antecipação figurada da Páscoa: aclama-se o Cristo
vencedor em sua Paixão. Unimos a esta alegria da nossa fé que vence
o mundo, a vitória da resistência e fidelidade dos oprimidos de hoje.
Em Jerusalém,
por volta do século IV, pensou-se em reproduzir o mais exatamente possível a
entrada de Jesus na Cidade Santa. A peregrina Egéria nos descreve o desenrolar
da procissão do Domingo de Ramos como a viu com seus próprios olhos:
“...Quando
começa a hora undécima (onze horas), lê-se o trecho do evangelho no qual as
crianças com ramos e palmas vão ao encontro do Senhor, dizendo: Bendito o que
vem em nome do Senhor. Logo o bispo se levanta e o povo também. Depois, do alto
do monte das Oliveiras se faz a pé toda a caminhada. Todo o povo caminha à
frente do bispo com hinos e antífonas, respondendo sempre: Bendito o que vem em
nome do Senhor. Todas as crianças do lugar, mesmo as que ainda não sabem andar
por serem pequenas demais e que são carregadas nos braços pelos pais, todas
trazem ramos, uns de palmeira, outros de oliveira; assim a multidão acompanha o
bispo do mesmo modo como naquele dia foi acompanhado o Senhor. Do alto do monte
até a cidade e daí, atravessando-a toda, até a Anastasis, todos fazem o percurso
inteiramente a pé, mesmo que são damas ou personagens insignes. Desta forma
acompanham o bispo respondendo com os
salmos. Assim, andando devagar
para que o povo não se canse, chega-se à Anastasis quando já está escuro. Ao
chegar lá, embora seja tarde, celebra-se o lucernário, faz-se ainda uma oração
à Cruz e despede-se o povo”.
O hosana nas
alturas antecipa os sofrimentos da Paixão. A subida para Jerusalém é como o
cortejo fúnebre que Jesus não terá.
Os dois nomes
da celebração indicam dois mistérios diferentes, duas tonalidades espirituais
diferentes, duas histórias diferentes: “Domingo de Ramos” e “Domingo da
Paixão”.
Há comunidades
que preferem fazer em momentos diferentes as duas celebrações. Dão à procissão
e celebração de Ramos um lugar central, com um caráter festivo, como uma festa
de Cristo Rei e a memória da Paixão na segunda-feira.
O uso dos ramos faz referência à
“Festa das Tendas”. Agitando nossos ramos, caminhando e cantando hinos de
vitória ao Cristo, Rei e Redentor, aclamamos Jesus como Messias. Ele vem
realizar todas as promessas dos profetas e instaurar o Reino de Deus: justiça
para os pequenos; participação de todos em igualdade, em vez de grupos
poderosos dominando o povo; convivência fraterna sem exclusões, sem
discriminações; paz entre os povos e diálogo entre as culturas; plena comunhão
com Deus, etc.
2- O SIMBOLISMO DOS
RAMOS
O simbolismo
da “arvore” é muito forte na Bíblia: as árvores do paraíso, especialmente a
“árvore do conhecimento do bem e do mal” e a “árvore da vida” (Gênesis 2,9;
Apocalipse 2,7; 22,14) são símbolos da Torá. O cedro do Líbano, a figueira, o
carvalho e principalmente a videira, entre outras, muitas vezes simbolizam o
povo de Israel. Valor simbólico especial tem a oliveira: um ramo seu é o sinal
de que acabou o dilúvio e a vida voltou à terra (Gênesis 8,11;9,1.7-11) É de
seu fruto que se extrai o azeite, óleo fundamental para a alimentação e a
saúde, carregado também de um rico valor simbólico, como na unção de reis,
profetas e sacerdotes. Paulo fala da salvação dos pagãos comparando-os a uma
“oliveira selvagem” que foi enxertada na oliveira boa, Israel (Romanos
11,16-24).
Os ramos desta
procissão são uma metáfora da própria paixão, morte e ressurreição, na relação
vida-morte-vida. As árvores têm seus ramos verdes arrancados, o que simboliza a
morte, pois esses ramos secarão; mas elas também os “doam” para servir ao
Senhor da Vida. Os vegetais, representados pelas árvores, foram dados a nós
como alimento, são o nosso sustento, como tão bem nos diz o Gênesis. De certa
forma, então, eles “morrem” para que nós tenhamos vida!
3- COMEMORAÇÃO DA ENTRADA DE
JESUS EM JERUSALÉM
Hoje
recordamos a entrada do Cristo em Jerusalém para celebrar a sua Páscoa. Através
da procissão de ramos, retomamos o gesto do Senhor entrando na Cidade Santa.
Não fazemos isso como simples dramatização do passado. É sinal de que acolhemos
o Senhor em nossas vidas e como o povo do Primeiro Testamento, que durante a
festa das Tendas levava ramos nas mãos, significando nossa adesão ao projeto do
Cristo libertador sobre nós e sobre o mundo.
Desde o
princípio do Cristianismo os cristãos fazem desta procissão uma espécie de
reconstituição dramatizada da entrada do Senhor em Jerusalém. O nosso povo
gosta muito de procissão, mas é importante vivê-la bem com seu sentido
litúrgico.
A missa deste
domingo culmina evidentemente no memorial eucarístico. Mas do ponto de vista
dos textos litúrgicos próprios, o elemento principal consiste na leitura da
Paixão e Morte do Senhor. A primeira leitura, o Salmo responsorial e a segunda
leitura preparam o Evangelho da Paixão. Como a celebração é mais longa, pode-se
antecipar a hora do início da celebração. A leitura do Evangelho pode ser feita
por três leitores, conforme o costume
latino. Fazer uma breve
homilia para ajudar o povo de Deus a interiorizar o relato da Paixão em sua
atualidade para nós.
A renovação
litúrgica do Concílio Vaticano II suprimiu a proclamação do relato da Paixão do
Senhor na terça e na quarta-feira santas. Ele é proclamado no domingo de Ramos
da Paixão do Senhor conforme Mateus, Marcos e Lucas, isto é, de acordo com o
ciclo.
A Missa (ou
celebração da Palavra), com a leitura da Paixão do Senhor tem sua origem na
liturgia romana. Ela é toda centrada sobre a figura de Cristo como Servo Sofredor. As leituras
falam da perseguição, do sofrimento e da entrega de Jesus que se fez o Servo do
Senhor; realçam sua fidelidade à sua missão para salvar os pobres e humildes. O
Servo se associa a todos os sofredores e sofredoras do mundo, a todos os pequenos
e injustiçados. Somos convocados por Ele a entrar nesta caminhada no hoje da
nossa história.
4- MEMÓRIA DA ENTRADA DO
SENHOR EM JERUSALÉM
A celebração
deste dia se desenvolve em torno de três partes: memória da entrada triunfal do
Senhor em Jerusalém; liturgia da Palavra com a leitura da Paixão do Senhor e
liturgia eucarística.
O Missal
Romano prevê três formas de se fazer esta memória: pela procissão com ramos,
pela entrada solene e pela entrada simples:
a)
procissão com os ramos: esta procissão é feita somente uma vez em
cada igreja, na missa principal. A assembleia se reúne fora da igreja com ramos nas mãos, de onde sairá em
procissão.
O presidente
da celebração e os ministros, com paramentos vermelhos para a Missa,
aproximam-se do lugar onde a assembleia está reunida. O presidente pode usar
capa em vez de casula durante a procissão.
O Presidente
asperge os ramos em silêncio. Toma um ramo grande e bonito e o prende na haste
da cruz processional.
Inicia-se a
procissão para a igreja onde será celebrada a Missa. Na frente, vai o
turiferário, caso se julgue oportuno o uso de incenso; em seguida o
cruciferário com uma cruz maior ornamentada com um pano vermelho, entre dois
acólitos com velas acesas; depois o presidente com os ministros, seguidos pela
assembleia com seus ramos.
Chegando ao
altar, o presidente o saúda com o beijo e, se for oportuno, o incensa. Vai até
a cadeira presidencial (tira a capa e veste a casula) e, omitindo os ritos
iniciais, diz a oração do dia, prosseguindo a celebração como de costume. A
procissão termina com a oração do dia da Missa (página 230 do Missal Romano).
Vejam a seqüência dos ritos:
* canto,
saudação, oração sobre mos ramos;
* evangelho da
entrada de Jesus em Jerusalém, também chamado evangelho da bênção, seguindo o
Lecionário dos anos A, B ou C;
* a referência
deve ser sempre o Lecionário e o Missal e não o folheto.
* breve
homilia;
* procissão
com os ramos, acompanhada de cantos próprios;
* dentro da
igreja, faz-se a coleta (oração inicial), sem os outros ritos iniciais.
Exemplo: não se reza o ato penitencial porque ele é substituído pela procissão;
não se canta o glória.
b)
entrada solene: pode ser
feita no lugar da procissão (é possível repeti-la em outras missas na mesma
igreja).
* O povo se
reúne, com seus ramos, à porta da igreja ou dentro dela; a equipe se dirige a
um ponto da igreja, fora do presbitério, onde possa ser vista por todos, para
aí realizar a primeira parte da celebração.
* A seqüência
dos ritos é a mesma que na procissão.
* No final,
depois do Evangelho, o presidente e a equipe de celebração caminha em procissão
até o presbitério, enquanto se canta um canto apropriado, no qual se realizam
as outras partes da celebração, como já conhecemos.
O presidente
saúda o Altar, dirige-se para a cadeira e, omitindo os ritos iniciais, reza a
oração do dia, prosseguindo a celebração como de costume.
c)
entrada simples: é feita em todas as outras missas, como na missa de
um domingo comum (portanto, sem ramos, sem bênção, sem evangelho da bênção).
* Enquanto o
presidente e a equipe de celebração se dirige para o altar, canta-se o canto de
abertura de acordo com a liturgia deste dia. Chegando ao altar, o presidente o
saúda, vai até à cadeira e saúda a assembleia, prosseguindo a celebração como
de costume.
5- SEMANA SANTA
A Semana Santa
é a Grande Semana do cristão. Durante esta semana somos levados a rever e
rememorar os acontecimentos finais da vida de Jesus Cristo. O auge da Semana
Santa é o Tríduo Pascal.
O Tríduo
Pascal é o centro de todo o Ano Litúrgico. Começa na Quinta-feira Santa, com a
comemoração da última ceia à notinha e termina com a celebração do Domingo da
Ressurreição. Isto mostra que a Quaresma começa na Quarta-feira de Cinzas e
termina na Quinta-feira Santa de manhã. Portanto, as festividades da Páscoa
começam na Quinta-feira Santa.
O
Tríduo Pascal é a celebração, maior para as comunidades cristãs. Na vitória de
Jesus, nós saboreamos a nossa própria vitória sobre as forças da morte que
imperam neste mundo, e nos animamos uns aos outros a assumir, com garra e gosto
a causa da vida, até que a Páscoa definitiva, a libertação completa aconteça no
Reino de Deus... Há nesta Celebração do Tríduo uma riqueza imensa de gestos e
símbolos: a cor branca, as flores e a ceia, na Quinta-Feira Santa; o vermelho,
a apresentação e a adoração do Cristo na Cruz, na Sexta-Feira Santa; o fogo, o
círio, a água batismal, sinal da ceia, as flores, e a alegria na Vigília
Pascal.
Pe. Benedito Mazeti
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