17 de julho de 2016
Leituras
Gênesis 18,1-10
Salmo 14/15,2-5
Colossenses 1,24-28
Lucas 10,38-42
“MARIA ESCOLHEU A MELHOR PARTE”
1- PONTO DE PARTIDA
Domingo de
Marta e Maria. Neste 16º Domingo do Tempo Comum, vamos acompanhando Jesus em
sua viagem para Jerusalém. No caminho, ele encontra com duas discípulas, Marta
e Maria, que de maneira diferente oferecem a Jesus hospitalidade.
O patriarca
Abraão também acolhe em sua casa, com generosidade e bondade, três homens.
Primeiro somos
acolhidos por Deus e aprendemos Dele o sentido de acolher com o coração aberto.
Depois oferecemos a Ele a nossa hospitalidade, estendendo-a para todas as
pessoas. Acolher é sinal de fidelidade ao mandamento novo, sem fronteiras.
Hospedar o outro é hospedar Cristo (cf. Mt 25,35-36).
2- REFLEXÃO BÍBLICA,
EXEGÉTICA E LITÚRGICA
Contemplando os
textos
Primeira leitura – Gênesis 18,1-10. O
texto litúrgico confirma a aparição de Deus a Abraão e a visita misteriosa dos
três personagens, que lhe anunciam a concepção de Isaac. Pela primeira vez se
descreve uma aparição de Javé a Abraão sob forma humana (versículo 1).
Quem são esses
“três homens”? Hebreus 12,2 e alguns Santos Padres os interpretam como anjos
representando a divindade. Outros Santos Padres (Santo Hilário, Santo Ambrósio
e Santo Agostinho...) e exegetas, a partir de Gênesis 19,1, preferem ver dois
anjos acompanhando a Javé; tornou-se célebre a frase de Santo Hilário: “Abraão
viu três e adorou um só”. Um terceiro grupo dos Santos padres vê neles três
anjos como manifestação de Deus.
A
hospitalidade se radicava no direito de asilo: o chefe recebia o hóspede,
garantindo-lhe alimento, cuidados e proteção durante três dias, mesmo com
sacrifício; faltar com a hospitalidade seria um grande pecado. Pelo jeito o
nômade Abraão devia ser rico e generoso, capaz de cumprir as normas da
hospitalidade de hora: ir ao encontro, convidar a entrar, dar de comer. O
pagamento dos três foi anunciar-lhe o nascimento de novo filho, o legítimo, em
sua velhice. Aos poucos Abraão foi dando conta do caráter sobrenatural da
visita: é o que sugerem os versículos 27.30-32 e as expressões – “encontrar
graça” e “vosso servo” (versículo 3).
Abraão,
delicado e generoso, prestou três favores: – limpeza, isto é, lavar os pés (cf.
19,2; 24,32; 43,24; em Lucas 7,44 Jesus a reclama do fariseu), – alimento
confortante e restaurador (uma refeição bem provida: pão/torta, cordeiro e
leite/coalhada – típica do deserto), – e descanso à sombra de árvores. Abraão
mesmo os servia mantendo-se de pé junto a eles – sinal de respeito – enquanto
só aparentemente comiam. Podemos notar a condescendência divina nesta refeição
misteriosa.
Salmo responsorial – Salmo 14/15,2-3ab.3cd-4ab.5.
Trata-se de uma liturgia, à semelhança
do Salmo 24, muito parecido com este. É também chamado de Salmo da porta.
Trata-se, então, da liturgia da porta.
Este salmo é
considerado uma liturgia de entrada no Templo de Jerusalém. Não era permitido
entrar no Templo a qualquer hora; era preciso ser admitido por um sacerdote. Ao
entrar no templo para a grande celebração litúrgica, o israelita consulta o
sacerdote se pode entrar. O sacerdote responde com uma lista de condições que o
homem deve cumprir para ter acesso à presença de Deus. O salmo mostra que a
proximidade do Senhor não é apenas questão de ritual exterior; ela exige também
um compromisso sincero.
O rosto de
Deus. De acordo com o salmo, Deus mora no Templo de Jerusalém e aí recebe seus
hóspedes. Mas é um Deus fortemente ligado às exigências do êxodo, quando Javé
tirou os hebreus do Egito e a eles se aliou para que criassem na terra da
promessa uma nova realidade, marcada pela igualdade, justiça e solidariedade.
Neste salmo contemplemos o rosto de Deus como hospedeiro.
São
mandamentos relacionados com o próximo. A pessoa humana é responsável na comunidade,
e dentro dela participa no culto. Os enunciados são seis, e o sétimo é o resumo
desta conduta.
Podemos
recordar o sentido comunitário “eclesial” da confissão, como reconciliação com
a comunidade da Igreja, antes de participar do ato central da celebração. A
moral tem caráter marcadamente religioso e de culto.
Peçamos ao
Senhor que nos converta totalmente e nos faça habitar em sua casa:
SENHOR, QUEM
MORARÁ EM VOSSA CASA?
Segunda leitura – Colossenses 1,24-28. Paulo
escreve à comunidade de Colossos respondendo às suas dificuldades no caminho da
fé em Cristo. Faz isso a partir da realidade que ele mesmo sofre estando na
prisão por causa do Evangelho.
O versículo
fundamental do texto é o primeiro “alegro-me nos sofrimentos... dou cumprimento
ao que falta das tribulações”. O contexto deste versículo é de pregação e
ensinamento, não se trata de um versículo por acaso ou acidental, pois o
sofrimento do qual Paulo fala é fruto e resultado de sua ação apostólica que
não tinha nada de casual ou acidental. A “Alegria” de Paulo é porque, mesmo
prisioneiro, pode fazer algo pela Igreja, é o Apostolado do Sofrimento.
O Apóstolo tem
diante dos olhos o mistério da cruz: antes da de falar das riquezas
insuspeitadas do Cristo ressuscitado, ele lembra sua fonte: a pobreza e as
angústias do Calvário (cf. 2Coríntios 8,9; 13,4; Filipenses 2,5-8).
Encarregado de
proclamar a salvação pela cruz, Paulo deve igualmente viver este mistério.
Portanto, ele experimenta em seu corpo a fraqueza e a pobreza da cruz, a fim de
que nele se desenvolvam o poder e a riqueza da ressurreição e que assim sua
pregação seja mais acreditável (2Coríntios 13,3-4; 4,6-12).
Pelo fato de
Cristo ter revelado a riqueza de Deus na pobreza da sua cruz, o Apóstolo
aparece como um vaso de argila que carrega os mais ricos tesouros.
Aos olhos de
Paulo, o sofrimento é santo porque Deus o viveu inserindo-se em nosso mundo,
porque Cristo nada mais achou em nosso mundo a não ser a provação silenciosa
para manifestar a face de Deus. Paulo sabe que a provação modela a face das
pessoas à imagem de Deus.
Paulo
alegra-se pelos sofrimentos e afadiga-se lutando. A fonte do poder afadigar-se
lutando é a força de Cristo que age intensamente nele. Nos dois casos a alegria
e a fadiga existem por causa do mesmo Cristo.
Paulo
afirma-se ministro para anunciar em plenitude a palavra, não se trata de uma
palavra qualquer, mas da Palavra de Deus. A missão principal do Apóstolo é
anunciar, e a ela se seguirá o ensinamento; e anunciando e ensinando ele poderá
“levar a bom termo a palavra”, isto é, o Mistério Escondido, Cristo, a
esperança da Glória.
O Mistério
Escondido desde séculos não é nenhuma comunicação exotérica ou ocultismo, mas a
revelação de que em Cristo realiza-se a esperança de todas as pessoas. Este
revelação está no centro do texto, como a Revelação-Cristo resta o centro da
história das pessoas.
O sofrimento e
o apostolado são duas realidades que à primeira vista não se tocam. No entanto
o apostolado foi e será sempre motivo de sofrimento, devido à oposição do mundo,
já manifestada contra Cristo (João 1,10; 7,7) e sucessivamente contra todos os
seus seguidores (João 15,18-19). Na vida do cristão e da Igreja, o apostolado é
uma necessidade e um dever.
Como toda
nossa vida deve ser um constante viver o Cristianismo, também nos momentos de
sofrimentos e de dor, devemos testemunhar a todos a profundidade de nossa fé.
Assim o sofrimento adquire uma nova dimensão, torna-se motivo de alegria porque
dá cumprimento ao que falta das tribulações de Cristo em favor da Igreja.
Evangelho – Lucas 10,38-42. A cena
evangélica de Marta e Maria é das mais apreciadas, como podemos constatar na
iconografia cristã. Talvez por que nesta história tão simples, um instantâneo
doméstico em torno à presença de um hóspede, o leitor logo julga dimensões
características e símbolo. Com efeito, a antiguidade cristã leu nesse episódio
uma afirmação da superioridade da “vida contemplativa” frente à “vida ativa”,
aqui representadas “tipicamente” nas pessoas de Marta e Maria (São Gregório
Magno). Trata-se de relacionar devidamente os dois serviços essenciais numa
comunidade cristã, o da Palavra e o da caridade para com o próximo.
A cena de
Lucas sobre Marta e Maria tem evidentes contatos com a tradição de João. As
duas irmãs devem ser as mesmas de João 11-12 (ressurreição de Lázaro e unção em
Betânia).
“Marta” em
aramaico significa senhora: é a dona-de-casa até já em seu nome, e tal “nome”
em mentalidade bíblica, diz o “destino” (vocação/missão da pessoa. Essa “Marta”
que hospeda um Jesus itinerante bem parece ter interessado nos tempos em que
apóstolos itinerantes eram recebidos na casa de alguma senhora ativa
colaboradora da ação missionária (cf. Atos 16,13s).
“Maria” 10,39,
significa “ a excelsa”, a amada, elevada, sublime: até pelo seu “nome” já se
está aqui antecipando tratar-se de quem “optou pela ‘parte’ boa-melhor” a juízo
do Mestre na culminância do episódio (João 10,42). O assentar-se aos pés de um
mestre configura a qualidade de ouvinte-discípulo (cf. Paulo aos pés de
Gamaliel, Atos 23,3). Vai nisso algo de novo-evangélico e de Lucas, uma cristã
promoção da mulher: no judaísmo um rabino jamais aceitava mulher por discípula
(e, sintomaticamente, é em João que Jesus espanta seus discípulos por estar
falando-ensinando a uma mulher, a “samaritana”: João 4,27).
Marta não só
quer que Maria a ajude, mas quase censura Jesus por não estar percebendo a
situação, e exige que Ele mande que Maria a ajude no “serviço” (diakonia),
coisa que Jesus refutará. O termo para “ajudar” (synantilamb) também só ocorre,
em todo o Novo Testamento, neste capítulo de Lucas e em Paulo (Romanos 8,6:
contexto “espiritual” sobre “o que pedir”). O duplo vocativo “Marta, Marta” é
entendido ora como carinhoso-compreensivo, que aponta Lucas 6,45, ora como tom
de censura-advertência.
A resposta de
Jesus “te preocupas com muitas coisas, mas só uma é necessária. Maria escolheu
a melhor parte e esta não lhe será tirada”. A parte de Maria tem realmente
dimensões de eternidade. Aqui está o grande valor da escuta da Palavra (Lucas
11,27-28). Maria, do acolhimento e da atenção aos convidados. Trata-se aqui de
uma repartição das tarefas domésticas, feita para assegurar ao máximo o
conforto do convidado. Podemos também contemplar outros textos que falam
daqueles que preferem escutar a Palavra e colocá-la em prática (Lucas 8,20).
Isso não significa que Cristo prefere a contemplação e deixa em segundo plano a
ação, mas sim que a atenção dada às realidades do Reino (muitas vezes
representado como uma Palavra; cf. Lucas 8,11-15) não se pode deixar distrair
por uma preocupação demasiada exclusiva com as realidades terrestres. Aliás, para
Lucas, escutar nada tem de uma contemplação ociosa, mas culmina na “ação e na
prática concreta e exigente” (Lucas 8,15).
Sem dúvida,
Marta quis homenagear seu hóspede, apresentando-lhe uma cozinha refinada, mas
esta intenção volta-se contra ela, e deve pedir o auxílio de sua irmã
(versículo 40). O Senhor intervém para pedir-lhe que se preocupe menos com o
alimento (um único prato é necessário: Versículo 42): “pouca coisa é
necessária” (versículo 42a). Lucas dá muita importância a este ensinamento: não
convém preocupar-se com os negócios do mundo, uma vez que o Reino está tão
próximo (Lucas 12,22). A
3- DA PALAVRA CELEBRADA AO COTIDIANO DA VIDA
Aprendemos dos
personagens bíblicos, apresentados na Palavra de Deus dirigida a nós hoje, a
“mística” da hospitalidade. “’Hospitalidade’ provém da palavra latina hospitalitate, que designa o ato de
hospedar; hospedagem; a qualidade de hospitaleiro e, por extensão, o acolhimento
afetuoso. [...] Hóspede provém do
latino hospes – a pessoa que se aloja
temporariamente em casa alheia, visitante; hospite
era o senhor do estrangeiro, do hospitem,
do propriamente estrangeiro, da pessoa que vem de outra terra. Hospitalidade,
como derivando do latino hospitalitas,
é o ato de hospedar, de acolher afetuosamente, e de hospitatem, a qualidade, a disposição acolhedora de quem oferece
hospedagem, de quem bem recebe hóspede”.
Hospitalidade
é a capacidade de abertura e acolhimento ao que vem de fora, ao estranho, ao
novo. A capacidade de hospedar nos proporciona um “estar com o outro”. A
hospitalidade está na dimensão da gratuidade.
Na experiência
de Abraão e das duas mulheres do Evangelho, o hóspede revela Deus. Num mundo
como o nosso, onde o medo predomina, o isolamento e a privacidade estão cada
vez mais dominantes, a hospitalidade é um desafio. Outro fator é a correria, o
excesso de trabalho, de ocupações que absorvem a pessoa como um todo, não
deixando tempo para o outro.
A hospitalidade
é uma manifestação da capacidade de amar. O amor verdadeiro se exprime através
de uma interação: o outro é recebido como próximo – o estranho é reconhecido
como alguém que tem algo de precioso a nos dar. A hospitalidade cordial do
outro pode ser um espaço para o restabelecimento de energias, de forças.
Jesus é o
hóspede de Marta e Maria. Na casa delas há duas maneiras de hospitalidade.
Marta se preocupa com os afazeres da casa, e Maria, aos pés do Mestre, numa
atitude de discípula, escuta suas palavras. Jesus diz que Maria escolheu a
melhor parte. Porém, é oportuno lembrar que a atitude de Maria não é
incompatível com a de Marta. Lucas, em seu Evangelho (cf. 8,1-3), fala de um
grupo de mulheres que seguiam Jesus juntamente com os Doze, prestando serviço, até
mesmo “com os seus bens” como Marta. Estas permaneceram fiéis a Jesus na hora
da cruz, até o fim. Assumiram o sepultamento de Jesus e testemunharam a
ressurreição. Com certeza, elas haviam compreendido a “melhor parte”, embora a
partir da simples posição de quem está encarregado apenas de servir.
Os exemplos de
Abraão, Marta e Maria nos convidam à reflexão, à retomada de nossas opções, e
nos chamam ao equilíbrio, a viver prazerosamente cada momento e a centrar nossa
atenção no essencial.
Cada celebração
litúrgica é uma ação de hospitalidade, na qual acolhemos Cristo. Sobretudo na
liturgia da Palavra, vivenciamos a atitude de Maria aos pés de Jesus, e nos
comprometemos a viver no cotidiano da vida o serviço aos irmãos, como Marta.
São duas expressões de uma mesma opção fundamental, por Jesus e pelo seu Reino,
que o Espírito de Deus vem confirmar e animar.
4- A PALAVRA SE FAZ CELEBRAÇÃO
Hospedar o
Deus-Conosco
Nós, cristãos,
não estamos desamparados. Relacionamo-nos não só com um Deus que se dá a conhecer,
mas com alguém que o faz aproximando-se de nós. A cada saudação “O Senhor
esteja convosco” ousamos responder “Ele está no meio de nós”, ainda que a
resposta original latina seja mais densa de significado: E com o teu Espírito!,
isto é, assim como Ele – Deus – está em nós, assembléia, povo de Deus, esteja
também em ti (o/a presidente) animando tua vida e se manifestando para nós.
Somos “treinados”, portanto, para reconhecer e acolher em nós e entre nós a
ação carinhosa de Deus, podendo observá-la ocorrer para além de nossos tempos,
como decorrência de nossa convivência.
Deus se
revela, portanto, como um visitante que se deixa hospedar. Em Jesus, realidade
última e plena dessa Revelação ao longo do tempo, explicita-se essa
proximidade, sobretudo para com aqueles que são objetos de desprezo.
Na liturgia, a
experiência de acolhida do Mistério
A celebração
da liturgia cristã nos educa. Saímos de nossas casas, nos reunimos em
assembléia, ouvimos de Deus e partilhamos sua Palavra, alimentamo-nos do corpo
e sangue sacramental de Cristo, formamos corpo e somos enviados para agir/viver
em seu Nome: “glorificai a Deus com vossa vida...que o Senhor vos acompanhe!”
Sair na
companhia de Deus, para os Santos Padres, significava apresentar ao mundo “Deus
em nós”. Escreve Minúcio Felix (séc. II): “Mas que templo poderei construir a
Deus, se o mundo inteiro, obra de suas mãos, não O pode conter?...Não será
possível dedicar-lhe um templo no espírito e no fundo do coração?...São estes
os nossos sacrifícios. É este o culto que nós prestamos a Deus e, para nós, é
mais religioso aquele que é mais justo...em qualquer parte que nos encontremos,
Deus não só está perto de nós, mas está em nós mesmos...Não só agimos sob o seu
olhar, mas vivemos nele.”
5- LIGANDO A PALAVRA COM A AÇÃO EUCARÍSTICA
A atitude de
hospitalidade perpassa toda a celebração litúrgica. Deus nos acolhe, nós
acolhemos Deus. A iniciativa é sempre dele, que nos ama primeiro. Deus
acolhe-nos a tal ponto que se encarna na nossa história, assume a condição
humana, menos o pecado, de tal forma que é capaz de morrer por nós.
Todos os
sinais sensíveis são espaço para o encontro com o senhor, que se faz presente
na casa da Igreja, a comunidade reunida: o espaço, a palavra proclamada, o pão
e vinho repartidos etc.
Na liturgia da
Palavra, como Maria, a discípula, colocamo-nos aos pés do Mestre para ouvir a
sua voz, escutar sua palavra. Nós acolhemos Cristo e ele nos acolhe como
discípulas e discípulos. O prefácio IX do Tempo Comum reza: “Na verdade, é
justo e necessário, é nosso dever e salvação dar-vos graças e bendizer-vos,
Senhor, Pai santo, fonte da verdade e da vida, porque, neste domingo festivo,
nos acolhestes em vossa casa. Hoje, vossa família, para escutar vossa Palavra e
repartir o Pão consagrado, recorda a Ressurreição do Senhor, na esperança de
ver o dia sem ocaso, quando a humanidade inteira repousará junto de vós. Então
contemplaremos vossa face e louvaremos sem fim vossa misericórdia [...].”
A
hospitalidade implica também estar à mesa: ele está à nossa porta e bate; é
preciso ouvir a sua voz e abrir; assim cearemos juntos (cf. antífona da
comunhão). Não é comer por comer, mas partilhar da mesa implica partilhar, em
nossa vida, do mesmo destino de Jesus Cristo. Para isso é necessário que ele
nos ajude a nos despojarmos do velho homem para assumirmos uma vida nova (cf.
oração pós-comunhão).
6. ORIENTAÇÕES GERAIS
1. O método da
leitura orante auxilia muito na preparação da celebração. Seria bom que os
membros da equipe e toda a assembléia criassem o hábito de praticar a leitura
orante diariamente.
2. E preciso
cuidar da formação técnica, teológica e espiritual de todos os (as) ministros
(as).
3. A leitura
contínua do Evangelho, harmonizada com a primeira leitura, tirado do Primeiro
Testamento, dá a tônica da celebração e apresenta um itinerário de seguimento.
Aí temos a espiritualidade a ser vivida durante a semana e a vida toda.
4. Dia 11,
recordamos a memória de São Bento, abade. Dia 14 recordamos a memória de São
Camilo de Lellis, pai dos enfermos. Dia 15 recordamos a memória de São
Boaventura. Dia 16, Festa de Nossa Senhora do Carmo.
7- MÚSICA RITUAL
O canto é
parte necessária e integrante da liturgia. Não é algo que vem de fora para
animar ou enfeitar a liturgia. Por isso devemos cantar a liturgia e não cantar na liturgia. Os cantos e músicas,
executados com atitude espiritual e,
condizentes com cada domingo do Tempo
Comum, ajudam a comunidade a penetrar no mistério celebrado. Portanto, não
basta só saber que os cantos são do 16º Domingo do Tempo Comum, é preciso executá-los com atitude
espiritual. A escolha dos cantos deve ser cuidadosa, para que a comunidade
tenha o direito de cantar o mistério celebrado. Jamais os cantos devem
ser escolhidos para satisfazer o ego de um grupo ou de um movimento ou de uma
pastoral. Não devemos esquecer que toda liturgia é uma celebração da Igreja
corpo de Cristo e não de um grupo, de uma pastoral ou de um movimento. Como a
equipe de canto da sua paróquia executa os cantos durante o Tempo Comum? É com
atitude espiritual?
A função da
equipe de canto não é simplesmente cantar o que gosta, mas cantar o mistério da
liturgia deste 16º Domingo do Tempo Comum, “cantar a liturgia”, e não “na
liturgia”. Os cantos devem estar em sintonia com o ano litúrgico, com a Palavra
proclamada e com o sacramento celebrado. Não devemos esquecer que a “equipe de
canto” faz parte da equipe de liturgia.
Ensina a
Instrução Geral do Missal Romano que o canto de abertura tem por objetivo, além
de unir a assembléia, inseri-la no mistério celebrado (IGMR nº 47). Nesse
sentido o Hinário Litúrgico III da CNBB nos oferece uma ótima opção, que estão
gravados nos CDs Liturgia VI e XI e; Cantos de Abertura e Comunhão e Cantos de
Abertura e Comunhão e Cantos de Abertura e Comunhão – As Mais Belas Parábolas.
1. Canto de abertura. “Louvarei
teu nome, Senhor, porque é bom” ( Salmo 53/54,6-8). “É Deus quem me abriga, o Senhor,
quem sustenta a minha vida...”, melodia e estrofes iguais à faixa nº 19 – CD:
Liturgia VI..
2. Hino de louvor. “Glória a
Deus nas alturas.” Vejam o CD: Tríduo Pascal I e II e também no CD:
Festas Litúrgicas I; Partes fixas do Ordinário da Missa do Hinário Litúrgico
III da CNBB e também a versão da CNBB musicado por Irmã Miria Reginaldo Veloso
e outros compositores.
O Hino de
Louvor, na versão original e mais antiga, é um hino cristológico, isto é,
voltado para Cristo, que exprime o significado do amor do Pai agindo no Filho.
O louvor, o bendito, a glória e a adoração ao Pai (primeira parte do Hino de
Louvor) se desdobram no trabalho do Filho Único: tirar o pecado do mundo,
exprimindo e imprimindo na história humana a compaixão do Pai. Lembremo-nos: o
Hino de Louvor não se confunde com a “doxologia menor” (Glória ao Pai, ao Filho
e ao Espírito Santo). O Hino de Louvor encontra-se no Missal Romano em prosa ou
nas publicações da CNBB versificado numa versão que facilita o canto da
assembléia.
3. Salmo responsorial 15/14. “Quem
pode morar junto de Deus?” “Senhor,
quem morará em vossa casa? Melodia e estrofes iguais à faixa nº 17 CD: Liturgia
XI.
O Salmo
responsorial é uma resposta que damos àquilo que ouvimos na primeira leitura.
Isto mostra que o salmo é compromisso de vida e ele também atualiza e leitura
para a comunidade celebrante. Primeira leitura, Palavra proposta e salmo
Palavra resposta. Por isso deve ser cantado da Mesa da Palavra (Ambão) por ser
Palavra de Deus. Valorizar bem o ministério do salmista.
4. Aclamação ao Evangelho. “Santifica-nos
na verdade; tua palavra é verdade” (João 17,17). Aleluia... Tua Palavra é verdade, verdade
falaste, Senhor!”, melodia igual à faixa 19 do CD: Liturgia XI. O canto de
aclamação ao evangelho acompanha os versos que estão no Lecionário Dominical.
6. Apresentação dos dons. A escuta
da Palavra e colocá-la em prática, deve gerar na assembléia a hospitalidade e a
partilha para que ela possa ser sinal vivo do Senhor. Devemos ser oferenda com
nossas oferendas. “A mesa santa que preparamos”, CD: Liturgia VI, melodia da faixa
23.
7. Canto de comunhão. “Porém uma
só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será
tirada” (Lucas 10,42). “Cristo está à porta e bate, para cear conosco”(Apocalipse
3,20). “Uma coisa é preciso, necessário é uma coisa só”; melodia e estrofes
iguais à faixa 18 CD: Liturgia XI.
Cristo está
sempre batendo à nossa porta e quer fazer refeição conosco. Nós somos felizes
quando escutamos a Sua Palavra. Outra ótima opção para este Domingo é o canto
“Procuro abrigo nos corações: de porta em porta desejo entrar”, Hinário
Litúrgico III da CNBB, página 366. É um canto bem conhecido. Uma terceira opção
é o canto: “Eu sou o pão do amor vivo que desceu do céu”, CD: Cantos de
Abertura e Comunhão – As Mais Belas Parábolas, melodia da faixa 13 – Paulus.
O canto de
comunhão deve retomar o sentido do Evangelho de cada Domingo. Esta é a sua
função ministerial. Na realidade, aquilo que se proclama no Evangelho nos é
dado na Eucaristia, ou seja: é o Evangelho que nos dá o “tom” com o qual o
Cristo se dirige a nós em cada celebração eucarística reforçando estes
conteúdos bíblico-litúrgicos, garantindo ainda mais a unidade entre a mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia. Isto
significa que comungar o corpo e sangue de Cristo é compromisso com o Evangelho
proclamado. Portanto, o mesmo Senhor que nos falou no Evangelho, nós o
comungamos no pão e no vinho. É de se lamentar que muitas vezes são escolhidos
cantos individualistas de acordo com a espiritualidade de certos movimentos,
descaracterizando a missionariedade da liturgia. Toda liturgia é uma celebração
da Igreja e não existem ritos para cada movimento e nem para cada pastoral.
8- O ESPAÇO CELEBRATIVO
1. Mais do que
nunca, neste Domingo preparar bem o espaço celebrativo, de modo que seja
acolhedor, aconchegante. Ele deve ser à semelhança da casa de Marta e Maria.
2. O lugar
onde celebramos a Eucaristia é Casa da Igreja e antes disso é Casa da Palavra,
pois é esta que, sacramentalmente, forja a comunidade dos cristãos. De certo
modo, a construção de pedra é imagem da construção viva, isto é, o povo de
Deus, da qual fala Paulo em suas cartas, que a Igreja, Corpo de Cristo. Neste
sentido, é lugar de interlocução, de diálogo a partir das escrituras que são
interpretadas pelos ritos. Assim, toda a celebração litúrgica é Palavra de Deus
dirigida ao povo reunido. Mas também é resposta deste povo aos apelos que lhe
são expressos.
9. AÇÃO RITUAL
Se tiver
alguém pela primeira vez na comunidade ou visitante, pedir que se apresente:
nome, lugar de onde vem etc. Sem sombra de dúvida, a equipe de acolhida merece
todo o realce neste domingo. Há muito tempo se insiste no fato de que uma boa
acolhida é a melhor introdução na celebração do Mistério Pascal. É, já,
reconhecimento no outro daquele Senhor que nos visita. A equipe de celebração
prepare, junto aos que recebem os fiéis à porta do lugar onde a comunidade se
reúne, uma acolhida que fuja às atitudes frias e mecânicas. Conserve-se o
aperto das mãos, o abraço gratuito, o olhar que recebe e acolhe com um desejo
sincero de “bom-dia! ou boa-noite!”, com um “seja bem-vindo, meu irmão, seja
bem-vinda, minha irmã!”
Ritos Iniciais
2. Na saudação de quem preside, pode
ser a tradicional fórmula paulina conforme 2Coríntios 13,14
A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor
do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco.
(Esta saudação, com simplicidade
revela a assembléia como “morada” de Deus).
3. Em seguida,
dar o sentido litúrgico da celebração. O Missal deixa claro que o sentido
litúrgico da celebração pode ser feito pelo presidente, pelo diácono ou outro
ministro devidamente preparado (Missal Romano página 390).
4. O sentido
litúrgico pode ser proposto, através das seguintes palavras, ou outras
semelhantes:
Domingo de Marta e Maria. Recordamos, neste
Domingo, o encontro de Jesus com as duas discípulas, Marta e Maria. Oferecemos
a Ele a nossa hospitalidade e alegremo-nos, pois, em primeiro lugar, Ele nos
acolhe e nos defende.
5. Seria
oportuno neste domingo após a saudação, o presidente convidar a todos a darem o
abraço da paz no sentido de acolhida de acordo com o Evangelho.
6. A recordação
da vida pode ser o espaço ideal para manifestar os fatos marcantes como
aniversários, bodas, momentos de dor e de luto, missa de 7º e 30º dia, etc. A
lembrança pelos falecidos pode ser feita na Oração Eucarística (memento dos
mortos) e as demais necessidades manifestadas nas preces. Hoje seria
interessante dar uma palavra de conforto aos doentes presentes na celebração,
dando-lhes ânimo e coragem.
5. O Ato
penitencial é um rito preparatório para a mesa da Palavra e da Eucaristia. Dito,
de outra maneira, diante da hospitalidade divina, entramos com humildade no ambiente
do seu mistério, reconhecendo a nossa condição de pecadores ao reconhecer a
misericórdia de Deus.
6. O Hino de
Louvor (Glória) deve ser cantado solenemente por toda a assembléia. Deve-se
estar atento na escolha dos cantos para o momento do glória. Ideal seria cantar
o texto mesmo, tal como nos foi transmitido desde a antiguidade, que se
encontra no Missal Romano, ou, pelo menos, o mesmo texto em linguagem mais
adaptada para o nosso meio e também a versão da CNBB musicado por Irmã Miria e
outros compositores (como já existe!). Evitem-se, portanto, os “glórinhas”
trinitários! O hino de louvor (glória) não de caráter Trinitário e sim
Cristológico. Cantar com vibração.
8. Na Oração
do Dia supliquemos a Deus que é generoso para com todos que sejamos repletos de
fé, esperança e caridade possamos cumprir a vontade do Pai.
Rito da Palavra
1. Cada vez
mais, cai em desuso os chamados “comentários” antes das leituras. Preferem-se
as brevíssimas monições que exortam os fiéis para o acontecimento que se
seguirá. São mais afetivos e introdutórios, do que informativos de qualquer
conteúdo teológico ou catequético. Ouvir a Palavra é ficar com a melhor parte.
No rito de proclamação das Leituras, Maria é a imagem da comunidade discípula
que, aos pés do Senhor, escuta a sua Palavra. São, inclusive, dispensáveis,
sendo preferível o silêncio ou um refrão meditativo que provoque na assembléia
aquela atitude vigilante para a escuta e conseqüentemente acolhida da Palavra
de Deus. Sugerimos, neste caso, antes de iniciar a Liturgia da Palavra, o
refrão “Senhor que a tua Palavra”.
2. As preces
podem começar com o seguinte vocativo: Ó Deus, de quem ganhamos a amizade...
(segue-se com a súplica). A expressão é retirada da primeira leitura. A
resposta às preces pode ser: Caminha, conosco, Senhor. A melodia pode ser
apreendida no site www.calbh.com.br.
Rito da Eucaristia
1. Na Oração
sobre o pão e o vinho suplicamos a Deus que santifique o nosso sacrifício para
que os dons de cada um sirvam para a salvação de todos.
2. Sugerimos o
Prefácio dos Domingos do Tempo Comum IX, página 436 do Missal Romano. Esse
texto relata a comunidade família de Deus que se reúne no Domingo para recordar
a Ressurreição do Senhor para escutar a Palavra de Deus e e repartir o Pão
consagrado. Seguindo esta lógica, cujo embolismo reza: “Hoje, vossa família,
para escutar vossa Palavra e repartir o Pão consagrado, recorda a Ressurreição
do Senhor, na esperança de ver o dia sem ocaso, quando a humanidade inteira
repousará junto de vós”. Outra ótima opção é o Prefácio Comum VI, página
461 do Missal Romano, cujo embolismo reza: “Ele é a vossa Palavra viva, pela
qual tudo criastes. Ele é o nosso Salvador e Redentor, verdadeiro homem,
concebido do Espírito Santo e nascido da Virgem Maria”. O grifo no texto
identifica aqueles elementos em maior consonância com o Mistério celebrado
neste Domingo e que pode ser aproveitado na celebração, ao modo de mistagogia.
Recorde-se que para prefácios móveis, usam-se apenas as Orações Eucarísticas I,
II e III. As demais não podem ter os prefácios substituídos sem grave prejuízo
para a unidade teológica e literária da eucologia..
3. Proclamar
com vibração a ação de graças (Oração Eucarística). Na Oração Eucarística,
“compete a quem preside, pelo seu tom de voz, pela atitude orante, pelos
gestos, pelo semblante e pela autenticidade, elevar ao Pai o louvor e a
oferenda pascal de todo o povo sacerdotal, por Cristo, no Espírito”.
4. O Abraço da
paz seja motivado com essas ou outras palavras: “Irmãs e irmãos, acolhendo-nos
com alegria, abracemo-nos na paz de Cristo, desejando que essa paz se
concretize entre nós”.
5. O silêncio
após a comunhão: concluída a comunhão eucarística, reservar um breve momento de
silêncio.
Ritos Finais
1. Na Oração
depois da comunhão suplicamos que a Deus que fique conosco para que passemos a
uma vida nova.
2. Para
confirmar a missão recebida, recordam-se os compromissos (os avisos,
comunicações), propostos como expressões do envio. Portanto, feitos com
objetividade, clareza e a devida motivação, para maior envolvimento da
comunidade Evitem longos comentários sobre cada aviso.
3. Na bênção
em nome da Santíssima Trindade levem-se em conta as possibilidades que o Missal
Romano oferece (bênçãos solenes, na oração sobre o povo). Ela expressa que a
ação ritual se prolonga na vida cotidiana do povo em todas as suas dimensões,
também políticas e sociais. Ver a bênção final do Tempo Comum III do Missal
Romano.
4. As palavras
do rito de envio podem estar em consonância com o mistério celebrado: Praticai
com amor a hospitalidade. Crescei na atenção e na escuta do Senhor. Ide em paz
e que o Senhor vos acompanhe.
10- CONSIDERAÇÕES FINAIS
A
hospitalidade é uma das múltiplas manifestações da capacidade de amar. E o amor
verdadeiro ultrapassa a prática concreta de ser útil aos irmãos e irmãs. Ele se
exprime, sobretudo, através de uma relação em que o “outro” é recebido como
“próximo”, em que o estranho é reconhecido como alguém que tem algo de precioso
a nos dar. Em nossa relação com Deus acontece deste fenômeno surpreendente:
quando acreditamos que O estamos acolhendo, de repente descobrimos que os
hóspedes somos nós! São Paulo parece ter uma profunda consciência dessa realidade,
e é o que ele exprime também na carta de hoje.
O objetivo da
Igreja e da nossa equipe diocesana de liturgia é ajudar os padres e as
comunidades de nossa diocese e todas aquelas outras comunidades fora de nossa
diocese que acessar nosso site celebrar melhor o mistério pascal de Cristo.
Um abraço
fraterno a todos
Pe. Benedito
Mazeti
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