quarta-feira, 16 de março de 2016

ORIENTAÇÕES PARA CELEBRAR O DOMINGO DE RAMOS

Durante esta semana somos levados a rever e rememorar os acontecimentos finais da vida de Jesus Cristo. O auge da Semana Santa é o Tríduo Pascal: Quinta-Feira Santa, Sexta-Feira Santa (ou da Paixão e morte de Jesus) e Sábado Santo (ou Vigília Pascal).

1- ORÍGEM DO DOMINGO DE RAMOS DA PAIXÃO DO SENHOR

No domingo anterior ao Domingo da Ressurreição, antigamente as comunidades cristãs do Ocidente celebravam um Domingo da Paixão. Em Jerusalém, ao contrário os cristãos celebravam de maneira festiva a entrada de Jesus na cidade santa, aclamado pelo povo com ramos nas mãos e recebido pelos pobres como Rei e Messias. Portanto, a procissão com os ramos tem sua origem na liturgia de Jerusalém; depois passou para a liturgia da Espanha e da Gália (atual França). Mais tarde, por volta dos séculos VII e VIII, a Liturgia Romana a assumiu e juntou em uma só celebração as duas tradições: a comemoração festiva da entrada de Jesus em Jerusalém e a missa do Domingo da Paixão. Este aspecto duplo da mesma celebração dá ao dia de hoje caráter de antecipação figurada da Páscoa: aclama-se o Cristo vencedor em sua Paixão. Unimos a esta alegria da nossa fé que vence o mundo, a vitória da resistência e fidelidade dos oprimidos de hoje.

Em Jerusalém, por volta do século IV, pensou-se em reproduzir o mais exatamente possível a entrada de Jesus na Cidade Santa. A peregrina Egéria nos descreve o desenrolar da procissão do Domingo de Ramos como a viu com seus próprios olhos:

“...Quando começa a hora undécima (onze horas), lê-se o trecho do evangelho no qual as crianças com ramos e palmas vão ao encontro do Senhor, dizendo: Bendito o que vem em nome do Senhor. Logo o bispo se levanta e o povo também. Depois, do alto do monte das Oliveiras se faz a pé toda a caminhada. Todo o povo caminha à frente do bispo com hinos e antífonas, respondendo sempre: Bendito o que vem em nome do Senhor. Todas as crianças do lugar, mesmo as que ainda não sabem andar por serem pequenas demais e que são carregadas nos braços pelos pais, todas trazem ramos, uns de palmeira, outros de oliveira; assim a multidão acompanha o bispo do mesmo modo como naquele dia foi acompanhado o Senhor. Do alto do monte até a cidade e daí, atravessando-a toda, até a Anastasis, todos fazem o percurso inteiramente a pé, mesmo que são damas ou personagens insignes. Desta forma acompanham o bispo respondendo com os salmos. Assim, andando devagar para que o povo não se canse, chega-se à Anastasis quando já está escuro. Ao chegar lá, embora seja tarde, celebra-se o lucernário, faz-se ainda uma oração à Cruz e despede-se o povo”.

O hosana nas alturas antecipa os sofrimentos da Paixão. A subida para Jerusalém é como o cortejo fúnebre que Jesus não terá.

Os dois nomes da celebração indicam dois mistérios diferentes, duas tonalidades espirituais diferentes, duas histórias diferentes: “Domingo de Ramos” e “Domingo da Paixão”.

Há comunidades que preferem fazer em momentos diferentes as duas celebrações. Dão à procissão e celebração de Ramos um lugar central, com um caráter festivo, como uma festa de Cristo Rei e a memória da Paixão na segunda-feira.
O uso dos ramos faz referência à “Festa das Tendas”. Agitando nossos ramos, caminhando e cantando hinos de vitória ao Cristo, Rei e Redentor, aclamamos Jesus como Messias. Ele vem realizar todas as promessas dos profetas e instaurar o Reino de Deus: justiça para os pequenos; participação de todos em igualdade, em vez de grupos poderosos dominando o povo; convivência fraterna sem exclusões, sem discriminações; paz entre os povos e diálogo entre as culturas; plena comunhão com Deus, etc.

2- O SIMBOLISMO DOS RAMOS

O simbolismo da “arvore” é muito forte na Bíblia: as árvores do paraíso, especialmente a “árvore do conhecimento do bem e do mal” e a “árvore da vida” (Gênesis 2,9; Apocalipse 2,7; 22,14) são símbolos da Torá. O cedro do Líbano, a figueira, o carvalho e principalmente a videira, entre outras, muitas vezes simbolizam o povo de Israel. Valor simbólico especial tem a oliveira: um ramo seu é o sinal de que acabou o dilúvio e a vida voltou à terra (Gênesis 8,11;9,1.7-11) É de seu fruto que se extrai o azeite, óleo fundamental para a alimentação e a saúde, carregado também de um rico valor simbólico, como na unção de reis, profetas e sacerdotes. Paulo fala da salvação dos pagãos comparando-os a uma “oliveira selvagem” que foi enxertada na oliveira boa, Israel (Romanos 11,16-24).

Os ramos desta procissão são uma metáfora da própria paixão, morte e ressurreição, na relação vida-morte-vida. As árvores têm seus ramos verdes arrancados, o que simboliza a morte, pois esses ramos secarão; mas elas também os “doam” para servir ao Senhor da Vida. Os vegetais, representados pelas árvores, foram dados a nós como alimento, são o nosso sustento, como tão bem nos diz o Gênesis. De certa forma, então, eles “morrem” para que nós tenhamos vida!

3- COMEMORAÇÃO DA ENTRADA DE JESUS EM JERUSALÉM

Hoje recordamos a entrada do Cristo em Jerusalém para celebrar a sua Páscoa. Através da procissão de ramos, retomamos o gesto do Senhor entrando na Cidade Santa. Não fazemos isso como simples dramatização do passado. É sinal de que acolhemos o Senhor em nossas vidas e como o povo do Primeiro Testamento, que durante a festa das Tendas levava ramos nas mãos, significando nossa adesão ao projeto do Cristo libertador sobre nós e sobre o mundo.

Desde o princípio do Cristianismo os cristãos fazem desta procissão uma espécie de reconstituição dramatizada da entrada do Senhor em Jerusalém. O nosso povo gosta muito de procissão, mas é importante vivê-la bem com seu sentido litúrgico.

A missa deste domingo culmina evidentemente no memorial eucarístico. Mas do ponto de vista dos textos litúrgicos próprios, o elemento principal consiste na leitura da Paixão e Morte do Senhor. A primeira leitura, o Salmo responsorial e a segunda leitura preparam o Evangelho da Paixão. Como a celebração é mais longa, pode-se antecipar a hora do início da celebração. A leitura do Evangelho pode ser feita por três leitores, conforme o costume latino. Fazer uma breve homilia para ajudar o povo de Deus a interiorizar o relato da Paixão em sua atualidade para nós.

A renovação litúrgica do Concílio Vaticano II suprimiu a proclamação do relato da Paixão do Senhor na terça e na quarta-feira santas. Ele é proclamado no domingo de Ramos da Paixão do Senhor conforme Mateus, Marcos e Lucas, isto é, de acordo com o ciclo.

A Missa (ou celebração da Palavra), com a leitura da Paixão do Senhor tem sua origem na liturgia romana. Ela é toda centrada sobre a figura de Cristo como Servo Sofredor. As leituras falam da perseguição, do sofrimento e da entrega de Jesus que se fez o Servo do Senhor; realçam sua fidelidade à sua missão para salvar os pobres e humildes. O Servo se associa a todos os sofredores e sofredoras do mundo, a todos os pequenos e injustiçados. Somos convocados por Ele a entrar nesta caminhada no hoje da nossa história.

4- MEMÓRIA DA ENTRADA DO SENHOR EM JERUSALÉM

A celebração deste dia se desenvolve em torno de três partes: memória da entrada triunfal do Senhor em Jerusalém; liturgia da Palavra com a leitura da Paixão do Senhor e liturgia eucarística.

O Missal Romano prevê três formas de se fazer esta memória: pela procissão com ramos, pela entrada solene e pela entrada simples:

a) procissão com os ramos: esta procissão é feita somente uma vez em cada igreja, na missa principal. A assembleia se reúne fora da igreja com ramos nas mãos, de onde sairá em procissão.

O presidente da celebração e os ministros, com paramentos vermelhos para a Missa, aproximam-se do lugar onde a assembleia está reunida. O presidente pode usar capa em vez de casula durante a procissão.

O Presidente asperge os ramos em silêncio. Toma um ramo grande e bonito e o prende na haste da cruz processional.

Inicia-se a procissão para a igreja onde será celebrada a Missa. Na frente, vai o turiferário, caso se julgue oportuno o uso de incenso; em seguida o cruciferário com uma cruz maior ornamentada com um pano vermelho, entre dois acólitos com velas acesas; depois o presidente com os ministros, seguidos pela assembleia com seus ramos.

Chegando ao altar, o presidente o saúda com o beijo e, se for oportuno, o incensa. Vai até a cadeira presidencial (tira a capa e veste a casula) e, omitindo os ritos iniciais, diz a oração do dia, prosseguindo a celebração como de costume. A procissão termina com a oração do dia da Missa (página 230 do Missal Romano).

Vejam a seqüência dos ritos:

* canto, saudação, oração sobre mos ramos;

* evangelho da entrada de Jesus em Jerusalém, também chamado evangelho da bênção, seguindo o Lecionário dos anos A, B ou C;
* a referência deve ser sempre o Lecionário e o Missal e não o folheto.

* breve homilia;

* procissão com os ramos, acompanhada de cantos próprios;

* dentro da igreja, faz-se a coleta (oração inicial), sem os outros ritos iniciais. Exemplo: não se reza o ato penitencial porque ele é substituído pela procissão; não se canta o glória.

b) entrada solene: pode ser feita no lugar da procissão (é possível repeti-la em outras missas na mesma igreja).

* O povo se reúne, com seus ramos, à porta da igreja ou dentro dela; a equipe se dirige a um ponto da igreja, fora do presbitério, onde possa ser vista por todos, para aí realizar a primeira parte da celebração.

* A seqüência dos ritos é a mesma que na procissão.

* No final, depois do Evangelho, o presidente e a equipe de celebração caminha em procissão até o presbitério, enquanto se canta um canto apropriado, no qual se realizam as outras partes da celebração, como já conhecemos.

O presidente saúda o Altar, dirige-se para a cadeira e, omitindo os ritos iniciais, reza a oração do dia, prosseguindo a celebração como de costume.

c) entrada simples: é feita em todas as outras missas, como na missa de um domingo comum (portanto, sem ramos, sem bênção, sem evangelho da bênção).

* Enquanto o presidente e a equipe de celebração se dirige para o altar, canta-se o canto de abertura de acordo com a liturgia deste dia. Chegando ao altar, o presidente o saúda, vai até à cadeira e saúda a assembleia, prosseguindo a celebração como de costume.

5- SEMANA SANTA

A Semana Santa é a Grande Semana do cristão. Durante esta semana somos levados a rever e rememorar os acontecimentos finais da vida de Jesus Cristo. O auge da Semana Santa é o Tríduo Pascal.

O Tríduo Pascal é o centro de todo o Ano Litúrgico. Começa na Quinta-feira Santa, com a comemoração da última ceia à notinha e termina com a celebração do Domingo da Ressurreição. Isto mostra que a Quaresma começa na Quarta-feira de Cinzas e termina na Quinta-feira Santa de manhã. Portanto, as festividades da Páscoa começam na Quinta-feira Santa.

            O Tríduo Pascal é a celebração, maior para as comunidades cristãs. Na vitória de Jesus, nós saboreamos a nossa própria vitória sobre as forças da morte que imperam neste mundo, e nos animamos uns aos outros a assumir, com garra e gosto a causa da vida, até que a Páscoa definitiva, a libertação completa aconteça no Reino de Deus... Há nesta Celebração do Tríduo uma riqueza imensa de gestos e símbolos: a cor branca, as flores e a ceia, na Quinta-Feira Santa; o vermelho, a apresentação e a adoração do Cristo na Cruz, na Sexta-Feira Santa; o fogo, o círio, a água batismal, sinal da ceia, as flores, e a alegria na Vigília Pascal.


Pe. Benedito Mazeti

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